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Érica Cesário Defilipo
Rayla Amaral Lemos
CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA E DO DESEMPENHO FUNCIONAL DE CRIANÇAS COM
PARALISIA CEREBRAL
Juiz de Fora
Departamento de Fisioterapia – FACMED
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
2008
Érica Cesário Defilipo
Rayla Amaral Lemos
CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA E DO DESEMPENHO FUNCIONAL DE CRIANÇAS COM
PARALISIA CEREBRAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao
Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito
para a obtenção da aprovação na disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso II.
Área de concentração: Avaliação do Desempenho
Infantil
Orientadora: Profa Paula Silva de Carvalho Chagas - UFJFCo-orientadora: Profa Dra Marisa Cotta Mancini - UFMG
Juiz de Fora
Departamento de Fisioterapia – FACMED
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
2007
2
Aos nossos pais e irmãos,que nos impulsionam, nos fortalecem e nos permitem crescer.
3
AGRADECIMENTOS
À Deus, porque Dele, por Ele e para Ele nossas vidas.
À Paula, orientadora dedicada, profissional brilhante, exemplo de pessoa... amiga inesquecível.
Aos fisioterapeutas e estagiários do CAS/HU-UFJF e APAE, colaboradores receptivos e tão importantes na realização desta produção.
Aos amigos e amores, presenças marcantes, que enchem nossas vidas de alegria e coragem.
Às crianças e responsáveis participantes do estudo, essência fundamental, que nos inspiram a não deixar nossos sonhos morrerem.
4
RESUMO
Objetivos: Classificar a função motora e o desempenho funcional de crianças
com Paralisia Cerebral (PC). Método: Trinta crianças com PC foram
classificadas pelos sistemas GMFCS e MACS e divididas, de acordo com o
nível funcional de cada classificação ao qual pertenciam, em três grupos (leve,
moderado e grave). Posteriormente, foram avaliadas a função motora grossa
pelo GMFM-66, e as habilidades funcionais e assistência recebida do cuidador
nas áreas de auto-cuidado e mobilidade pelo teste PEDI. Resultados: Em todas
as análises foi considerado um nível de significância de α=0,05. O teste One-
way ANOVA foi utilizado para comparar os grupos a partir da classificação do
GMFCS e do MACS, demonstrando que os grupos leve, moderado e grave
apresentam diferença significativa entre si, nas duas classificações, de acordo
com GMFM-66. Este mesmo teste estatístico demonstrou que o teste PEDI
apresenta resultados diferentes dependendo da classificação utilizada.
Segundo a divisão pelo GMFCS, o teste post-hoc Scheffé revelou que crianças
com comprometimento moderado apresentam habilidades funcionais e
recebem a mesma assistência do cuidador que crianças leves. No entanto, as
crianças moderadas assemelham-se as graves quando utilizada a divisão pelo
MACS. A correlação de Pearson r apresentou uma associação forte e
inversamente significativa entre as classificações funcionais e os resultados
obtido no PEDI e GMFM-66. Conclusão: Os resultados revelam que as
classificações funcionais MACS e GMFCS são bons indicadores para a
avaliação da capacidade funcional de membros superiores e membros
inferiores, respectivamente, podendo ser úteis no direcionamento das
avaliações e planejamento das intervenções na prática clínica.
Palavras-chave: Paralisia Cerebral, classificação funcional, GMFCS, MACS,
GMFM-66, PEDI
5
ABSTRACT
Aim: Classify the motor function and functional performance of children with
cerebral palsy (CP). Methods: Thirty children with CP were classified with the
systems GMFCS and MACS and divided, according to their functional level
within each classification in three groups (mild, moderate, severe). The children
had their gross motor function assessed using GMFM-66, and their functional
performance and independence in the areas of self-care and mobility with the
PEDI. Results: The One-way ANOVA test was used to compare groups divided
by the GMFCS and MACS, and the results showed that the groups mild,
moderate and severe were significantly different according to the scores on the
GMFM-66. The same statistics test showed that the results on the PEDI were
different depending on the classification used. When the children were divided
into groups by the GMFCS, the post-hoc Scheffé test showed that children with
moderate severity showed functional performance and received the same
caregiver’s support than mild children. However, moderate children were equal
to severe children in the division using MACS. Pearson r correlations showed
high and inverse significant association between functional classifications and
the results obtained by PEDI and GMFM-66. All analysis considered a
significant level of α=0.05. Conclusions: The results showed that the functional
classifications using MACS and GMFCS were good indicators to evaluate
functional performance of upper and lower extremities, respectively, and may
serve to guide assessment and intervention in clinical practice.
Key words: cerebral palsy, functional classification, GMFCS, MACS, GMFM-66,
PEDI.
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................................
2 OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS......................................................
3 HIPÓTESES..................................................................................................
4 METODOLOGIA...........................................................................................
4.1 Participantes.............................................................................................
4.2 Instrumentos.............................................................................................
4.3 Procedimento...........................................................................................
4.4 Análise Estatística....................................................................................
5 ARTIGO........................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................
ANEXOS.......................................................................................................
ANEXO A - GROSS MOTOR FUNCTION CLASSIFICATION SYSTEM (GMFCS)…………………………………………..............................................
ANEXO B – MANUAL ABILITIES CLASSIFICATION SYSTEM (MACS)... ANEXO C - ABEP -Critério de Classificação Econômica Brasil............. ANEXO D – Parecer do CEP.......................................................................
ANEXO E – Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI)……..….
ANEXO F – Gross Motor Function Measure (GMFM-66)…………………
APÊNDICES.................................................................................................
APÊNDICE A - Formulário de Inclusão no Estudo...................................
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)...
812131414151819214144
444849525359656566
7
1. INTRODUÇÃO
O termo Paralisia Cerebral (PC) designa uma seqüela de caráter não-
progressivo, que acomete o sistema nervoso central imaturo ou em
desenvolvimento, ocasionando déficits posturais, tônicos e na execução dos
movimentos (CASTRO et al., 2006; KOMAN et al., 2004; MANCINI et al.,
2004). Segundo o Executive Committee for the Definition of Cerebral Palsy
(2007):Paralisia Cerebral descreve um grupo de desordem do desenvolvimento do movimento e da postura causando limitação da atividade, que são atribuídas a um distúrbio não progressivo que ocorre no desenvolvimento fetal ou no cérebro do lactente. A desordem motora da paralisia cerebral é normalmente acompanhada por distúrbios de sensação, cognição, comunicação, percepção, e comportamento, por crise epiléptica e por problemas músculo-esqueléticos secundários (ROSENBAUM et al., 2007, p.9).1
Etiologicamente, esta condição de saúde pode ser causada por fatores
hereditários ou eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período neonatal,
ou durante os primeiros dois anos de vida (KOMAN et al., 2004; MANCINI et
al., 2004; PIOVESANA et al., 2002). De acordo com Piovesana et al., “a PC é
uma condição com múltiplas etiologias, podendo variar de acordo com seus
subtipos, e de acordo com o período mais provável da lesão” (PIOVESANA et
al., 2002).
O número de casos de PC no Brasil é desconhecido, mas estima-se que a
incidência de PC em países subdesenvolvidos seja de sete a cada 1000
nascidos vivos (PIOVESANA et al., 2002). Este elevado índice encontrado na
maioria dos países em desenvolvimento deve-se à falta de assistência
adequada nos períodos pré e pós-natal, à ausência de uma equipe hospitalar
especializada no momento do parto, bem como à significativa taxa de
prematuridade e acometimentos gestacionais (SCHWARTZMANN, 2004).
Existem várias classificações para a PC (BAX et al., 2005; GAUZZI &
FONSECA, 2004; SCHWARTZMANN, 2004). A classificação mais atual
baseia-se na distribuição de acometimento no corpo, no tipo de tônus ou
movimentação anormal e no nível de independência (BAX et al., 2005;
GAUZZI & FONSECA, 2004). Sendo assim, podemos encontrar crianças com 1 Língua de origem: inglês (tradução nossa).
8
alterações dos tipos espásticas, discinéticas (extrapiramidal ou
coreoatetósica), atáxicas, hipotônicas e mistas (BAX et al., 2005; GAUZZI &
FONSECA, 2004; SCHWARTZMANN, 2004;). Entre as alterações tônicas, a
mais comum é a espasticidade, sendo que, 75% das crianças com PC
apresentam o tônus alto (CASTRO et al., 2006; KIM et al., 2006), havendo
ainda aumento dos reflexos tendíneos e maior resistência à movimentação
passiva rápida (AGUIAR & RODRIGUES, 2002; GAUZZI & FONSECA, 2004;
VAZ et al., 2006). As crianças espásticas, de acordo com a classificação
topográfica, podem ser: quadriplégicas, quando há acometimento dos quatro
membros; diplégicas, quando a alteração é mais relevante em membros
inferiores; e hemiplégicas, quando há um comprometimento unilateral
(GAUZZI & FONSECA, 2004; SCHWARTZMAN, 2004).
Atualmente, a literatura tem preferido classificar as crianças com PC de
acordo com sua independência funcional nas funções motoras grossas (CURY
et al., 2006; MANCINI et al., 2004; OSTENJO et al., 2004; PALISANO et al.,
1997) e finas (ELIASSON et al., 2006; MORRIS et al., 2006a e b;
STEENBERGEN, 2006). O sistema de classificação da função motora grossa
(Gross Motor Function Classification System – GMFCS) (ANEXO A),
caracteriza-se como uma escala de cinco níveis, na qual o nível I refere-se às
crianças que, aos seis anos, conseguem se locomover sem restrições, o nível
II está relacionado àquelas crianças com limitação da marcha em ambiente
externo, o nível III pode ser atribuído àquelas que necessitam de apoio para
locomoção, no nível IV há necessidade de equipamentos de tecnologia
assistiva e, o nível V, remete a uma restrição grave de movimentação mesmo
com tecnologias mais avançadas (PALISANO et al., 1997). O sistema de
classificação das habilidades manuais para crianças com PC (Manual Abilities
Classification System - MACS) (ANEXO B), é um sistema onde podemos
mensurar em cinco níveis o grau de funcionalidade manual nas atividades de
vida diária em casa, na escola e na comunidade. As crianças que são capazes
de manipular objetos facilmente são classificadas em nível I, aquelas que
manipulam objetos com menor qualidade e/ou velocidade pertencem ao nível
II. Já as crianças do nível III, manipulam objetos com dificuldade necessitando
de ajuda ou adaptação da atividade e, no nível IV, estão aquelas que não
conseguem executar totalmente a atividade manual, necessitando de uma
9
supervisão contínua ou que executam com muito esforço e êxito limitado. No
último nível, V, enquadram-se as crianças severamente comprometidas em
suas habilidades manuais necessitando de assistência total (ELIASSON et al.,
2006; MORRIS et al., 2006 a e b).
Crianças com PC apresentam alterações e dificuldades nas aquisições
motoras próprias de sua idade que culminam em um grau de
comprometimento motor, podendo repercutir nos aspectos sensoriais,
cognitivos e comportamentais, impondo-lhes maior grau de dependência.
Tantas alterações podem comprometer a funcionalidade na realização das
AVD`s, independência, autolocomoção e na participação social (MANCINI et
al., 2004; OSTENSJO et al., 2004).
Para que os déficits inerentes ao quadro possam ser amenizados e a
criança consiga adquirir o maior número possível de habilidades funcionais
são necessários avaliações, intervenções e acompanhamentos adequados. A
adequabilidade da avaliação, os resultados das intervenções e o
acompanhamento da evolução devem ser documentados de forma objetiva
por testes padronizados (CHAGAS & MANCINI, 2004). Segundo essas
autoras, O uso de testes padronizados na avaliação de aspectos específicos do desenvolvimento de crianças portadoras de PC serve a vários propósitos, incluindo: descrição objetiva do repertório da criança (indicando áreas de habilidades e de dificuldades), estabelecimento de linguagem comum e facilitação da comunicação entre profissionais da equipe, definição clara de objetivos de intervenção e quantificação dos efeitos de ações terapêuticas (CHAGAS & MANCINI, 2004, p.335).
Apesar de existirem várias pesquisas no mundo que se dedicam ao
estudo de instrumentos de avaliação, no Brasil ainda são poucas as pesquisas
que os utilizam de forma padronizada, não sendo encontrado na literatura
científica, nenhum estudo brasileiro que utilizasse o Pediatric Evaluation of
Disabilty Inventory (PEDI) e Gross Motor Function Measure (GMFM), juntos,
conforme foi proposto neste estudo. O propósito deste estudo foi utilizar estes
dois instrumentos na avaliação de crianças com PC do tipo espástica,
classificando-as de acordo com o seu nível funcional (GMFCS e MACS) e
comparando a função motora (GMFM) e o desempenho funcional (PEDI) com
10
os diferentes níveis de classificação funcional. Com este estudo espera-se que
em avaliações futuras, as crianças com PC sejam caracterizadas de forma
mais abrangente, considerando sua classificação funcional, de forma a não
limitá-las à classificação topográfica e tônica do quadro apresentado.
11
2 OBJETIVOS
Os objetivos deste estudo foram:
(1) classificar o nível funcional em um grupo de crianças com PC do tipo
espástica usando os sistemas GMFCS e MACS;
(2) verificar se existe diferenças entre as duas classificações funcionais
na comparação das atividades de função motora grossa (através do teste
GMFM-66) e no desempenho funcional (através do teste PEDI); e
(3) verificar a associação existente entre a função motora grossa e o
desempenho funcional com o GMFCS e MACS.
12
3 HIPÓTESES
H1. Os grupos classificados de acordo com o GMFCS e MACS (leve,
moderado ou grave) serão diferentes entre si nos resultados obtidos nos testes
GMFM e PEDI;
H2. Os três grupos de GMFCS terão correlação positiva com o PEDI (na
dimensão mobilidade) e com o GMFM;
H3. Os três grupos de MACS terão correlação positiva com o PEDI (na
dimensão auto-cuidado).
13
4 METODOLOGIA
4.1 Participantes
O presente estudo, de caráter transversal, contou com a participação de
30 crianças portadoras de PC do tipo espástica, divididas em grupos de
acordo com o nível de funcionalidade apresentado (GMFCS e MACS), que
recebem tratamento fisioterapêutico no Ambulatório de Fisioterapia Pediátrica
do Centro de Atenção à Saúde (CAS/HU) da Universidade Federal de Juiz de
Fora – UFJF e/ou na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais – APAE
de Juiz de Fora. O cálculo amostral baseou-se em tabela apresentada na
literatura (COHEN, 1988). Considerando-se uma análise não-direcional, nível
de significância α= 0,05, um poder estatístico de 0,80 e efeito (índice de
correlação r) esperado de 0,8, este estudo necessitaria de uma amostra de n=
6 em cada grupo, com base em evidências apresentadas na literatura
(MANCINI et al., 2004).
Os critérios de inclusão para o estudo foram: crianças com idade entre um
e quatorze anos, com diagnóstico médico e/ou quadro clínico de paralisia
cerebral do tipo espástica e com capacidade de compreender ordens simples
(APÊNDICE A). Também poderiam ser incluídas, crianças em uso de
anticonvulsivantes, sem crises convulsivas há pelo menos três meses. Foram
excluídas crianças com má formação congênita não relacionada à PC,
14
doenças cromossômicas, flutuações tônicas que influenciassem a
movimentação, como atetose ou coreoatetose, e crianças que foram
submetidas à cirurgia do sistema músculo-esquelético e/ou a aplicação de
toxina botulínica do tipo A, em um tempo inferior a seis meses.
4.2 Instrumentos
Os grupos foram definidos de acordo com a classificação funcional das
crianças com PC participantes deste estudo. Para a classificação do nível de
funcionalidade motora grossa, as crianças incluídas no estudo foram
classificadas segundo o Gross Motor Function Classification System (GMFCS)
(PALISANO et al., 1997), e para a classificação do nível de função motora fina
ou habilidade manual foi utilizado o Manual Ability Classification System
(MACS) (ELIASSON et al., 2006; MORRIS et al., 2006 a e b). As crianças
classificadas nos níveis I e II, em cada umas das duas escalas, foram
consideradas como leves; as do nível III como moderadas e as dos níveis IV e
V foram consideradas graves. Esta adaptação das escalas originais (GMFCS e
MACS) foi baseada em características funcionais descritas na literatura
(ELIASSON et al., 2006; MANCINI et al., 2004; PALISANO et al., 1997).
Os protocolos de avaliação usados foram o Pediatric Evaluation of
Disability Inventory (PEDI) (ANEXO F) e o Gross Motor Function Measure – 66
(GMFM-66) (ANEXO G). O PEDI é um instrumento padronizado, validado no
Brasil desde 2000, que consiste em uma entrevista estruturada realizada com
o cuidador, capaz de documentar o desempenho funcional nas atividades de
vida diária de crianças entre seis meses a sete anos de idade ou com
desempenho motor correspondente a essa faixa etária (MANCINI, 2005). Este
teste contempla três dimensões: autocuidado, mobilidade e função social. A
escala de autocuidado é composta por 73 itens que abrangem alimentação,
higiene pessoal, uso do toalete, vestuário e controle esfincteriano. Os 59 itens
funcionais de mobilidade avaliam as transferências, locomoção em ambiente
externo e interno, e uso de escadas. Na dimensão função social, os 65 itens
refletem as questões relativas à comunicação (compreensão e expressão),
15
resolução de problemas, jogo social interativo, interação com colegas,
brincadeiras, auto-informação, orientação temporal, tarefas domésticas, auto-
proteção e função comunitária. Todas essas dimensões estão estruturadas em
três partes, sendo que a primeira refere-se ao desempenho funcional da
criança em tarefas do dia-a-dia, onde a pontuação de zero é atribuída à
criança que não consegue realizar o item e a pontuação de um é atribuída à
criança que consegue realizar o item, sendo o somatório dos pontos capaz de
refletir as atividades que a criança é capaz de executar. A segunda, diz
respeito ao nível de assistência que o cuidador oferece à criança na execução
das atividades e esta é pontuada de acordo com uma graduação decrescente
de independência, ou seja, cinco reflete o nível de completa independência,
quatro indica supervisão, três representa assistência mínima, dois assistência
moderada, um assistência máxima e zero assistência total. A terceira parte
avalia a freqüência de adaptações utilizadas pela criança que são
documentadas como “nenhuma” (no caso da criança não utilizar nenhuma
adaptação), modificações “centradas na criança”, modificações de
“reabilitação”, ou modificações “extensivas” (MANCINI, 2005). Estudos têm
demonstrado que o teste PEDI é um teste válido e confiável para ser aplicado
em crianças com PC no Brasil (ALLEGRETTI et al., 2004; MANCINI et al.,
2002; MANCINI, 2004; OLIVEIRA et al., 2004). Neste estudo, somente foram
utilizadas as dimensões de autocuidado e mobilidade nas primeiras duas
partes: habilidades funcionais e assistência do cuidador. Não houve pontuação
dos itens relacionados à função social em nenhuma das duas partes
anteriormente descritas, por não ser um desfecho de interesse neste estudo.
Além disso, não houve pontuação da parte referente às adaptações utilizadas
pela criança, já que estes itens não possuem validade científica, sendo usado
apenas na prática clínica.
O GMFM-66 é um instrumento observacional que avalia o desempenho
motor grosso de crianças com PC, descrevendo quantitativamente, e não
qualitativamente, a capacidade funcional da criança (RUSSELL et al., 2000;
RUSSELL et al., 2002). Este protocolo consiste de 66 itens agrupados em
cinco dimensões da função motora grossa: A) deitar e rolar (quatro itens); B)
sentar (15 itens); C) engatinhar e ajoelhar (10 itens); D) ficar em pé (13 itens);
e E) andar, correr e pular (24 itens). Cada um dos itens dispostos em cada
16
dimensão é pontuado baseando-se em uma escala de quatro pontos que varia
de zero a três, da seguinte forma: 0 = não inicia o movimento, 1 = inicia
(menos que 10% de conclusão dos critérios para pontuação do item), 2 = item
parcialmente completo (de 10% a menos de 100%) e 3 = completa o item
independentemente (100% de conclusão); estando os critérios de pontuação
descritos no manual (RUSSELL et al., 2002). Espera-se que todos os itens
possam ser completados por uma criança de cinco anos de idade com
habilidade motora grossa normal. Para calcular a porcentagem do escore total
deve-se utilizar o software Gross Motor Ability Estimator (GMAE) que
acompanha o manual (RUSSELL et al., 2002). Estudos têm demonstrado que
o teste GMFM é um teste válido e confiável para ser aplicado em crianças com
PC (BJORNSON et al., 1998; CURY et al., 2006; RUSSELL et al., 2000; SHI et
al., 2006; WANG & YANG, 2006). Todas as dimensões deste teste foram
aplicadas neste estudo.
Além de características descritivas da amostra (i.e. sexo, idade,
características antropométricas - altura e peso, tipo de PC, nível do GMFCS e
MACS), houve também identificação do nível sócio-econômico da família da
criança, utilizando-se o questionário de nível sócio-econômico da ABIPEME -
Critério de Classificação Econômica Brasil (ANEXO C). Através deste
questionário, avaliamos o grau de instrução do chefe da família e mensuramos
a capacidade de aquisição de bens. Os itens quantificados incluem: televisão
em cores, rádio, automóvel, aspirador de pó, máquina de lavar, videocassete
e/ou DVD, geladeira e freezer. Além disso, é questionado sobre a existência
de empregada mensalista e sobre o número de banheiros no domicílio. Após o
somatório de todos os itens, considera-se pertencentes à classe A1 as famílias
cujo resultado varia de 30 a 34 pontos; a classe A2 compreende pontuação
entre 25 e 29 pontos; a classe B1 inclui o intervalo de 21 a 24 pontos; a classe
B2, o de 17 a 20 pontos; na classe C encontra-se a pontuação de 11 a 16
pontos; a classe D, de 6 a 10 pontos; e por fim, a classe E com pontuação
variando de zero a cinco pontos (ABEP, 2007).
Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFJF em
dois de agosto de 2007 (parecer do Comitê em anexo – ANEXO D), e todos os
pais/ cuidadores das crianças foram informados sobre os objetivos e
17
procedimentos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ANEXO E).
4.3 Procedimento
As crianças incluídas no estudo foram avaliadas no Ambulatório de
Fisioterapia Pediátrica do CAS/HU – UFJF e/ou no Ambulatório de Fisioterapia
da APAE/JF, nos meses de agosto de setembro de 2007. As crianças foram
divididas em dois blocos para permitir a análise estatística de acordo com a
sua classificação funcional: um bloco de três grupos de crianças classificadas
pelo GMFCS, e um bloco de três grupos das mesmas crianças classificadas
pelo MACS. Dessa forma, o primeiro bloco constou de três grupos de crianças
classificadas funcionalmente de acordo com o GMFCS, sendo um grupo de
crianças leves (n=13; GMFCS I e II), um de moderadas (n=6; GMFCS III) e
outro de crianças graves (n=11; GMFCS IV e V). E o segundo bloco constou
de três grupos de crianças classificadas funcionalmente de acordo com o
MACS, sendo um grupo de crianças leves (n=16; MACS I e II), um de
moderadas (n=6; MACS III) e outro de crianças graves (n=8; MACS IV e V).
Algumas crianças classificadas como leve, moderada ou grave no GMFCS
foram as mesmas que obtiveram essa classificação de acordo com o MACS,
porém ocorreu também classificações diversificadas, de modo que os grupos
foram compostos por crianças diferentes. De acordo com estudo de Eliasson
et al. (2006), existe uma correlação entre as duas escalas de 0,79, sendo 49%
da classificação com concordância total de crianças em um mesmo nível
funcional tanto do GMFCS quanto do MACS (ELIASSON et al., 2006).
Cada participante foi avaliado uma única vez por acadêmicas do Curso de
Fisioterapia da UFJF, previamente treinadas. A acadêmica R.A.L. aplicou o
instrumento PEDI e, logo em seguida, o questionário de nível sócio econômico
e a acadêmica E.C.D. administrou, primeiramente, o GMFM e, depois, realizou
18
a classificação funcional, segundo o GMFCS e MACS. Ambas passaram por
um treinamento na aplicação dos testes e questionário, e tiveram sua
confiabilidade intra-examinador ou teste-reteste > 0,94. . O escore total do
GMFM-66 e a pontuação do PEDI foram conhecidas somente após a análise
dos dados. É importante salientar que tratou-se de um estudo com
mascaramento simples, sendo as acadêmicas cegas para o resultado obtido
na aplicação dos testes, até que a coleta de dados tivesse terminado.
O ambiente escolhido para administração do teste GMFM, permitiu que a
criança demonstrasse o melhor desempenho possível em cada item testado
(RUSSEL et al., 2002). Enquanto a criança realizava o teste GMFM na sala de
atendimento, a PEDI era administrada ao cuidador em uma sala reservada no
mesmo estabelecimento. O procedimento de avaliação da criança e entrevista
ao cuidador teve duração de aproximadamente 50 minutos.
4.4 Análise Estatística
A análise descritiva dos participantes incluiu as variáveis: sexo, idade,
características antropométricas (altura e peso), classificação sócio-econômica,
quadro clínico e grau de funcionalidade e de comprometimento motor (GMFCS
e MACS).
Primeiramente foi realizada análise para verificar se a amostra se
encaixava em uma curva normal ou não, e, dessa forma, se os testes
estatísticos seriam paramétricos ou não paramétricos. Nesta análise, foi
observada que a amostra demonstrava uma curva normal em todas as
variáveis dependentes (escore no GMFM e escore nas dimensões do PEDI).
De acordo com esse resultado aplicou-se o teste One-way ANOVA para grupos
independentes, a fim de comparar os resultados do GMFM e do PEDI obtido
pelas crianças entre os três grupos de GMFCS e entre os três grupos de
MACS. Uma vez verificada a existência de resultados significativos, foi
realizado teste post-hoc Scheffé (i.e., diferenças bivariadas) para localizar as
diferenças encontradas. Além disso, aplicou-se a correlação de Pearson r para
verificar a associação entre a classificação funcional GMFCS com o PEDI
(dimensões de autocuidado e mobilidade) e com o GMFM, e correlacionar à
19
classificação funcional do MACS com o PEDI (dimensões de autocuidado e
mobilidade) e com o GMFM. Em todas as análises estatísticas considerou-se o
índice de significância α = 0,05. O pacote estatístico utilizado foi o Statistical
Package for Social Sciences (SPSS) versão 15.0 (SPSS Inc., 2006®).
20
A versão referente ao Trabalho de Conclusão de Curso II (TCCII) será
apresentada em formato de artigo científico, no próximo capítulo, e nele
constarão os resultados e discussão dos achados. O artigo será enviado para
publicação na Revista Brasileira de Fisioterapia e, por esse motivo, encontra-se
nas normas exigidas por esta revista.
21
5 ARTIGO
CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA E DO DESEMPENHO FUNCIONAL DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL
Autoras:Érica Cesário Defilipo - Fisioterapeuta, Graduada pela Universidade Federal
de Juiz de Fora.
Rayla Amaral Lemos - Fisioterapeuta, Graduada pela Universidade Federal
de Juiz de Fora.
Paula Silva de Carvalho Chagas - Doutoranda em Ciências da Reabilitação
pela UFMG, Professora Assistente do Departamento de Fisioterapia da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora
Marisa Cotta Mancini - Doutora em Ciências pela Universidade de Boston,
Professora Associada do Departamento de Terapia Ocupacional da Escola de
Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal
de Minas Gerais
22
1 INTRODUÇÃOO termo Paralisia Cerebral (PC) designa uma seqüela de caráter não-
progressivo, que acomete o sistema nervoso central imaturo ou em
desenvolvimento, ocasionando déficits posturais, tônicos e na execução dos
movimentos1-3. A definição de PC mais atual propõe que as desordens do
desenvolvimento motor, advindas da lesão cerebral primária, são de caráter
permanente e ocasionam limitações nas atividades4. Os distúrbios de
sensação, cognição, comunicação, percepção e comportamento podem estar
presentes, assim como, epilepsia e alterações músculo- esqueléticas
secundárias4.
Etiologicamente, esta condição de saúde pode ser causada por fatores
hereditários ou eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período neonatal,
ou durante os primeiros dois anos de vida2,3,5. São múltiplos os fatores
etiológicos da PC, estando estes associados aos diferentes subtipos e ao
período mais provável em que ocorreu a lesão5.
Existem várias classificações para a PC6-8. A classificação mais atual
baseia-se na distribuição de acometimento no corpo, no tipo de tônus ou
movimentação anormal e no nível de independência4,6,7. Sendo assim,
podemos encontrar crianças com alterações tônicas dos tipos espásticas,
discinéticas (extrapiramidal), atáxicas, hipotônicas e mistas 4,6-8. Entre as
alterações tônicas, a mais comum é a espasticidade, sendo que 75% das
crianças com PC apresentam o tônus alto1,9, havendo ainda aumento dos
reflexos tendíneos e da resistência à movimentação passiva rápida7,10,11. As
crianças espásticas, de acordo com a classificação topográfica, podem ser:
quadriplégicas, quando há acometimento dos quatro membros; diplégicas,
quando a alteração é mais relevante em membros inferiores; e hemiplégicas,
quando há um comprometimento unilateral7,8. Outra classificação atual
existente foi proposta pela Surveillance of Cerebral Palsy in Europe (SCPE,
2000) na qual as crianças com alterações do tipo espástica são divididas
somente em relação ao hemicorpo acometido, como unilateral ou bilateral, não
havendo distinção entre os tipos quadriplégicas e diplégicas12. Com base
nessa classificação, essa diferença, é feita de acordo com o nível funcional
das extremidades superiores e inferiores e de acordo com o desenvolvimento
cognitivo, função visual, auditiva e quadros epilépticos12,13.
23
Atualmente, a literatura tem demonstrado a preferência em classificar as
crianças com PC de acordo com sua independência funcional nas funções
motoras grossas3,14-16 e finas17-20. A Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) defende que uma condição de
saúde pode resultar não apenas em impactos estruturais, mas também
funcionais, resultando em restrições das atividades e da participação social do
indivíduo21. Esta classificação proposta pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) proporciona um melhor entendimento sobre os processos de
funcionalidade e incapacidade. Além de uniformizar e facilitar a organização
de evidências científicas, promove melhor comunicação inter-profissional, indo
ao encontro dos anseios das crianças e dos cuidadores1,14,22, permitindo,
assim, um retrato mais fidedigno dos impactos reais da condição de saúde no
cotidiano dos indivíduos.
Existem dois sistemas de classificação funcionais comumente utilizados
na avaliação de crianças com PC. O Gross Motor Function Classification
System (GMFCS) e o Manual Abilities Classification System (MACS), que são
sistemas confiáveis na caracterização funcional de membros inferiores e
superiores, respectivamente, de crianças com PC15,17-19. Estes sistemas de
classificação têm sido amplamente utilizados na descrição de crianças com PC
em muitos estudos científicos atuais. Os estudos sustentam a idéia de que o
nível de classificação no GMFCS possui um bom grau de estabilidade ao
longo dos anos, ou seja, uma criança, geralmente, não muda o seu nível de
classificação23-25. Além dos sistemas de classificação funcional, existem testes
padronizados e validados, comumente utilizados para avaliar a função motora
grossa e o desempenho funcional de crianças com PC, como o Gross Motor
Function Measure (GMFM) e o Pediatric Evaluation Disability Inventory (PEDI),
respectivamente14,22,26-33,33.
Os propósitos deste estudo foram: (1) classificar o nível funcional em um
grupo de crianças com PC do tipo espástica usando os sistemas GMFCS e
MACS; (2) verificar se existem diferenças entre as duas classificações
funcionais na comparação das atividades de função motora grossa (através do
teste GMFM-66) e no desempenho funcional (através do teste PEDI); e (3)
verificar a associação existente entre a função motora grossa e o desempenho
funcional com o GMFCS e MACS.
24
2 METODOLOGIA 2.1 Participantes
O presente estudo de caráter transversal contou com a participação de
30 crianças com PC, divididas em grupos de acordo com o nível de
funcionalidade apresentado (GMFCS e MACS), que recebem tratamento
fisioterapêutico no Ambulatório de Fisioterapia Pediátrica do Centro de
Atenção à Saúde/Hospital Universitário (CAS/HU) da Universidade Federal de
Juiz de Fora – UFJF e/ou na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais –
APAE de Juiz de Fora. O cálculo amostral feito para este estudo apontou que
uma amostra de no mínimo seis crianças em cada grupo seria necessária para
demonstrar alterações estatisticamente significativas, com um nível de
significância α= 0.05, um poder estatístico de 0.80 e um efeito (índice de
correlação r) esperado de 0.8, com base em evidências apresentadas na
literatura3.
Os critérios de inclusão para o estudo foram: crianças com idade entre
um e quatorze anos, com diagnóstico médico e/ou quadro clínico de paralisia
cerebral do tipo espástica e com capacidade de compreender ordens simples.
Também foram incluídas, crianças em uso de anticonvulsivantes, sem crises
convulsivas há pelo menos três meses. Foram excluídas crianças com mal
formação congênita não relacionada à PC, doenças cromossômicas e
flutuações tônicas que influenciassem a movimentação, como atetose ou
coreoatetose. Crianças que foram submetidas à cirurgia do sistema músculo-
esquelético e/ou a aplicação de toxina botulínica do tipo A, em um tempo
inferior a seis meses, também foram excluídas.
2.2 InstrumentosOs grupos foram definidos de acordo com a classificação funcional das
crianças com PC participantes deste estudo. Para a classificação do nível de
função motora grossa, as crianças incluídas no estudo foram classificadas
segundo o Gross Motor Function Classification System (GMFCS)15, e para a
25
classificação do nível de função motora fina ou habilidade manual foi utilizado
o Manual Ability Classification System (MACS)17-19. As crianças classificadas
nos níveis I e II, nas duas escalas, foram consideradas como leves; as do nível
III como moderadas e as dos níveis IV e V foram consideradas graves. Esta
adaptação das escalas originais (GMFCS e MACS) foi baseada em
características funcionais descritas na literatura3,15,17.
O sistema de classificação da função motora grossa (GMFCS) e o
sistema de classificação das habilidades manuais (MACS) caracterizam-se
como uma escala de cinco níveis que retratam, em ordem decrescente, o nível
de independência e funcionalidade das crianças com PC (vide Tabela 1)15,17-19.
De acordo com estudo de Eliasson et al. (2006), existe uma correlação entre
as duas escalas de 0,79, sendo 49% da classificação com concordância total
de crianças em um mesmo nível funcional tanto do GMFCS quanto do
MACS17.
Tabela 1: Descrição dos níveis de classificação funcional segundo o GMFCS
(idade acima de seis anos) e o MACS15,17-19:
GMFCS MACSNIVEL I Anda sem restrições, tem limitações
em atividades motoras globais mais
elaboradas.
Manuseia objetos facilmente e com
sucesso
NÍVEL II Anda sem ajuda, e apresenta alguma
dificuldade na locomoção fora de
casa e na sua comunidade.
Manuseia quase todos os objetos
com certa redução da qualidade e/ou
da velocidade de êxito.
NÍVEL III Anda com algum material que lhe dê
apoio e apresenta dificuldade de
andar fora de casa ou na sua
comunidade.
Manuseia objetos com dificuldade:
necessita de ajuda para preparar e/ou
modificar atividades.
NÍVEL IV Auto-locomoção limitada, as crianças
são transportadas ou usam cadeira
elétrica fora de casa ou em ambiente
mais amplo.
Manuseia uma seleção limitada de
objetos facilmente manuseáveis em
situações adaptadas.
NÍVEL V A auto-locomoção é muito
prejudicada mesmo com tecnologia
Não manuseia objetos e tem
habilidade severamente limitada para
26
mais avançada. realizar tarefas muito simples.
Para caracterização da função motora grossa e do desempenho
funcional foram utilizados os testes padronizados Gross Motor Function
Measure-66 (GMFM-66) e Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI),
respectivamente. O GMFM-66 é um instrumento observacional que avalia o
desempenho motor grosso de crianças com PC, descrevendo
quantitativamente, e não qualitativamente, a capacidade funcional da
criança27,28. Este protocolo consiste de 66 itens agrupados em cinco
dimensões da função motora grossa: A) deitado e rolando (quatro itens); B)
sentado (15 itens); C) engatinhando e ajoelhado (10 itens); D) De pé (13
itens); e E) andando, correndo e pulando (24 itens). Cada um dos itens
dispostos em cada dimensão é pontuado baseando-se em uma escala de
quatro pontos que varia de zero a três, da seguinte forma: 0 = não inicia o
movimento, 1 = inicia (menos que 10% de conclusão dos critérios para
pontuação do item), 2 = item parcialmente completo (de 10% a menos de
100%) e 3 = completa o item independentemente (100% de conclusão);
estando os critérios de pontuação descritos no manual27. Espera-se que todos
os itens possam ser completados por uma criança de cinco anos de idade com
habilidade motora grossa normal. Para calcular a porcentagem do escore total
deve-se utilizar o software Gross Motor Ability Estimator (GMAE) que
acompanha o manual27. Estudos têm demonstrado que o teste GMFM é um
teste válido e confiável para ser aplicado em crianças com PC14,26,28,29,33. Todas
as dimensões deste teste foram aplicadas neste estudo.
O PEDI é um instrumento padronizado, validado no Brasil desde 2000,
que consiste em uma entrevista estruturada realizada com o cuidador, capaz
de documentar o desempenho funcional nas atividades de vida diária de
crianças entre seis meses a sete anos de idade ou com desempenho motor
correspondente a essa faixa etária31. Este teste contempla três dimensões:
autocuidado, mobilidade e função social. A escala de autocuidado é composta
por 73 itens que abrangem alimentação, higiene pessoal, uso do toalete,
vestuário e controle esfincteriano. Os 59 itens funcionais de mobilidade
avaliam as transferências, locomoção em ambiente externo e interno, e uso de
27
escadas. Na dimensão função social, os 65 itens refletem as questões
relativas à comunicação (compreensão e expressão), resolução de problemas,
jogo social interativo, interação com colegas, brincadeiras, auto-informação,
orientação temporal, tarefas domésticas, auto-proteção e função comunitária.
Todas essas dimensões estão estruturadas em três partes, sendo que a
primeira refere-se ao desempenho funcional da criança em tarefas do dia-a-
dia, onde a pontuação de zero é atribuída à criança que não consegue realizar
o item e a pontuação de um é atribuída à criança que consegue realizar o
item, sendo o somatório dos pontos capaz de refletir as atividades que a
criança é capaz de executar. A segunda, diz respeito ao nível de assistência
que o cuidador oferece à criança na execução das atividades e esta é
pontuada de acordo com uma graduação decrescente de independência, ou
seja, cinco reflete o nível de completa independência, quatro indica
supervisão, três representa assistência mínima, dois assistência moderada,
um assistência máxima e zero assistência total. A terceira parte avalia a
freqüência de adaptações utilizadas pela criança que são documentadas como
“nenhuma” (no caso da criança não utilizar nenhuma adaptação), modificações
“centradas na criança”, modificações de “reabilitação”, ou modificações
“extensivas”31. Estudos têm demonstrado que o teste PEDI é um teste válido e
confiável para ser aplicado em crianças com PC no Brasil1,3,22,30,32,34. Neste
estudo, somente foram utilizadas as dimensões de autocuidado e mobilidade
nas primeiras duas partes: habilidades funcionais e assistência do cuidador.
Para caracterizar a amostra, além do sexo, idade, peso, altura, e tipo
topográfico de PC, as famílias foram descritas através do questionário de nível
sócio-econômico (NSE) desenvolvido pela ABEP - Critério de Classificação
Econômica Brasil. Através deste questionário, o grau de instrução do chefe da
família e a capacidade de aquisição de bens foram coletados, com o objetivo
de caracterização social das famílias participantes deste estudo35.
Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFJF em
agosto de 2007 (parecer nº 186/ 2007) e todos os pais/ cuidadores das
crianças foram informados sobre os objetivos e procedimentos do estudo e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
28
2.3 ProcedimentoAs crianças incluídas no estudo foram avaliadas no Ambulatório de
Fisioterapia Pediátrica do CAS/HU – UFJF e no Ambulatório de Fisioterapia da
APAE/JF, nos meses de agosto e setembro de 2007. As crianças foram
divididas em dois blocos para permitir a diferenciação entre elas de acordo
com a sua classificação funcional: um bloco de três grupos (i.e., leve,
moderado e grave) de crianças classificadas pelo GMFCS, e um bloco de três
grupos (i.e., leve, moderado e grave) das mesmas crianças classificadas pelo
MACS.
Cada participante foi avaliado uma única vez por acadêmicas do Curso
de Fisioterapia da UFJF, previamente treinadas (ICC > 0,94). Um examinador
(R.A.L.) aplicou o instrumento PEDI e, logo em seguida, coletou informações
descritivas (i.e. sexo, idade em meses, altura e peso) e aplicou o questionário
de nível sócio econômico e o outro examinador (E.C.D), primeiramente
administrou o GMFM-66 e, depois, fez a classificação funcional da PC,
segundo o GMFCS e MACS. Enquanto a criança realizava o teste GMFM-66
na sala de atendimento, a PEDI era administrada ao cuidador em uma sala
reservada no mesmo estabelecimento. O procedimento de avaliação da
criança e entrevista ao cuidador teve duração de aproximadamente 50
minutos.
2.4 Análise EstatísticaA análise descritiva dos participantes incluiu as variáveis: sexo, idade,
características antropométricas (altura e peso), nível sócio-econômico (NSE),
tipo topográfico de PC, e grau de funcionalidade (GMFCS e MACS) e de
comprometimento motor (leve, moderado e grave) (vide tabela 2). Foi realizado
o teste One-way ANOVA para verificar a diferença entre os grupos para as
variáveis idade, altura e peso, e o teste Qui-quadrado foi realizado para
verificar as diferenças entre as variáveis nominais (sexo, NSE e topografia da
PC).
O teste One-way ANOVA para grupos independentes, foi utilizado a fim
de comparar os resultados do GMFM-66 e do PEDI obtido pelas crianças entre
os três grupos de GMFCS e entre os três grupos de MACS. Uma vez verificada
29
a existência de resultados significativos, foi realizado teste post-hoc Scheffé
(i.e., diferenças bivariadas) para localizar as diferenças encontradas. Além
disso, aplicou-se a correlação de Pearson r para verificar a associação entre as
classificações funcionais GMFCS e MACS com o escore bruto obtido no PEDI
(dimensões de autocuidado e mobilidade nas duas partes do teste utilizado) e
com a percentagem do escore total obtido no GMFM-66. Em todas as análises
estatísticas considerou-se o índice de significância α = 0,05. O pacote
estatístico utilizado foi o Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão
15.0 (SPSS Inc., 2006®).
3 Resultados As características descritivas (sexo, idade, NSE, peso, altura e tipo
clínico) da amostra, assim como a classificação segundo o GMFCS e MACS
estão demonstradas na tabela 2. Não houve diferença estatisticamente
significativa na idade, NSE, peso e altura da amostra entre os três grupos de
crianças pelo GMFCS e pelo MACS.
TABELA 2: Características descritivas da amostra, de acordo com a divisão
nos grupos LEVE (L), MODERADO (M) e GRAVE (G), segundo o GMFCS e o
MACS.
VARIÁVEISDESCRITIVAS
GRUPOSGMFCS MACS
L M G L M G
NÚMERO 13 6 11 16 6 8IDADE MESES 92.23
(39.62)
103.33
(51.69)
88.63
(38.28)
106.25
(35.86)
72.16
(44.51)
82.62
(41.80)SEXO F 6 4 0 9 1 0
M 7 2 11 7 5 8ALTURA METROS 1.17
(0.18)
1.19
(0.23)
1.13
(0.20)
1.23
(0.14)
1.08
(0.26)
1.08
(0.20)PESO QUILOS 23.45
(9.18)
25.50
(13.41)
20.54
(11.530
25.52
(10.20)
20.33
(7.56)
19.27
(13.82)NSE A 0 1 1 1 0 1
30
B 1 0 0 1 0 0C 7 2 6 7 4 4D 5 3 4 7 2 3
TIPO DA PC
QUADRI 0 1 10 0 3 8DI 6 5 1 10 2 0
HEMI 7 0 0 6 1 0Legendas: GMFCS=Gross Motor Function Classification System; MACS=Manual Abilities
Classification System; F=feminino; M=masculino; NSE=nível sócio-econômico;
quadri=quadriplegia; di=diplegia; hemi=hemiplegia.
Valores da idade, altura e peso representados em médias, e desvios padrões entre parênteses.
Valores do número de crianças, sexo, NSE e topografia da PC em freqüência de aparecimento.
Na análise pelo teste Qui-quadrado, as 30 crianças avaliadas foram
estatisticamente diferentes entre os grupos em relação ao sexo (p<0.05) onde
ocorreu um predomínio do sexo masculino (20) em relação ao sexo feminino
(10), e uma diferença em relação ao tipo clínico (p<0.05), entre os grupos. O
tipo clínico predominante, de forma geral, foi diplegia (40%), seguido de
quadriplegia (36,7%) e hemiplegia (23,3%).
O primeiro bloco de crianças constou de três grupos classificadas
funcionalmente de acordo com o GMFCS, sendo o grupo de crianças leves
com 13 crianças (GMFCS I e II), o de moderadas com seis crianças (GMFCS
III) e o de crianças graves com 11 crianças (GMFCS IV e V). E o segundo
bloco constou de três grupos de crianças classificadas funcionalmente de
acordo com o MACS, sendo o grupo de crianças leves com 16 crianças
(MACS I e II), o de moderadas com seis crianças (MACS III) e o de crianças
graves com oito crianças (MACS IV e V). Algumas crianças classificadas como
leve, moderada ou grave no GMFCS foram as mesmas que obtiveram essa
classificação de acordo com o MACS, porém ocorreu também classificações
diversificadas, de modo que os grupos foram compostos por crianças
diferentes. As características da amostra entre os dois grupos GMFCS e
MACS estão descritas na Tabela 2.
A partir da análise realizada com o teste one-way ANOVA foi
demonstrada diferença estatisticamente significativa entre os grupos
comparando-se as classificações funcionais GMFCS e MACS e os testes
GMFM e PEDI (p<0.001).
A análise a partir da classificação do GMFCS demonstrou que os grupos
leve, moderado e grave apresentaram diferença significativa entre si
31
considerando as habilidades motoras grossas demonstradas pelas diferenças
entre os escores brutos no teste GMFM-66 (F=36.621, p<0.001). Nos
resultados do teste PEDI, houve diferença entre o grupo grave em relação aos
grupos leve e moderado no que se refere a habilidades funcionais de auto
cuidado (F=13.450, p<0.001) e de mobilidade (F=26.324, p<0.001) e também
em relação à assistência recebida pelo cuidador, tanto nos quesitos
autocuidado (F=14.236, p<0.001), como mobilidade (F=24.298, p<0.001).
Entretanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos
leve e moderado nas mesmas áreas (vide Tabela 3).
Considerando a classificação funcional MACS, também foi encontrada
diferença estatisticamente significativa entre os três grupos em relação às
habilidades motoras grossas obtidas pelas diferenças entre os escores brutos
do teste GMFM-66 (F=49.290 p<0.001). Diferenças estatísticas foram
demonstradas entre o grupo leve e os grupos moderado e grave quanto às
habilidades funcionais em auto cuidado (F=33.187 p<0.001) e mobilidade
(F=39.352, p<0.001), sendo o mesmo observado com relação à assistência
recebida do cuidador em autocuidado (F=29.295, p<0.001) e mobilidade
(F=45.508, p<0.001). Porém, não foi evidenciada diferença entre os grupos
moderado e grave (vide Tabela 3).
TABELA 3: Escores médios e desvios padrões obtidos nos testes GMFM e
PEDI, entre os grupos LEVE (L), MODERADO (M) e GRAVE (G), de acordo
com as classificações funcionais GMFCS e MACS.
VARIÁVEISINFERENCIAIS
GRUPOSGMFCS MACS
L M G L M GGMFM 64.65
(14.17)
48.22*
(8.05)
21.98*
(11.32)
63.06
(12.33)
37.43*
(7.87)
17.26*
(9.35)
32
PEDIHFAC
HFM
ACAC
ACM
50.00a
(18.06)
43.46a
(17.06)
24.23a
(11.55)
25.08a
(10.07)
48.67a
(23.95)
31.33a
(16.46)
22.83a
(15.11)
19.17a
(10.98)
15.18b
(23.41)
3.36b
(4.03)
2.90b
(3.81)
1.55b
(2.77)
54.62a
(15.71)
44.00a
(14.85)
26.94a
(10.31)
26.06a
(8.33)
26.83b
(11.89)
11.50b
(9.01)
6.17b
(6.15)
6.00b
(5.66)
9.25b
(7.29)
2.13b
(2.85)
2.00b
(3.55)
0.62b
(1.41)Legendas: GMFCS=Gross Motor Function Classification System; MACS=Manual Abilities
Classification System; GMFM=Gross Motor Function Measure; PEDI=Pediatric Evaluation of
Disability Inventory; HFAC=habilidades funcionas de autocuidado, HFM=habilidades funcionais
de mobilidade, ACAC= assistência cuidador auto-cuidado, ACM =assistência cuidador
mobilidade
Valores representados em médias, e desvios padrões (DP) entre parênteses.
* p<0.05
Letras iguais e números em negrito significam igualdade entre grupos, e letras diferentes
significam diferenças entre grupos com p<0.05.
33
Na análise pelo teste de correlação de Pearson, uma associação
negativa e estatisticamente significativa foi encontrada entre os níveis do
GMFCS e o escore bruto do GMFM-66 (r=-0.850, p<0.001) e entre o GMFCS e
escore bruto do teste PEDI na área de habilidades funcionais em auto cuidado
(r= -0.651, p<0.001) e mobilidade (r=-0.800, p<0.001) e na área de assistência
cuidador em auto cuidado (r=-0.666, p<0.001) e mobilidade (r=-0.782,
p<0.001). O mesmo resultado foi encontrado entre os níveis do MACS e o
escore bruto do GMFM-66 (r= -0.885, p<0.001) e com o escore bruto do PEDI
nas áreas de habilidades funcionais e assistência do cuidador em auto cuidado
(r=-0.839, p<0.001; r=-0.794, p<0.001, respectivamente) e mobilidade (r=-
0.838, p<0.001; r=-0.851, p<0.001, respectivamente).
4 DISCUSSÃOOs resultados deste estudo fornecem informações sobre a importância
da classificação funcional e da caracterização da função motora grossa e do
desempenho funcional de crianças com paralisia cerebral, utilizando os
sistemas de classificação GMFCS e MACS e os testes GMFM-66 e PEDI.
Analisando os resultados obtidos através da associação e comparação
entre grupos do GMFCS com o GMFM-66, observamos que quanto maior o
nível de classificação funcional menor a capacidade da função motora grossa
apresentada, ou seja, crianças graves apresentam desempenho motor grosso
inferior ao de crianças leves e moderadas. Da mesma forma, as crianças
classificadas como moderadas apresentam uma melhor função motora grossa,
comparada com as crianças graves. Tal achado pode ser explicado pelo fato
das crianças pertencentes ao grupo grave apresentarem comprometimento
motor muito severo de modo a não possuírem locomoção independente,
resultando em um baixo escore no GMFM, já que não conseguem realizar as
atividades propostas pelas dimensões “de pé” e “andando, correndo e
pulando”. As crianças classificadas como moderadas apresentam melhor
desempenho no GMFM-66 do que as graves, uma vez que, são capazes de
deambular com auxílio de dispositivo. Porém, os melhores resultados nos
escore do GMFM-66 foram encontrados nas crianças classificadas como leves
que apresentam marcha independente e, desta forma, maior capacidade de
realizar os itens de cada dimensão. Estes resultados vão ao encontro das
34
evidências encontradas na literatura. Gorter et al. (2004) também verificou que
quanto maior o nível de função motora grossa, segundo o GMFM-66, menor é
o nível na classificação funcional, segundo o GMFCS36.
Em nosso estudo, de acordo com a classificação do GMFCS verificou-se
que o grupo grave foi constituído em sua maioria por crianças classificadas
como quadriplégicas. O grupo leve apresentou crianças classificadas como
hemiplégicas e diplégicas de forma equivalente e o grupo moderado,
predominantemente de diplégicos. Já de acordo com a classificação pelo
MACS, o grupo tornou-se mais heterogêneo, sendo o grupo moderado
caracterizado por crianças na sua maioria quadriplégicas (n=3), seguida por
crianças diplégicas (2) e apenas uma criança hemiplégica (vide Tabela 2). De
acordo com a literatura, quanto maior o comprometimento topográfico maior o
nível de classificação pelo GMFCS, o que reflete no repertório funcional das
crianças36,37. Trahan et al. (1999), também verificou que a performance motora
avaliada pelo GMFM é menor quanto maior for o comprometimento do corpo38.
Porém, apenas o uso da classificação topográfica pode ser insuficiente para
demonstrar essa diferença, uma vez que de acordo com as classificações
funcionais essa relação não é demonstrada de forma linear.
De acordo com os resultados obtidos pela associação e comparação
entre os grupos de crianças classificadas de acordo com o MACS com o
GMFM-66 também encontramos uma relação decrescente entre a habilidade
manual e a função motora grossa. Assim, crianças com manuseios
severamente comprometidos apresentam restrição da função motora grossa,
visto pelo baixo desempenho no GMFM-66. Já as crianças moderadas que
necessitam de adaptações para realizar manuseios, apresentam um
desempenho superior ao das graves, porém, inferior ao grupo de crianças
leves. O grupo leve apresenta melhor habilidade manual e, pelos resultados
observados neste estudo, demonstram melhor função motora grossa.
Quando comparamos a classificação da função motora grossa e da
habilidade manual através do GMFCS e MACS com o teste PEDI, encontramos
que as crianças do grupo leve sempre apresentam desempenho superior ao
das crianças do grupo grave. Isto ocorre porque, as crianças graves, na maioria
das vezes, são motoramente mais comprometidas tanto em membros inferiores
quanto em membros superiores, resultando em desempenho inferior nas
35
dimensões de habilidade do PEDI avaliadas neste estudo e, têm maior
necessidade de assistência do cuidador nas mesmas dimensões. Os achados
de Ostensjo et al (2003), indicam que quanto maior restrição na funcionalidade
em atividades diárias e maior necessidade de assistência de cuidador, maior o
nível de severidade da função motora grossa de crianças com PC39. O estudo
de Mancini et al (2004), também revelou superioridade funcional das crianças
do grupo leve em relação às do grupo grave em todas as áreas avaliadas
segundo o teste PEDI3.
No entanto, no que se refere às crianças do grupo moderado,
verificamos semelhança com o grupo leve quando classificamos os grupos
através do GMFCS. Isso pode ocorrer devido ao fato deste sistema estar mais
direcionado para a classificação da funcionalidade de membros inferiores, uma
vez que caracteriza a capacidade deambulatória de crianças com PC. Como já
descrito anteriormente, as crianças do grupo moderado conseguem
desempenhar as atividades deambulatórias com auxílio de equipamentos
adaptativos, permitindo êxito comparável ao de crianças leves nas habilidades
funcionais relacionadas à mobilidade (vide Tabela 1)15. Com isso, requerem
menor assistência dos seus cuidadores em tais dimensões.
O estudo de Mancini et al. (2004), corroboram tais achados no que se
refere ao repertório de habilidades apresentadas, sendo o grupo leve
semelhante ao de crianças moderadas3. No entanto, no quesito assistência
recebida do cuidador, tal estudo revelou que o grupo moderado assemelha-se
ao grave, sendo ambos inferiores ao de crianças leves. Essa discrepância pôde
ser elucidada no estudo de Mancini et al, pela influência do ambiente, perfil dos
cuidadores e pela cultura regional, no qual as crianças do grupo moderado
apresentaram baixo desempenho devido às atitudes protecionistas que
restringiram a sua funcionalidade, não permitindo o uso de seu potencial
máximo no dia-a-dia. Ou seja, a atitude dos cuidadores, exerceu influência
negativa na independência funcional3. Tal constatação não foi observada na
amostra do presente estudo.
Possivelmente, este fato deve-se a diferença cultural entre regiões e do
perfil das amostras. Os NSE predominantemente encontrados neste estudo
foram C e D (90%). No estudo de Mancini et al. foi observado uma amostra em
que os níveis C e D corresponderam a 61,1%3. Dessa forma, é possível que
36
cuidadores com melhores condições financeiras e maior nível de escolaridade
tiveram uma atitude mais protecionista. No entanto, novos estudos são
necessários para avaliar a influência deste fator no nível de assistência
oferecida às crianças com PC. Outra possível explicação para a diferença
entre os resultados foi que no estudo de Mancini et al.3, as crianças avaliadas
tinham a média etária de seis anos em comparação com o nosso estudo, que
apresentou uma média de sete anos e 11 meses (DP=3 anos e quatro meses).
Assim, pode-se supor que crianças mais novas apresentem maior dependência
dos seus cuidadores.
Os resultados da análise entre os grupos pela classificação do MACS
demonstraram semelhança entre os grupos de crianças moderadas e graves e
diferenças nos grupos leve com relação ao grave e moderado. Considerando
que o MACS é uma classificação exclusivamente voltada para as habilidades
manuais e que uma criança moderada necessita de ajuda para preparar e
modificar suas atividades, é esperado que o seu desempenho nas habilidades
funcionais relacionadas ao autocuidado sejam inferiores ao de crianças leves,
uma vez que, estas exigem um grau de função manual compatíveis com a
execução das tarefas compreendidas nesse quesito. De acordo com Alegretti
et al (2004), a maioria das atividades de autocuidado (vestir/despir ou higiene
pessoal, por exemplo) são influenciadas pela capacidade manual como a
bimanualidade e a facilidade de manuseios22. No mesmo estudo, a autora
discute que crianças diparéticas espásticas apresentam desempenho mais
comprometido nas atividades de transferência que precisam mais da atuação
dos membros superiores do que na locomoção, pelo fato dessas crianças
fazerem uso de dispositivos auxiliares ou modificações ambientais para se
locomover22.
Em nosso estudo, foi observada semelhança no desempenho de
crianças graves e moderadas nas habilidades necessárias para as tarefas de
mobilidade, as quais necessitam da capacidade funcional de membros
superiores, principalmente para realização de transferências. Além disso, as
restrições funcionais resultantes do comprometimento manual culminaram em
dependência semelhante entre o grupo moderado e o grave em relação à
assistência de seus cuidadores.
37
Os resultados do GMFM e do PEDI entre os grupos não foram
semelhantes. Isso pode ser explicado pelo fato dos testes medirem construtos
diferentes, sendo que, o GMFM avalia a função motora grossa de crianças com
PC e o PEDI avalia o desempenho na execução de atividades típicas do dia a
dia. Neste estudo, podemos observar que as crianças nos grupos que
compuseram a amostra não apresentam desempenho similar de acordo com
os escores obtidos nos dois testes empregados, demonstrando que o
desenvolvimento de habilidades motoras grossas (GMFM-66) e de
desempenho funcional em AVD’s (PEDI) não ocorre de forma linear.
As limitações deste estudo constam de o mesmo ser de caráter
transversal não podendo inferir sobre desfechos futuros sobre a funcionalidade
destas crianças. Além disso, este estudo apresentou uma amostra pequena no
grupo moderado (n= 6) nas duas classificações funcionais, podendo ter sido
influenciado pela forma de agrupamento de acordo com o GMFCS e o MACS.
Isso ocorreu, porque o grupo moderado era constituído apenas por crianças
classificadas em nível III, tanto pelo GMFCS quanto pelo MACS, diferente dos
demais grupos que contemplavam dois níveis de classificação funcional (I e II
no grupo leve; e IV e V no grupo grave). Vale ressaltar, que a amostra foi
recrutada em dois grandes centros de reabilitação de crianças com PC da
cidade de Juiz de Fora, constituindo-se, provavelmente a um fator regional a
escassez de indivíduos classificados com GMFCS e MACS no grupo
moderado. Além disso, foi realizado um cálculo amostral prévio que
demonstrou que uma amostra de, no mínimo seis crianças estava adequado
para os propósitos do estudo.
Outra possível limitação deste estudo deve-se a diferença
estatisticamente significativa entre os sexos na amostra, caracterizada por
maior número de meninos (20) em relação às meninas (10). Porém, como a PC
não é determinante, nem prevalente em nenhum sexo, essa característica da
amostra provavelmente não influenciou os resultados. Apesar dos grupos
terem sido diferentes entre eles em relação ao quadro clínico, essa
característica não foi um desfecho de interesse, uma vez que a caracterização
dos grupos foi baseada na característica funcional e não topográfica das
crianças com PC.
38
O Comitê Executivo para Definição de Paralisia Cerebral em 2006 aponta que
as conseqüências funcionais do envolvimento de extremidades superiores e
inferiores podem ser classificadas, separadamente, por sistemas de
classificação com objetivos funcionais específicos4. Segundo Nordmark et al
(2000), a função de crianças com PC precisa ser classificada de acordo com a
idade e a severidade através de instrumentos apropriados40. Para Eliasson et al
(2006) e Carnahan et al (2007), a função motora grossa e fina de crianças com
PC não são equivalentes e devem ser classificadas de forma independente13,17.
Todos os autores citados acima estão de acordo com os resultados
encontrados neste estudo, demonstrando a especificidade das duas
classificações funcionais empregadas (GMFCS e MACS).
5 CONCLUSÃOTodos os achados apontam para a necessidade de uma avaliação ampla
da capacidade funcional e motora de crianças com PC. O presente estudo
revelou que as classificações funcionais GMFCS e MACS são bons
indicadores para a avaliação da capacidade funcional deambulatória e das
habilidades manuais, respectivamente. Esses dados podem ser úteis na
caracterização funcional das crianças com PC, no direcionamento das
avaliações e no planejamento das intervenções na prática clínica. Apesar de
não substituírem uma avaliação tradicional, os sistemas de classificação
GMFCS e o MACS são de fácil administração, assim como os testes GMFM e
o PEDI, exigindo um treinamento mínimo para utilização e aplicabilidade no
dia-a-dia.
AGRADECIMENTOSGostaríamos de agradecer as crianças e cuidadores participantes do estudo, e
aos fisioterapeutas e estagiários da APAE e do CAS/HU-UFJF por
intermediarem o contato com as famílias e auxiliarem no agendamento das
avaliações.
39
40
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, I. F.; RODRIGUES, A. M. V. N. O uso de órteses no tratamento de crianças com paralisia cerebral na forma hemiplégica espástica. Temas sobre desenvolvimento, v.11, n.63, p.45-51, 2002.
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43
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44
ANEXOS
ANEXO A: GROSS MOTOR FUNCTION CLASSIFICATION SYSTEM FOR CEREBRAL PALSY
SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA (GMFCS) PARA PARALISIA CEREBRAL
• NÍVEL 1 - Anda sem restrições, tem limitações em atividades motoras globais
mais elaboradas.
• NÍVEL 2 - Criança anda sem ajuda, tem alguma dificuldade na locomoção
fora de casa e na sua comunidade.
• NÍVEL 3 - Anda com algum material que lhe dê apoio. Tem dificuldade de
andar fora de casa ou na sua comunidade.
• NÍVEL 4 – Auto-locomoção limitada, as crianças são transportadas ou usam
cadeira elétrica fora de casa ou em ambiente mais amplo
• NÍVEL 5 - A auto-locomoção é muito prejudicada mesmo com tecnologia mais
avançada.
(PALISANO, et al; 1997)
ANTES DOS 2 ANOS DE IDADE:
• NÍVEL I: O lactente senta-se e levanta-se de cadeiras, bancos ou do
chão sem usar as mãos, estando estas livres para manipular objetos. O
lactente engatinha sobre mãos e joelhos, puxa- se para a postura de pé
e dá passos segurando em móveis. Ele anda entre 18 meses e 2 anos
de idade sem necessitar de ajuda (ex. voador).
• NÍVEL II: O lactente mantém-se sentado no chão, mas pode precisar
usar as mãos para apoio. Ele se arrasta ou engatinha. Pode ser que ele
se puxe para postura de pé, segurando nos móveis dando alguns
passos.
• NÍVEL III: O lactente fica sentado no chão quando seu tronco inferior for
sustentado. Ele rola e se arrasta.
45
• NÍVEL IV: O lactente tem controle de cabeça, mas o tronco deve ser
apoiado para poder sentar no chão. Ele consegue rolar para supino e
talvez para prono.
• NÍVEL V: A deficiência motora limita o controle voluntário dos
movimentos. Os lactentes não conseguem sustentar a cabeça e o tronco
contra a gravidade na postura em prono ou sentada. Para rolar,
precisam ajuda.
ENTRE 2 E 4 ANOS DE IDADE:
• NÍVEL I: A criança consegue sentar no chão sem usar as mãos, estando
estas livres para manipular objetos. Ela é capaz de fazer mudanças de
posturas de sentado no chão para de pé, sem nenhuma ajuda. A criança
anda do seu jeito preferido sem nenhuma assistência, seja por pessoas
ou por objetos.
• NÍVEL II: A criança senta no chão, mas apresenta dificuldade em
manipular um objeto, porque ela precisa das mãos para se manter
sentada.
• NÍVEL III: A criança consegue se manter sentada no chão, muitas vezes
sentando em W (sentado entre as pernas fletidas com quadril em
rotação interna). Pode ser que ela precise de ajuda do adulto para se
sentar. Consegue arrastar ou engatinhar de forma não recíproca. Esta
pode ser a maneira principal de se locomover. Pode se puxar para a
postura de pé num ambiente estável e pode dar alguns passos. Em
casa, pode usar alguma ajuda para se locomover.
• NÍVEL IV: Consegue sentar no chão quando colocado, mas é incapaz
de se manter alinhado e de se equilibrar sem apoio das mãos. A maioria
das crianças necessita material de apoio para a postura sentada ou de
pé. A auto-locomoção é possível por uma distância pequena, por
exemplo, dentro de um quarto, através do rolar, arrastar ou engatinhar
não recíproco.
46
• NÍVEL V: A deficiência motora limita o controle dos movimentos
voluntários, como manter a cabeça e o tronco contra a gravidade. Todas
as áreas de funcionalidade estão limitadas. As limitações do sentar e de
ficar de pé não são possíveis de compensar plenamente através de
órteses ou outros materiais. No nível V, a criança não tem chance de
auto-locomoção. Ela é transportada. Algumas crianças conseguem se
locomover em cadeira de rodas motorizada com muitas adaptações.
ENTRE 4 E 6 ANOS DE IDADE:
• NÍVEL I: A criança consegue assumir diversas posturas e sabe fazer as
transições, como sentar e ficar de pé, sem precisar de apoio. Ela anda
em casa e na rua e consegue subir escadas. Apresenta habilidade de
correr e de pular.
• NÍVEL II: A criança é capaz de sentar numa cadeira, conseguindo
manipular um objeto com as duas mãos. Ela se levanta do chão ou da
cadeira, mas precisa de uma superfície que permita que ela se puxe
pelos membros superiores para a postura de pé. A criança consegue
andar sem assistência dentro e fora de casa, porém, desloca-se pouco.
Sobe escadas, mas precisa segurar- se no corrimão, não sendo capaz
de correr ou pular.
• NÍVEL III: A criança consegue sentar numa cadeira normal, mas
necessita de um suporte no tronco ou na pelve para maximizar a função
da mão. Ela consegue levantar e sentar numa cadeira usando uma
superfície de apoio para se puxar pelos membros superiores. Ela anda
com alguma ajuda de aparelho numa superfície plana; para subir
escadas precisa ser guiado por um adulto. Geralmente as crianças são
transportadas quando se desloca a distâncias maiores ou quando o
terreno for acidentado.
• NÍVEL IV: A criança senta na cadeira que precisa de material de
adaptação para o tronco e a pelve para maximizar o uso das mãos. Ela
levanta e senta com ajuda de um adulto ou apoiando-se numa superfície
47
para poder se puxar pelos membros superiores. Ela consegue andar
pequenas distâncias com a ajuda de um adulto, mas a dificuldade é de
se virar e de manter o equilíbrio em área acidentada. A criança é
transportada e pode conseguir se locomover com uma cadeira
motorizada.
• NÍVEL V: A deficiência motora limita o controle dos movimentos
voluntários, como manter a cabeça e o tronco contra a gravidade. Todas
as áreas de funcionalidade estão limitadas. As limitações do sentar e de
ficar de pé não são possíveis de compensar plenamente através de
órteses ou outros materiais. No nível V, a criança não tem chance de
auto-locomoção. Ela é transportada. Algumas crianças conseguem se
locomover em cadeira de rodas motorizada com muitas adaptações.
ENTRE 6 E 12 ANOS DE IDADE:
• NÍVEL I: A criança anda dentro e fora de casa, sobe degraus sem
nenhuma dificuldade. Ela consegue realizar todas as funções motoras
globais, incluindo correr e pular, porém a velocidade, o equilíbrio e a
coordenação estão diminuídos.
• NÍVEL II: A criança anda dentro e fora de casa, sobe escadas
segurando- se no corrimão, sente dificuldade de andar em chão irregular
ou inclinado, como também em lugar cheio de pessoas com espaço
limitado. Apresentam habilidade mínima em atividades como correr e
pular.
• NÍVEL III: A criança anda numa superfície plana dentro e fora de casa
com algum aparelho. Consegue subir escadas segurando no corrimão.
Dependendo da função manual ela é capaz de tocar uma cadeira de
rodas auto-propulsionadas ou é transportada, em caso de distância
maior ou terreno acidentado.
• NÍVEL IV: A criança poderá manter o nível de funcionalidade que
adquirir até os 6 anos. Ela depende mais de cadeira de rodas em casa,
48
na escola e na comunidade. Pode se locomover com cadeira
motorizada.
• NÍVEL V: A deficiência motora limita o controle dos movimentos
voluntários, como manter a cabeça e o tronco contra a gravidade. Todas
as áreas de funcionalidade estão limitadas. As limitações do sentar e de
ficar de pé não são possíveis de compensar plenamente através de
órteses ou outros materiais. No nível V, a criança não tem chance de
auto-locomoção. Ela é transportada. Algumas crianças conseguem se
locomover em cadeira de rodas motorizada com muitas adaptações.
49
ANEXO B: MANUAL ABILITIES CLASSIFICATION SYSTEM (MACS) FOR CEREBRAL PALSY
SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DAS HABILIDADES MANUAIS (MACS) PARA PARALISIA CEREBRAL
• NÍVEL 1 – Manuseia objetos facilmente e com sucesso.
• NÍVEL 2 – Manuseia quase todos os objetos com certa redução da
qualidade e/ou da velocidade de êxito.
• NÍVEL 3 – Manuseia objetos com dificuldade: necessita de ajuda para
preparar e/ou modificar atividades.
• NÍVEL 4 – Manuseia uma seleção limitada de objetos facilmente
manuseáveis em situações adaptadas.
• NÍVEL 5 – Não manuseia objetos e tem habilidade severamente limitada
para realizar tarefas muito simples.
(ELIASSON, et al; 2006)
50
ANEXO C: ABEP - Critério de Classificação Econômica Brasil
51
Critério de Classificação - dados originais de 1996Buscando unificar em um critério de avaliação econômica do consumidor
brasileiro, ABA, ANEP e ABIPEME vinham trabalhando, desde 1996, na
busca de uma alternativa que incorporasse, ao mesmo tempo, as
experiências e dados anteriores com as propostas de atualização, levando-
se em consideração as realidades do mercado contemporâneo. Este novo
sistema, batizado de CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA
BRASIL, enfatiza sua função de estimar o poder de compra das pessoas e
famílias urbanas, abandonando a pretensão de classificar a população em
termos de classes sociais.
Esta nova divisão de mercado é, exclusivamente, de classes econômicas. O
novo critério mantém a pontuação a partir de itens de posse, mas optou-se
por considerar apenas os mais significativos. Dessa forma, itens como
telefone celular e TV a cabo, por exemplo, apesar de, simbolicamente,
representar modernidade, não foram considerados por não oferecer índice
discriminador real na base total da população. O sistema de pontos utilizado
no CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA BRASIL é apresentado
nos quadros abaixo:Sistema de Pontos
Possui 0 1 2 3 4 56 ou
+Televisão em cores 0 2 3 4 5 5 5Videocassete 0 2 2 2 2 2 2Rádio 0 1 2 3 4 4 4Banheiro 0 2 3 4 4 4 4Automóvel 0 2 4 5 5 5 5Empregada mensal 0 2 4 4 4 4 4Aspirador de pó 0 1 1 1 1 1 1 Geladeira e Freezer PontosNão possui 0Possui só geladeira sem freezer 2Possui geladeira duplex ou freezer 2 Grau de Instrução PontosAnalfabeto/Primário incompleto 0Primário completo/Ginasial incompleto 1
52
ANEXO D: Parecer do CEP
53
ANEXO E: Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI)
54
55
56
57
58
59
ANEXO F: Gross Motor Function Measure (GMFM-66)
60
61
62
63
64
65
APÊNDICES
APÊNDICE A: Formulário de Inclusão no Estudo
Número de identificação: ___________
Data:________
Nome da criança:________________________________________________
Sexo: ( ) F ( ) M
Data de nascimento:___/___/___
Medidas antropométricas: Peso __________Kg Altura _________m
Classificação quanto à funcionalidade: MACS__________ GMFCS_________
Nome da mãe:___________________________________________________
Nome do
pai:_____________________________________________________
Endereço:_______________________________________________________
Tel.:________________
Critérios de inclusão:
Idade:___________________
Usa medicação regularmente: ( ) Sim ( ) Não
Aplicação de toxina botulínica: ( ) Sim ( ) Não Data:__/__/__
Cirurgia músculo-esquelética: ( ) Sim ( ) Não Data:__/__/__
66
APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)Faculdade de Medicina - FACMEDDepartamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de ForaPESQUISADORA RESPONSÁVEL: Profa. Ms. Paula Silva de Carvalho ChagasENDEREÇO: Rua Tom Fagundes 80/402, Cascatinha, Juiz de Fora - MGCEP: 36033-300 FONE: 3229-3843, 4009-5318 e 8852-8033;E-MAIL: [email protected]
O estudo intitulado “CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA E DESEMPENHO FUNCIONAL DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL” pretende avaliar a capacidade de movimento da criança com paralisia cerebral e suas habilidades em realizar as atividades do dia-a-dia. Participar da pesquisa não implica remuneração, nem em qualquer ganho material (brindes, indenização, etc) ou gastos para os indivíduos avaliados e/ou suas famílias. Porém, é importante ressaltar que ao aceitar participar do estudo, o participante irá contribuir para o desenvolvimento do conhecimento geral e específico a respeito da melhor forma de avaliar as crianças com Paralisia Cerebral. O único gasto relativo à participação neste estudo corresponde à assinatura da guia do SUS, conforme é feito a cada atendimento de seu(ua) filho(a) em nosso setor de fisioterapia, o que representa um gasto indireto, uma vez que esse valor é pago pelo Governo Federal através do recolhimento dos impostos. A participação no estudo será voluntária, porém a recusa em fazer parte deste não acarretará nenhum prejuízo de qualquer ordem ou forma de atendimento ao participante.
Aceitando participar desta pesquisa você estará concordando que o menor sob sua responsabilidade seja avaliado no ginásio infantil do Centro de Atenção à Saúde – CAS da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, do SUS da cidade de Juiz de Fora por alunas treinadas nos testes padronizados PEDI e GMFM. O PEDI consiste em uma entrevista realizada com os pais ou cuidador a respeito das habilidades da criança, assistência e adaptações oferecidas a ela no dia-a-dia, relacionadas à alimentação, higiene, uso de equipamentos, entre outros. O GMFM é um teste que propõem atividades normalmente realizadas pelas crianças na rotina diária, como deitar, rolar, sentar, ficar em pé e andar. Neste teste, o avaliador apenas observa e analisa a criança executar as tarefas. Para realizar esta avaliação, é preciso que a criança esteja vestida com o mínimo de roupa possível para permitir melhor observação.
Cada criança será avaliada apenas uma vez pela aluna Érica Cesário Defilipo, treinada para a função de aplicar o teste GMFM e enquanto a criança realizará o teste GMFM na sala de atendimento, o PEDI será administrada ao cuidador na sala de espera, pela aluna Rayla Amaral Lemos também preparada para esta entrevista. O procedimento de avaliação da criança e entrevista ao cuidador terá duração de aproximadamente 50 minutos.
A participação do(a) seu (sua) filho(a) nesta pesquisa é voluntária e os testes a serem empregados oferece um risco que consideramos mínimo, ou seja, um risco compatível ao que pode ocorrer todos os dias quando saímos de casa, por exemplo. Porém, qualquer tipo de problema ou desconforto detectado será imediatamente sanado pelas pesquisadoras, ou por quem de direito, sem qualquer custo para o voluntário da pesquisa ou seu(s) responsável(is).
É garantido a todos os participantes que se retirem da pesquisa quando assim desejarem, sem qualquer prejuízo financeiro, moral, físico ou social. Todas as informações colhidas serão cuidadosamente guardadas garantindo o sigilo e a privacidade dos entrevistados e participantes, que poderão obter informações sobre a pesquisa a qualquer momento que julgarem necessário, pelos telefones (32) 3229-
67
3843 e (32) 4009-5318, com a professora orientadora do projeto e alunas responsáveis. Os resultados da pesquisa estarão à disposição de todos os participantes e seus responsáveis quando finalizada. Os dados dos participantes somente serão liberados com a permissão destes ou de seus responsáveis. Além disso, os participantes não serão identificados em nenhuma publicação resultante do estudo.
Esse termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelos pesquisadores do estudo, no CAS e a outra será fornecida ao participante ou seu responsável.
Ao permitir a participação da criança, você estará contribuindo para o desenvolvimento de um conhecimento importante e fundamental para todos os profissionais que se dedicam aos cuidados das crianças com paralisia cerebral. E dessa forma, estes profissionais poderão oferecer um atendimento de melhor qualidade e eficácia a essas crianças.
Eu,_____________________________________________________,
portador do documento de identidade_____________________________________fui informado(a) dos objetivos do estudo “CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA E DESEMPENHO FUNCIONAL DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL” , de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão de participar se assim o desejar.
Tendo conhecimento do estudo, concordo que ___________________ (Grau de parentesco), ________________________________________________ (nome da criança) participe da pesquisa.
Juiz de Fora, ___de__________________de 2007.
Endereço do responsável: _______________________________________________
Telefone do responsável: ________________________________________________
Assinatura responsável: _________________________________________________
Érica Cesário Defilipo – aluna _________________________________________
Rayla Amaral Lemos – aluna ___________________________________________
Paula S. C. Chagas - pesquisadora ________________________________________
Marisa C. Mancini – pesquisadora _________________________________________
Coordenadores do Projeto: • Profa. Ms Paula Silva de Carvalho Chagas, Departamento de Fisioterapia
da Universidade Federal de Juiz de Fora, fone: 3229-3843, 4009-5318 e 8852-8033;
• Profa. Dra. Marisa Cotta Mancini, Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, fone: (31) 3499-4790;
• Aluna de Fisioterapia: Rayla Amaral Lemos, fone: 91994239 ;• Aluna de Fisioterapia: Érica Cesário Defilipo, fone: 8845-1392;
Em caso de dúvida com respeito aos aspectos éticos desse estudo, você poderá consultar o COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA/UFJF-CEP
• Comitê de Ética e Pesquisa da UFJF - fone: 3229-3788, CEP 36036.900, Pró-reitoria de Pesquisa.
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