EDUCAÇÃO UM TESOURO A DESCOBRIR - UNESCO

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    2010 UNESCOTtulo original: Learning: the treasure within; report to UNESCO of the InternationalCommission on Education for the Twenty-first Century (highlights). Paris: UNESCO,1996.

    Publicado pelo Setor de Educao da Representao da UNESCO no Brasil,com o patrocnio da Fundao Faber-Castell, uma parceria para promover umaeducao de qualidade para todos no Brasil.

    Traduo: Guilherme Joo de Freitas Teixeira

    Reviso: Reinaldo de Lima ReisCapa: Edson FogaaDiagramao e Projeto Grfico: Paulo Selveira

    Os autores so responsveis pela escolha e apresentao dos fatos contidosneste livro, bem como pelas opinies nele expressas, que no so necessaria-

    mente as da UNESCO, nem comprometem a Organizao. As indicaes denomes e a apresentao do material ao longo deste livro no implicam amanifestao de qualquer opinio por parte da UNESCO a respeito da condio

    jurdica de qualquer pas, territrio, cidade, regio ou de suas autoridades,tampouco da delimitao de suas fronteiras ou limites.

    Impresso no BrasilED.96/WS/9

    Representao no BrasilSAUS, Quadra 5, Bloco H, Lote 6,

    Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9 andar70070-912 - Braslia - DF - BrasilTel.: (55 61) 2106-3500Fax: (55 61) 3322-4261Site:www.unesco.org/brasiliaE-mail: [email protected]

    Organizaodas Naes Unidas

    para a Educao,a Cincia e a Cultura

    http://www.unesco.org/brasiliamailto:[email protected]:[email protected]://www.unesco.org/brasilia
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    A Educao ou a utopia necessria

    Jacques Delors ....................................................................................................5O quadro prospectivo....................................................................................6

    As tenses a superar ......................................................................................8Pensar e construir nosso futuro comum .....................................................10Suscitar o interesse da sociedade pela educao ao longo da vida ............12Reconsiderar e articular as diferentes etapas da educao.........................15Levar a bom termo as estratgias das reformas educacionais....................19

    Ampliar a cooperao internacional a toda a aldeia global .......................23

    PRIMEIRA PARTE: HORIZONTESCaptulo 1. Da comunidade de base sociedade mundialPistas e Recomendaes ..............................................................................27Captulo 2. Da coeso social participao democrticaPistas e Recomendaes ..............................................................................27Captulo 3. Do crescimento econmico ao desenvolvimento humano

    Pistas e Recomendaes..............................................................................29

    SEGUNDA PARTE: PRINCPIOSCaptulo 4. Os quatro pilares da educaoPistas e Recomendaes...............................................................................31Captulo 5. A educao ao longo da vidaPistas e recomendaes ...............................................................................32

    SUMRIO

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    TERCEIRA PARTE: ORIENTAES

    Captulo 6. Da educao bsica universidadePistas e Recomendaes ..............................................................................33Captulo 7. Os professores em busca de novas perspectivasPistas e recomendaes ...............................................................................34Captulo 8. Escolhas na rea da educao: o papel do polticoPistas e recomendaes ...............................................................................35Captulo 9. A cooperao internacional: educar a aldeia globalPistas e recomendaes ...............................................................................37

    ANEXOSO Trabalho da Comisso .............................................................................39Membros da Comisso.................................................................................41Mandato da Comisso .................................................................................43Endereo da Comisso.................................................................................43

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    A EDUCAO OUA UTOPIA NECESSRIAJacques Delors

    Perante os mltiplos desafios suscitados pelo futuro, a educao surge comoum trunfo indispensvel para que a humanidade tenha a possibilidade deprogredir na consolidao dos ideais da paz, da liberdade e da justia social.No desfecho de seus trabalhos, a Comisso faz questo de afirmar sua f nopapel essencial da educao para o desenvolvimento contnuo das pessoas edas sociedades: no como um remdio milagroso, menos ainda como um abre-te ssamo de um mundo que tivesse realizado todos os seus ideais, mas comouma via certamente, entre outros caminhos, embora mais eficaz a servio

    de um desenvolvimento humano mais harmonioso e autntico, de modo acontribuir para a diminuio da pobreza, da excluso social, das incom-preenses, das opresses, das guerras...

    Por meio de anlises, reflexes e propostas, a Comisso deseja compartilharesta convico com o maior nmero de pessoas, em um contexto em que aspolticas educacionais enfrentam acaloradas crticas ou, ento, so descartadas,por razes econmicas e financeiras, para o ltimo lugar das prioridades.

    E ser que temos a obrigao de evocar esse aspecto? De qualquer modo, a

    Comisso pensou, antes de mais nada, nas crianas e nos adolescentes querecebero o testemunho das mos das geraes mais velhas, as quais tendem afocalizar-se demasiado em seus prprios problemas. A educao tambmuma declarao de amor infncia e juventude, que devem ser acolhidas nasnossas sociedades, reservando-lhes o espao que, sem dvida, lhes cabe nosistema educacional e tambm no seio da famlia, da comunidade de base e danao. Esse dever elementar deve ser constantemente evocado para que sejalevado em considerao, inclusive, nas tomadas de deciso de ordem poltica,econmica e financeira: parafraseando o poeta, a criana o futuro do homem.

    No final de um sculo marcado pelo tumulto e pela violncia, assim comopelo progresso econmico e cientfico alis, desigualmente distribudo e noalvorecer de um novo sculo, cuja perspectiva alimentada por um misto de

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    A educao ou a utopia necessria

    angstia e de esperana, imperativo que todos aqueles que estejam inves-

    tidos de responsabilidade prestem ateno aos fins e aos meios da educao.A Comisso considera as polticas educacionais um processo permanentede enriquecimento dos conhecimentos e dos savoir-faire e talvez, sobre-tudo um recurso privilegiado de construo da prpria pessoa, alm dasrelaes entre indivduos, grupos e naes.

    Ao aceitarem o mandato que lhes foi confiado, os membros da Comissoadotaram, claramente, essa perspectiva e pretenderam sublinhar, apoiadosem argumentos convincentes, o papel central da UNESCO, em acordo per-

    feito com as ideias que presidiram sua fundao, respaldadas na esperanade um mundo melhor medida que sabe respeitar os direitos humanos,colocar em prtica a compreenso mtua e transformar o avano do conhe-cimento em um instrumento, no de distino, mas de promoo do gnerohumano.

    Para nossa Comisso, a tarefa, em particular, de superar o obstculo daextraordinria diversidade de situaes no mundo, assim como de empre-ender anlises e tirar concluses vlidas para todos, apresentava-se comoalgo, sem dvida, impossvel.

    Apesar disso, a Comisso esforou-se por elaborar suas reflexes em umquadro prospectivo, dominado pela globalizao, por selecionar as questespertinentes que assediam qualquer ser humano, e por traar algumasorientaes vlidas no plano nacional e mundial.

    O quadro prospectivo

    Nas ltimas trs dcadas do sculo XX, alm de notveis descobertas e

    progressos cientficos, numerosos pases chamados emergentes supe-raram o subdesenvolvimento, enquanto o nvel de vida continuou a progredirem ritmos bastante diferentes, conforme as vicissitudes de cada Estado.E, no entanto, um sentimento de desencanto parece dominar o mundo econtrasta com as expectativas surgidas aps a Segunda Guerra Mundial.

    possvel falar, portanto, das desiluses do progresso no plano econ-mico e social: eis o que confirmado pelo aumento do desemprego e pelosfenmenos de excluso social nos pases ricos, assim como pela persis-

    tncia das desigualdades de desenvolvimento no mundo. Com certeza, ahumanidade est mais consciente dos perigos que ameaam o meioambiente; mas, ela ainda no se dotou dos recursos para solucionar esseproblema, apesar das numerosas reunies internacionais por exemplo, a

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    Jacques Delors

    do Rio de Janeiro, em 1992 , e apesar das srias advertncias decorrentes

    de fenmenos naturais ou de acidentes tecnolgicos. De qualquer modo, ocrescimento econmico a qualquer preo no pode ser considerado comoa via mais adequada para permitir a conciliao entre progresso materiale equidade, entre respeito pela condio humana e pelo capital natural quetemos obrigao de transmitir, em bom estado, s geraes vindouras.

    Ser que j extramos todas as consequncias desses fatos, no que dizrespeito tanto aos fins, modalidades e recursos de desenvolvimento susten-tvel, quanto a novas formas de cooperao internacional? Com certeza

    que no! Eis o que ser, portanto, um dos grandes desafios intelectuais epolticos do prximo sculo.

    Essa constatao no deve levar os pases em desenvolvimento1 a negli-genciar as foras motrizes clssicas de crescimento e, em particular, o indis-pensvel acesso ao universo da cincia e da tecnologia, com o que essascondicionantes implicam matria de adaptao das culturas e de moderni-zao das mentalidades.

    Eis outro desencanto e outra desiluso para aqueles que haviam vislum-

    brado, com o fim da Guerra Fria, a perspectiva de um mundo melhor e empaz. E no basta, como forma de consolo ou de libi, repetir que a histria trgica. Todos ns j sabemos ou deveramos saber: se a Segunda GrandeGuerra fez 50 milhes de vtimas, como no evocar que, desde 1945, foramdeclaradas cerca de 150 guerras que provocaram 20 milhes de mortos antese, tambm, aps a queda do muro de Berlim? Riscos novos ou j antigos?Pouco importa, as tenses permanecem latentes e explodem entre naes,entre grupos tnicos ou a propsito de injustias acumuladas no planoeconmico e social. Em um contexto marcado pela crescente interde-

    pendncia entre os povos e pela globalizao dos problemas, o dever detodas as autoridades constitudas consiste em avaliar tais riscos e adotar osrecursos para super-los.

    Mas, como aprender a conviver nesta aldeia global, se somos incapazesde viver em paz nas comunidades naturais a que pertencemos: nao,regio, cidade, aldeia, vizinhana? A questo central da democracia saberse desejamos e somos capazes de participar da vida em comunidade;convm no esquecer que esse desejo depende do sentido da responsabi-

    1. De acordo com os estudos da Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento (UNCTAD),o rendimento mdio dos pases menos avanados (560 milhes de habitantes), est atualmente baixando:por habitante, ele estaria fixado em US$ 300, por ano, contra US$ 906 nos outros pases em desenvolvimentoe US$ 21.598 nos pases industrializados.

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    lidade de cada um. Ora, apesar de ter conquistado novos espaos, domina-

    dos anteriormente pelo totalitarismo e pela arbitrariedade, a democraciatem tendncia a debilitar-se com o decorrer dos anos; como se tudo tivesse,incessantemente, de recomear, renovar-se e ser reinventado.

    Como que as polticas na rea da educao poderiam ignorar essestrs grandes desafios? Como que a Comisso poderia deixar de sublinharos aspectos em que essas polticas podem contribuir para um mundomelhor, para um desenvolvimento humano sustentvel, para a compreensomtua entre os povos e para a renovao de uma vivncia concreta da

    democracia?

    As tenses a superar

    Com esse objetivo, convm enfrentar para super-las em melhorescondies as principais tenses que, por no serem novas, encontram-seno mago da problemtica do sculo XXI.

    A tenso entre o global e o local: tornar-se, aos poucos, cidado do mundosem perder suas razes pela participao ativa na vida do seu pas e das

    comunidades de base.

    A tenso entre o universal e o singular: a globalizao da cultura realiza-se de forma progressiva, mas ainda parcialmente. De fato, ela incontornvelcom suas promessas e com seus riscos: um dos mais graves , exatamente,o esquecimento do carter nico de cada pessoa, de sua vocao para decidirseu destino e realizar todas as suas potencialidades, conservando a riquezade suas tradies e de sua prpria cultura que, se no forem tomadas asdevidas providncias, corre o risco de desaparecer sob a influncia das mu-

    danas em curso.A tenso entre tradio e modernidade est relacionada com a mesma

    problemtica: adaptar-se sem se negar a si mesmo, construir sua autonomiaem dialtica com a liberdade e a evoluo do outro, alm de manter sobcontrole o progresso cientfico. Com este esprito que se deve enfrentar odesafio instigante das novas tecnologias da informao.

    A tenso entre o longo prazo e o curto prazo, tenso permanente, masalimentada hoje pela supremacia do efmero e do instantneo, em um

    contexto em que o excesso de informaes e de emoes passageiras leva auma constante concentrao nos problemas imediatos. As diferentespropostas procuram respostas e solues rpidas quando, afinal, um grandenmero de problemas exigem uma estratgia respaldada na pacincia,

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    Jacques Delors

    consenso e negociao relativamente s reformas a empreender; esse o

    caso no que se refere, precisamente, s polticas na rea da educao.A tenso entre a indispensvel competio e o respeito pela igualdade

    de oportunidades. Questo clssica formulada, desde o incio do sculo XX,tanto s polticas econmicas e sociais quanto s polticas educacionais.Questo resolvida, em alguns casos, mas nunca de forma duradoura. Atual-mente a Comisso tem a ousadia de afirmar que o imperativo da competioimpele um grande nmero de responsveis a esquecer a misso que consisteem fornecer a cada ser humano os meios para realizar todas as suas

    potencialidades. Diante de tal constatao, e no que diz respeito ao domnioabrangido por este relatrio, fomos levados a retomar e a atualizar o conceitode educao ao longo da vida, de maneira a conciliar a competio incen-tivadora com a cooperao fortificante e com a solidariedade que promovea unio entre todos.

    A tenso entre o extraordinrio desenvolvimento dos conhecimentos eas capacidades de assimilao do homem. A Comisso no resistiu tentaode acrescentar novas disciplinas, tais como o autoconhecimento e a buscados meios adequados para garantir a sade fsica e psicolgica ou, ainda, aaprendizagem de matrias que levem a conhecer melhor e preservar o meioambiente. E, no entanto, os currculos escolares esto cada vez maissobrecarregados; nesse caso, ser necessrio fazer escolhas, com a condiode preservar os elementos essenciais de uma educao bsica que ensine a

    viver melhor pelo conhecimento, pela experincia e pela construo de umacultura pessoal.

    Finalmente e, neste caso, trata-se tambm de uma constatao per-manente , a tenso entre o espiritual e o material. O ser humano muitas

    vezes, de forma insensvel ou sem a capacidade de exprimir tal estadoanmico tem sede de ideal ou de valores a que, para evitar ferir algum,atribumos o qualificativo de morais. Compete educao a nobre tarefade suscitar em todos, segundo as tradies e as convices de cada um, nopleno respeito do pluralismo, essa elevao do pensamento e do esprito ato universal e, inclusive, uma espcie de superao de si mesmo. O que estem jogo e a Comisso tem plena conscincia das palavras utilizadas asobrevivncia da humanidade.

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    Pensar e construir nosso futuro comum

    Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos contemporneos,divididos entre essa globalizao a cujas manifestaes eles so obrigados,s vezes, a se submeterem e a busca pessoal de suas razes, referncias efiliaes.

    A educao deve enfrentar esse problema porque, na perspectiva doparto doloroso de uma sociedade mundial, ela situa-se, mais do que nunca,no mago do desenvolvimento da pessoa e das comunidades; sua missoconsiste em permitir que todos, sem exceo, faam frutificar seus talentos

    e suas potencialidades criativas, o que implica, por parte de cada um, acapacidade de assumir sua prpria responsabilidade e de realizar seuprojeto pessoal.

    Essa finalidade supera qualquer outra; sua realizao, longa e difcil,ser uma contribuio essencial para a busca de um mundo mais conviviale justo. Ora, a Comisso faz questo de sublinhar, com vigor, esse aspectoem um momento em que algumas mentes so assediadas pela dvidarelativamente s possibilidades oferecidas pela educao.

    Com certeza, ainda existe um grande nmero de outros problemas espera de soluo; vamos mencion-los a seguir. Mas este relatrio elaborado no momento em que a humanidade, diante de tantos infortnioscausados por guerras, criminalidade e subdesenvolvimento, hesita entre aacelerao do processo, sem ter a possibilidade de control-lo, e a resig-nao; vamos, pois, oferecer-lhe outra sada.

    Somos levados, portanto, a revalorizar as dimenses tica e cultural daeducao e, nesse sentido, a fornecer os recursos para que cada um venhaa compreender o outro em sua especificidade, alm de compreender o

    mundo em sua busca catica de certa unidade; mas, previamente, convmcomear pela compreenso de si mesmo em uma espcie de viagem interior,permeada pela aquisio de conhecimentos, pela meditao e pelo exerccioda autocrtica.

    Esta mensagem deve orientar qualquer projeto sobre a educao vin-culada ampliao e ao aprofundamento da cooperao internacional que,alis, constitui o ltimo aspecto destas reflexes introdutrias.

    Nessa perspectiva, enumeramos os aspectos fundamentais: as exign-

    cias de ordem cientfica e tcnica, o autoconhecimento e a conscincia domeio ambiente, assim como a construo de capacidades que permitamorientar a ao de cada um, como membro de uma famlia, cidado ou comoum produtivo membro da sociedade.

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    A Comisso no subestima, de modo algum, a indispensvel funo da

    criatividade e da inovao, a passagem para uma sociedade cognitiva, osprocessos endgenos que permitem o acmulo de saberes e o acrscimo denovas descobertas que, por sua vez, so aplicadas em diversos domnios daatividade humana, tanto na rea da sade e do meio ambiente quanto naproduo de bens e servios. Ela est ciente, tambm, das limitaes e,inclusive, dos fracassos, das tentativas para transferir a tecnologia aos pasesmais desfavorecidos, precisamente devido ao carter endgeno dosmecanismos de acmulo e de implementao dos conhecimentos. Da,entre outros aspectos, a necessidade de uma iniciao precoce cincia, aseus mtodos de aplicao, assim como ao difcil esforo para direcionaro progresso ao respeito pela pessoa e a sua integridade. Nesse mbito, e damesma forma, a preocupao tica deve ser levada em considerao.

    Essa uma forma de evocar tambm que a Comisso est conscientedas misses que a educao deve desempenhar a servio do desenvol-

    vimento econmico e social. O sistema de formao profissional acusado,frequentemente, como responsvel pelo desemprego; tal constatao emparte, procedente, no deve sobretudo ocultar a necessidade de imple-

    mentar outras exigncias de ordem poltica, econmica e social, para queseja possvel alcanar o pleno emprego ou permitir o impulso da economianos pases subdesenvolvidos. Dito isto, a Comisso pensa que cabe educao construir um sistema mais flexvel, com maior diversidade decursos e maior possibilidade de transferncia entre diversas modalidadesde ensino ou, ento, entre a experincia profissional e o retorno paraaprimoramento da formao, constituem respostas vlidas para as questesformuladas pela inadequao entre a oferta e a demanda de emprego. Tal

    sistema permitiria tambm reduzir o fracasso escolar que e trata-se deuma evidncia est na origem do enorme desperdcio de recursos humanos.

    Mas esses aprimoramentos desejveis e possveis sero insuficientessem a inovao intelectual e a implantao de um modelo de desenvolvi-mento sustentvel, segundo as caractersticas peculiares de cada pas. Comos progressos atuais e previsveis da cincia e da tecnologia, alm daexigncia crescente do cognitivo e do imaterial na produo de bens eservios, convm reconsiderar o lugar do trabalho e de seus diferentes status

    na sociedade de amanh. Para criar essa sociedade, a imaginao humanadeve adiantar-se aos avanos tecnolgicos, se quisermos evitar o aumentodo desemprego e a excluso social ou, ainda, as desigualdades em relaoao desenvolvimento.

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    Por todas essas razes, parece-nos que imperativo impor o conceito

    de educao ao longo da vida com suas vantagens de flexibilidade, diver-sidade e acessibilidade no tempo e no espao. a ideia de educao perma-nente que deve ser, simultaneamente, reconsiderada e ampliada; com efeito,alm das necessrias adaptaes relacionadas com as mudanas da vidaprofissional, ela deve ser uma construo contnua da pessoa, de seu sabere de suas aptides, assim como de sua capacidade para julgar e agir. Ela devepermitir que cada um venha a tomar conscincia de si prprio e de seu meioambiente, sem deixar de desempenhar sua funo na atividade profissionale nas estruturas sociais.

    A esse propsito, chegou a ser evocada a necessidade de avanar emdireo a uma sociedade educativa. verdade que a vida pessoal e socialconstitui um imenso campo de aprendizagens e de realizaes; nessaperspectiva, somos seriamente tentados a privilegiar o potencial educa-cional dos mais recentes recursos da comunicao ou da vida profissionalou, ainda, das atividades de cultura e lazer, a ponto de chegarmos aesquecer certas verdades essenciais. Com efeito, se cada um deve utilizartodas essas possibilidades de aprender e de se aperfeioar, nem por isso

    deixa de ser verdadeiro que, para estar em condies de utilizar, corre-tamente, tais potencialidades, o indivduo deve dispor de todos os elemen-tos de uma educao bsica de qualidade; melhor ainda, desejvel que aescola venha a incrementar, cada vez mais, o gosto e prazer de aprender, acapacidade de aprender a aprender, alm da curiosidade intelectual. Pode-mos, inclusive, imaginar uma sociedade em que cada um seja, alternada-mente, professor e aluno.

    Nesse sentido, nada pode substituir o sistema formal de educao que,

    a cada um, garante a iniciao s mais diversas disciplinas do conheci-mento; nada pode substituir a relao de autoridade, tampouco o dilogoentre professor e aluno. Eis o que tem sido afirmado e repetido por todosos grandes pensadores clssicos que se debruaram sobre os problemas daeducao. Assim, compete ao professor transmitir ao aluno tudo o que ahumanidade j aprendeu acerca de si mesma e da natureza, alm do queela tem criado e inventado de essencial.

    Suscitar o interesse da sociedade pela educao ao longo da vida

    O conceito de educao ao longo da vida aparece, portanto, como umadas chaves de acesso ao sculo XXI. Ele supera a distino tradicionalentre educao inicial e educao permanente, dando resposta ao desafio

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    Jacques Delors

    desencadeado por um mundo em rpida transformao; tal constatao,

    porm, no constitui uma novidade j que relatrios precedentes sobre aeducao sublinhavam a necessidade de um retorno escola para enfrentaras novas situaes que ocorrem tanto na vida privada quanto na vida profis-sional. Alm de permanecer atual, essa exigncia tornou-se ainda maispremente; e para super-la, impe-se que cada um aprenda a aprender.

    No entanto, aps a profunda modificao dos quadros tradicionais daexistncia humana, surge outro imperativo que nos obriga a compreendermelhor o outro e o mundo: exigncia de compreenso mtua, de ajuda

    pacfica e por que no? de harmonia, ou seja, precisamente, os valoresde que nosso mundo to carente.

    Esta tomada de posio levou a Comisso a conferir relevncia a um dosquatro pilares que apresentou e ilustrou como as bases da educao: trata--se deAprender a conviver, desenvolvendo o conhecimento a respeito dosoutros, de sua histria, tradies e espiritualidade. E a partir da, criar umnovo esprito que, graas precisamente a essa percepo de nossa crescenteinterdependncia, graas a uma anlise compartilhada dos riscos e desafiosdo futuro, conduza realizao de projetos comuns ou, ento, a uma gestointeligente e apaziguadora dos inevitveis conflitos. Eis algo que, paraalguns, pode parecer uma utopia que no deixa de ser necessria inclusive, vital para sair do ciclo perigoso alimentado pelo cinismo oupela resignao.

    A Comisso, na verdade, sonha com uma educao criativa e que sirvade suporte a esse novo esprito; nem por isso, ela menosprezou os outrostrs pilares da educao que fornecem, de certa forma, os elementos bsicospara aprender a conviver.

    Em primeiro lugar,Aprender a conhecer. Mas, considerando as rpidasalteraes suscitadas pelo progresso cientfico e as novas formas deatividade econmica e social, inevitvel conciliar uma cultura geral,suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade,um reduzido nmero de assuntos. Essa cultura geral constitui, de algummodo, o passaporte para uma educao permanente, medida que forneceo gosto, assim como as bases, para aprender ao longo da vida.

    A seguir,Aprender a fazer. Alm da aprendizagem continuada de uma

    profisso, convm adquirir, de forma mais ampla, uma competncia quetorne o indivduo apto para enfrentar numerosas situaes, algumasdas quais so imprevisveis, alm de facilitar o trabalho em equipe que,atualmente, uma dimenso negligenciada pelos mtodos de ensino. Essa

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    competncia e essas qualificaes tornam-se, em numerosos casos, mais

    acessveis, se os alunos e os estudantes tm a possibilidade de se submetera testes e de se enriquecer, tomando parte em atividades profissionais ousociais, simultaneamente aos estudos. Essa a justificativa para atribuir um

    valor cada vez maior s diferentes formas possveis de alternncia entreescola e trabalho.

    Por ltimo e acima de tudo,Aprender a ser, alis, o tema predominantedo Relatrio de Edgar Faure2, publicado em 1972, sob os auspcios daUNESCO. Suas recomendaes permanecem atuais j que, no sculo XXI,

    todos ns seremos obrigados a incrementar nossa capacidade de autono-mia e de discernimento, acompanhada pela consolidao da responsabilidadepessoal na realizao de um destino coletivo. E tambm, em decorrnciade outro imperativo sublinhado por esse relatrio: no deixar inexploradonenhum dos talentos que, semelhana de tesouros, esto soterrados nointerior de cada ser humano. Sem sermos exaustivos, podemos citar amemria, o raciocnio, a imaginao, as capacidades fsicas, o sentidoesttico, a facilidade de comunicar-se com os outros, o carisma naturalde cada um... Eis o que confirma a necessidade de maior compreenso de

    si mesmo.A Comisso evocou, ainda, outra utopia: a sociedade educativa baseada

    na aquisio, atualizao e utilizao dos conhecimentos, ou seja, as trsfunes relevantes no processo educativo. Com o desenvolvimento dasociedade da informao e a multiplicao das possibilidades de acessoa dados e fatos, a educao deve permitir que todos possam coletar,selecionar, ordenar, gerenciar e utilizar esse volume de informaes eservir-se dele.

    A educao deve, portanto, adaptar-se constantemente a essas mudanasda sociedade, sem negligenciar as vivncias, os saberes bsicos e os resul-tados da experincia humana.

    Finalmente, perante uma demanda cada vez maior, alm de ser cadavez mais exigente, como atuar de modo que as polticas na rea da educa-o executem um duplo objetivo: a qualidade do ensino e a equidade? Estasso as questes formuladas pela Comisso a propsito de cursos, mtodose contedos de ensino, como condies necessrias para sua eficcia.

    2. FAURE, E. et al.Aprender a ser. Lisboa: Livraria Bertrand; So Paulo: Brazil, Difuso Europia do Livro, 1974.Disponvel em francs em: . nota de traduo.

    http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001329/132982f.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0013/001329/132982f.pdf
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    Jacques Delors

    Reconsiderar e articular as diferentes etapas da educao

    Ao focalizar suas propostas em torno do conceito de educao ao longoda vida, a Comisso no teve a pretenso de sugerir que esse salto qualita-tivo viesse a prescindir de uma reflexo sobre as diferentes etapas de ensino;pelo contrrio, sua inteno consistia em confirmar, ao mesmo tempo,algumas orientaes relevantes identificadas pela UNESCO por exemplo,a importncia vital da educao bsica ou em incentivar a reviso dasfunes assumidas pela educao secundria ou, ainda, em fornecerrespostas para as indagaes que continuam a ser suscitadas pela evoluo

    do ensino superior e, sobretudo, pelo fenmeno da massificao.Convm reconhecer simplesmente que a educao ao longo da vida

    permite ordenar e, ao mesmo tempo, valorizar as diferentes fases deaprendizagem, articular as transies e diversificar os percursos indivi-duais. Assim, ser que possvel escapar deste funesto dilema: selecionar,mas multiplicando o fracasso escolar e o risco de excluso social; ou nivelaro ensino, em detrimento da promoo dos talentos?

    Tais reflexes, afinal, adotam o que foi to bem definido, por ocasio

    da Conferncia de Jomtien, em 1990, sobre a educao bsica e as necessi-dades educativas fundamentais.

    Essas necessidades referem-se tanto aos instrumentos essenciais deaprendizagem (leitura, escrita, expresso oral, clculo, resoluo de proble-mas), quanto aos contedos educativos fundamentais (conhecimento,aptides, valores, atitudes), indispensveis ao ser humano para sobreviver,desenvolver suas capacidades, viver e trabalhar com dignidade, participarplenamente do desenvolvimento, aprimorar sua qualidade de vida, tomar

    decises ponderadas e continuar a aprender3

    .Alm de sua aparncia, essa abordagem , de fato, impressionante; mas,

    da, no se deve inferir que ela tenha a pretenso de levar ao acmulo exces-sivo de programas. A relao entre professor e aluno, o conhecimento doambiente em que vivem as crianas, a adequada utilizao dos modernosmeios de comunicao (nos lugares em que eles so operacionais), podemcontribuir conjuntamente para o desenvolvimento pessoal e intelectual decada aluno. Os saberes bsicos desempenham, neste caso, seu verdadeiropapel: ler, escrever e contar. A combinao do ensino clssico com as

    3. UNESCO. Declarao Mundial sobre Educao para Todos: Satisfao das Necessidades Bsicas de Aprendizagem,Jomtien, 1990. Braslia: UNESCO, 1990. Disponvel em: . nota de traduo.

    http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf
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    A educao ou a utopia necessria

    abordagens exteriores escola permite que a criana tenha acesso s trs

    dimenses da educao: tica e cultural, cientfica e tecnolgica, alm deeconmica e social.

    Em outras palavras, a educao , tambm, uma experincia social,mediante a qual a criana descobre-se a si mesma, desenvolve as relaescom os outros, adquire as bases do conhecimento e do savoir-faire. Essaexperincia deve iniciar-se antes da idade da escolaridade obrigatria, sobformas diferentes, conforme as circunstncias, alm de implicar a famlia ea comunidade de base.

    Duas observaes, consideradas relevantes pela Comisso, devem seracrescentadas a esse estgio de desenvolvimento.

    A educao bsica deve ser garantida, por toda parte, aos 900 milhesde adultos analfabetos, aos 130 milhes de crianas no escolarizadas, assimcomo s crianas que abandonam prematuramente a escola (cujo nmero superior a 100 milhes); esse amplo empreendimento uma prioridadepara as aes de assistncia tcnica e de parceria a serem executadas nombito da cooperao internacional.

    A educao bsica um problema a ser enfrentado, naturalmente, portodos os pases, incluindo as naes industrializadas. Desde esse estgio daeducao, os contedos devem desenvolver o gosto por aprender, a vontadee a alegria de conhecer: portanto, o desejo e as possibilidades de ter acesso,mais tarde, educao ao longo da vida.

    E chegamos, assim, a uma das principais dificuldades de qualquerreforma educacional: as polticas que, em relao aos jovens e adolescentesconcluintes da educao primria, devem ser adotadas para o perodo que

    antecede o ingresso na vida profissional ou no ensino superior. Ser umexagero afirmar que essa educao chamada secundria , de algum modo,a mal-amada da reflexo sobre a educao? Verifica-se que ela objeto deum grande nmero de crticas e est na origem de muitas frustraes.

    Entre os fatores polmicos, citemos as necessidades crescentes, e cadavez mais diversificadas, de formao que culminam na rpida progressodo nmero de alunos e no congestionamento dos programas. Da, resultamos problemas clssicos de massificao da educao; para resolv-los, os

    pases pouco desenvolvidos experimentam srias dificuldades no aspectofinanceiro e organizacional. Citemos, igualmente, a angstia de quemcompleta a educao secundria sem qualquer previso de emprego; talangstia torna-se ainda mais acentuada pela obsesso de ingressar no

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    Jacques Delors

    ensino superior como a nica sada possvel. A situao de desemprego em

    massa, verificada em numerosos pases, acaba por incrementar esse mal--estar. A Comisso sublinhou como era inquietante a evoluo que nosmeios rurais ou urbanos, assim como nos pases em via de desenvolvimentoe nas naes industrializadas tem levado no apenas ao desemprego, mastambm ao subemprego dos recursos humanos.

    Para a Comisso, parece que a sada se encontra em uma ampla diver-sificao da oferta de opes. Essa orientao corresponde precisamente auma constante preocupao da Comisso, ou seja, a valorizao de todos

    os talentos, de modo a diminuir o fracasso escolar e a evitar, em um grandenmero de adolescentes, o sentimento de excluso e de ausncia de futuro.

    Alm das opes clssicas voltadas, sobretudo, para a abstrao e paraa conceitualizao deveriam ser oferecidas aos jovens outras vias que,enriquecidas pela alternncia entre a escola e a vida profissional ou social,permitissem a revelao de outros talentos e de outras preferncias. Dequalquer maneira, a possibilidade de transferncia entre essas diferentesopes deveria ser estabelecida, de modo a corrigir os frequentes erros deorientao.

    Alm disso, no entender da Comisso, a perspectiva de retornar a umciclo de ensino ou de formao modificaria o clima geral; assim, a cadaadolescente estaria assegurado que seu destino no fica definitivamentetraado entre os 14 e os 20 anos.

    Nesta ptica, tambm, que a educao superior deve ser abordada.

    Comecemos por observar que, em muitos pases, ao lado da univer-sidade, existem numerosos estabelecimentos de ensino superior, alguns

    dos quais participam no processo de seleo dos melhores estudantes,enquanto outros foram criados para fornecerem, durante um perodo dedois a quatro anos, uma formao profissional de qualidade e comobjetivos bem definidos. Essa diversidade corresponde, indiscutivelmente,s necessidades da sociedade e da economia, tais como elas se manifestamno plano nacional e regional.

    Uma seleo, cada vez mais estrita, no pode constituir a soluoaceitvel, do ponto de vista poltico e social, para a questo da massificao

    da educao observada nos pases mais ricos. Uma das principais lacunasdesse tipo de orientao que numerosos jovens de ambos os sexos soexcludos do ensino antes de obterem um diploma reconhecido oficial-mente e, portanto, em uma situao de desespero porque, alm de no

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    A educao ou a utopia necessria

    serem titulares de um diploma, tampouco se beneficiam da contrapartida

    de uma formao adaptada s necessidades do mercado de trabalho.Nesse caso, convm gerenciar a progresso do nmero de estudantes

    que, no entanto, dever ser limitado, graas a uma reforma da educaosecundria, de acordo com as grandes linhas propostas pela Comisso.

    Por sua vez, a contribuio da universidade ter a ver com a diversifi-cao de sua oferta:

    como espao da cincia, fonte de conhecimentos, ao instaurar ascondies para a pesquisa terica ou aplicada, ou para a formao dosprofessores;

    como meio de adquirir ao conciliar, no nvel mais elevado, saber comsavoir-faire qualificaes profissionais respaldadas em cursos e conte-dos constantemente adaptados s necessidades da economia;

    como plataforma privilegiada da educao ao longo da vida, ao abrir asportas aos adultos que desejarem retomar seus estudos, ou adaptareme enriquecerem seus conhecimentos, ou satisfazerem seu gosto deaprender em qualquer domnio da vida cultural;

    como parceiro privilegiado de uma cooperao internacional, aopermitir o intercmbio de professores e de estudantes, alm de facilitar,graas a ctedras com vocao planetria, a divulgao dos melhorescontedos de ensino.

    Assim, a universidade eliminaria a discrepncia entre duas lgicas que,erroneamente, tm sido consideradas como opostas: a administraopblica e a do mercado de trabalho. Ela voltaria a encontrar, tambm, osentido de sua misso intelectual e social no mago da sociedade, a saber:

    de algum modo, uma das instituies que garantem os valores universais eo patrimnio cultural. Esses aspectos constituem, para a Comisso, razespertinentes para defender maior autonomia das universidades.

    Tendo formulado essas propostas, a Comisso sublinha que essaproblemtica assume uma dimenso particular nos pases pobres; da, opapel determinante a ser desempenhado pelas universidades. Ao extrairlies do prprio passado para analisar as dificuldades vivenciadas, atual-mente, por esses estados, as universidades dos pases em desenvolvi-

    mento devem empreender pesquisas suscetveis de contribuir para asoluo dos problemas mais graves; alm disso, compete-lhes propor novasperspectivas de desenvolvimento que permitam a construo efetiva, emseus pases, de um futuro melhor para todos os cidados.

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    Incumbe-lhes tambm a tarefa de formar, na rea profissional e tcnica,

    as futuras elites e os diplomados de nvel mdio e superior; alis, um grandenmero de pases necessitam dessas pessoas para conseguirem sair do atualciclo de pobreza e de subdesenvolvimento. necessrio, em particular,proceder elaborao de novos modelos de desenvolvimento seme-lhana do que j se fez para os pases do Leste Asitico, mas levando emconsiderao a peculiaridade de cada caso para serem implementados emdeterminadas regies, tais como a frica Subsaariana.

    Levar a bom termo as estratgias das reformas educacionaisSem subestimar a gesto das condicionantes a curto prazo, tampouco

    negligenciar as adaptaes necessrias aos sistemas existentes, a Comissopretende sublinhar a necessidade de uma abordagem a longo prazo demodo que as reformas indispensveis sejam levadas a bom termo. Por issomesmo, ela insiste sobre o fato de que as reformas em profuso acabam porficar sem efeito por no fornecerem ao sistema o tempo necessrio parase impregnar do novo esprito, nem criarem as condies para que todos os

    atores participem de sua implementao. Alm disso, como demonstradopelos fracassos do passado, um grande nmero de reformuladores, aoadotarem uma abordagem demasiado radical ou terica, deixam delado os teis ensinamentos da experincia ou rejeitam as aquisiespositivas herdadas do passado; da, a insegurana de professores, pais ealunos que mostram pouca disponibilidade para aceitar e, em seguida,implantar as reformas.

    Trs atores principais contribuem para o sucesso das reformas educa-cionais: em primeiro lugar, a comunidade local, principalmente os pais, adiretoria das escolas e os professores; em segundo lugar, as autoridadesconstitudas; e, em terceiro lugar, a comunidade internacional. No passado,um grande nmero de rejeies foram tributrias do pouco empenho deum desses parceiros. As tentativas para impor, de forma autoritria oudo exterior, uma reforma educacional no tm obtido nenhum sucessoO processo foi coroado de xito, em um grau mais ou menos importante,nos pases que conseguiram suscitar o compromisso motivado por partedas comunidades locais, dos pais e dos professores, apoiado em um dilogo

    contnuo e em uma ajuda externa sob diferentes formas, seja no planofinanceiro, tcnico ou profissional; assim, manifesta a preeminnciada comunidade local em uma estratgia de implementao de qualquerreforma.

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    A participao da comunidade local na avaliao das necessidades, por

    meio do dilogo com as autoridades constitudas e com os grupos interes-sados no seio da sociedade, a primeira etapa essencial para ampliar eaprimorar o acesso educao. O prosseguimento desse dilogo pelautilizao da mdia, por debates no mago da comunidade, pela educaoe formao dos pais, assim como pela formao em servio dos professores,suscita, em geral, maior conscientizao e capacidade de discernimento,alm de um desenvolvimento das potencialidades endgenas. Ao assumi-rem maior responsabilidade no seu prprio desenvolvimento, as comunidadesaprendem a apreciar o papel da educao como um meio de atingir osobjetivos societais e, ao mesmo tempo, como uma desejvel melhoria daqualidade de vida. A esse propsito, a Comisso sublinha o interesse de umasbia descentralizao que permita o incremento da responsabilidade e dacapacidade de inovao de cada estabelecimento de ensino.

    De qualquer modo, nenhuma reforma pode ser bem-sucedida sem acontribuio e a participao ativa dos professores; por esse motivo, aComisso recomenda que se preste uma ateno prioritria ao estatutosocial, cultural e material dos educadores.

    Exige-se muito inclusive, demasiado ao professor quando se alimentaa expectativa de que ele venha a suprir as lacunas de outras instituies queso, tambm, responsveis pela educao e formao dos jovens.

    E tal exigncia desmesurada quando, afinal, o mundo exterior invadecada vez mais a escola, principalmente por intermdio dos novos meiosde informao e de comunicao. De fato, o professor tem na sua frente

    jovens cada vez menos vinculados s famlias ou a movimentos religiosos,mas que se beneficiam de um volume crescente de informaes; ora, ele

    ter de levar em considerao esse novo contexto se tiver o desejo de captara ateno dos jovens e ser compreendido por eles, transmitir-lhes o gostode aprender e explicar-lhes que informao no conhecimento, o qualexige esforo, ateno, rigor e vontade.

    Com ou sem razo, o professor tem o sentimento de estar isolado, nos por desempenhar uma atividade individual, mas por causa das expecta-tivas suscitadas pelo ensino e por causa das crticas quase sempre, injustas de que alvo. Acima de tudo, ele deseja que seja respeitada sua dignidade;

    alm disso, em grande nmero, os professores esto filiados a organizaessindicais, muitas vezes, bastante influentes, nas quais existe essa arealidade um esprito corporativo de defesa dos prprios interesses. Noentanto, tal constatao no impede que o dilogo entre a sociedade e os

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    professores, entre o poder pblico e suas organizaes sindicais, seja

    fortalecido e vislumbrado sob uma nova perspectiva.Temos de reconhecer que, apesar de ser uma tarefa difcil, indispen-

    svel renovar esse tipo de dilogo para romper com o sentimento deisolamento e frustrao dos professores, de modo que os questionamentossejam aceitos e todos contribuam para o sucesso das reformas indispensveis.

    Nesse contexto, convm acrescentar algumas recomendaes relacio-nadas com o prprio contedo da formao de professores, com seu plenoacesso educao permanente, com a revalorizao do estatuto dos profes-

    sores responsveis pela educao bsica e com um maior envolvimento dosprofessores nos meios sociais menos favorecidos e marginalizados; nessesambientes que, precisamente, eles podem contribuir para uma inseromais bem-sucedida dos jovens e adolescentes na sociedade.

    Trata-se, igualmente, de tomar partido no sentido de que, alm deeducadores e professores bem formados, o sistema educacional disponhadas ferramentas necessrias para garantir uma educao de qualidade:livros, meios de comunicao de ltima gerao, ambiente cultural e

    econmico da escola...A Comisso, consciente das realidades concretas da educao, insistiu

    muito na necessidade de recursos, em quantidade e em qualidade, sejamclssicos por exemplo, os livros ou modernos, ou seja, as tecnologias deinformao; convm que, ao serem utilizados com discernimento, eles

    venham a suscitar a participao ativa dos alunos. Por sua vez, os profes-sores devem trabalhar em equipe, principalmente, no ensino secundrio,de modo a contriburem para a indispensvel f lexibilidade dos cursos: tal

    postura diminuir o ndice de fracasso escolar, far emergir determinadasqualidades naturais dos alunos e, portanto, facilitar uma melhor orientaodos estudos e dos currculos individuais na perspectiva de uma educaoministrada ao longo da vida.

    Considerado sob esta ptica, o aperfeioamento do sistema educacionalexige que os polticos assumam, plenamente, suas responsabilidades; elesno podem ser omissos, partindo do pressuposto de que o mercado capazde corrigir suas lacunas ou, ainda, de que basta confiar em uma espcie deautorregulao.

    A Comisso enfatizou tanto a permanncia dos valores, as exignciasdo futuro, assim como os deveres dos professores e da sociedade porqueacredita no papel decisivo dos polticos; eles so os nicos que, ao levarem

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    A educao ou a utopia necessria

    em considerao todos os elementos, podem suscitar debates de interesse

    geral. Ora, tal dinmica da vida poltica constitui uma necessidade vitalpara a educao: efetivamente, um assunto que diz respeito a todos, e o nosso futuro que est em jogo; alm disso, a prpria educao podecontribuir, precisamente, para a melhoria do destino de todos e de cada umde ns.

    Assim, somos levados, inevitavelmente, a sublinhar o papel das auto-ridades constitudas a quem incumbe o dever de apresentar opes clarase, aps uma ampla negociao com todos os interessados, de proceder

    escolha de uma poltica pblica que, independentemente das estruturas dosistema de ensino (pblico, privado ou misto), apresente as diretrizes,estabelea os fundamentos e as coordenadas do sistema, alm de garantirsua regulao, mediante as necessrias adaptaes.

    evidente que, nesse mbito, todas as decises tm consequnciasfinanceiras. A Comisso no minimiza essa condicionante; sem entrar nacomplexa diversidade dos sistemas, ela pensa que a educao um bemcoletivo que deve ser acessvel a todos. Uma vez admitido esse princpio, possvel combinar os recursos financeiros do setor pblico e privado, deacordo com diferentes frmulas que levem em considerao as tradies decada pas, seu estgio de desenvolvimento, os estilos de vida e a distribuiode recursos.

    O princpio da igualdade de oportunidades deve, em todas as circuns-tncias, orientar as opes a escolher.

    No decorrer dos debates, evoquei uma soluo mais radical: uma vezque a educao ao longo da vida vai implementar-se aos poucos, seriapossvel vislumbrar a hiptese de atribuir a cada jovem, no incio de suaescolaridade, um crdito-tempo que lhe desse direito a determinadonmero de anos de ensino. Esse valor seria creditado na conta de umainstituio que, em relao a cada jovem, ficaria encarregada de gerenciar,por assim dizer, o capital de tempo aprazado mediante recursos financeirosadequados. Alm de dispor desse capital, de acordo com sua experinciaescolar e com as prprias preferncias, cada jovem poderia guardar umaparte desse capital para ter condies depois do termo da escolaridade,na sua vida de adulto de se beneficiar das vantagens oferecidas pela

    formao permanente. Ele teria a possibilidade, tambm, de aumentar seucapital, por meio de depsitos financeiros uma espcie de conta poupan-a-previdncia destinada educao no crdito de sua conta no bancode tempo aprazado. Tendo aprovado essa ideia, aps um debate aprofunda-

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    do, a Comisso no deixou de estar consciente dos possveis deslizes,

    inclusive, em detrimento da igualdade de oportunidades; por esse motivo,na situao atual, seria possvel experimentar a outorga de um crdito-tempo para a educao, no termo da escolaridade obrigatria, de modo queo adolescente pudesse fazer suas escolhas sem hipotecar o futuro.

    Mas, para resumir, se fosse necessrio sublinhar aps a etapa essen-cial que, foi a Conferncia de Jomtien sobre a educao bsica um tema aser tratado com urgncia, nossa ateno deveria focalizar-se no ensinosecundrio. De fato, entre a sada da educao secundria e a entrada na

    vida ativa, ou seja, o acesso educao superior, que se define o destinode milhes de jovens, moas e rapazes: a se encontra o aspecto maisvulnervel de nossos sistemas educacionais devido elitizao, falta decontrole em relao aos fenmenos de massificao ou inrcia e ausnciade capacidade de adaptao. No momento em que os jovens devem enfrentaros problemas da adolescncia e j se sentem, em certo sentido, maisamadurecidos , mas sofrem, na realidade, por falta de maturidade, nomomento em que eles so dominados no tanto pela displicncia, mas pelaansiedade diante das responsabilidades futuras, importante oferecer-lhes

    locais propcios aprendizagem e descoberta, fornecer-lhes as ferra-mentas apropriadas para ref letir e preparar o futuro, diversificar as escolhascurriculares em funo de suas capacidades, assim como proceder demodo que suas perspectivas no sejam frustradas e eles tenham sempre apossibilidade de retomar e retificar suas opes.

    Ampliar a cooperao internacional a toda a aldeia global

    A Comisso observou que, na rea poltica e econmica, recorre-se cada

    vez mais a aes de nvel internacional na tentativa de encontrar soluessatisfatrias para os problemas de dimenso planetria por exemplo, ofenmeno de crescente interdependncia j frequentemente sublinhado.Ela deplorou igualmente a precariedade dos resultados obtidos e anecessidade de reformar as instituies internacionais para incrementar aeficcia de suas intervenes.

    Esta anlise aplica-se, em igualdade de circunstncias, s reas abrangidaspelo social e pela educao. Chamou-se a ateno, propositadamente, para

    a importncia da Cpula de Copenhague, em maro de 1995, dedicada squestes sociais; nas orientaes adotadas durante esse evento, a educaoocupa um lugar de destaque. Nesse contexto, a Comisso levada a formu-lar as seguintes recomendaes:

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    uma poltica destinada a incentivar, vigorosamente, a educao das

    moas e mulheres, de acordo com a orientao da Conferncia deBeijing (setembro de 1995);

    uma percentagem mnima (25%) do oramento destinado ajuda aodesenvolvimento para o financiamento da educao; essa alocao emfavor da educao deveria ser garantida, igualmente, pelas instituiesfinanceiras internacionais e, em primeiro lugar, pelo Banco Mundialque, nesse aspecto, j desempenha um papel importante;

    o desenvolvimento da troca entre dvida e educao (debt-for-eduction

    swaps) de maneira a compensar os efeitos negativos nas despesas p-blicas com fins educacionais das polticas de ajuste e de reduo dosdficits interno e externo;

    a divulgao, em favor de todos os pases, das novas tecnologias deinformao e comunicao, a fim de evitar a criao de novo fosso entrepases ricos e pases pobres;

    a mobilizao do notvel potencial oferecido pelas organizaes nogovernamentais e, portanto, pelas iniciativas de base, suscetvel de

    apoiar de forma bastante til as aes de cooperao internacional.Essas sugestes iniciais devem ser consideradas em uma perspectiva de

    parceria, e no de assistncia; observao ditada pela experincia de umnmero elevado de fracassos e de um desperdcio considervel de verbas,assim como pelo fenmeno da globalizao. J possvel contar com a

    vivncia de alguns exemplos, tais como o xito de cooperaes e inter-cmbios levados a efeito em nvel regional, em particular, o caso da UnioEuropeia.

    A parceria justifica-se, tambm, pelo fato de conduzir a um jogo comsaldo positivo; de fato, se os pases industrializados, por meio de suasexperincias bem-sucedidas, de suas tcnicas, assim como de seus recursosfinanceiros e materiais, podem ajudar os pases em desenvolvimento, estestm condies de ensinar-lhes modos de transmisso da herana cultural,itinerrios de socializao das crianas e, ainda mais fundamentalmente,culturas e estilos de ser diferentes.

    A UNESCO deveria ser dotada, pelos pases-membros, com os recursos

    indispensveis para animar o esprito e as aes de parceria, no mbito dasorientaes que nossa Comisso apresenta Conferncia Geral destaOrganizao; tal empreendimento poderia comear pela divulgao dasinovaes bem-sucedidas e pelo apoio fornecido para a constituio de

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    Jacques Delors

    redes respaldadas por iniciativas de base das ONGs que tenham o objetivo

    de desenvolver um ensino de qualidade (ctedras UNESCO) ou de incen-tivar as parcerias na rea da pesquisa.

    Organizao, atribumos tambm um papel fundamental no desen-volvimento adequado das novas tecnologias da informao a servio de umaeducao de qualidade.

    Ainda mais fundamentalmente, a UNESCO estar servindo paz e compreenso mtua entre os homens, ao valorizar a educao comoesprito de concrdia emergncia do anseio de conviver , como militantes

    da nossa aldeia global, que deve ser pensada e organizada para o bem dasgeraes futuras; desse modo, ela contribuir para incrementar uma culturada paz.

    Ao escolher o ttulo para este relatrio, a Comisso inspirou-se na fbulaLe laboureur et ses enfants [O lavrador e seus filhos] de La Fontaine:

    Livrem-se (disse o lavrador) de vender a herana,Deixada por nossos antepassados,No interior, esconde-se um tesouro.

    Assim, parodiando o poeta, que elogiava o trabalho e referindo-se aeducao ou tudo o que a humanidade tem aprendido acerca de si mesma,seria possvel lev-lo a afirmar:

    Mas, o pai foi sbioAo mostrar-lhes, antes de morrer,Que a educao um tesouro.

    Jacques DelorsPresidente da Comisso

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    PRIMEIRA PARTEHORIZONTES

    Captulo 1. Da comunidade de base sociedade mundial

    Pistas e recomendaes A interdependncia planetria e a globalizao so os principais fen-

    menos de nosso tempo; eles j esto em marcha e vo deixar sua marcaprofunda no sculo XXI. Desde j, eles exigem uma reflexo abrangente para alm das reas da educao e da cultura sobre o papel e asestruturas das organizaes internacionais.

    O principal risco consiste em estabelecer uma ruptura entre uma mino-ria apta a movimentar-se neste novo mundo em formao e uma maioria

    que viesse a sentir-se merc dos acontecimentos, incapaz de exercerinfluncia sobre o destino coletivo, alm do risco de assistirmos a umrecuo democrtico e a mltiplas revoltas.

    Devemos deixar-nos orientar pela utopia que faz convergir o mundopara uma maior compreenso mtua, acompanhada por um sentidomais arraigado de responsabilidade e mais solidariedade, na aceitaode nossas diferenas de natureza espiritual e cultural. Ao permitir quetodos tenham acesso ao conhecimento, a educao desempenha um

    papel bem concreto na plena realizao desta tarefa universal: ajudar acompreender o mundo e o outro, a fim de que cada um adquira maiorcompreenso de si mesmo.

    Captulo 2. Da coeso social participao democrtica

    Pistas e recomendaes

    A poltica educacional deve ser suficientemente diversificada e conce-bida de tal modo que no se torne um fator suplementar de exclusosocial.

    A socializao de cada indivduo e o desenvolvimento pessoal nodevem ser excludentes; torna-se necessrio promover um sistema que

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    Primeira parte

    se empenhe em combinar as vantagens da integrao com o respeito

    pelos direitos individuais. A educao no pode, por si s, resolver os problemas desencadeados

    pela ruptura (quando se verifica tal ocorrncia) do vnculo social; noentanto existe a expectativa de que ela contribua para o desenvol-

    vimento do desejo de conviver, elemento bsico da coeso social e daidentidade nacional.

    Essa tarefa s pode ser bem-sucedida se a escola vier a fornecer suacontribuio para a promoo e integrao dos grupos minorit-

    rios, mobilizando os prprios interessados em relao ao respeito porsua personalidade.

    A democracia parece progredir, segundo formas e etapas adaptadas situao de cada pas; no entanto sua vitalidade encontra-se constante-mente ameaada. Na escola que deve comear a educao para umacidadania consciente e ativa.

    A participao democrtica depende, de algum modo, das virtudescvicas; no entanto ela pode ser incentivada ou estimulada pela edu-

    cao e por prticas adaptadas sociedade da informao. Trata-se defornecer referncias e grades de leitura a fim de fortalecer as habilidadesde compre-enso e discernimento.

    Compete educao garantir s crianas e aos adultos as bases culturaisque lhes permitam decifrar, na medida do possvel, as mudanas emcurso; tal postura supe a elaborao de uma triagem no volume deinformaes, a fim de facilitar sua interpretao e de situar os aconte-cimentos em uma histria geral.

    Os sistemas educacionais devem fornecer respostas para os mltiplosdesafios da sociedade da informao, na perspectiva de um enriqueci-mento contnuo dos saberes e do exerccio de uma cidadania adaptadas exigncias do nosso tempo.

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    Horizontes

    Captulo 3. Do crescimento econmico ao

    desenvolvimento humanoPistas e recomendaes

    Prosseguimento da reflexo empreendida em torno da ideia de um novomodelo de desenvolvimento mais respeitador da natureza e dos ritmosda pessoa.

    nfase ao lugar do trabalho na sociedade do futuro considerando asincidncias do progresso tecnolgico e as mudanas nos estilos de vida,

    sejam individuais ou coletivos. Avaliao mais exaustiva do desenvolvimento humano, levando em

    considerao todas as suas dimenses, segundo o esprito dos trabalhosdo PNUD.

    Estabelecimento de novas relaes entre poltica educacional e polticade desenvolvimento a fim de fortalecer as bases do saber e dos savoir--faire nos pases em tela: incentivo iniciativa, ao trabalho em equipe, ssinergias realistas, a partir dos recursos locais, assim como ao trabalho

    por conta prpria e ao empreendedorismo. Enriquecimento e generalizao indispensveis da educao bsica

    (importncia da Declarao de Jomtien).

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    SEGUNDA PARTEPRINCPIOS

    Captulo 4. Os quatro pilares da educao

    Pistas e recomendaes A educao ao longo da vida baseia-se em quatro pilares: aprender a

    conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

    Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientementeampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um nmeroreduzido de assuntos, ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-sedas oportunidades oferecidas pela educao ao longo da vida.

    Aprender a fazer, a fim de adquirir no s uma qualificao profissional,mas, de uma maneira mais abrangente, a competncia que torna apessoa apta a enfrentar numerosas situaes e a trabalhar em equipe.

    Alm disso, aprender a fazer no mbito das diversas experincias sociaisou de trabalho, oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontanea-mente na sequncia do contexto local ou nacional, seja formalmente,graas ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.

    Aprender a conviver, desenvolvendo a compreenso do outro e a percep-o das interdependncias realizar projetos comuns e preparar-separa gerenciar conflitos no respeito pelos valores do pluralismo, dacompreenso mtua e da paz.

    Aprender a ser, para desenvolver, o melhor possvel, a personalidade eestar em condies de agir com uma capacidade cada vez maior de auto-nomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa finalidade,a educao deve levar em considerao todas as potencialidades de cadaindivduo: memria, raciocnio, sentido esttico, capacidades fsicas,aptido para comunicar-se.

    No momento em que os sistemas educacionais formais tendem aprivilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento das outras formasde aprendizagem, mister conceber a educao como um todo. Essa

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    Segunda parte: princpios

    perspectiva deve no futuro inspirar e orientar as reformas educacionais,

    seja na elaborao dos programas ou na definio de novas polticaspedaggicas.

    Captulo 5. A educao ao longo da vida

    Pistas e recomendaes

    O conceito de educao ao longo da vida a chave que abre as portasdo sculo XXI; ele elimina a distino tradicional entre educao formal

    inicial e educao permanente. Alm disso, converge em direo a outroconceito, proposto com frequncia: o da sociedade educativa naqual tudo pode ser uma oportunidade para aprender e desenvolver ostalentos.

    Sob essa nova perspectiva, a educao permanente concebida comoalgo que vai muito mais alm do que j se pratica, especialmente nospases desenvolvidos, a saber: as iniciativas de atualizao, reciclageme converso, alm da promoo profissional, dos adultos. Ela deve abriras possibilidades da educao a todos, com vrios objetivos: ofereceruma segunda ou terceira oportunidade; dar resposta sede de conhe-cimento, de beleza ou de superao de si mesmo; ou, ainda, aprimorare ampliar as formaes estritamente associadas s exigncias da vidaprofissional, incluindo as formaes prticas.

    Em suma, a educao ao longo da vida, deve tirar proveito de todas asoportunidades oferecidas pela sociedade.

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    TERCEIRA PARTEORIENTAES

    Captulo 6. Da educao bsica universidade

    Pistas e recomendaes

    Uma exigncia vlida para todos os pases, mediante a adaptao amodalidades e contedos diferentes: o reforo da educao bsica; da,a nfase atribuda ao ensino primrio e a suas aprendizagens bsicasclssicas ler, escrever, contar , assim como a possibilidade de se expri-mir em uma linguagem suscetvel de facilitar o dilogo e a compreenso.

    A necessidade ainda mais forte no futuro de uma abertura ao uni-verso da cincia, chave para abrir as portas do sculo XXI e de suasreviravoltas cientficas e tecnolgicas.

    Adaptar a educao bsica aos contextos particulares, aos pases epopulaes mais desfavorecidos. Partir de dados da vida quotidiana,que oferece oportunidades de compreender os fenmenos naturais,assim como de ter acesso s diferentes formas de sociabilidade.

    Evocao dos imperativos da alfabetizao e da educao bsica paraos adultos.

    Privilegiar, em todos os casos, a relao entre professor e aluno; astecnologias de ltima gerao, por sua vez, devem limitar-se a apoiar a

    relao (transmisso, dilogo e confronto) entre o docente e o discente.

    A educao secundria deve ser repensado nesta perspectiva geral deeducao ao longo da vida. O princpio essencial consiste em organizara diversidade de opes sem que seja fechada a possibilidade de umretorno ulterior ao sistema educacional.

    Os debates sobre a seletividade e a orientao tornar-se-iam muito maistransparentes se esse princpio fosse plenamente aplicado; nesse caso,

    todos teriam o sentimento de que, independentemente das opes edos cursos frequentados na adolescncia, nenhuma porta seria fechadano futuro, tampouco a da prpria escola. A igualdade de oportunidadesadquiriria, ento, seu pleno sentido.

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    Terceira parte

    A universidade deve ocupar o centro do sistema educacional mesmo

    que, semelhana do que ocorre em numerosos pases, existam outrosestabelecimentos de ensino superior.

    Ela deveria desempenhar estas quatro funes essenciais:

    1. preparao para a pesquisa e para o ensino;

    2. oferta de uma formao, em diferentes reas, bastante especializadae adaptada s necessidades da vida econmica e social;

    3. abertura a todos para responder aos mltiplos aspectos do que se

    designa por educao permanente, em sentido lato;4. cooperao internacional.

    Ela deve dispor, tambm, da possibilidade de se exprimir com toda aindependncia e responsabilidade acerca de problemas ticos e sociais como uma espcie de poder intelectual, indispensvel para ajudar asociedade a refletir, compreender e agir.

    A diversidade da educao secundria e as possibilidades oferecidas pelauniversidade deveriam fornecer respostas vlidas para os desafios da

    massificao, ao suprimir a obsesso pela via principal e nica. Combi-nadas com a generalizao da alternncia estudo/trabalho, elas deveriampermitir, tambm, a luta eficaz contra o fracasso escolar.

    O desenvolvimento da educao ao longo da vida implica o estudo denovas formas de obteno das certificaes que levem em consideraoo conjunto das competncias adquiridas.

    Captulo 7. Os professores em busca de novas perspectivas

    Pistas e recomendaes

    Mesmo que a situao psicolgica e material dos professores seja muitodiferente de acordo com o pas abordado, impe-se a revalorizao deseu status para que a educao ao longo da vida venha a desempenhara misso central que a Comisso lhe atribui para o progresso de nossassociedades e para o fortalecimento da compreenso mtua entre ospovos. O professor deve ser reconhecido como tal pela sociedade, almde dispor da autoridade necessria e das ferramentas adequadas paraexercer sua funo.

    Mas, a educao ao longo da vida implica, diretamente, o conceito desociedade educativa: nesta sociedade, so oferecidas mltiplas oportu-

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    Orientaes

    nidades de aprender, tanto na escola quanto na vida econmica, social

    e cultural. Da, a necessidade de multiplicar as negociaes e as parce-rias com as famlias, o meio econmico, o mundo associativo, os atoresda vida cultural etc.

    Os professores so afetados, tambm, por esse imperativo de atualizaodos conhecimentos e das competncias. Sua vida profissional deve serorganizada de tal modo que estejam em condies, at mesmo, sejamobrigados a aprimorar sua arte e a se beneficiar de experincias vividasem diversas esferas da vida econmica, social e cultural. Em geral, tais

    possibilidades esto previstas nas mltiplas formas de licena paraformao ou de ano sabtico; essas frmulas, devidamente adaptadas,devem ser ampliadas a todos os professores.

    Mesmo que o ofcio de professor seja, fundamentalmente, uma atividadesolitria, no sentido de que cada professor deve assumir suas prpriasresponsabilidades e deveres profissionais, o trabalho em equipe indis-pensvel, sobretudo no secundrio, para melhorar a qualidade daeducao e adapt-la melhor s caractersticas particulares das aulas oudos grupos de alunos.

    O relatrio insiste na importncia do intercmbio de professores e dasparcerias entre instituies de pases diferentes. Tais iniciativas garan-tem um indispensvel valor agregado qualidade da educao, assimcomo maior abertura a outras culturas, civilizaes e experincias; eis oque confirmado pelas experincias em curso.

    Todas essas orientaes devem ser objeto de dilogo, at mesmo decontratos, com as organizaes de professores, passando por cima docarter puramente corporativista de tais negociaes. De fato, as orga-

    nizaes sindicais, alm do objetivo de defender os interesses morais emateriais de seus associados, acumularam um capital de experincias;elas dispem-se a transmitir esse acervo aos responsveis pelas decisespolticas.

    Captulo 8. Escolhas na rea da educao: o papel do poltico

    Pistas e recomendaes

    As opes educacionais so opes de sociedade: em todos os pases,elas exigem um amplo debate pblico, baseado na avaliao rigorosados sistemas educacionais. A Comisso convida as autoridades constitu-das a facilitar esse debate, de modo que seja possvel chegar a um

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    Terceira parte

    consenso democrtico, que constitui a via mais adequada para o sucesso

    das estratgias de reforma. A Comisso preconiza a implementao de medidas que permitam

    associar os diferentes atores sociais s tomadas de deciso em matriade educao; em seu entender, a descentralizao administrativa e aautonomia dos estabelecimentos de ensino podem levar, na maioria doscasos, ao desenvolvimento e generalizao da inovao.

    Nessa perspectiva que a Comisso entende reafirmar o papel do pol-tico: incumbe-lhe o dever de apresentar as opes com clareza e de

    garantir regulamentao geral com as adaptaes indispensveis. Defato, a educao constitui um bem coletivo que no pode ser reguladopelo simples jogo do mercado.

    Nem por isso a Comisso subestima a importncia das condicionantesfinanceiras e preconiza a implantao de parcerias entre setor pblicoe privado. Para os pases em desenvolvimento, o financiamento pblicoda educao bsica continua sendo uma prioridade, mas as opesadotadas no devem desestabilizar a coerncia do sistema no seu

    conjunto, nem prejudicar os outros nveis de ensino. Por outro lado, indispensvel que as estruturas de financiamento

    sejam reexaminadas luz do princpio segundo o qual a educao devedesenvolver-se ao longo da vida dos indivduos. Neste sentido, a Comis-so julga que a proposta de um crdito-tempo para a educao tal comoela formulada, sumariamente, neste relatrio merece ser debatida eaprofundada.

    O desenvolvimento das novas tecnologias da informao e da comuni-cao deve suscitar uma reflexo geral sobre o acesso ao conhecimentono mundo de amanh. A Comisso recomenda:

    diversificao e aprimoramento do ensino a distncia, pelo recursos novas tecnologias;

    crescente utilizao dessas tecnologias no mbito da educao deadultos, em particular, para a formao contnua de professores;

    fortalecimento das infraestruturas e capacidades dos pases emdesenvolvimento, assim como a divulgao das tecnologias por todaa sociedade: trata-se, de qualquer maneira, de condies prvias suautilizao no mbito dos sistemas educacionais formais;

    lanamento de programas de divulgao das novas tecnologias sobos auspcios da UNESCO.

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    Orientaes

    Captulo 9. A cooperao internacional: educar a aldeia global

    Pistas e recomendaes

    A necessidade de uma cooperao internacional que deve ser repen-sada radicalmente vlida tambm para a rea da educao; trata-sede uma questo que implica no s os responsveis pelas polticaseducativas e os professores, mas tambm todos os atores da vida coletiva.

    No plano da cooperao internacional, promover uma poltica que sirvade forte incentivo em favor da educao das moas e mulheres, de

    acordo com o esprito da Conferncia de Beijing (1995). Modificar a orientao da poltica de assistncia para uma perspectiva

    de parceria, ao favorecer, especialmente, a cooperao e o intercmbiono mago de grupos regionais.

    Alocar educao um financiamento correspondente a 25% da ajudadestinada ao desenvolvimento.

    Incentivar a converso de dvidas, a fim de compensar os efeitos nega-tivos sobre as despesas com a educao das polticas de ajuste e de

    reduo de dficits interno e externo. Ajudar no fortalecimento dos sistemas educacionais nacionais ao enco-

    rajar as alianas e a cooperao entre os ministrios em nvel regional,e entre pases que enfrentam problemas semelhantes.

    Ajudar os pases a enfatizar a dimenso internacional do ensino minis-trado (programas de estudo, recurso s tecnologias da informao,cooperao internacional).

    Incrementar novas parcerias entre as instituies internacionais que sededicam educao, lanando, por exemplo, um projeto internacionalque tenha o objetivo de divulgar e implementar o conceito de educaoao longo da vida, a partir do modelo de iniciativa interinstitucional queculminou na Conferncia de Jomtien.

    Estimular em particular, pela criao de indicadores adequados acoleta em escala internacional de dados relativos aos investimentos nacio-nais na educao: soma total dos fundos privados, dos investimentosdo setor industrial, das despesas com a educao no formal etc.

    Constituir um conjunto de indicadores destinados a detectar asdisfunes mais graves dos sistemas educacionais, relacionando, porexemplo, diversos dados quantitativos e qualitativos: nvel de despesas

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    Terceira parte

    com a educao, taxa de desperdcio, desigualdades de acesso, falta de

    eficcia dos diferentes setores do sistema, deficiente qualidade deensino, condio dos docentes etc.

    De acordo com uma iniciativa de prospeco, criar um observatrioUNESCO das novas tecnologias da informao, de sua evoluo e de seuimpacto previsvel, no s sobre os sistemas educacionais, mas tambmsobre as sociedades modernas.

    Incentivar, por intermdio da UNESCO, a cooperao intelectual narea da educao: Ctedras UNESCO, Escolas Associadas, partilha

    equitativa do saber entre pases, divulgao das tecnologias da infor-mao, intercmbio de estudantes e de pesquisadores.

    Fortalecer a ao normativa da UNESCO a servio de seus Estados-Membros, por exemplo, no que diz respeito harmonizao daslegislaes nacionais com os instrumentos internacionais.

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    O trabalho da Comisso

    A Conferncia Geral da UNESCO, em novembro de 1991, convidou oDiretor Geral a convocar uma Comisso Internacional para refletir sobrea educao e a aprendizagem no sculo XXI. Assim, Federico Mayorsolicitou a Jacques Delors para assumir a presidncia dessa Comisso, quereuniu outras 14 personalidades de todas as regies do mundo, oriundas dediversos horizontes culturais e profissionais.

    A Comisso Internacional sobre a Educao para o Sculo XXI foi criadaoficialmente no incio de 1993. Financiada pela UNESCO e dispondo de umsecretariado posto sua disposio por esta Organizao, a Comisso pdetirar partido dos preciosos recursos de que dispe a UNESCO e da sua

    experincia internacional, assim como de um impressionante acervo deinformaes; no entanto ela empreendeu seus trabalhos e elaborou suasrecomendaes com toda a independncia.

    A UNESCO j havia publicado vrios estudos internacionais com oobjetivo de fazer o balano em relao aos problemas e s prioridades daeducao. Em 1968, em La crise mondiale de lducation une analyse dessystmes [A crise mundial da educao uma anlise dos sistemas], PhilipH. Coombs, diretor do Instituto Internacional de Planejamento da Educa-

    o (IIPE) da UNESCO, apoiava-se em trabalhos desse Instituto para analisaros problemas da educao no mundo e recomendar aes inovadoras.

    Em 1971, aps trs anos de ao vigorosa dos movimentos estudantis emvrios pases, Ren Maheu (ento, Diretor Geral da UNESCO) solicitou aEdgar Faure, ex-presidente do Conselho de Ministros e ex-Ministro daEducao francs, para assumir a presidncia de um grupo de sete pessoas,a quem ele confiava a tarefa de definir as novas finalidades atribudas educao perante a rpida transformao do conhecimento e das socie-

    dades, as exigncias do desenvolvimento, as aspiraes do indivduo e osimperativos da compreenso internacional e da paz. A Comisso EdgarFaure foi convidada a formular sugestes relativas aos meios conceituais,humanos e financeiros a serem implementados para atingir os objetivos

    ANEXOS

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    Anexos

    que ela havia estabelecido; publicado em 1972 e intitulado Apprendre

    tre4, o relatrio desta Comisso teve o grande mrito de propor o conceitode educao permanente, em um perodo em que os sistemas educacionaistradicionais eram questionados.

    A primeira e, sem dvida, a maior dificuldade enfrentada pela novaComisso, presidida por Jacques Delors, no incio da tarefa que lhe foraconfiada, consistiu na extrema diversidade, por todo o planeta, de situa-es, alm de concepes acerca da educao e de suas modalidades deorganizao. Outra dificuldade, corolrio da precedente: no decorrer deseus trabalhos, a Comisso s conseguiu assimilar evidentemente umapequena parcela da quantidade de informaes existentes. Da, a necessidadeimperiosa de proceder a escolhas e determinar o que era essencial para ofuturo, em uma dialtica entre as evolues geopolticas, econmicas,sociais e culturais, por um lado, e, por outro, as possveis contribuies daspolticas na rea da educao. Desse modo, tendo sido escolhidas seis pistasde reflexo e de trabalho, a Comisso pde abordar sua tarefa do pontode vista das finalidades (individuais e societais) do processo educa-cional:educao e cultura; educao e cidadania; educao e coeso social;educao trabalho e emprego; educao e desenvolvimento; educao,pesquisa e cincia. Essas seis pistas foram completadas pelo estudo de trstemas transversais que esto relacionados, mais diretamente, com ofuncionamento dos sistemas educacionais, a saber: as tecnologias da comu-nicao; os professores e o processo pedaggico; o financiamento e a gesto.

    No plano metodolgico, o procedimento da Comisso consistiu emempreender uma consulta to ampla quanto possvel, levando em consi-derao o tempo de que dispunha. Ela reuniu-se oito vezes em sessoplenria e outras tantas em grupos de trabalho para examinar os grandes

    temas adotados, assim como as preocupaes e os problemas de determi-nada regio ou grupo de pases. Os participantes desses grupos de trabalhorepresentavam uma ampla gama deatividades, profisses e organizaesrelacionadas, direta ou indiretamente, com a educao formal ou no formal:professores, pesquisadores, estudantes, integrantes do governo, membrosde organizaes governamentais e no governamentais, no plano nacionale internacional.

    Uma srie de audies de intelectuais e de personalidades de renome

    permitiu que a Comisso procedesse a uma profunda troca de pontos de

    4. A verso em portugus foi publicada em 1974 com o ttulo Aprender a ser (ver nota 2) nota de traduo.

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    Anexos

    vista acerca de todos os aspectos que, de algum modo, esto relacionados

    com a educao; foram efetuadas, tambm, consultas individuais, por meiode entrevistas ou por via postal. Um questionrio foi enviado a todas ascomisses nacionais da UNESCO, convidando-as a enviar documentaoou materiais inditos: a reao foi bastante positiva, e as respostas foramestudadas com ateno. Do mesmo modo, as ONGs foram consultadas e,s vezes, convidadas a participar de algumas reunies. No decorrer de 30meses, os membros da Comisso incluindo seu presidente tomaramparte, igualmente, em uma srie de reunies governamentais e no gover-

    namentais, que constituram outras tantas oportunidades para discutir seustrabalhos e para proceder troca de pontos de vista. A Comisso, alm dospareceres solicitados, recebeu um grande nmero de mensagens enviadas,espontaneamente; por sua vez, o secretariado analisou um volumeconsidervel de documentao e elaborou snteses sobre diversos assuntos,a pedido de seus membros. Alm do prprio relatrio, a Comisso props UNESCO a publicao dos documentos de trabalho que serviram dereferncia para sua reflexo.

    Membros da Comisso

    Jacques Delors (Frana), presidente, ex-ministro da Economia e daFazenda, ex-presidente da Comisso Europeia (1985-1995).

    Inam Al Mufti (Jordnia),especialista em condio feminina, conse-lheira de Sua Majestade a rainha Noor al-Hussein, ex-ministra doDesenvolvimento Social.

    Isao Amagi (Japo), especialista em educao, conselheiro especial do

    ministro da Educao, Cincia e Cultura, alm de presidente da FundaoJaponesa para o Intercmbio Educativo (BABA).

    Roberto Carneiro (Portugal), presidente da TVI (Televiso Indepen-dente), ex-ministro da Educao.

    Fay Chung (Zimbbue), ex-ministra para os Assuntos Internos, Criaode Empregos e Cooperativas, integrante do Parlamento, ex-ministra daEducao; diretora do Education Cluster (UNICEF, Nova Iorque).

    Bronislaw Geremek (Polnia), historiador, deputado da Assembleia

    Polonesa, ex-professor do Collge de France.

    William Gorham (Estados Unidos), especialista em poltica pblica,presidente do Urban Institute de Washington, D. C. desde 1968.

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    Aleksandra Kornhauser (Eslovnia), diretora do Centro Internacional

    de Produtos Qumicos de Liubliana, especialista de relaes entre desen-volvimento industrial e proteo do meio ambiente.

    Michael Manley (Jamaica), sindicalista, professor universitrio e escri-tor, Primeiro Ministro de 1972 a 1980 e de 1989 a 1992.

    Marisela Padrn Quero (Venezuela), sociloga, ex-diretora de pesquisada Fundacin Romulo Betancourt, ex-ministra da Famlia, diretora daDiviso da Amrica Latina e do Caribe (FNUAP, Nova Iorque).

    Marie-Anglique Savan (Senegal), sociloga, membro da Comissosobre Governabilidade, diretora da Diviso da frica (FNUAP, Nova Iorque).

    Karan Singh (ndia), diplomata e vrias vezes ministro, em especial daEducao e da Sade; autor de vrias obras nas reas do meio ambiente,filosofia e cincia poltica; presidente do Templo da Compreenso, impor-tante organizao internacional interconfessional.

    Rodolfo Stavenhagen (Mxico), pesquisador em cincias polticas esociais, professor no Centro de Estudos Sociolgicos, El Colegio de Mexico.

    Myong Won Suhr (Coreia do Sul), ex-ministro da Educao, presidenteda Comisso Presidencial para a Reforma da Educao (1985-1987).

    Zhou Nanzhao (China), especialista em educao, vice-presidente eprofessor do Instituto Nacional Chins de Estudos Educacionais.

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    Mandato da ComissoAlexandra Draxler, Secretria da Comisso

    O secretariado da Comisso garante o monitoramento de seus trabalhospor meio da publicao da documentao que serviu de base a seu relatrio,assim como os estudos destinados a aprofundar os diferentes aspectos desua reflexo ou de suas recomendaes; por solicitao das instnciasgovernamentais ou no governamentais, ele fornecer apoio para organizarreunies a fim de serem debatidas as concluses da Comisso; por ltimo,ele participar de atividades que tenham o objetivo de pr em prtica

    algumas das recomendaes da Comisso.

    Endereo da Comisso

    Task Force on Education for the Twenty-first Century

    UNESCO

    7, Place de Fontenoy75352 Paris 07 SP

    FranceTel.: (33 1) 45 68 11 23Fax: (33 1) 45 68 56 32E-mail: [email protected] de Discusso (em ingls): [email protected]: http://www.unesco.org/delors/

    mailto:[email protected]:delors%EF%BF%[email protected]://www.unesco.org/delorshttp://www.unesco.org/delorsmailto:delors%EF%BF%[email protected]:[email protected]