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Valor Local Jornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 21 • 23 Janeiro 2015 • Preço 1 cêntimo Opel e Ford... E depois do adeus! Págs. 9, 10, 11 e 12 Foto: www.batistas.pt Ex-funcionário da EMIA queixa-se da Câmara de Azambuja Entrevista com presidente da Câmara de Alenquer Pedro Folgado Pág. 7 Págs. 16 e 17 Palmeiras do palácio de Azambuja são para arrancar Palmeiras do palácio de Azambuja são para arrancar Pág. 5

Jornal Valor Local - Edição Janeiro 2015

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Valor LocalJornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 21 • 23 Janeiro 2015 • Preço 1 cêntimo

Opele Ford...E depoisdo adeus!

Págs. 9, 10, 11 e 12

Foto: www.batistas.pt

Ex-funcionário da EMIAqueixa-se da Câmarade Azambuja

Entrevista com presidenteda Câmara de AlenquerPedro Folgado

Pág. 7

Págs. 16 e 17

Palmeiras do palácio deAzambuja são para arrancarPalmeiras do palácio deAzambuja são para arrancar

Pág. 5

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Canhão Cársico da Ota: “uma pequenamaravilha” ameaçada pelas pedreirasUma pequena maravilha a

poucos quilómetros da capi-tal do país, é assim que muitosestudiosos e não só se referemao Canhão Cársico da Ota. Oseu estudo e caracterização foium dos projetos que saiu vence-dor na primeira edição do Orça-mento Participativo de Alenquer,ao qual foi atribuído uma verbade 45 mil euros. Um patrimónioque convive a pouca distânciade pedreiras que são a principalameaça ao perpetuar daquela“jóia do concelho de Alenquer”.“Trata-se de uma zona calcáriado tempo jurássico escavada porum rio que conseguiu dar a apa-rência ao local de uma gargantafunda, como se de um desfiladei-ro se tratasse, ou de uma dunagigantesca mas em que os grãosde areia são pedras”, explicaJosé Carlos Morais, biólogo, eproponente desta proposta, econtinua – “O rio foi ‘abrindo’ gru-tas, cascalheiras, originandotambém pequenas nascentes, eno fundo esculpindo formas mo-numentais que podem ser apre-ciadas”. Povos do neolítico atéaos árabes fixaram-se na zona,e há vestígios da sua passagem

já musealizados. À forte compo-nente natural junta-se a arqueo-lógica e histórica aumentandoassim o grau de riqueza do local.No entanto, o estudo das suasvárias componentes desde a bo-tânica, passando pela arqueoló-gica, biológica, até à ecológica,geológica, e hidrológica, entreoutras está por fazer, e JoséCarlos Morais vê neste incentivodado pelo Orçamento Participa-tivo um pontapé de saída paraalgo mais. Diversos planos re-gionais de ordenamento do terri-tório consagraram isso mesmo:a sua classificação e estudo.“Trata-se de uma área regional-mente importante e até em ter-mos nacionais. Urge saber o queé necessário para preservar estelocal, que sofre com a laboraçãode várias pedreiras de grande di-mensão situadas nas margensdo canhão”.Apesar da importância do local,estranhamente não se encontraclassificado pelos organismoscompetentes do Estado. “Não éadmissível que nos últimos anosse tenha aprovado áreas de ex-pansão para a continuidade dalaboração das pedreiras, mesmo

encostadas à zona do CanhãoCársico”.Possíveis fricções entre o desen-volvimento de uma atividade

económica e a exploração cien-tífica de um património importan-te ficam desde já subjacentes,mas José Carlos Morais não temdúvidas: “Temos de perceber oque é mais importante. Já vi pa-rarem barragens e pedreirasquando se acharam figuras ru-pestres e pegadas de dinossau-ros, mas não quer dizer que nãose possa compatibilizar ambasas questões. O problema é quehá pedreiras que estão a atirarresíduos para a margem do ca-nhão e a estragar esse patrimó-nio”. De acordo com o Inventáriode Geossítios de Relevância Na-cional, em 2014, este patrimónioque é “o mais extenso e espeta-cular vale em canhão das re-giões calcárias portuguesas”,numa escala de 0 a 400, estáatualmente a enfrentar um riscode ameaça de 325. “O que temos aqui é também im-portante e pode ser um polo dedesenvolvimento local, como osOlhos de Água em Alviela ou asPortas do Ródão, e não ficaatrás desses sítios”. O portal daGeologia consagra isso mesmo,apesar de a população do con-celho não estar a par deste patri-mónio. “Em termos de paisagemCársica, estudiosos referem-se aeste local como um dos maisdeslumbrantes da Península Ibé-rica, e pode ser visitada por es-colas, por exemplo”. “Aqui no centro de Ota onde es-tamos, e onde nada se passa,poderia estar a chegar, nestemomento, um ou dois autocarroscom miúdos para virem visitar ocanhão cársico e com isso dar-se vida a estes cafés e lojas. Isto

é um potencial de desenvolvi-mento”, exemplifica. O estudo do canhão cársico daOta surgiu um pouco fora docontexto em relação a outrosconcorrentes no Orçamento Par-ticipativo, e José Carlos Moraisconsidera que pelo seu carácterinovador “a Câmara reforçou averba que inicialmente estariadisponível para o mesmo”. Oprojeto recebeu 235 votos da po-pulação, e foi o sétimo mais vo-tado. Mesmo assim José CarlosMorais não sabe se os 45 mil eu-ros serão suficientes. Mas será oponto de partida para a realiza-ção de trabalho de campo com oenvolvimento de estudiosos dasvárias áreas envolvidas. Os projetos do orçamento 2014têm de estar concluídos no finalde 2016, e José Carlos Moraisnão esconde a sua necessidadede urgência. “Não podemos fa-lhar por exemplo a primavera de2015, senão o trabalho da equi-pa de Botânica ficará à partidacondicionado em um ano, e poraí adiante. Temos de jogar com

os ciclos da natureza. Não con-seguimos caracterizar a água deverão, só para dar outro exem-plo”. E não esconde que já gos-taria de se ter reunido com osautarcas de Alenquer – “Estou acomeçar a ficar preocupado, defacto, porque este projeto tem deser concretizado dia-a-dia”. JoséCarlos Morais diz que é precisofalar o quanto antes com os pos-síveis científicos e associações einstitutos que se dedicam àsáreas de estudo em causa. “Mastambém quero incluir geólogos,arqueólogos e biólogos de Ota.Porque significa dar emprego atécnicos locais que terão umamor diferente por esta zona”.O projeto contempla para alémda investigação e do trabalho decampo, a elaboração de relató-rios sectoriais de caracterização,painéis de exposição, brochurade divulgação, a realização deum seminário, e posteriormenteo projeto poderá contemplar apassagem a uma segunda fasecom mais estudo e maior com-ponente expositiva.

A enorme cascalheira é dos pontos que mais impressiona os visitantes

José Carlos Morais propôs o estudo

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3Valor Local Publicidade

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No encerramento de maisuma Gala do Grupo Despor-

tivo de Azambuja, o presidentedo clube, Alexandre Grazina,aproveitou a ocasião para deitarmais umas achas para a foguei-ra conforme já começa a seruma regra nestas alturas. O diri-gente não esteve com meias pa-lavras e disse mesmo que a faltade condições do clube para aprática de alguns desportos étão preponderante, que, por ve-zes, chegam a aproveitar col-chões que encontram ao pé doscontentores do lixo. “O Alex vaicom a carrinha fazer uma ronda,e já tem acontecido ligarem-nosa dizer que se encontra um col-chão ainda em bom estado aopé da Socasa, por exemplo”. Anecessidade de mais equipa-mento, estende-se também aofacto de o clube possuir tapetespara a prática de ginástica commais de 30 anos. “Esses tapetes vieram paraAzambuja depois do 25 de Abrilquando se formou uma secção

de judo. Não estamos a quererfazer um choradinho, mas esta éa triste realidade, e se com es-tas condições conseguimos comque os nossos atletas participemnas competições nacionais comresultados de relevo, pódios e tí-tulos, teríamos ainda mais hipó-teses se tivéssemos um mínimode condições”, enfatizou, e ilus-trou- “Quando vamos competirnoutros locais e falamos dos col-chões, as pessoas ficam deboca aberta face aos nossos re-sultados”. “Gostaríamos de ter opiso adequado para essa práticamas o mesmo tem um preço quenão podemos suportar.”Até no que se refere aos apare-lhos de ginástica, foi a prata dacasa que se incumbiu do fabricodos mesmos, desde as barrasàs paralelas, passando pelastraves baixas. “Os nossos técni-cos dão largas à sua imaginaçãoporque têm um dever de cons-ciência muito grande do valordos nossos atletas”, e exortouos autarcas presentes a aban-

donarem o pensamento de queo clube vive para pedir – “Ouvi-mos dizer que queremos tudo,que já ocupamos os espaços daEPAC, das piscinas, do estádio,do pavilhão, mas não temoscasa, e precisamos de ser aju-dados, e de facto a Câmara tem-nos ajudado. Mas merecemosmais respeito, não que não o te-nhamos, mas a nível do que fa-zemos e do que ainda podemosfazer”.“Azambuja é conhecida pelosseus toureiros, pela sua pescadesportiva e hoje também peloGDA que vai a qualquer pontodo país e também da Europa!Peço que nos ajudem e façamjustiça, porque merecemosisso”.No entanto saudou o empenho ea ajuda de todos os envolvidosno clube desde os técnicos aospais dos atletas que têm sabidoremar contra a maré de dificul-dades. “Sem eles seria impossí-vel realizar este trabalho e existirhá 65 anos”.

Aniversário do GDA

Na Ginástica os atletas usam colchõesencontrados no lixo

Ajunta de freguesia de Aveirasde Baixo optou pela obra de

um parque infantil em Casais daLagoa, orçada à volta de quatromil euros, no âmbito do Orçamen-to Participativo que levou a caboem 2014. Outras duas propostasforam apresentadas, sendo que

uma delas tinha um valor dema-siado alto para as possibilidadesda junta, pois compreendia a re-cuperação da envolvente ao poli-desportivo das Virtudes, incluindoo piso e as vedações. “A obra do parque infantil seráefetuada em conjunto com a Câ-

mara de Azambuja que nos vaienviar o seu orçamento para le-varmos a cabo essa recupera-ção”, refere Carlos Valada, presi-dente da junta. Este parque situa-se junto à escola da localidade. Ajunta financiará metade do inves-timento (cerca de dois mil euros),

outros dois mil euros serão aplica-dos pela Câmara. “Vamos retirar os equipamentosque lá estão, para os colocar jun-to ao jardim do fontanário na mes-ma localidade. E assim consegui-remos recuperar dois parquesquase com o dinheiro de apenas

um.”A população da freguesia foi infor-mada através de edital de que es-tava a decorrer um orçamentoparticipativo, e o autarca confessaque a mesma “ainda não estámuito habituada” a estas solicita-ções. “Queremos que a popula-

ção e as coletividades participemmais na vida da junta, o baixo nú-mero de participações nesta ini-ciativa não nos desmotiva”.A junta de freguesia de Aveiras deBaixo vai levar a efeito, em 2015,novamente esta iniciativa, emprincípio com uma verba superior.

Novo parque infantil em Casais da Lagoa

AAssociação do Centro de Diapara a 3ª Idade de Nossa

Senhora do Paraíso é a únicaIPSS que no concelho de Azam-buja com obras de ampliação emcurso. As obras destinam-se àconstrução de mais um piso,com o objetivo de dotar com avalência lar aquela instituiçãocom sede em Vale do Paraíso. Aobra foi visitada durante o mês

de janeiro pelo presidente da Câ-mara de Azambuja, Luís de Sou-sa e pela oposição, nomeada-mente, pelos elementos da Coli-gação pelo Futuro da Nossa Ter-ra, e CDU que embora o tenhamfeito em horários diferentes, nãodeixaram de se congratular commais esta valência e aposta nomunicípio de Azambuja.Em declarações ao Valor Local,

o presidente da Câmara deAzambuja, Luís de Sousa, enal-teceu o trabalho e o dinamismolevado a cabo pelos responsá-veis da associação. O presidenteda Câmara destacou que nãoestava à espera de ver nascerno terraço da associação maisuma valência. O edil referiu queo aproveitamento do espaço foi“muito bem feito” ao mesmo tem-

po que destacou a necessidadeda existência daquela valêncianão só em Vale do Paraíso comono restante concelho de Azam-buja. Luís de Sousa não descartou ahipótese de a autarquia poderajudar na obra em termos finan-ceiros, todavia disse ser neces-sária a realização de algumasreuniões de trabalho com esse

objetivo, garantindo “que todo oexecutivo camarário dará comcerteza um subsídio tendo emvista a obra”. O presidente daCâmara lembrou, no entanto,que o concelho de Azambuja ain-da carece de vagas em lar, no-meadamente, no que toca aIPSS’s (Instituições Particularesde Solidariedade Social) comacordos com a Segurança So-

cial. Ainda no capítulo da assistênciaao idoso, Luís de Sousa referemesmo que está a ser levado acabo um plano de pormenornuma quinta perto de Vale doParaíso para a construção de umlar privado, onde está incluídoum lar residencial, “mas serádestinado a um público-alvo comoutro poder económico”.

Câmara de Azambuja visita obrasdo lar de Vale do Paraíso

O dirigente lançou um grito de inconformismo

Ficha técnica: Valor Local, Jornal de informação regional, sede deredacção e administração: Quinta da Mina 2050-273 Azambuja; telefones: 263 047625, 96 197 13 23 correio electrónico: [email protected] • Site: www.valorlocal.pt• Propriedade e Editor: Associação Comércio e Indústria do Município de Azambuja(ACISMA); Quinta da Mina 2050-273 Azambuja. NIPC 502 648 724 • correio electró-nico: [email protected] • Director: Miguel António Rodrigues CP 3351 [email protected] • Colaboradores: Sílvia Agostinho CO-1198 [email protected], Vera Galamba CP 6781, José Machado Pereira, Daniel Claro, RuiAlves Veloso, Miguel Ouro, Nuno Filipe, Augusto Moita • Paginação, Grafismo e Mon-tagem: Milton Almeida: [email protected] • Fotografia: José Júlio Cachado •Serviços Administrativos e Departamento Comercial:Ana Reis, telefones: 263 047625, 93 244 63 22 correio electrónico: [email protected] • N.º de RegistoERC: 126362, Depósito legal: 359672/13 • Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidadedo Porto –Complexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga • Tira-gem: 4000 exemplares

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Vila Nova da Rainha foi o berçoda aviação militar portuguesa.

Foi aqui que se instalou em 1914a Escola de Aeronáutica. AntesPortugal tinha tido apenas algunsensaios na pilotagem de peque-nos aparelhos. Vila Nova da Rai-nha inauguraria assim uma primei-

ra página da história da aviaçãoportuguesa, e desde o ano passa-do que está a ser comemorado oprimeiro centenário da aviação mi-litar. O município de Azambujaapenas este ano se associa à efe-méride, com algumas atividades,com destaque para a colocação

de uma aeronave numa das rotun-das principais de Vila Nova da Rai-nha.O monumento terá um custo de 17mil 500 euros. Ainda se ponderoua hipótese de o avião, doado pelaForça Aérea, ser colocado sob umespelho de água mas dado o en-

carecimento dos custos, a ideia foiabandonada. A obra deverá estarpronta no ano que vem, e o con-curso será lançado este ano. Aobra será custeada pela Câmara epela junta de freguesia. Terá lugartambém uma exposição na galeriamunicipal. Poderá estar ainda em

cima da mesa, o arranjo de umdos antigos hangares. Em data ainda a definir, o presi-dente da junta de freguesia de VilaNova da Rainha, Joaquim Mar-ques, refere que estão previstasatuações da banda da força aé-rea, concertos, e descida pelas

ruas, bem como um almoço comas patentes. Luís de Sousa rejeita a ideia deque o município se associou à efe-méride com um ano de atraso, ealega que a Força Aérea é queestá a coordenar as comemora-ções.

Centenário da aviação militar em Vila Nova da Rainha

Ocenário idílico da avenida daspalmeiras em Azambuja de-

verá deixar de ser uma realidade.Em articulação com a administra-ção central, a Câmara de Azambu-ja prevê proceder ao arranque detodas as palmeiras. A quase tota-lidade das árvores sucumbiu àpraga do escaravelho vermelho.Os estragos são visíveis com algu-mas árvores totalmente despidase com o que resta delas a perma-necer no chão. Muitos troncos efolhas jazem agora sobre estaavenida, impedindo a normal pas-sagem de pessoas e viaturas.O vereador Silvino Lúcio confessaque o cenário é de fato “desola-dor”, mas que apesar dos esforçosefetuados junto do Governo, coma presença de técnicos no terreno,no sentido de uma solução, dadoque aquele património é do Esta-do, foi impossível fazer mais, poisquando a praga atinge a palmeiratorna-se um dado praticamenteadquirido a morte e a contamina-ção das árvores. O autarca escla-

rece também que o inicial apareci-mento da praga mesmo que dete-tado a tempo não impediria a con-taminação das restantes árvores,pois o seu poder de destruição éaltamente letal, e daí o fato de te-rem restado também poucas árvo-res saudáveis a nível do país. Nocaso de Azambuja, no local emcausa, estamos a fala de 104 ár-vores que vão ficar para a história. “Enfrentámos muitas dificuldadesnos contatos com o ministério doAmbiente, perceber no fundoquem é que manda, a burocraciado costume. Possivelmente se es-tivéssemos a falar de uma árvoreque não fosse apenas ornamental,mas com importância económicacomo a oliveira ou o eucalipto, te-ria havido outra atitude das entida-des”, lamenta também. Silvo Lúciorefere que ainda se chegou a teresperança num tratamento fitossa-nitário experimental que se fez emCascais, mas depressa as expeta-tivas das entidades ficaram gora-das. “Não tenho conhecimento de

que algum tratamento tenha tidosucesso”. Pouco resta à Câmara anão ser a limpeza, queima e enter-ramento das árvores caídas, eproceder ao corte das que aindase mantêm de pé.“Trata-se de um trabalho pesadoque envolverá muitos meios. Omunicípio tem disponibilidade paraalocar alguns meios, mas tambémtemos de ter a ajuda das entida-des governamentais, bem comoapoio técnico”, refere o vice-presi-dente.Este cenário serviu muitas vezespara filmagens de telenovelas e fil-mes, até estrangeiros, com a suapaisagem a lembrar África ou ou-tras paragens mais distantes. Ago-ra a Câmara entende que o cená-rio das palmeiras deverá conti-nuar, mas com a replantação denovas, (menos exóticas e tropi-cais) – as banais palmeiras de le-que. Mas à partida mais resisten-tes a pragas como a do escarave-lho.A morte já é certa, e em breve dei-

xará mesmo de existir por comple-to qualquer resquício de palmei-ras. Neste sentido Silvino Lúcioaconselha a população a mentali-

zar-se para o que ai vem – “Nãovale a pena os saudosismos, fica-mos apenas com o registo dasimagens de que um dia isto exis-

tiu.” Ainda vão decorrer muitosanos até que as novas palmeirasreplantadas possam ser aprecia-das.

Palmeiras do Palácio em Azambujavão ser todas arrancadas

ACâmara Municipal de VilaFranca de Xira pondera res-

ponsabilizar criminalmente a em-presa que esteve na origem do

surto de legionella no concelho, aAdubos de Portugal. A informaçãofoi avançada pelo presidente dacâmara, Alberto Mesquita, no âm-

bito da assinatura de um protocoloentre a Ordem dos Advogados e omunicípio, para prestar apoio às ví-timas daquele surto.

Aos jornalistas, o presidente da câ-mara salientou que terá ainda deaguardar as conclusões do inqué-rito que está a ser levado a cabopelo Ministério Público, para de-pois decidir por um eventual pedi-do de indeminização pelos danoscausados ao município “para repa-rar a imagem que foi criada e quedeve ser reparada”.Alberto Mesquita que falava emfortes prejuízos para a imagem da-quele concelho, destacou tambémque aos poucos a vida vai voltandoao normal, embora o “fantasma dalegionella ainda esteja presente”.Alberto Mesquita diz que o municí-pio alargou a campanha de gastro-nomia “para motivar as pessoasque habitualmente vinham cá àsnossas festas e que se retraíramum pouco”. O presidente da Câmara destacoua necessidade de se minimizar osefeitos do surto, que foi muito sen-tido pela restauração, mas queagora e depois de várias iniciativas“já não se nota tanto e o barómetroé mesmo a restauração que teve

alguma quebra e o comércio emgeral, mas nesta altura já se assis-te a alguma retoma”.O surto de legionella que ocorreuem Novembro matou doze pes-soas e afetou mais de 300 famí-lias. É para essas pessoas que omunicípio vilafranquense quertambém virar as atenções. Nessesentido foi celebrado um protocolocom a delegação local da Ordemdos Advogados. O objetivo, segun-do as partes envolvidas, é aconse-lhar e encaminhar as famílias quequeiram colocar processos à em-presas causadora do foco no mu-nicípio.Ao Valor Local, Alberto Mesquitadestacou que essa primeira tria-gem e aconselhamentos serãogratuitos, mas depois “cada caso éum caso”. Paulo Rocha, presiden-te da delegação Ordem dos Advo-gados de Vila Franca de Xira, refe-riu que “o patrocínio em si e a pro-positura das ações já não serãoabrangidos pela gratuitidade”.Paulo Rocha destacou a existên-cia de bases jurídicas para a inter-

posição das ações, mas há queaguardar para “saber que provavai recolher o Ministério Públicopara se perceber se se adere aessa queixa criminal, que até podeser feita por todas as pessoas emconjunto, ou se pelo contrário nãose aguarda pela recolha de provae se se avança por uma ação civiltendo em conta os danos causa-dos pele surto, quer ao nível pes-soal ou profissional.”Este é um protocolo que vai vigo-rar durante três anos e é compostopor uma bolsa de advogados doconcelho de Vila Franca de Xira,que se candidataram a esta inicia-tiva. Sobre este assunto, o presidenteda Câmara enalteceu a disponibi-lidade dos profissionais da justiça,vincando inclusive que se esteveperante um dos maiores surtosmundiais de legionella de sempre.A autarquia vai, agora, disponibili-zar informação aos interessados,bem como um número de telefonepara encaminhar as famílias paraas diversas situações.

Câmara de Vila Franca ponderaprocessar a Adubos de Portugal

Cenário desolador na extensa avenida

Assinatura do protocolo

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Acomemorar 83 anos de vida ecom 70 bombeiros no corpo

ativo, a Associação dos BombeirosVoluntários de Azambuja, prepara-se agora para novos desafios. Nãoque os desafios do passado te-nham sido inteiramente supera-dos, mas segundo o atual presi-dente, André Salema e o novo co-mandante, Armando Baptista, “têmsido dados passos seguros nessesentido.”No âmbito destas comemoraçõesque os bombeiros desejam como“caseiras”; ou seja envolvendomais os bombeiros, e menos asentidades oficiais, o Valor Localquis tentar esclarecer algumasquestões que têm sido alvo de vá-rios pontos de interrogação. AndréSalema diz que a associação “res-pira agora outros ares” e por issoencara os novos desafios com “oti-mismo”. Ao Valor Local, André Sa-lema e Armando Batista dizemque se assiste “a uma mudançana forma como os bombeirosatuam, diferente de há três anosatrás”. André Salema avança que se vairecandidatar às próximas eleiçõespara dar continuidade ao trabalhofeito até aqui, que passou tambémpela racionalização de custos. Oscontratos com fornecedores foramcancelados ou renegociados. Osveículos ao serviço dos bombeirosforam otimizados e assim “conse-guiu-se rentabilizar as receitas edespesas da associação.”Um dos exemplos, segundo AndréSalema, incidiu sobre o parque deviaturas. “Tínhamos carros quepassavam mais tempo na oficinado que ao serviço dos soldados dapaz. Foi feito um estudo que levouà poupança de quase cinco mil eu-ros na manutenção dessas viatu-ras.” Uma poupança que – garan-te o comandante dos bombeiros –se veio a refletir na otimização doparque de viaturas, também atra-vés da aquisição de outros carrosmais novos.

André Salema destaca que todos“os gastos supérfluos que não es-tavam direcionados para a nossaatividade concreta, foram aliena-dos, cortados”, na senda do quetambém começou a ser feito pelaanterior direção, mas com algu-mas alterações. As fontes de re-ceita também já não são o queeram, pois, (e a título de exemplo),os serviços de transporte de doen-tes, já vão sendo cada vez maisescassos.Armando Baptista que participaem conjunto com a direção emparte da gestão da casa, reforçaque “a saúde não dá lucro”. Asdespesas são fixas, com os orde-nados do pessoal ou com os gas-tos das viaturas, “mas a receita évariável e por isso torna-se difícilfazer um equilíbrio”. O comandan-te vinca que o facto de o hospitalpoder não pagar um serviço detransporte aos bombeiros, pode le-var a um encargo extra do doente,ou por fim da própria associação. Chegado da Cruz Vermelha parasubstituir o anterior comandante,Pedro Cardoso, Armando Baptistadiz que viu “esta missão como umdesafio”. Com efeito ArmandoBaptista é assalariado da casa. Noinício, o ordenado do comandantefoi alvo de polémica, dado que sefalou em valores díspares em rela-ção ao resto da corporação, masnesta entrevista o mesmo referiuque acaba por pagar o seu próprioordenado com “formações pagaspor empresas enquanto coman-dante deste corpo de bombeirosentre outros serviços, dando porisso algum sustento aos bombei-ros”. Armando Baptista que já faziaesse trabalho quando estava naCruz Vermelha em Lisboa, trouxeconsigo algumas empresas, comas quais ainda hoje mantém o mi-nistrar de formações, que permiteà associação pagar-lhe um venci-mento, sem que isso “belisque asua saúde financeira”, reitera.Aliás, Armando Batista, que diz ser

um homem de desafios, esclarecemesmo que com a saída da CruzVermelha, veio a perder dinheiro,mas que isso é compensado atra-vés de aulas que dá numa institui-ção. Neste sentido diz-se sentir“um embaixador” dos bombeirosde Azambuja”, ao mesmo tempoque vinca a necessidade de terreestruturado o corpo de bombei-ros “que teria sempre de ser feitopor qualquer outra pessoa queaqui estivesse ”. Este foi segundoArmando Batista um enorme de-safio, mas também ele já ultrapas-sado.Para Armando Batista o “benefícioda dúvida” pedido à direção foiquanto bastou para levar a caboum trabalho que ele próprio consi-dera já avançado. Primeiro, a as-sociação investiu em equipamen-tos e fardamentos individuais. Aassociação gastou perto de 12 mileuros tendo como garantia que noespaço de um ano as verbas se-riam rentabilizadas. Ora essa foiuma meta alcançada com suces-

so, refere o comandante que con-sidera ter ultrapassado “esse de-safio” através de uma verba que játinha em mente através da “cartei-ra de clientes que trazia da CruzVermelha e até da polícia”, onde éformador.Com esta medida. Armando Batis-ta acredita “ter credibilizado as tro-pas”. Aos poucos, o comandanterefere que foram sendo ganhos al-guns hábitos: “Os bombeiros pas-saram a ter mais cuidado com asfardas e agora já são eles que seautoeducam”; referindo que a titulode exemplo foram proibidos o ál-cool e o tabaco no quartel.

Bombeiros e aresponsabilidade social

Os bombeiros de Azambuja têmum programa em conjunto com aComissão de Proteção de Crian-ças e Jovens de Azambuja (CPCJ)que consiste na integração de al-guns jovens identificados, nas ini-ciativas do quartel de bombeiros.

Armando Baptista que não querapontar esta medida como de ca-ráter militarista, vinca que “a ne-cessidade de disciplina de que ca-recem muitos destes jovens oriun-dos de famílias desestruturadas émuito grande”. O comandante sa-lienta que o sucesso da reintegra-ção desses jovens “é de 100%”.Estamos a falar de uma instruçãojá com 19 jovens, cinco dos quaisidentificados pela CPCJ, “que es-tão a revelar um sentido de inte-gração total”.Este “é um programa que obrigaos jovens a participar em forma-ções à sexta-feira ou aos sábados,abrangendo também o períododas férias escolares”. ArmandoBaptista vinca a necessidade dese ocupar os jovens com idadesentre os 14 e os 15 anos, até por-que muitos dos pais têm de traba-lhar e não conseguem acompa-nhar os filhos.Nos bombeiros, “os jovens não po-dem fazer atividade operacional,porque a lei não o permite, mas fa-

zem manutenção, limpeza e for-mação cívica”.Mas para este programa resultartem de existir uma troca de infor-mação entre a escola e o coman-do. Neste caso se as notas não fo-rem boas, ou a aplicação dos jo-vens nos estudos não for aceitá-vel, pode haver lugar a algum tipode sanções. Armando Batista ex-plica ao Valor Local que “são puni-dos com esforços físicos, comopor exemplo flexões. Outro castigoconsiste em limpar as jantes doscarros com uma escova de den-tes”, refere, sublinhando que talnão se trata de “uma punição deregime militar”, ao mesmo tempo,que observa que pior do que oscastigos para esses jovens; équando se lhes acena com a pos-sibilidade de não voltarem a re-gressar ao quartel e às suas ativi-dades. “É uma doença para eles!”,não se coíbe de referir o coman-dante. “Este projeto tem funda-mentalmente uma função de inte-gração”.

Bombeiros de Azambuja“respiram agora outros ares”

André Salema, presidente da corporação Armando Baptista, comandante

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7Valor Local Política

¢ Sílvia Agostinho

Isidro Ferreira foi funcionário daEmpresa Municipal de Infraestru-

turas de Azambuja (EMIA) e con-sidera que o seu despedimento enão reintegração nos quadros daautarquia foi uma injustiça. O ex-trabalhador daquela empresa, queentrou para a mesma em 2004 eque não vinha da Câmara, des-confia da forma como todo o pro-cesso de liquidação da empresainiciado em 2012 tem decorrido, acomeçar pelas contas bancáriasainda ativas, mas principalmente aforma como os funcionários, trêsna altura, foram despedidos.Em entrevista ao Valor Local, Isi-dro Ferreira, atualmente desem-pregado, que preferiu não ser foto-grafado para esta reportagem,confessa que tudo teve desde oinício contornos estranhos – “Emagosto de 2012, e quando estavade férias, recebo uma chamadapara vir à EMIA porque tinhamuma informação muito urgentepara tratar comigo. O meu chefeinsistiu muito, estranhei mas pas-sados poucos dias, apresentei-mena empresa. Comunicou-me deimediato que a empresa ia ser li-quidada e que nós íamos perder oposto de trabalho”. Na altura, lem-bra-se que questionou o porquê detal pressa, dado que a propostaestava apenas em decreto-lei. Opresidente da Câmara de Azambu-ja, à altura – Joaquim Ramos, tam-bém me deu “o facto como consu-mado, e isto só com o projeto-lei.”Enviaram-lhe a carta de rescisão a20 de agosto, 11 dias antes de a leiser publicada, e que “previa a rein-tegração dos funcionários nas au-tarquias”, apenas mais restritapara os funcionários com um anode contrato, o que não era o caso.Isidro Ferreira desempenhava fun-ções de administrativo, e de acor-do com um parecer dos advoga-dos da Câmara, não haveria direitoà sua reintegração na autarquia,porque as funções da EMIA nãoestavam sujeitas a internalizaçãode serviços. O ex-trabalhador dis-corda – “Os serviços relacionadoscom as empreitadas e com a con-tratação pública faziam parte daEMIA, e as funções desempenha-das por mim na EMIA prendiam-se

efetivamente com esse apoio téc-nico”. Ou seja “os funcionários daEMIA estariam mais capacitados eprovidos de conhecimentos técni-cos e humanos, isto sem quererdesconsiderar os funcionários mu-nicipais”. Isidro Ferreira acreditaque foi induzido em erro ao ter as-sinado a carta de demissão.Atualmente este ex-funcionário,que tem sido o único a insurgir-secom a questão da sua não reinte-gração, refere que tem reunidas ascondições para agir judicialmentecontra a Câmara e já conta comum advogado. “Muitas vezes, per-guntam-me por que só agora mecomecei a mexer? Respondo queprimeiro tive de perceber todos oscontornos da liquidação da EMIA ede todo este processo de despedi-mento”.No último ano, os contatos com aCâmara de Azambuja e o atualpresidente também têm deixado adesejar. Pelo meio, o vice-presi-dente, Silvino Lúcio, de acordocom Isidro Ferreira, até lhe chegoua prometer que tudo se ia resolvere que o mesmo poderia ser de fac-to reintegrado na Câmara. Luís deSousa, presidente do município,refere que o vice-presidente lhe ju-rou a pés juntos que nunca prome-tera tal ao ex-funcionário. Nesteprocesso, Isidro Ferreira culpa nãoapenas Luís de Sousa, JoaquimRamos, mas também toda a opo-sição e assembleia municipal “quelavaram as mãos. Este problema éda Câmara, e de todos. Só porqueo antigo presidente não se recan-didatou, o atual não pode dizer que‘herdou o quintal’ sem problemassó porque não era presidente naaltura”. A Isidro Ferreira tambémnão lhe caiu particularmente bemum email onde Luís de Sousa es-creve o seguinte – “Conheces-mebem e em vez de mandares estemail poderias ter vindo falar comi-go, mas segundo me disseram tuaté és de uma força política dife-rente da minha e como era alturade campanha eleitoral não me ad-mira esta tua reação”. (Isidro Fer-reira terá ficado consternado quan-do Luís de Sousa disse na campa-nha eleitoral que não ia despedirninguém, mas o presidente da Câ-mara acrescentou que depois da

sua eleição não o faria)Um dos argumentos dos advoga-dos da Câmara refere contudo quea admissão de Isidro Ferreira naautarquia, nesta fase do campeo-nato, poderia não ser tão líquidaquanto isso, pois teria de ser aber-to concurso público, e aquele ex-funcionário não ser o escolhido –“Isso é um facto!”, constata, masapressa-se a elencar “as ilegalida-des do processo” – “Como é que aempresa se encontra extinta e ascontas bancárias permanecem ati-vas, e quando já foi aprovada areintegração do património da em-presa na Câmara. Nada foi acata-do”. O ex-funcionário informa ain-da que apenas conhece mais doisou três casos semelhantes ao seuem todo o país. “Em todo o lado,os funcionários foram reintegra-dos, e quando eu olho para o meucaso é que compreendo a injustiçaque me fizeram”. Sobre a possibilidade de a Câma-ra não poder fazer contratações,Isidro Ferreira diz que investigou eque “Azambuja se encontra abaixodo número máximo definido porlei”. “Santarém teve um PAEL de43 milhões de euros, e ainda hámeses integrou 30 pessoas”.

A defesa dos autarcas

Luís de Sousa, atual presidente domunicípio, refere que falou diver-sas vezes com o ex-funcionárioem causa para também “atestardas possibilidades de reintegraçãona Câmara”. “Demonstrei sempredisponibilidade para isso, maspenso que o senhor Isidro deveriater logo à partida e quando o ante-rior presidente lhe pôs a condiçãoda sua demissão, ter dito que nãoestava disponível, não era agoratrês anos depois”.“Os nossos advogados sempreme disseram que era difícil trazê-lo de volta, mas que estavam dis-poníveis para a Câmara pedir umparecer a outros advogados, e sefosse diferente, talvez se arranjas-se maneira de o readmitir”. Entre-tanto deu-se o episódio com Silvi-no Lúcio, e Luís de Sousa lamentaque Isidro Ferreira tenha alteradoa verdade dos factos – “Admirei-me com essa conversa, e o senhor

vice-presidente garantiu-me quenunca prometeu nada, que tudoera mentira”. O presidente do município revelaque a partir de certa altura perdeudefinitivamente o interesse em aju-dar o ex-funcionário da EMIA, poisaquele “começou a ir por cami-nhos atribulados”. “Perdi o incenti-vo. Ele meteu a oposição nestaquestão, e pareceu-me que queriatornar o caso político. Num dosmails que me enviou até sugeriuque tínhamos aqui um saco azulnesta questão da EMIA”. A juntar aisto “usava de um tom agressivoquando se reunia comigo”.Questionado sobre a urgência nodespedimento de trabalhadores,quando volvidos mais de doisanos, as contas da EMIA ainda es-tão ativas e a empresa não total-mente liquidada, o presidente daCâmara refere que “a questão nãopode ser encarada sobre esseprisma”. Luís de Sousa refuta aideia de que houve “má vontade”do anterior presidente no apressardo despedimento. Esclarece tam-bém que o facto de as contas ain-da permanecerem ativas, se deveà circunstância de ter sido precisofazer uma recolha sobre o inventá-

rio da empresa, a que se somouum erro entre a Câmara e a con-servatória na altura da extinção.“Temos vindo a reunir com solicita-dores e advogados para o final dasavaliações, e a resolver com osbancos para passagem dos em-préstimos para a Câmara. O únicomovimento da EMIA atualmentetem consistido no pagamento dasdívidas”.Ainda sobre o caso de Isidro Fer-reira, Luís de Sousa considera queo mesmo “tem todo o direito de re-solver o seu caso na Justiça”. “Seo tribunal decidir que ele tem de re-gressar eu abro-lhe a porta semproblemas nenhuns. Não vou écometer ilegalidades, porque o ad-vogado diz-me que não; bemcomo outras entidades”.Quanto a Joaquim Ramos, estesustenta que a Câmara tinha che-gado, em 2012, à conclusão deque a EMIA tinha de encerrar asportas. “Averiguou-se através deparecer se os trabalhadores pode-riam ser reintegrados nos quadrosda Câmara, o qual foi negativo.Fez-se a rescisão do contrato, re-ceberam a indemnização”. Joa-quim Ramos confirma que duranteo seu mandato não conheceu

qualquer animosidade por parte doex-funcionário – “Ninguém colocouproblemas! Foi tudo pacífico comos três trabalhadores”.Sobre a eventual pressa excessivaem precipitar a extinção dos pos-tos de trabalho, quando a lei aindanão estava completamente clara,e nas demais Câmaras houve umcompasso de espera, Joaquim Ra-mos argumenta que “não valia apena”. “A EMIA tinha esgotado oseu plafond de financiamento, 8milhões de euros, não ia pedir re-forço de endividamento à assem-bleia municipal, quando já haviauma lei a dizer que tinha de ser ex-tinta. Por que razão iria arrastar oprocesso, e deixar três pessoas alisem fazer nada?”Mais tarde, a lei veio de facto apermitir a reintegração dos traba-lhadores, mas Joaquim Ramos re-cusa em dizer que o que fez foi“fora de tempo”. “Foi na altura emque devia ser, não posso adivinharque leis estão para sair, e depoisnão fazia sentido perpetuar a ago-nia da EMIA. Não podia fazer maisobras e manter artificialmente umaestrutura de pessoal a pesar no or-çamento municipal, e daí a sua ex-tinção”.

Ex funcionário da EMIA acusaCâmara de Azambuja de injustiças

Câmara Azambuja atribui 35 mil euros a coletividades

OMunicípio de Azambuja pagou os subsídios às coletividades referentes a 2013, no valor de 35 mil 591 euros. Depois de três anos sem fazer arespetiva transferência, a Câmara de Azambuja voltou assim a dar os apoios há muito reclamados pelas associações, numa cerimónia que

teve lugar no final de dezembro. O tema esteve no centro do debate com a oposição CDU e Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra a criticar osatrasos e a incentivar a autarquia a de futuro ter outro método na calendarização da atribuição daqueles subsídios. O fato de o vereador das Co-letividades, António Amaral ter dito publicamente que o novo método de atribuição dos subsídios terá por base “um disciplinar das associações”,não terá caído bem em alguns setores e a vereação também criticou isso mesmo.Por seu lado, Luís de Sousa, presidente da Câmara, referiu que dadas as dificuldades da autarquia; não conseguiu atribuir os subsídios atempa-damente, e falou nestes apoios como um presente de Natal, elucidando, ainda, que agora não basta a uma associação ter a porta aberta para re-ceber um subsídio da Câmara. Tem de apresentar um programa de atividades. Trâmites que segundo explicou assim como o vereador das coleti-vidades, António Amaral, também contribuíram para os atrasos verificados.

Isidro Ferreira aponta o dedo aos autarcas da Câmara

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8 Valor LocalNegócios com Valor

Afuncionar desde 2012, a“AgroApis” tem vindo a con-

quistar o mercado do mel nopaís. Pedro Cardoso, um jovemapicultor de Azambuja, esclare-ce que se interessou por esteramo depois de uma conversade amigos sobre o tema. Daí àconstrução da empresa foi umpequeno passo. Pedro Cardososalienta que a curiosidade sobreeste tema, o fez aprofundar osconhecimentos na área, tendodepois frequentado formaçõesapícolas. Posteriormente, recor-da, fez algumas experiênciascom colmeias, e numa fase se-guinte, submeteu um projecto noâmbito do Programa de Desen-volvimento Rural – PRODER.“Fiz o curso de jovem empresá-rio agrícola e implementei a mi-nha exploração”, sintetiza.Com as colmeias nos concelhosde Azambuja, Cartaxo, e RioMaior, Pedro Cardoso diz nãoter dúvidas em afirmar que esta-mos perante o “verdadeiro melribatejano” O jovem apicultor

vinca que trabalha apenas comuma qualidade de abelha. Trata-se da “Apis mellifera melífera”,que é uma “abelha produtivaque ‘propolisa’ (segrega umasubstância resinosa) com abun-dância”. É uma espécie que seadapta com facilidade a diferen-tes ambientes, “porém é nervosae torna-se agressiva com facili-dade quando o maneio é inade-quado”. Nesse sentido, ironiza, e vincaque já perdeu a conta ao núme-ro de vezes que foi picado –“Hoje em dia mesmo com equi-pamentos de proteção cada vezmais cómodos e seguros nuncaestamos livres de uma ou outrapicadela”, esclarece o jovem api-cultor.Sobre a qualidade das abelhas,destaca que em breve fará ex-periências com as espécies“Apis mellifera Carnica” e “Apismellifera Ligustica”, lamentandoque a experiência mais negativaque teve não foi com as picadas,mas com o furto total das col-

meias. Para já a produção da “AgroA-pis”, está centrada apenas naprodução de mel. Todavia embreve, Pedro Cardoso refere queo objetivo é o de iniciar a criaçãode rainhas e dedicar-se tambémàs produções de polén e própo-lis (substância resinosa obtidapelas abelhas através da colhei-ta de resinas da flora e alteradaatravés das enzimas contidas nasua saliva)”. Para além disso sa-lienta que atualmente está a darformação na área agrícola e porisso: “É um objetivo meu criar al-gumas ações de formação tam-bém na área da apicultura”.Quanto ao escoamento da pro-dução, Pedro Cardoso vinca queesta é vendida maioritariamentea granel para uma organizaçãode produtores na Serra da Lou-sã, da qual faz parte. Contudo omel produzido e entregue a essaorganização “tem como principaldestino os mercados internacio-nais”. Mas independentemente da

venda a esta organização, háuma pequena parte que podeser encontrada em algumas lo-jas de produtos tradicionais emLisboa e não só. Há perto dedois meses, o mel da “AgroA-pis”, está também disponível emAzambuja na mercearia Pé deSalsa.Todavia e embora o negócio es-teja a crescer, há sempre os ris-cos de fogos florestais e asquestões ambientais que podemcolocar em causa as colmeias eas abelhas. Pedro Cardoso falana necessidade de um acompa-nhamento atento por parte doapicultor – “Há como é sabido,ao longo do ano, períodos emque a floração é escassa, e emque as condições climatéricasnão permitem o bom desenvolvi-mento das colónias. Nessas al-turas cabe ao apicultor atravésda sua experiência minimizar osriscos”. Em conclusão, o jovemapicultor afirma que os fogos“são sem dúvida uma ameaça,mas também os furtos”.

“AgroApis” no mercadodo mel desde 2012 apostana exportação

Pedro Cardoso decidiu dedicar-seàs abelhas em 2012

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9Valor Local Cultura

¢ Sílvia Agostinho

OMuseu da Glória do Ribatejoconserva um espólio apreciá-

vel de objetos do quotidiano e dacultura da população daquela lo-calidade do concelho de Salvater-ra de Magos. Fomos conhecereste espaço através da Associa-ção de Defesa do Património Et-nográfico e Cultural com o seupresidente, o museólogo e histo-riador Roberto Caneira. Em 1986 quando surgiu a asso-ciação, um grupo de jovens con-vencido de que muitos dos hábitose das tradições da Glória pode-riam desaparecer decidiram fun-dar o núcleo em causa, com umarecolha junto da população de ob-jetos que vão desde mobiliário, aoenxoval das mulheres da aldeia,passando por outros artefactos doquotidiano, “com o objetivo de es-tudo e divulgação daquele patri-mónio”. Foram criados dois nú-cleos museológicos – a casa tra-dicional, e mais tarde o museu et-nográfico. “Muito do que aqui po-demos observar ainda podemosverificar na indumentária e nosusos das mulheres mais idosas”,refere Roberto Caneira. A casa tradicional é composta porum quarto com as clássicas ca-mas de ferro e um pequeno berçofeito em cortiça destinado ao bebéda família-tipo da classe rural. Nacozinha são observáveis os tradi-

cionais utensílios fabricados emlata e esmalte como havia antiga-mente, a roupa de casa feita comos célebres bordados de outrora,“presentes em todos os aspetosda vida, menos na morte, desdeos cortinados ao paninho do mó-vel”. “Esta casa obedece à arquiteturado sul do Ribatejo, feita de adobee de taipa e não de xisto como énorma no norte do país.” Normal-mente as casas só tinham duas atrês divisões. A maioria das pes-soas não possuía casa de banho,mas a lareira tinha um lugar cen-tral na vida doméstica. A lavagemda roupa fazia-se nos ribeiros.Transversal a muitas gerações ru-rais do país, e neste caso tambémàs da Glória do Ribatejo – a me-mória da compra do primeiro parde sapatos. “Muitos só os tiveramquando tinham já 11 ou 12 anos”,evoca Roberto Caneira.Mas a partir da década de 50, avinda da Raret também permitiuuma melhoria das condições devida, com a população a absorvertambém algumas “características”norte americanas. “A populaçãodeve muito à Raret, (posto de re-transmissão dos Estados Unidospara a Europa durante a GuerraFria) pois apareceram novas pro-fissões como os serralheiros. ARaret doou terrenos e contribuiupara a vinda da luz elétrica para a

Glória”. Foi também graças à es-cola da Raret, que funcionou atéaos anos 90, que muitos jovensprosseguiram mais tarde os estu-dos, sendo que esta freguesia háalguns anos atrás era a que pos-suía mais licenciados do conce-lho. “A escola praticava um ensi-no muito rigoroso”.Ainda no que toca às tradições eàs diferentes etapas da vida, tam-bém na Glória, o lenço dos namo-rados era um ex-libris do modo devida das então gerações mais no-vas. “O lenço tinha as iniciais dorapaz e da rapariga que o borda-va. Quando o rapaz o usava na la-pela significava perante a comuni-dade que tinha assumido um com-promisso”, dá a conhecer o mu-seólogo. Quando se chegava à al-tura do casamento, os vestidos denoiva da mulher gloriana prima-vam pela sua peculiaridade apre-sentando cores diversificadas, ebordados. “Era a própria noivaque o confecionava, comprandoantecipadamente o tecido em Co-ruche”. O museu possui fatos doa-dos que remontam à década de20, (os mais antigos), bem comodas décadas subsequentes. Omais recente data de 1949. “A mu-lher fazia o seu vestido com muitopreciosismo com pregas, borda-dos e rendas. Na freguesia doGranho também eram confeciona-dos mas não com este grau de

detalhe”. Na ala das exposições temporá-rias, o museu exibe uma mostrade fotografias comparativas entrea aldeia nos anos 40 e 50 até aoaspeto atual, patente até finais dejunho, sempre com a ruralidadecomo mote. “Por exemplo, hojeainda subsiste um agricultor queusa a carroça quando vai para acharneca, e o homem gloriano no

seu modo de vestir abandonou ocolete, mas ainda continua a usaro chapéu ou o boné”. “O senti-mento das gerações mais novas éde grande respeito mútuo paracom as gerações mais velhas, evice-versa”, sentencia.O museu recebe visitas mediantemarcação junto da associação,contudo se o visitante chegar àGlória do Ribatejo poderá dirigir-

se à junta de freguesia, onde umfuncionário se encarregará deabrir o espaço. “O museu tem estacaracterística de servir de reposi-tório e de informar sobre aspetosdeste património que os jovensnão conheceriam de outra forma,enquanto os mais velhos revêem-se no que aqui se encontra. O mu-seu apela também muito aos sen-timentos”.

¢ Miguel A. Rodrigues

Carlos Pimentel, antigo novi-lheiro de Azambuja, lamenta

que a Escola de Toureio da Poisa-da do Campino esteja atualmenteem stand-by. O antigo novilheiroazambujense fez questão de ex-pressar o seu desalento em entre-vista ao nosso jornal, dias antesde ter subido ao palco para rece-ber o troféu Excelência/Valor Localno âmbito da gala anual do GrupoDesportivo de Azambuja. Este anoo Valor Local associou-se, pela pri-meira vez, à iniciativa juntando oseu nome a uma das categoriasmais prestigiantes desta gala.Carlos Pimentel que já foi profes-sor da Escola de Toureio de Azam-buja lamentou o estado a que che-gou a festa brava na associação,referindo que embora afastado daatividade da mesma, sabe que “édo conhecimento geral que a es-cola de toureio está parada”. Toda-via acrescenta não saber as ra-zões que levaram a tal estado decoisas. Carlos Pimentel diz que “é

lamentável o ponto a que chegá-mos” enaltecendo, em contrapon-to, o trabalho levado a cabo nosúltimos anos por quem esteve à

frente da escola.Aliás Carlos Pimentel lamentou,igualmente, o tratamento dado àsantigas glórias do toureio azambu-

jense. O antigo novilheiro deucomo exemplo o que se vai fazen-do em Vila Franca de Xira com oclube taurino, que vai lembrando

os seus, quando Azambuja “es-quece muitas vezes aqueles quelevaram bem alto o seu nome nosquatro cantos do mundo.”Carlos Pimentel destaca queAzambuja é conhecida pelo seutoureio a pé através dos nomes deAna Maria, Manuel Tavares e ou-tros, que “até há algum tempoatrás iam sendo lembrados pelatertúlia ‘Velha Guarda’ de Louren-ço Luzio, que por motivos pes-soais deixou de levar a cabo mui-tas das iniciativas que fazia.”Uma das formas de homenagearos muitos toureiros e aficionadospoderia passar segundo Carlos Pi-mentel, pelo facto de tornar “mista”a corrida de toiros da Feira deMaio. “Nunca percebi porque nãose o faz”. O antigo novilheiro con-sidera que dado o facto de Azam-buja ser uma terra com uma largapercentagem de praticantes detoureio a pé, impunha-se a realiza-ção de uma corrida mista: “Era omínimo que se podia fazer. Con-tam-se pelos dedos, as corridas

mistas que aqui se fizeram”. Parao antigo novilheiro, essas corridaspodiam levar à promoção de no-vos valores “porque se não houverum incentivo, um ídolo, ou algoque prenda a atenção dos jovens,estes acabam por perder o inte-resse e ignorar a festa brava”.Carlos Pimentel exerceu a ativida-de profissional de novilheiro entreos anos de 1970 e 1975. Iniciou aaprendizagem do toureio sob aorientação de António Salema noano de 1965. Apresentou-se pelaprimeira vez em público em Azam-buja no ano de 1967. Fez prova denovilheiro na sua terra natal porocasião da Feira de Maio. Toureouem todas as praças de toiros dopaís, da Madeira e dos Açores.Despediu-se como profissional emAzambuja no ano de 1975, regres-sando em 1981. Despediu-se de-finitivamente no ano de 1999, tou-reando pela última vez na praçade toiros de Azambuja, num festi-val de homenagem ao povo deAzambuja.

Museu da Glória do Ribatejo

Um mergulho no quotidianorural de antigamente

Carlos Pimentel lamenta que a Escola de Toureiode Azambuja esteja parada

Roberto Caneira mostra os vestidos de noiva de antigamente

Carlos Pimentel desalentado com a Poisada do Campino

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10 Valor LocalDestaque

¢ Miguel A. Rodrigues

AOpel chegou a Azambuja em1943, e segundo rezam as

crónicas da altura, tratou-se deuma imposição de Salazar, queterá indicado que só as marcascom produção em território nacio-nal, poderiam vender no nossopaís. Daí e até à construção daFord e da Opel em Azambuja foium passo que levou ao empregode milhares de pessoas em todaa região. Fazendo deste concelhouma pequena Detroit (cidade dosEstados Unidos conhecida por termuitas fábricas de automóveis)portuguesa. A Ford terá sido de resto uma dasempresas de automóveis pionei-ras em Portugal e com fábrica emAzambuja. O seu processo dedesmantelamento foi minimamen-te pacífico, tendo encerrado noano 2000, com parte dos trabalha-dores a passarem para a vizinhaOpel. Ao todo foram 302 trabalha-dores que deixaram a empresa. Aúltima Ford Transit deixou de ser

montada em Portugal no dia 23de março desse ano. O fecho in-seriu-se no plano de reestrutura-ção que a Ford levou a efeito nomercado europeu no final dosanos 90 e que atingiu em particu-lar a Ford de Azambuja e a unida-de da Polónia. A decisão teve porobjetivo concentrar a produção domodelo que sucedeu à Transit nafábrica da Ford no Reino Unido. Um dos ex-trabalhadores destegigante americano, é o atual pre-sidente da junta de Vila Nova daRainha, Joaquim Marques, queguarda boas recordações do tem-po que lá passou. “Estive 38 anosnessa empresa, os funcionáriossaíram todos muito bem, com aindemnização a que tinham direi-to, deram a cada um uma fordtransit, e hoje posso dizer que te-nho uma boa reforma graças aotempo que lá passei, de 1048 eu-ros”. O nível de vida dos seus fre-gueses na altura em que esta em-presa e a Opel laboravam era ou-tro. Perto de 50 pessoas desta lo-

calidade que albergou estes doisgigantes dos automóveis traba-lharam nas empresas em causa.“Os tempos eram outros, na alturae graças a esses empregos, aspessoas de Vila Nova da Rainhaque trabalhavam lá, iam de fériaspara o Algarve no verão, porexemplo. Hoje ficam todas emcasa”. Quando a Ford foi encerrada, res-tava então a Opel, que tinha inte-grado perto de centena e meia detrabalhadores da concorrente, ad-quirindo também os terrenos e asinstalações contíguas onde esti-vera a marca americana.Para a região, o facto de haveruma expansão da Opel, era umfato importante que representavamais emprego e também maisoportunidades económicas. Isto é,havia na altura muitas empresasque já dependiam da produção daOpel, quer na restauração e co-mércio local, quer ao nível de out-sourcing, através de empresasque forneciam serviços à própria

Opel dentro e fora de portas.Para muitos foi uma oportunidadeúnica, mas nas contas finais, estadecisão de encontrar em empre-sas externas uma forma de con-tratar serviços e trabalhadoresacabaria por representar maispessoas desempregadas. NaOpel, já laboravam cerca de 1200pessoas, que a juntar a outras300 que trabalhariam nessas em-presas externas, tal elevaria emmuito o número de desemprega-dos em dezembro de 2006.Todavia há ainda a acrescentar ofacto de até ao ano 2000, não serpermitida a contratação de famí-lias: ou seja marido e mulher nãopodiam trabalhar na mesma fábri-ca. Algo que veio a mudar nesseano, e que no fim das contas em2006, significou um revés aindamaior para as famílias que tinhamapenas aquele emprego e rendi-mento como certos.José Eduardo Serra, funcionárioda PPG, uma das empresas deoutsourcing da Opel, lembra ao

Valor Local que os tempos até aoano de 2005 “corriam na perfei-ção”. O responsável pela empre-sa na Opel, esclarece, no entanto,que ainda não é claro o motivopelo qual a empresa mãe decidiufechar a fábrica em Azambuja,apesar de decorridos vários anosdo seu encerramento. Todavia,salienta que muitas das lutas la-borais levadas a cabo nos anosde 2005 e 2006 poderão ter dadoum contributo nesse sentido. AliásJosé Eduardo vinca que o pesoda Opel em Portugal não era me-dido pela casa mãe da mesmamaneira que o das outras fábricasna Europa. A fábrica portuguesaera inferior em termos de dimen-são à fábrica de Saragoça, emEspanha. “A Opel preferia ver asbandeiras dos países e não aqualidade do produto final”. Sobreesse assunto, o Valor Local en-controu opiniões unânimes. AOpel Combo, o último veículo aser produzido em Azambuja, “erafeito com paixão” refere também

José Eduardo, que enaltece ascapacidades dos operários portu-gueses quando era preciso resol-ver pequenas questões que iamsurgindo à última hora.A Opel Combo foi o último modeloproduzido em Azambuja levandoa que os trabalhadores simbolica-mente pintassem a última carrinhaproduzida de dourado e assinas-sem o seu nome, como forma dedespedida.A Opel em Azambuja foi de restoum posto de trabalho para muitasfamílias e várias gerações. Umposto de trabalho interrompidopela administração liderada porPaulino Varela, que segundo,apontam alguns trabalhadores ou-vidos pelo Valor Local, deslocou-se do Brasil, já com o objetivo deencerrar a empresa.Todavia, os rumores sobre quan-do e o porquê que levaram ao en-cerramento da empresa, aindahoje estão por explicar, pelo me-nos aos trabalhadores. SegundoJorge Almeida, um dos operários

Opel e Ford… Depois do AdeusAo fim de 63 anos, em 2006, a Opel em Azambuja chegou ao que muitos tinham previsto um ano antes.Greves, paragens, desentendimentos e reivindicações entre administração e trabalhadores catapultaramum fim que já era dado como certo, dado que a administração na Alemanha teria traçado o encerramen-to da fábrica de Azambuja, já que esta unidade era vista como pequena, mesmo tendo em conta os índi-ces de produtividade. Neste trabalho revisitámos os últimos dias da Opel, através dos seus ex-funcioná-rios, e de um dos elementos portugueses que esteve na sua administração. No caso da Ford, o seu encer-ramento foi mais pacífico, com uma parte dos seus trabalhadores a passarem para a Opel.

As negociações: “Nem os trabalhadoressabiam da missa a metade!”

Afábrica fechou e deixou perto de 1500 pessoas sem emprego, mas todas com uma indeminizaçãode um salário e meio por cada ano de trabalho. Ainda assim os tempos que se seguiram não foram

fáceis. A empresa que apostava na formação dos seus operários, apostava também na reconversãotecnológica. A linha de pintura viu um investimento à época de oito milhões de contos, e a restante fá-brica teve investimentos que rondaram os 12 a 15 milhões. Verbas aplicadas poucos anos antes e queacabaram por não ser rentabilizadas.Luís Figueiredo foi até 2005 membro da comissão de trabalhadores. Ao Valor Local, o antigo trabalhadorrefere que as negociações com a administração foram duras e que as verbas negociadas resultaram“na maior indemnização alguma vez paga em Portugal” por uma empresa. Luís Figueiredo salienta queos tempos foram de tensão entre os trabalhadores, e que muito do que se falava nas reuniões nãopodia ser ventilado para os operários, pois a produção tinha de continuar. “Só quem esteve lá é quesabe. Nem os trabalhadores sabiam da missa a metade!” esclarece o antigo trabalhador que vinca:“Cerca de meia dúzia tiveram de ‘gramar’ com as negociações, para que todos pudessem receber maisumas coroas. E posso lhe dizer que não se recebeu mais porque alguns quiseram ser mais papistasdo que o papa”.

Linha de Montagem da Opel Mais um dos momentos simbólicos Fecho dos portões da opel num dos últimos dias

Foto António Caria

Foto António Caria

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11Valor Local Destaque

e delegado sindical à época, tudoterá sido descoberto através deum telefonema informal feito paraa Alemanha. Nessa chamada, osportugueses descobriram que nãohavia planos para a fábrica deAzambuja produzir qualquer carroa partir de 2009, ano em que aprodução da Combo terminaria.Conta Jorge Almeida, que issomotivou a desconfiança dos traba-lhadores “pois uma fábrica destasteria sempre de ter planos pelomenos a dez anos, por causa daslinhas e da continuidade de pro-dução”.Tal veio a revelar-se, segundo ooperário, a sentença final da em-presa. Mas nem todos concor-dam. Armando Martins diz que fo-ram as lutas sindicais no ano de2005 que despoletaram, a situa-ção, e José Eduardo Serra tam-

bém concorda.O facto de a Opel de Azambuja fi-car sempre nos primeiros lugaresdas fábricas do grupo, como ten-do dos custos mais elevados “nãoera só por si razão suficiente paraque a administração encerrasse aempresa”. Segundo apurou o Va-lor Local, a fábrica de Azambujaocupava sempre esse pódio pou-co interessante para os objetivosdo grupo GM, sendo que o argu-mento utilizado de que cada carrocustava 500 euros a produzir “foiexatamente isso, apenas um ar-gumento, que a juntar às sucessi-vas greves, serviu de pretextopara encerar a Opel” lamenta Ar-mando Martins.Foi a partir do ano de 2005 que atensão entre trabalhadores e ad-ministração começou a crescer.Nesse ano, quando se descobre

as intenções da administração empassar o centro de produção daCombo para Espanha, os traba-lhadores intensificaram as suasformas de luta. Greves, paralisa-ções e protestos marcavam entãoos dias, até aqui quase rotineiros,da fábrica de Azambuja. Aos pou-cos a Opel ia saindo da vida detodos os dias, e passava para acomunicação social. A imagemera de um braço de ferro entre tra-balhadores e administração. Pri-meiro as exigências salariais: umaumento de 150 euros para todosos trabalhadores foi uma das pri-meiras reivindicações, Depois demuitas horas e de muita tensão, acomissão de trabalhadores con-seguia negociar três anos semaumentos, com a possibilidade deapós esse período os trabalhado-res receberem perto de 1500 eu-

ros.Com ordenados a rondar os 1100euros, os operários queixavam-sedas constantes promoções e mor-domias dos administradores echefias. Casos houve em que emalgumas reuniões entre a admi-nistração e a comissão de traba-lhadores, o confronto físico esteveeminente, facto que terá ajudado,segundo Armando Martins à agu-dização do conflito e posterior en-cerramento da empresa. “Houveum trabalhador que chegou mes-mo a exceder-se junto de umgrandes patrões da Opel, um es-trangeiro, que ficou transtornadís-simo com a situação”.O clima de tensão foi-se agudiza-do à medida que as negociaçõesiam progredindo. Alguns trabalha-dores sentiam-se ultrapassadospor outros recém-chegados, e cu-

jos ordenados eram quase idênti-cos aos dos que já lá trabalhavamhá mais tempo. Contudo, os pro-blemas não se ficavam por aqui.Com administradores e chefescom direito a um carro de serviço,despesas de representação, e umdepósito de gasolina por dia, osoperários dos setores de produ-ção, começavam a ficar impacien-tes. Não só não tinham aumento,como os “chefes” continuavam areceber “mais-valias” e isto numaaltura em que começavam os pri-meiros sinais de crise no setor au-tomóvel.Esta foi uma situação que ajudouà tensão e a um clima de cortar àfaca. Mas Armando Martins ga-rante, por seu lado, que muitosdos recém-chegados trabalhado-res à fábrica, só tinham de baseem média 800 euros, negando

que fosse verdade essa discre-pância salarial apontada pela co-missão de trabalhadores.Todavia na Opel de Azambuja astensões continuavam tendo porbase as renegociações salariais.A administração só no verão de2006 admitiu o encerramento da-quela unidade. O braço de ferroculminaria depois de muitas dis-cussões e de uma visita à fábricada Alemanha bem como de umavisita ao Parlamento Europeu, porparte da comissão de trabalhado-res, com um caderno de reivindi-cações aprovado. Contudo nessa altura já nem valiaa pena falar de aumentos sala-riais. Em causa estaria já a inde-minização a receber pelos funcio-nários, que já sabiam que a em-presa fecharia em dezembro des-se mesmo ano.

Última combo produzida A demolição da fábricada empresa durante uma das paralisaçõesFoto António Caria

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12 Valor LocalDestaque

A nova vida dos antigos trabalhadoresOencerramento da Opel de

Azambuja foi um processodifícil para a região. Na fábricaque hoje já não existe, trabalha-vam à época mais de 1500 pes-soas. Muitos casais com filhos ecom uma vida estabilizada àvolta da empresa.Da empresa, para além do orde-nado, conseguiram, segundoJorge Almeida que à época re-presentava o sindicado dos me-talúrgicos, algumas benesses,inexistentes em outras empre-sas. Os trabalhadores da fábri-ca tinham duas mudas de roupapor semana. Tinham médicográtis na empresa, ao ponto demuitos dos trabalhadores só te-rem conhecido o seu médico defamília, após terem saído daOpel.Para além disso, os trabalhado-res tinham ainda direito a des-contos nas peças de origem ena aquisição de veículos damarca Opel. Estas foram tam-bém algumas das contraparti-das dadas aos funcionários des-de o ano 2000. Outras foramsendo acrescentadas à medidaque o pacote de reivindicaçõesia crescendo.Com ordenados acima da mé-dia, percebe-se que muitos comformação específica para umafábrica daquele tipo tivessem di-ficuldades em encontrar um em-prego de acordo com as suasexpectativas. Muitos optaram

por esgotar o fundo de desem-prego, que à época era de trêsanos para a maioria. Outrosaproveitaram para abrir negó-cios próprios. Foi o caso dePaulo Vicente, antigo porta-vozda comissão de trabalhadoresque abriu uma loja de informáti-ca, que não terá durado muito.Aliás, o Valor Local tentou che-gar à fala com o representantedos trabalhadores, mas foi im-possível.Jorge Almeida, antigo sindicalis-ta, diz ter tido alguma sorte. Ooperário mal saiu da Opel, con-seguiu lugar como assessor doantigo vereador da CDU na Câ-mara de Alenquer, José ManuelCatarino. Posteriormente de-sempregado, viria a integraruma empresa que presta servi-ços em outsourcing no Hospitalde Santa Maria.Também Armando Martins, che-fe de secção de pintura, referiunão ter tido grandes dificulda-des. Mal saíu, integrou um pro-jeto em Espanha, depois pas-sou por dois grupos de conces-sionários automóvel onde aindase mantém. José Eduardo Serra é atual-mente empresário, mas antescontinuou ligado à PPG. Esteveno estrangeiro, mas o apelo dafamília fê-lo regressar a Portu-gal. Foi também chefe de gabi-nete do antigo presidente daCâmara de Azambuja, Joaquim

Ramos.Mas a fábrica enquanto labora-va também trouxe coisas menosboas aos funcionários. O apare-cimento de doenças profissio-nais causou também algum malestar. Foi o caso de José CarlosSantos, que contraiu uma tendi-nite. Ao Valor Local, o antigofuncionário da Opel salienta quea tendinite apareceu por voltado ano de 2005. Tal ficou a de-ver-se à repetição de movimen-tos na mesma posição. No casode José Carlos Santos, a Opelalienou-se do seu caso: “A em-presa não quis saber de nada,queria era o trabalho feito”. Parater a situação resolvida, JoséCarlos Santos diz que se sentiuna necessidade de recorrer àSegurança Social “para depoisacionar o processo de doençasprofissionais”. Depois disto foisubmetido a uma junta médica,tendo ficado com uma incapaci-dade de quatro por cento e como valor de 70 euros mensais.Anos volvidos a situação agra-vou-se. A tendinite estendeu-seà mão; e dos dedos ao pulso,cotovelo, braço e ombro: “É sócaruncho!” diz gracejando JoséCarlos Santos.

Investimentos e ajudasdo Estado à Opel

Em 2003 e depois das comemo-rações dos 40 anos da presen-

ça da marca em Portugal, o go-verno liderado por Durão Barro-so deu algumas ajudas paraque a fábrica fosse mais com-petitiva. Dessas ajudas resulta-ram apoios de vários milhões deeuros que terão sido aplicadosnas várias secções da empresa. Com efeito a Opel de Azambujaera das fábricas que mais e me-lhor produzia. Os trabalhadores

mostravam orgulho no emblemae isso ficou bem patente nas di-versas atividades do centenárioda empresa. Mas à medida queo ano de 2006 se foi aproximan-do e começava a ficar patente oencerramento da Opel, o gover-no já liderado por José Sócra-tes, fazia planos para reaver asverbas entregues à empresa.Ao todo estavam em causa cer-ca de 30 milhões de euros, quenão seriam pagos, se a empre-sa fechasse depois de 2009 enão 2006, interrompendo a pro-dução da Opel Combo. A fábrica de Azambuja foi entre-tanto visitada pelos administra-dores da Alemanha. O objetivoera traçar um plano de compen-sações aos trabalhadores. De-pois de várias reuniões, a em-presa cedeu em algumas exi-gências, mas os operários tive-ram de construir em seis mesescerca de 23 mil veículos. Núme-ro que acabou por ser ultrapas-sado e que culminou com o en-cerramento da empresa e o pa-

gamento das indemnizações.O Estado foi ressarcido mas aCâmara de Azambuja, que re-clama ainda nos dias de hoje opagamento de cerca de um mi-lhão de euros, referentes à isen-ção de impostos municipais,como a derrama, continua a na-vegar à vista. Isenção essa im-posta pelo Estado e que a au-tarquia nunca pôde contestar.Na altura, Joaquim Ramos, pre-sidente da Câmara, terá contes-tado a situação. Luís de Sousa,que agora lidera a autarquia deAzambuja, salienta que “a situa-ção do município ficaria muitomais fácil se o Estado entregas-se à Câmara a sua parte.” Toda-via, o autarca que refere nãoestar disponível para abdicardesses valores, anunciou aoValor Local, que a Câmara de-pois de vários anos, avançoumesmo para tribunal, interpondouma ação contra o Estado, comvista a receber perto de um mi-lhões de euros, há muito devi-dos.

“Nenhum concelho recupera de uma perda assim”

Para a ACISMA, Associação de Comércio Industria e Serviços do Município de Azambuja, o encerramento da Opel foi um duro golpeno economia local e regional. Segundo o porta-voz da associação, Daniel Claro, que representa as empresas e o comércio “a em-

presa era um símbolo a nível nacional e levava o nome de Azambuja (Opel Azambuja) bastante mais longe do que as próprias fronteirasnacionais” daí que o encerramento acabou por significar dificuldades “para a captação de investimentos ao nível industrial, num concelhoque deles tanto necessitava” Todavia, segundo o responsável, “o aspecto mais relevante terá sido o das famílias afetadas pelo desem-prego consequente, e do qual o concelho ainda hoje demonstra dificuldades de recuperação em termos qualitativos”.Esta foi uma situação que afetou todo o comércio local. A ACISMA, fala num desemprego consequente, pois “as suas repercussões so-ciais levaram à criação de um clima de descrença no potencial económico concelhio com o agravamento das condições do comérciolocal de proximidade já na altura com sinais de queda” Para Daniel Claro, há outra leitura: “Foi um verdadeiro marco na mudança deparadigma do modelo económico concelhio e porventura nacional traçando uma linha que acentuou a viragem da economia local parauma cada vez maior presença do sector de serviços, decorrente de Azambuja se ter tornado um corredor logístico de média dimensão”. Para o responsável, “nenhum concelho recupera de uma perda daquela dimensão”. Daniel Claro refere que a autarquia, na altura, fezo esforço possível e a vinda da Sonae - pela dimensão e qualidade do investimento - tratou de atenuar alguns aspectos negativos semos eliminar “até porque do ponto de vista salarial e da organização laboral as diferenças são abissais”.

Os trabalhadores da Opel conseguiram muitas benessesFoto Paul Duerinick

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13Valor Local Destaque

Diretor da fábrica falaem frustração e mágoaCarlos Antunes era o diretor

da fábrica da Opel emAzambuja. O engenheiro queapós o encerramento da empre-sa foi trabalhar para a Galp,destaca que também ele sósoube do encerramento definiti-vo da empresa no primeiro tri-mestre de 2006. Carlos Antunessalienta que foi devido áquilo aque chama de “normal dialética”entre os funcionários da fábrica“que se começou a evoluir paraum clima de maior tensão, coma preocupação maior sobre ofuturo da fábrica e das pes-soas”. O antigo diretor da fábrica des-taca entretanto que durante oúltimo ano (2005 a 2006) a dire-ção “procurou com várias pro-postas e ações concretas demelhoria e de investimento oti-mizar a rentabilidade do mode-lo”. Para tal apostaria num au-mento de produção e na redu-ção de custos laborais, atravésdo “aumento de flexibilidade eredução dos custos do trabalhoextraordinário”. Para além disto,houve também a “redução decustos de serviços de outsour-cing, dos serviços de logística e

ainda propostas de alteração dopróprio modelo incluindo a intro-dução de algumas versões.”Contudo segundo conta CarlosAntunes, estas propostas terãosido insuficientes para conven-cer a General Motors “que argu-mentava com os elevados cus-tos de logística” até porquegrande parte dos componentesvinham de Espanha e do centroda Europa, sendo que os carrosacabados voltavam para lá. Ajuntar a isto, lembra a “ inexis-tência de prensas na fábrica daAzambuja e a inviabilidade fi-nanceira para se alterar esta si-tuação”. Numa segunda fase, quando fi-cou completamente claro que adecisão da GM era estratégica,“já que Azambuja não tinha aescala necessária, apenas 80mil unidades por ano” e “haviaunidades de maior capacidadeque estavam subutilizadas, era,de acordo com a administração,mais rentável, viabilizar essasunidades.” Foi a partir daqui, se-gundo o engenheiro, que “co-meçou uma dinâmica de rela-cionamento e negociação paraque o impacto do encerramento

da fábrica fosse minimizadopara os trabalhadores e para aregião”. Carlos Antunes refere a existên-cia de “reuniões com forte con-frontação de ideias e propostas,plenários, manifestações, algu-mas ações de maior conflituali-dade”. “Mas posso testemunharque o respeito mútuo imperou enunca esteve em risco a segu-rança de qualquer elemento dadireção ou trabalhador”. Quantoao encerramento da empresa,Carlos Antunes salienta queconsidera que se deveu a doiselementos fundamentais: “a si-tuação da Opel na Europa e afalta de escala da fábrica deAzambuja”. Sobre Azambuja, lembra que a“fábrica tinha mais de 40 anos,tendo iniciado com uma peque-na linha de montagem, que pro-gressivamente veio a evoluir noconceito e na dimensão, massempre limitada pela sua ori-gem”, destacando que em 2000a direção da fábrica da Azambu-ja propôs, e a GM aceitou ad-quirir a fábrica vizinha da Ford“para transferir os armazéns econverter a área anteriormente

usada em armazenagem nanova unidade de Body Shop.Este foi um salto importante nadimensão da fábrica mas nãosuficiente para ultrapassar essefator de escala”, lembrando quea fábrica da Azambuja “produzia80 mil unidades por ano, e seriapossível quanto muito chegar às100 mil com um terceiro turno,mas de baixa rentabilidade enunca aceite pela GM. Já nes-ses dias, o número de referên-cia eram as 200 mil unidades”Carlos Antunes refere que tem aopinião de que os sindicatos e acomissão de trabalhadores nãoterão contribuído negativamentepara o encerramento da empre-sa. O antigo diretor vinca que“as lutas sindicais quando orien-tadas para o relacionamento in-terno da fábrica, sempre foramcompreendidas, com maior oumenor aceitação pela GM. A in-compreensão e o desagrado daGM acontecia quando as lutassindicais eram manifestamentepolíticas e orientadas por moti-vações externas.”Por outro lado, o engenheiro sa-lienta que a empresa negocioucom a Comissão de Trabalha-

dores um conjunto de princípios“que permitiram flexibilidade,capacidade e rapidez de res-posta que contribuíram signifi-cativamente para a competitivi-dade da fábrica da Azambuja”.Carlos Antunes esteve na Opelaté ao último dia. “Foi com umamágoa e frustração enormesque vi que as minhas infindá-veis horas de trabalho diárias,assim como dos meus colegas,

não tinham resultado na conti-nuação da produção na fábricade Azambuja” destaca o respon-sável. “Tinha imenso orgulho dafábrica e da equipa que dirigia eestava completamente orienta-do e motivado para acabar a mi-nha carreira profissional na fá-brica de Azambuja. Mas há de-cisões que nos ultrapassam ehá que enfrentar novos desa-fios.”

Carlos Antunes lamenta o fim da Opel

Page 14: Jornal Valor Local - Edição Janeiro 2015

Segredos da JustiçaRegime especial do registo automóvel

14 Valor LocalOpinião/Reflexão

Programa Operacional Regional do Alentejo 2020

Oencerramento das instala-ções da Opel em Azambuja -

que entretanto tinha absorvido asinstalações da Ford - constituiusem dúvida um enorme revés nãosó para o Concelho de Azambujamas também para toda a Região,uma vez que a Opel era de factoa grande empregadora regional,não só ao nível do número de tra-balhadores como também pelo le-que salarial acima da média quepraticava. Foi, na verdade, umadas épocas mais conturbadas dosdoze anos em que estive à frenteda Câmara.No futuro, sem constrangimentos,sem intrusões partidárias e desa-paixonadamente, far-se-á a histó-ria do fecho da Opel/Ford e dasreais causas desse encerramento.Agora é cedo demais.

A Opel/Ford, para além do impac-to que tinha em termos económi-cos e de empregabilidade, tinhatambém o carisma de, a par daSugal, serem percursoras da in-dustrialização do Concelho, “ar-rancando” do assalariamento agrí-cola - e da miséria- tantas e tantasfamílias.O seu encerramento teve conse-quências de enorme repercussãono Concelho e, repito, na Região.Em primeiro lugar porque lançouno desemprego mais de mil traba-lhadores directos ( na altura do fe-cho empregava cerca de mil e tre-zentos trabalhadores), uma partesignificativa já em condições deentrar em pré-reforma, mas agrande maioria ainda em plenaidade activa ou mesmo nas fasesiniciais das suas carreiras profis-

sionais. Foi difícil para muitos areintegração na vida activa : al-guns conseguiram montar negó-cio próprio, outros (poucos) em-prego no mesmo ramo de activi-dade ou em outros sectores. Masmuitos “agonizaram” dois, três oumais anos até conseguirem em-prego.Em segundo lugar, o encerramen-to da Opel/Ford arrastou consigomuitas pequenas ou médias em-presas que eram dela subsidiáriaou prestadoras de serviço, que seviram obrigadas também a encer-rar ou a diminuir drasticamente asua actividade. Esta consequên-cia, para além de ter contribuídopara um abrandamento da activi-dade económica no Concelho, tra-duziu-se também num acelera-mento do desemprego, por via

dos postos de trabalho indirectosque se extinguiram.Por último, refira-se o impacto ne-gativo sobre o poder de comprados habitantes do Concelho e aconsequente diminuição da procu-ra dirigida à nossa estrutura pro-dutiva : restaurantes, pequenasunidades comerciais locais, pres-tadores de serviços instalados.O encerramento da Opel/Forddespertou uma enorme onda desolidariedade por parte da popula-ção do Concelho, que organizouinclusive uma marcha até à Praçado Município, e dos Municípios vi-zinhos - muitos deles, aliás, ti-nham um numero significativo demunícipes a trabalhar na empresa-, que culminou numa manifesta-ção junto à Assembleia da Repú-blica.

Apesar de, como era meu dever,me ter envolvido directamente nasdiligências feitas, em conjuntocom a Comissão de Trabalhado-res, junto da Administração inter-nacional da Empresa e do Gover-no Português para viabilizar acontinuidade da Empresa, houveum momento em que percebi queo encerramento era inevitável : odia em que o Ministro Manuel Pi-nho, que se tinha deslocado aosEstados Unidos expressamentepara negociar com a Administra-ção da Opel, me comunicou queas exigências da Empresa eraminaceitáveis para Portugal.Naturalmente que uma das nos-sas preocupações dominantes noperíodo pós-encerramento foi en-contrar uma alternativa para aque-las instalações. E foi possível,

com a conjugação duma série deesforços, instalar um grande cen-tro de distribuição da Sonae. Nãofoi a solução ideal, a que todosgostaríamos de ver, porque ape-sar do número de trabalhadoresser até superior, sabíamos que ossalários praticados e a segurançalaboral eram substancialmente in-feriores aos praticados pela Opel.Não nos podemos esquecer, noentanto, que se tratou dum perío-do - que ainda hoje se mantém -de deslocalização de unidades in-dustriais de toda a Europa para aseconomias emergentes. A alter-nativa seria ficarmos com um ele-fante branco que cedo entraria emdegradação.

ORegulamento do Registo deAutomóveis dispõe que o

registo de propriedade de veícu-los adquirida por contrato verbalde compra e venda é promovidopelo comprador e pelo vendedor,tendo por base o requerimentode modelo único subscrito porambas as partes. Sucede que esta obrigação deregisto não é cumprida em mui-tos casos. Ora, a não regulariza-ção do registo de propriedadeapresenta graves consequên-cias, quer para quem permane-ceu proprietário no registo (quecontinua, por exemplo, com aobrigação de pagamento do Im-

posto Único de Circulação), querpara quem adquiriu e não promo-veu o registo a seu favor (nomea-damente porque o veículo podeser penhorado no âmbito de umaexecução que corra contra o an-terior proprietário).Perante esta realidade do dia-a-dia, o Governo aprovou o Decre-to-Lei n.º 177/2014, de 15 de de-zembro, através do qual criou umregime especial para o registo re-querido apenas pelo vendedor.Nos termos do artigo 2.º.º destediploma legal, o registo de pro-priedade de veículos adquiridapor contrato verbal de compra evenda pode ser pedido pelo ven-

dedor do veículo com base emrequerimento apenas por si subs-crito. Este registo pode ser re-querido desde que já se encontredecorrido o prazo legalmente es-tabelecido para efetuar o registoobrigatório (60 dias a contar dadata da compra e venda) e temde ser feito com base em docu-mentos que indiciem a efetivacompra e venda do veículo,como faturas, recibos, vendas adinheiro ou outros documentosde quitação.Sublinhe-se que naqueles docu-mentos deve constar a matrículado veículo, o nome e a moradado vendedor e do comprador. Os

restantes elementos de identifica-ção do comprador que não cons-tem dos documentos apresenta-dos (por exemplo, número deidentificação fiscal) devem ser in-dicados no impresso de modeloúnico para registo.Após a entrega do requerimentode registo (presencialmente ouvia on-line), a conservatória noti-fica o comprador para, no prazode 15 dias, deduzir oposição es-crita ao pedido de registo apre-sentado pelo vendedor, contestaralguma das suas menções ou vircompletar os elementos necessá-rios para a elaboração do registo.Se não existir qualquer oposição

por parte do comprador e o pro-cesso estiver completo, a conser-vatória procede ao registo daaquisição. Se existir oposição, aconservatória aprecia os funda-mentos apresentados pelo com-prador e depois decide se a aqui-sição é ou não registada. Em termos de custos, o registode propriedade de veículos ad-quirida por contrato verbal decompra e venda requerido ape-nas pelo vendedor e efetuado noâmbito deste novo regime espe-cial está fixado em 75 euros (cfr.artigo 14.º/1/a)). O emolumentodevido pelo certificado de matrí-cula emitido a pedido do titular na

sequência de registo de proprie-dade encontra-se fixado em 95euros.Por último, cabe referir que o ar-tigo 15.º consagra significativasreduções nos emolumentos apagar sempre que os registos deaquisição em causa sejam reali-zados até ao dia 31 de dezem-bro de 2015.

Nas últimas décadas, a Região registou profundas transforma-ções e progressos na qualificação do território e na condição so-

cioeconómica, em grande parte resultantes do financiamento dosFundos Comunitários. Porém, estes resultados positivos não foramsuficientes para ultrapassar algumas debilidades da Região e per-sistem constrangimentos relacionados com a regressão prolongadada demografia regional, o reduzido dinamismo do tecido empresarial,as limitações acentuadas nos sistemas e redes com potencial paraatrair novos fluxos de investimento e a sustentabilidade problemáticada mais-valia ambiental.A abordagem para responder a estes constrangimentos decorre daEstratégia Regional Alentejo 2020 e assenta fundamentalmente navalorização da identidade do Alentejo, representada pela sua heran-ça cultural, pela sua valia ambiental e pelo aprofundamento das re-lações urbano-rurais, suportadas pela inovação, com vista à criaçãode novas dinâmicas de desenvolvimento económico, num quadro desustentabilidade. Assim, as prioridades de intervenção que suportama programação e os possíveis financiamentos ao abrigo dos FundosEuropeus Estruturais e de Investimento estruturam-se em cinco vec-tores relacionados com (i) a consolidação do sistema regional deinovação e competências, (ii) a internacionalização dos activos doterritório, (iii) a renovação da base económica sobre os recursos na-turais e a excelência ambiental da Região, (iv) a qualificação do ter-

ritório e (v) as qualificações, empregabilidade e coesão social.Neste contexto, a estrutura do Programa Operacional Regional doAlentejo teve em consideração o enquadramento e os contributospara as dimensões estratégicas e prioridades da Europa 2020, nosentido de uma economia mais competitiva, qualificada, eficiente ecoesa, nos vectores-chave relacionados com a competitividade e in-ternacionalização das empresas (clusterização e redes de empre-sas; internacionalização de PME; serviços avançados de apoio aPME e grupos de PME), o ensino e a qualificação do capital humano(formação e capacitação de ativos) a investigação, o desenvolvimen-to tecnológico e a inovação (consolidação e conclusão das infraes-truturas de I&D&I regionais; investimento empresarial em atividadesde I&D e de inovação; empreendedorismo qualificado e criativo); oemprego e a coesão social (valorização dos recursos endógenos emterritórios específicos; regeneração socioeconómica e física de co-munidades e zonas desfavorecidas; desenvolvimento socioeconó-mico de base local; qualidade dos sistemas de ensino, formação esaúde); a eficiência e diversificação energética (nas empresas, nasinfraestruturas públicas e na habitação social), mobilidade sustentá-vel e qualidade do ambiente urbano (mobilidade suave; proteção,desenvolvimento e promoção de ativos públicos culturais e patrimo-niais; reabilitação urbana); a capacitação institucional e a melhoriada Administração.

Para concretizar esta estratégia de crescimento regional mais inte-ligente, sustentável e inclusivo, o POR Alentejo operacionaliza-seem 10 eixos: Competitividade e internacionalização das PME; Ensi-no e Qualificação do Capital Humano; Investigação, Desenvolvimen-to Tecnológico e Inovação; Regeneração e Reabilitação Urbana; Em-prego e Valorização Económica de Recursos Endógenos; CoesãoSocial e Inclusão; Eficiência Energética e Mobilidade; Ambiente eSustentabilidade; Capacitação Institucional e Modernização Admi-nistrativa; Assistência Técnica.Este conjunto de Eixos deverá enquadrar operações relevantes paraa concretização de objetivos estratégicos e específicos do PO, osquais deverão beneficiar também de intervenções complementarespara a Região, com enquadramento nos PO Temáticos de âmbitonacional (Competitividade e Internacionalização, Capital Humano,Inclusão Social e Emprego, Sustentabilidade e Uso Eficiente dos Re-cursos) e nos Programas de Desenvolvimento Rural e das Pescase Aquicultura.(Fonte: Portal Portugal 2020)A ACISMA para acompanhamento do novo Quadro Comunitário irácriar, a partir do dia 1 de Março, um gabinete de apoio aos empre-sários do concelho bem como uma página específica no site que po-derá ser consultada já a partir do dia 1 de Fevereiro.

ACISMA

António Jorge LopesAdvogado

[email protected]

As implicaçõesdo encerramentoda Opel/Ford em Azambuja

Joaquim António RamosEx-Presidente

da Câmara de Azambuja

Page 15: Jornal Valor Local - Edição Janeiro 2015

15Valor Local Opinião/Reflexão

A21 de dezembro de 2006, oencerramento da Opel Por-

tugal, em Azambuja, empurrou1100 trabalhadores para o de-semprego, ficando catalogadose associados à fábrica mesmodepois do encerrar de portascomo “Desempregados daOpel”. Mais de 60% destes trabalhado-res passaram de “categoria” deDesempregados a Desempre-gados de Longa Duração, afe-tando sobretudo os menos qua-lificados. Fazendo face à sua nova reali-dade, passando à procura deoportunidades de emprego, en-contraram um mercado de tra-balho com pouca capacidadepara os reintegrar e em que ascondições oferecidas eram emgeral bastante precárias. Apesar de ter afetado famíliasde 10 concelhos, o concelho deAzambuja foi numericamente omais afetado, atirando a Azam-buja para lugares cimeiros noque diz respeito às taxas de de-semprego.O encerramento da Opel foi

para muitos um primeiro grandeconfronto com a realidade do de-semprego e com a realidade doimpacto deste na vida das pes-soas e das famílias.Hoje em dia, passados mais de7 anos do encerramento da OpelPortugal, continua-se a convivercom esta preocupação constan-te que nos afeta a todos, o de-semprego.Este artigo poderia ser sobre umconjunto de mais de um milharde pessoas desempregadas de-vido ao encerramento da Opel,mas não é! É sobre todos nósque continuamos a viver a pro-blemática do desemprego. Sim, todos nós! O desempregoafeta-nos a todos, sem exceção,pois direta ou indiretamente odesemprego tem o seu impactoa nível individual, tem repercus-sões nos outros, na família nu-clear, na família alargada, nasrelações profissionais, na vidasocial, …, em todos os camposda vida de um indivíduo.O que muitos sentiram aquandodo encerramento de uma das fá-bricas mais importantes do con-celho sente-se de uma forma ge-

neralizada, não só no nossoconcelho, como no resto dopaís. Somos todos Opel Portu-gal? A nível nacional as taxas de de-semprego atingiram níveis muitoelevados, abalando o equilíbrioemocional das pessoas afetadaspor ele.O Desemprego é um dos acon-tecimentos que mais afeta obem-estar e a saúde mental deum indivíduo. O mercado de tra-balho atual é cada vez mais in-certo, pautado por flutuações edescontinuidades, sendo que oconceito de empregabilidade éagora muito diferente do concei-to que lhe estava associado háuma década. Embora o custo económico dodesemprego seja elevado, nãohá valor monetário que traduzaadequadamente o custo humanoe psicológico de longos períodosde desemprego, principalmentedo desemprego persistente e in-voluntário.Este desemprego prolongadotem impacto, como já foi referi-do, no bem-estar e na saúdemental de um indivíduo e muitas

vezes mostra a sua “cara” naforma de transtornos mentais le-ves, depressão, diminuição daautoestima, sentimento de frus-tração e insatisfação com a vida,dificuldades cognitivas, entre ou-tras consequências que vãopara além das fronteiras do indi-víduo. Estão também associa-dos o aumento dos casos de vio-lência conjugal, comportamentosdesviantes, alcoolismo, consu-mo de drogas e um novo concei-to de pobreza, a qual podemosdenominar de “ pobreza enver-gonhada”. No contexto da famí-lia, o desemprego provoca de-sestruturação e desorganizaçãofamiliar, sendo as crianças asprincipais vítimas desta situação.Arriscaria, então, afirmar que astaxas de desemprego elevadassão muito mais do que um pro-blema económico, são um pro-blema psicológico e social quenos afeta todos. Para esta problemática não exis-tem soluções rápidas, nem esteartigo pretende ensaiar qualquersolução sobre como pôr fim aodesemprego. Todavia é possível,a nível individual, atenuar o sen-

timento de desespero de quemse encontra a passar por estaconjuntura e aumentar as possi-bilidades de maior sucesso. Provavelmente o mais importan-te e exigente é não nos deixar-mos invadir por um pensamentonegativo e destrutivo e continuara procurar trabalho com insistên-cia. Para além da insistência, éimportante definir bem os nos-sos objetivos, nunca perder ofoco daquilo que se quer, pois,“quem não sabe para onde vainenhum vento lhe corre de fei-ção”. Estes objetivos têm de sermuito bem definidos e específi-cos, baseados num grande auto-conhecimento e numa profundapesquisa das oportunidades eameaças do mercado de traba-lho. Um outro caminho podepassar por nos reinventarmos ealargarmos ou modificarmos onosso foco, procurando adquirircompetências para poder alme-jar uma área de trabalho diferen-te e com mais oportunidades doque ameaças.Do mesmo modo, é tambémmuito importante, tendo em con-sideração a questão da autoes-

tima e do networking, não per-der contactos, não se fechar,não se esconder, evitar o isola-mento.Seguindo a máxima de “mentesã em corpo são”, devemoscriar um programa de treino físi-co, mental e de relaxamento,não caindo em inércia, aumen-tando a capacidade de organi-zação do pensamento e contri-buindo para um bem-estar físicoe psicológico. Existem muitos livros e artigosque focam estas problemáticas,muitos deles com bons conse-lhos e orientações, no entantotratam-se de orientações de ca-rácter geral. Em muitos casos,as especificidades de cada umexigem uma orientação maisespecífica e nesses casos éconveniente procurar apoio eacompanhamento psicológico,coaching ou aconselhamento decarreira.

Pedro Félix,Psicólogo

http://pedrofelix.weebly.comDesemprego:Somos todos Opel Portugal

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16 Valor LocalEntrevista

¢ Sílvia AgostinhoValor Local – Durante o ano pas-sado decorreu pela primeira veza iniciativa do Orçamento Parti-cipativo de Alenquer, mas paraquando o início da implementa-ção dos projetos aprovados noterreno?Pedro Folgado – A iniciativa cor-reu bem, também tivemos a ajudade quem conhecia este tipo de ini-ciativas, as suas vantagens e des-vantagens. A adesão foi muitogrande por parte dos cidadãos.Neste momento, estamos a avaliarquais os melhores timings tendoem conta as especificidades indivi-duais de cada projeto. Estamos aorganizarmo-nos operativamente eem termos de contratação públicano sentido dessa ida para o terre-no. Teremos de adjudicar umaprestação de serviços para o estu-do do canhão cársico, pois não te-remos internamente todas as com-petências para isso. Quanto àsobras físicas, serão acompanha-das por nós, outras exteriormente.As coisas estão a mexer-se, nãohá atrasos neste momento.Algumas pessoas interrogar-se-ão sobre a exequibilidade de umou outro projeto que saiu desseorçamento participativo, nomea-damente, a pista de atletismo.56 mil 300 euros vão chegar? Essa é a verba que temos disponí-vel, veremos se haverá algumaderrapagem ou não nessa obra enas restantes, no cômputo geraldos 300 mil euros adjudicadospara o Orçamento Participativo.Mas posso dizer que houve um su-porte técnico sustentado para afir-mar que o custo de cada obra nãodeverá fugir das verbas atribuídas.No caso do estudo e caracteri-zação do Canhão Cársico deOta, o proponente José CarlosMorais em entrevista ao nossojornal não deixou de evidenciaralguma preocupação com aconcretização do projeto quetem timings específicos, com aida de estudiosos para o terre-no, por exemplo.Estamos a acertar com José Car-los Morais uma prestação de ser-viços. Vamos com ele ultimar ospormenores de maneira a não pre-judicar outras pessoas que estãoenvolvidas no processo. Somosuma instituição pública e temosprazos na contratação pública,neste caso desses académicosem causa. Teremos de cumprirprocedimentos, e se não for possí-vel desde já avançar com o estu-do, teremos de aguardar até quehaja um desbloqueio legal. Mas éuma questão de articularmos com

o proponente, até se ultrapassa-rem esses constrangimentos. Atése pode incluir a continuidade des-se estudo numa segunda ediçãodo Orçamento Participativo.No que respeita a algumasobras no concelho, o que sepode esperar da circular externaque passa junto ao Lidl do Car-regado que está literalmentenum beco sem saída?Não está num beco sem saída,mas como todos sabem houve umconcurso para se fazer essa obraem várias fases. A Câmara, a dadaaltura, decidiu não fazer a terceirafase da via de cintura. O empreitei-ro tinha a expetativa de fazer aobra na totalidade, mas conside-rando que só faz dois terços, istotem que ser negociado, e dar-lheuma contrapartida, bem como umanegociação com o Mais Centro.Mas estou convencido de que atéao final do mês de Janeiro seráconcluída a obra até ao cemitério,no que diz respeito à segundafase.No que se refere à necessidadede remodelação do Mercado deAlenquer, as queixas dos co-merciantes são muitas.O problema é mais uma vez orça-mental. Estávamos a ver se con-seguíamos colocar o mercadonum projeto dos fundos comunitá-rios, porque a nível do Orçamentooptámos por outras prioridades,nomeadamente, acessibilidades epagamento de compromissos. Anossa intenção poderá passartambém pela sua candidatura aoFundo Jessica (braço dos fundosestruturais) que tem empréstimosmuito baixos, o que poderia seruma solução ou através de Over-booking no Mais Centro. A nossa

expetativa é de o fazer ainda esteano.E no que toca ao impasse noMercado do Carregado?Está concluído, mas o mercadoestá inserido num condomínio, enão foi destacado. Estamos a ten-tar fazê-lo para o domínio público,para que os condóminos não pa-guem os impostos sobre aqueleimóvel. Queremos resolver esteproblema, embora seja difícil por-que são muitos os moradores emuitos não vivem no local.No orçamento para 2015, estãoprevistos dois milhões de eurospara revitalização da rede rodo-viária e obras municipais, o queserá feito?Estamos a falar de acessibilida-des, muros de suporte, limpezasde rios. Obras importantes para oconcelho que não podemos adiarmais, estamos a falar de interven-ções prementes.A Câmara conseguiu diminuir adívida, no entanto, o prazo depagamento a fornecedores con-tinua a ser algo dilatadoTemos vindo a fazer esse esforço,baixámos a dívida em cinco mi-lhões. Atualmente a dívida é de 11milhões, oito milhões de longo pra-zo, e três milhões de curto prazo.Pagamos em menos tempo aosfornecedores. Ainda há alguns me-ses esse prazo andava em maisde 200 dias, hoje é de 150 dias. Éum esforço que temos vindo a fa-zer.Até ao fim do ano prevê baixar adívida em quanto?Teremos de baixar alguma coisa,apesar de querermos fazer alguminvestimento. Queremos equilibrara Câmara para depois apostarmosem investimentos maiores. Se bai-

xarmos a dívida a curto prazo jáseria muito bom.A Câmara prevê ainda a aplica-ção de uma verba de 300 mil eu-ros, este ano, em medidas deapoio à natalidade, em traçospráticos o que significará?Esse número é uma estimativa.Estamos a organizarmo-nos emtorno da consolidação de gente jo-vem no concelho. Poderá ser maisuma alternativa. Temos feito abor-dagens junto de empresas farma-cêuticas, e de bens de vestuário, eem articulação, oferecer a casaisjovens um cabaz de ofertas.Mas haverá um valor mínimo oumáximo a atribuir?Ainda estamos a avaliar qual amelhor maneira. Estimámos essevalor, mas vamos ver se será pre-ciso gastá-lo.Trata-se no fundo de um che-que-bebé como acontece emoutras autarquias. Acha que aspessoas ainda se deixam sedu-zir por esse tipo de benesses?Possivelmente o que desejam éter um emprego entre outros as-petos.Por isso ainda estamos a pensarse alargamos a todos ou apenasaos mais carenciados. Claro quedão mais valor a um emprego,mas não será por causa do che-que-bebé que vão ter ou não maisfilhos.O município também parece terelegido a bandeira do apoio aoempreendedorismo, mas Alen-quer também sofre daquele malcomo outros concelhos destaregião, de empresas que deslo-calizam a sede de Lisboa paraaqui para mais facilmente teremacesso aos fundos estruturais,sem que isso signifique a cria-

ção de postos de trabalho ououtros benefícios para o conce-lho.Corremos esse perigo, mas nãoquer dizer que nada possamos fa-zer. A nossa aposta passa pelo ga-binete do empreendedor, com aapresentação de projetos por partedas pessoas. Alguns singrarão,outros talvez não. Temos feito mui-tas ações de sensibilização tam-bém no âmbito dos fundos euro-peus. Abrimos um espaço no Car-regado nesse sentido. Prevemos aimplementação de ambientes co-work e startups. Obviamente queno terreno, corremos esses riscosde as empresas aparecerem e de-pois não estarem muito tempo.Qual a política da Câmara paracaptação de mais investidores,apesar da crise?No fundo, temos feito um trabalhode proximidade com as empresasimplantadas. Vamos criar uma pla-taforma web com o registo de to-das as empresas e negócios, quepossa permitir que as empresas seconheçam umas às outras. Temosfeito abordagens junto da Associa-ção Industrial Portuguesa, IAPMEI,AICEP. Para além disso, com anova tabela de taxas estamos a fa-cilitar nas derramas e no IRS.Essa diminuição das taxas nãoserá ainda um pouco extempo-rânea dado que a Câmara pos-sui uma dívida, que com certezaestará à procura de a fazer bai-xar?Temos de articular a dívida e o in-vestimento. Se partirmos do princí-pio, de que sanamos a dívida enão fazemos mais nada, de factoé mais fácil. Mas de algum modotemos de colocar as finanças emordem, e se não temos dinheiropara investir, pelo menos podemosajudar outros pela diminuição dacobrança de receita. Se ajudarmosas pessoas e as empresas a apos-ta também será ganha. Temos vin-do a ser contatados por empresasque querem alargar a sua dimen-são.Para quando o arranque desseprojeto de co-work, no fundo deincubadora de empresas queestava no seu programa eleito-ral?A nossa intenção é a de criar umespaço no alto do concelho, na fre-guesia da Merceana ou da Vento-sa, para ser mais central.Mais central mas com menosserviços de suporte.Temos esse problema, mas com aimplementação desse conceito noalto do concelho, outros serviçospoderão ser alavancados, e me-lhorar as acessibilidades.

Ou será antes no sentido daque-la política de “distribuição dobem, neste caso, pelas al-deias”?Há um mundo que está desprote-gido, desertificado, e se não fizer-mos nada por ele, continuaremosa concentrar tudo neste eixo Abri-gada – Carregado e o resto conti-nua a ser paisagem. Se criarmosoportunidades de negócios, e deserviços, tal poderá levar a maismovimento naquela zona.A minha anterior pergunta tam-bém pode encontrar eco no fac-to de ainda há poucos mesestermos falado com o presidenteda junta de freguesia de VilaVerde dos Francos que notouque o novo centro escolar temuma capacidade acima do nú-mero de crianças existentes nalocalidade. As obras não devem ser pensadasa curto prazo. Mas ainda há poucotempo fui abordado por um fre-guês de Vila Verde que me disseque aquela localidade estava a re-gistar um bom índice na taxa denatalidade. Há pouco tempo nas-ceram oito crianças. Naquelazona, há qualidade de vida, e aconstrução de uma escola podeprecipitar que mais gente possaoptar pela freguesia em causatambém por essa vertente da exis-tência de um estabelecimento deensino com qualidade. Temos de iravaliando, que outras valênciastambém possam ser implementa-das. No que toca ao pagamento dotransporte escolar, houve mui-tas críticas do presidente da jun-ta do Carregado devido aosatrasos.Mais uma vez o problema fixou-sena liquidez financeira. Sempre dis-semos que íamos pagar as dívidasde 2013, já integralmente pagas,mas não tivemos capacidade parapagar também os transportes es-colares. Estamos a elaborar umplano de pagamentos para apre-sentar junto das freguesias. Foi fal-ta de capacidade financeira.Foi esta questão excessivamen-te polemizada pela oposição?Entendo que as juntas queiram serressarcidas, mas também têm decompreender que não consegui-mos ter capacidade financeira parapoder pagar tudo de uma vez. Aexpetativa da junta era outra, masvamos ver se com o IMI consegui-mos pagar o transporte escolar.Vamos pagando de acordo com aantiguidade da dívida, e já pagá-mos a totalidade de 2013.No que toca à concessão deáguas em baixa. O número de

Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer

“Custa à oposição que façamos coisas!”O PS voltou a conquistar a maioria absoluta nas autárquicas em Alenquer com caras novas. Muitas de-cisões têm sido postas em causa pela oposição, mas o presidente da Câmara contesta, e argumenta coma “vontade de fazer” e as “muitas ideias” do executivo. A principal tarefa no mandato é por um lado com-bater a dívida e por outro não deixar cair o investimento no concelho.

Pedro Folgado faz balanço de mandato nesta entrevista

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17Valor Local Entrevistaspedidos para o tarifário socialtem vindo a aumentar. As pes-soas têm cada vez mais dificul-dades em pagar a sua fatura.Por outro lado, muito se joga nocampo da viabilidade económi-ca da “Águas de Alenquer”.Neste momento, consideramosque a água é cara, não sei se como sistema multimunicipal o preço fi-cará mais uniforme, mas é algoque nos preocupa. Não se nos afi-gura rever o contrato ou rescindirporque não temos capacidadeeconómica para isso. Mas esta-mos atentos.Nas conversas que mantemcom a empresa, consegue per-ceber qual será o rumo da mes-ma, porque a água é muito cara,os munícipes estão muito insa-tisfeitos. Qual será o futuro daconcessão?Essa é uma grande interrogação.As empresas têm de possuir al-gum lucro. Estamos a tentar perce-ber onde a concessão poderá ir,até porque a água não pode au-mentar mais ainda.Tem sido pressionado pela em-presa para rever o contrato?Não tenho sido, só estou a falardisto porque está a perguntar. Ad-mito que possam vir com essa pro-posta, até porque como disse elesnão têm tido muito sucesso econó-mico, e acredito que possam voltara querer alterar o tarifário. A empresa está a cumprir com oque está feito a nível do contra-toSim, embora tenham sido sur-preendidos com o estado em quea rede se encontrava. Tiveram defazer mais obra do que a que pen-saram. Mas esse foi o risco deles.No capítulo da regeneração ur-bana, há fundos europeus paraisso mesmo, ainda há dias foianunciado pelo secretário deEstado um novo programa des-tinado aos particulares que pre-tendam recuperar habitações,no caso da Câmara de Alenquero que podemos esperar?Estamos também a ver quais osinstrumentos de que dispomos,

nomeadamente, uma candidaturacom base nos DLBC’s – Instru-mento de Desenvolvimento Localde Base Comunitária. Tem de sedelimitar as áreas de reabilitaçãourbana primeiro para que nos pos-samos candidatar. Alguns proprie-tários serão notificados em conjun-to com algumas associações paradepois chegarmos ao terreno, masainda não sabemos as regras dosprogramas para o eixo da requali-ficação urbana. A Câmara fez um novo regula-mento para o estacionamento,será que é desta que resultaráem Alenquer?Tudo depende da cidadania daspessoas, mas haverá mais fiscali-zação em articulação com a GNR.Seremos nós nas áreas conces-sionadas a aplicar as contraorde-nações.Qual o ponto de situação nestemomento, do pagamento dasverbas aos proprietários de ter-renos do Centro Escolar de Pa-redes; Pavilhão Municipal; Par-que de Estacionamento da Bar-rada? Disse há dias na conven-ção do PS que o processo estáa ser gerido com pinças. Em relação ao pavilhão municipal,a verba é de 1 milhão 100 mil eu-ros que estamos a cumprir, e queserá paga em 48 meses. Começá-mos a pagar em setembro, sensi-velmente 22 mil euros por mês.Em relação ao Centro Escolar deParedes, também fizemos umacordo com a proprietária, e esteano vamos pagar-lhe 950 mil eu-ros, também em prestações. Emrelação ao Parque da Barrada, foiacordado que podíamos dispôr da-quele local, mas não implicava acompra ou o pagamento de ver-bas. Estamos é a tratar de pagartambém o terreno onde se situa oCentro de Saúde de Alenquer.São verbas muito avultadaspara a Câmara conseguir cum-prir todos os meses, acha quevai conseguir?Tem de se cumprir. Se há um acor-do lavrado em notário… Daí euvoltar a falar das nossas dificulda-

des de liquidação. Mas vamos an-dando e não baixamos os braços.No que se refere à Chemina, háuma parceria do município coma AICEP.Temos feito muitas abordagens amuitas empresas nacionais, e atéestrangeiras. Houve o interesse deuma empresa alemã que ficou depensar na possibilidade de um ho-tel. Temos uma brochura em quemostramos a área, o potencial doespaço. Estamos dispostos a ne-gociar boas contrapartidas para ospossíveis investidores, desde quetal signifique postos de trabalho edesenvolvimento para o concelho.A AICEP tem sido um parceiro im-portante, pois também faz a articu-lação com possíveis investidores. Não sei se foi impressão minhaou não, mas durante o seu dis-curso e também dos outros ve-readores na Convenção do PS,decorrida há dias, notava-se umtom de demarcação em relaçãoà anterior gestão PS da Câmara,também com algumas críticas àforma como alguns setores in-ternos da Câmara eram geridos.Somos todos Partido Socialista,mas a diferença baseia-se apenasno facto de sermos outras pes-soas. Não renegamos o PS, massomos necessariamente diferen-tes, porque as pessoas também jánão são as mesmas. Houve al-guns setores para arrumar finan-ceiramente, de acordo com ostempos em que vivemos, mas nãocritico os meus antecessores, por-que fizeram um trabalho bem feito.As redes sociais hoje são umimportante veículo de informa-ção e de opinião. Há vários gru-pos no facebook ligados àsquestões de Alenquer, com for-tes críticas à gestão da Câmara.Dá importância a essas críticase ao que se vai comentandonesses grupos?Dou sempre importância às críti-cas, temos de ouvir todas as opi-niões. Mas o que me aborrece efrustra é o fato de muita gente di-zer mal por dizer, porque não hálugar à apresentação de soluções.

É mais cómodo refugiarem-senesses veículos, mas depois nãoaparecem nos debates ou pes-soalmente. É isso que me custa,mas não no sentido de os calar.Mas costuma dedicar algumaleitura ao que por lá se vai di-zendo nesses fóruns?Por sistema não, porque não te-nho muito tempo, por outro ladoacaba por ser tão triste o que aspessoas vão dizendo, sem conhe-cimento ou fundamento. Faz parteda cultura portuguesa ter opiniãosobre tudo mas sem sustentação.Deveríamos aprimorar as nossasopiniões.Muito comentado nas redes so-ciais tem sido também o prota-gonismo do vereador Rui Costa,nomeadamente, aquele percal-ço ou não, dir-me-á de sua justi-ça, ao tornar pública a cerimó-nia de entrega das mochilas es-colares a crianças carenciadas.De fato podíamos ter tido algumcuidado nesse processo, mas nãohouve queixas das pessoas, oudos pais, foi a própria oposiçãoque nos acusou de falta de mo-déstia e de excesso de notorieda-de. Admito que podíamos ter tidomais cuidado, mas isso não é oprimordial. Mas à oposição custa-lhes que façamos coisas, e aí so-mos acusados de que os procedi-mentos não são os corretos, quehá erros administrativos.Mas por vezes há mesmo errosadministrativos.Por vezes avançamos mais de-pressa do que aquilo que estipu-lam os prazos e do que a próprialegislação refere, mas é no sentidode fazermos alguma coisa, e nãode cometermos a ilegalidade pelailegalidade. Mas chegar, nestecaso, à população carenciada. Po-díamos ter feito um projeto e tê-lolevado à Câmara, mas são proce-dimentos mais lentos. Os miúdosprecisavam das mochilas naquelaaltura. Não fazemos as coisaspara aparecer na fotografia maspara chegar às pessoas.Esta entrevista pode ser visualizadana íntegra em www.valorlocal.pt

As atividadesde Natal e aspolémicasPedro Folgado considera que a marca Vila Presépio conse-

guiu um bom impulso com as atividades que a Câmara e pri-vados levaram a efeito na última quadra natalícia. “Não sei setivemos mais turistas, mas houve mais gente a circular efetiva-mente. Apesar das polémicas, tive a informação de que circula-ram por Alenquer cerca de 40 mil pessoas”. Sendo que 18 mildeslocaram-se ao espetáculo Quebra Nozes no centro comercialCampera, no Carregado. As outras 22 mil pessoas dividiram-sepelas atividades da tenda dos sabores, e eventos da Câmaracomo a concentração de reis magos, cerimónia de iluminaçãodo presépio, ou o Christmas Trail. A Câmara tinha orçada uma verba de 19 mil euros para os even-tos de Natal, sendo que acabou por gastar apenas 15 mil 750euros. “Ainda tivemos retorno da Caixa Agrícola que fez alguminvestimento, bem como do Mac Donald’s com refeições”. Muita tinta correu sobre a instalação de um restaurante gourmetcom uma tenda bem no centro da vila que de acordo com a opo-sição deveria ter sido alvo de um concurso público. Nuno Coe-lho, vereador da Coligação Pela Nossa Terra, acusou a Câmarade ter cometido uma ilegalidade, mas Pedro Folgado volta a re-ferir que foi o privado que procurou a Câmara e pagou todas astaxas para o efeito. “Não podia abrir concurso porque o espaçonão era nosso, nem era nossa intenção ali montar uma tenda ouabrir um restaurante”. “Sei que tiveram sucesso, porque muitagente o frequentou, não sei se ganharam muito ou pouco dinhei-ro”. Nuno Coelho considerou que outros empresários da restauraçãopoderiam à partida ser prejudicados por não terem tido a mes-ma oportunidade com a tenda, mas Pedro Folgado refere que osentimento geral foi de que “todos ganharam com o processo.Ou seja os outros restaurantes não deixaram de ter clientes,pelo contrário até ganharam”. Se no futuro, “outros restaurantesapresentarem propostas para uma tenda, e se for mais do queum, com certeza que avançaremos para um regulamento e con-curso”, deixa a promessa.

Diferendo coma Águas do OesteUm dos mais recentes problemas prende-se com o fato de a

Câmara de Alenquer, oposição incluída, estar contra o factode a Águas do Oeste (AO) pretender levar a cabo a taxação daságuas residuais não tendo em linha de conta as entradas indevi-das das águas pluviais no sistema. Apesar de a Câmara ser acio-nista do sistema intermunicipal, Pedro Folgado diz que há ques-tões pendentes, nomeadamente, as incrustações no sistema.“Estou farto de falar disto com a Águas do Oeste, e com aEPAL!”. “As entidades têm-se remetido ao silêncio e um dia tere-mos as tubagens entupidas, e temos falado disto em semináriose todos assobiam para o lado, ERSAR incluída”. A solução paraeste caso poderia passar pela alteração do ponto de entrega. A nova proposta para ser implementada nos concelhos do siste-ma intermunicipal é vista com bons olhos por alguns municípioscomo Torres Vedras. “Temos de negociar em conjunto e não ape-nas com base numa proposta de nova metodologia”. Pedro Fol-gado considera ainda que o peso do seu concelho é relativo naestrutura da AO, quando o compara com Torres Vedros por exem-plo, “que iniciou a nova metodologia, que poderá prejudicar os in-teresses dos munícipes de Alenquer e que vai contra a nova le-gislação para os novos sistemas multimunicipais, mas queremoschegar a um consenso”. E volta a referir a questão das incrustações:“Não há vontade dese fazer esse investimento na entrega das águas em alta, e as-sim resolvia-se o problema das incrustações, bem como no pro-blema dos mínimos”, que a ERSAR diz que são para acabar. En-quanto estas questões não se resolverem, a Câmara consideraque é extemporâneo aceitar a proposta da Águas do Oeste. Sebem que também reconheça que a dívida em tribunal do conces-sionário em baixa, Águas de Alenquer, para com o sistema inter-municipal possa estar a funcionar como areia na engrenagem. “Oprocesso está a decorrer em tribunal, e vamos ver no que vaidar”.Câmara de Alenquer está na expetativa para ver qual o futuro da concessionária de águas

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18 Personalidades Valor Local

Numa altura em que a profis-são de cartunista nunca foi

tão falada como agora, devido aostrágicos acontecimentos de Pariscom a morte de vários profissio-nais do jornal satírico Charlie Heb-do, fomos conhecer Vasco Garga-lo, natural de Vila Franca de Xira,e um dos mais requisitados cartu-nistas nacionais. O vilafranquenseassume que há alturas em quetem mais trabalho, todavia não sequeixa de ter seguido a sua pai-xão como profissão.Aos 38 anos, Vasco Gargalo lem-bra que o seu percurso estava tra-çado à partida. Os desenhos co-meçou a fazê-los quando o paicomprava o jornal “A Bola”. Come-çou por desenhar algumas figurasdo desporto, que num ápice ia,depois, mostrar ao pai, que lhedava as indicações de como deviamelhorar. Vasco Gargalo já participou em di-versas exposições. O artista parti-lhou com os melhores do mundoo “Cartoonxira” em 2002 a conviteda Câmara de Vila Franca e do or-ganizador, o também cartunista“António”, com quem mantémuma relação profissional há vários

anos, admirando o seu trabalho eo estilo. Aliás, Vasco Gargalo salienta aimportância do “Cartoon” sem pa-lavras. Algo que é comum no co-lega António e também nos seuspróprios trabalhos. Vasco diz que“é um desafio conseguir passar amensagem sem palavras”, masainda assim é algo que vai fazen-do nos seus trabalhos. Ainda assim, Vasco salienta quetrabalha em regime de freelancer.“Neste momento, vou-me dividin-do entre os cartoons e caricaturaspela ilustração editorial, livros in-fantis e outros projetos artísticos.Tentando sempre construir, en-contrar um caminho e um lugarnum jornal de tiragem nacionalatravés do meu trabalho.”Todavia, a vida profissional deVasco Gargalo não fica por aqui,em 2009 venceu o “”. A iniciativapremiou um trabalho sobre “Per-sonalidades portuguesas do sécu-lo XX”, e foi publicado a 7 de Mar-ço de 2008 no Jornal Público.

O massacre do Charlie Hebdo

A tragédia que vitimou cartunistas

do jornal satírico Charlie Hebdodeixou uma marca profunda emVasco Gargalo. “Este massacretocou-me em particular, pelas víti-mas que são cartunistas, pela li-berdade de expressão e de im-prensa que foi atingida, e pelo ra-dicalismo e fanatismo praticadoem nome de uma religião, provo-cando ainda mais a islamofobia nasociedade ocidental”, descreve. Ocartunista é da opinião de que“com este atentado ao jornal satí-rico Charlie Hebdo, levantou-se a

questão e dúvidas sobre a atual li-berdade de expressão, em tornodas fronteiras do humor. O humormais que fazer rir, deve fazer pen-sar e com este atentado deixou-nos todos a pensar sobre este as-sunto.”Cabu, Charb, Tignous, Wolinski eHonoré, foram referências paramuitos jovens cartunistas: “Nuncative a oportunidade de contactarcom estes excelentes cartunistas,mas ficam os seus desenhos quecomunicam com o mundo inteiro

para sempre.”A liberdade do cartunista é condi-ção essencial, mas também Gar-galo conheceu a censura por par-te de um jornal nacional – “Sim,uma vez rejeitaram um trabalhomeu num jornal de tiragem nacio-nal, nesta profissão corremos ris-cos e fazemos riscos. Podemosser rejeitados ou reconhecidospela nossa opinião nem sempreconseguimos agradar a todos,mas a magia é essa!”, descreve -“Nesta área, comunicar ou ex-pressar uma opinião através dodesenho de uma forma inteligentee sublime tocando sempre na feri-da sobre o tema a retratar, maisvale uma imagem do que mil pa-lavras.”Gargalo acredita que o aconteci-mento em Paris possa trazer outraluz para a forma como o públicoencara a profissão de cartunista –“Sou da opinião que provavelmen-te poderá trazer outro respeito, po-derá enaltecer esta profissão, atémesmo, mudar algumas mentali-dades relativamente a esta artetantas vezes menorizada. Que amorte de uns façam-nos cada vezmais acreditar. Sempre!”

Vasco Gargalo, cartunista de Vila Franca de Xira

“Nesta profissão corremosriscos e fazemos riscos”

Vasco Gargalo já venceu vários prémios

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19Valor Local InstantâneosNotícias para a HistóriaReverendo cónego João de Sousa CanilhoO discreto obreiro no silêncio¢ José Machado Pereira, HistoriadorAos 82 anos, faleceu o cónego João deSousa Canilho, pároco de Azambuja eVila Nova da Rainha, neste Domingo,dia 16 de novembro.Nascido a 6 de julho de 1932, em Pe-namacor, Diocese da Guarda, o cóne-go Canilho foi ordenado sacerdote peloCardeal D. Manuel Cerejeira, em 15 deagosto de 1957. Foi professor e prefei-to do Seminário de Santarém, entre1957 e 1966, e em 1968 foi nomeadopároco da Azambuja e Vila Nova daRainha. Foi também pároco de VilaFranca de Xira, entre 1974 e 1975, e pároco interino de Manique do Intendente (1976 e 1978). Em1999, foi nomeado Cónego da Sé de Lisboa. Foi juiz do Tribunal Patriarcal, entre 1994 e 1999, e vigáriode Vila Franca de Xira, entre 1996 e 2001. Foi presidente da direção da Casa Sacerdotal do Patriarcadode Lisboa e membro do Conselho Presbiteral, além de Vigário Geral do Patriarcado de Lisboa, entre2004 e 2013.

Documentos para a HistóriaReverendo cónego João de Sousa CanilhoO discreto obreiro no silêncio“Primeiro documento” que em 1968, o Reverendo cónego João de Sousa Canilho, na qualidade deprior de Nossa Senhora da Assunção da vila de Azambuja, dirigiu à população.

Documentos para a HistóriaReverendo cónego João de Sousa CanilhoO discreto obreiro no silêncioTexto de “Apresentação” do livro «Santa Maria de Azambuja – Património: História e Arte», escrito em2001 pelo reverendo cónego João de Sousa Canilho, inter-nado na clínica da Cruz Vermelha. Sempre ambicionei que a Vila de Azambuja com a riquezado seu passado, apaixonasse alguém pelas coisas da his-tória e nos testemunhasse factos, vidas, vivências e perso-nagens que nos ajudassem a conhecer melhor o que foi, é,e poderá ser, a história desta terra.Este livro que agora temos nas nossas mãos, é fruto do tra-balho incansável de alguém que à custa do esforço próprio,se tem feito um estudioso e defensor do património culturale histórico deste Concelho: o Dr. José António Pereira.Agradeço-lhe vivamente, que tenha dedicado o seu estudoao aprofundar a história desta Paróquia e seu templo.Agradecemos-lhe igualmente, em nome desta comunidade,que lhe tenha oferecido a edição desta obra, contribuindoassim, com este benemérito gesto, para as obras de recu-peração que temos vindo a realizar na nossa Igreja Matriz.Cónego João de Sousa CanilhoPrior de AzambujaAzambuja, Junho de 2001

Terra VelhinhaBatuja – O Ardina de AzambujaFoto de Sebastião Arenque e Paulo Peres por Miguel Ouro, 6/12/14Segundo Miguel Ouro “Relembramos o Ardina Fernando Batuja na foto mais antiga, na segunda a recriaçãodos animadores do MOA com o amigo actor João Coelho que é o nosso ardina.No início dos anos 50 o Fernando Batuja ia à estação buscar a remessa de jornais encomendados que vi-nham no trama de Lisboa para distribuir ao cliente certo, porta a porta, o jornal da capital para os ávidosleitores da terra velhinha. E os leitores eram em primeira instância as gentes um pouco mais abastadas,comerciantes, mangas-de-alpaca, alguns lavradores e um ou outro alfabetizado que naquele dia dava azoa soltar 1 tostão. Apesar de muitas vezes os jornais já estarem vendidos, o Batuja incumbia-se na mesmade apregoar a venda do jornal, pois era com satisfação que realizava a sua tarefa, levada tão a rigor que olevava a ser considerado um ardina ao nível dos melhores da grande capital.A Festa do lançamento da 4ª revista no Atrium Azambuja esteve bonita com a presença do Batuja, as ree-dições voaram outra vez e a edição da 4ª revista de 125 exemplares esgotou em 2 dias. No balanço dacampanha "Ajude-nos a Ajudar" da revista Terra Velhinha uma parceria Terra Velhinha, Junta de Freguesiade Azambuja e ZDT com o patrocínio Atrium-Construaza, entregámos o cheque no valor de 1254 euros àCerci Flor da Vida, cantámos-lhe os parabéns pelo 33º aniversário, entregámos 2 fotos lembranças a doismembros do grupo Terra Velhinha, ao primeiro publicador António Pereira, e ao último doador de espóliofotográfico do momento, o César Fernando "Camarista". Tivemos Fado com a Maria do Céu Corça, Luís Grá-cio e Pedro Barrocas, e apareceu-nos o ardina Fernando Batuja a vender a revista e os jornais.E naquela manhã de 1952…ainda o sol espreitava timidamente mas com vontade de mais tarde se espe-lhar nas águas do Esteiro, já o Batuja vinha rua acima com os seus pregões a servir de despertador de al-guns rapazolas atrasados para a jorna do campo.“Olhó Século, olha Bola, Olho Benfica é pró carola. Olha o Diário, olha a República, olha a Bolaaa…”

Festejo do Triunfo de Carlos Pimentel em VF Xira 1972Foto de José Maria Matos e publicação por Cátia Matos, 8/12/14 Segundo Ana Monteiro “É verdade uma Mãe querida...foi sempre muito querida para mim...gostava mui-to dela.”Segundo Madalena Matos “Que saudades Alexandre, duas mulheres de garra...”Segundo Mafalda Maia “Lembro-me tão bem.”Segundo Manuel Jesus Correia “A tua mãe tinha sempre uma palavra amiga e um bom conselho, paz àsua alma.”Segundo Rosário Pereira “Dormi muito na casa dela quando o marido morreu ensinou-me a rezar e mui-tas outras coisas. Tenho saudades dela, a Emília era uma querida vizinha e a Ti Domingas e as irmãs -nunca vou esquecê-las e outras que estão no meu coração”Segundo Inês Grazina “Vovó Emília.”Segundo José Luís Salema “Não tenho palavras amigo.”

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