Transcript

Complica90es docateterismo de veiaumbilical emrecem-nascidos com cotoumbilical mumificado

Os auto res realizaram uma avaliayao critica e retrospectiva das complicay6es com acateterizayiio de veia umbilical para ex-sanguineo transfusao em recem-nascidos com cotomumitieado no periodo de janeiro de 1983 a dezembro de 1992 no Hospital das Clinicas daFaculdade de Medicina de Ribeirao Preto - USP. Estudaram 40 casos de recem-natos, no periodo.assimilado; submetidos it cateterizayiio de veia umbilical para ex-sanguineo transfusiio.Mantiveram-se os cateteres endovenosos, durante 0 procedimento de troea, em media 4 horasem 82,5% dos casos, administrando-se por meio deles somente sangue e seus derivados. Analisou-se c1inicamente 0 indice de complicay6es preeoses (infeeyoes, tromboses) e tardias (herniaineisional e hipertensao portal) em 23 recem-nascidos sobreviventes.Revisaram-se as necropsiasde 15 das 17 crianyas falecidas (todos falecidos em virtude da doenya de base e nao ligados aoprocedimento) quanta it trombose da veia porta ou outra complicayao ligada ao cateterismo.Contrariamente ao relato pela Iiteratura, nao foi observado nenhum caso de hernia incisionalou sinais de hipertensao portal nas crianyas sobreviventes e nenhum caso de trombose de veiaporta nas autopsias dos recem-natos falecidos. Concluem que 0 cateterismo de veia umbilical

. pra 0 fun exclusivo de ex-sanguineo transfusiio e um procedimento simples, segura e praticamenteisento de complicay6es.

Acateterizayao de veia umbilicalem recem-nascidos e urn

rocedimento nipido e lItilpara a realizayao de ex-sanguineotransfusiio, medidas de pressao venosacentral e aces so venoso como ultimorecurs07.11.22Este procedimento pode serdividido em dois tipos: simples catete-rizayao de veia do cordao umbilical edissecyao e cateterizayiio de veia emcoto umbilicalja mumificado.

Independente do tipo de catete-rizayao, ha relatos na literatura de que taltecnica pode ser acompanhada decomplicayoes precoces (flebi tes, infe-cyoes locais e sistemicas) e tardias(hernia incisional e hipertensiio portal)?

Objetivou-se, neste trabalho, realizara avaliayao clinica e retrospectiva,quanta it s complicayoes precoces etardias de 40 recem-nascidos submetidosit cateterizayao de \'eia umbilical para ex-

sanguineo transfusao do Hospital dasClinicas da Faculdade de Medicina deRibeirao Preto - Universidade de SaoPaulo (HCFMRP-USP) no periodo dejaneiro de 1983 a dezembro de 1992.

Realizou-se um levantamento deprontuarios do arquivo do Hospital dasCllnicas da Faculdade de Medicina deRibeirao Preto - Universidade de SaoPaulo de 40 recem-nascidos que sesubmeteram a ex-sanguineo transtusaoatraves da dissecyao e cateterizayao daveia umbilical, em coto mumiticado, noperiodo de 10 anos (de janeiro de 1983 itdezembro de 1992).

As indicayoes de ex-sanguineotransfusao toram: hiperbilirrubinemia e'm23 casos, septicemia em 11, doenyahemolitica do recem-nascido por incom-

Eduardo Prado LaicineMonitor do Disciplina de CirurgiaVascular Periferica

Renato Massaru ItoMonitor do Disciplina de CirurgiaVascular Periferica

Jesualdo CherriProfessor Doutor do Disciplina deCirurgia Vascular Periferica

Takachi MoriyaProfessor Doutor do Disciplino deCirurgia Vascular Periferico

Carlos Eli PiccinatoProfessor Associado e Chefe doDisc/plina de Cirurgia VascularPeriferica

Trabalho realizado na Disciplina deCirurgia Vascular Periferica doDepartamento de Cirurgia. Ortopediae Traumatologia do Hospital dasClfnicas da Faculdade de Medicina deRibeirao Preto - Universidade de SaoPaulo.

patibilidade ABO em 2, intoxicayaomedicamentosa em 2, doenya hemoliticado recem-nascido por incompatibilidadeRh em 1 casu e poliglobulia em 1.

Indicayoes NUmerodecasos

Hiperbilirrublnemla 23

Septicemia 11

Intoxlcac;:aomedlcamentosa 2

DHRNABO' 2

DHRNRh" 1

PoligobJlia 1

TOTAL 40

Tabela 1Indicac;:oes de ex-sanguineo transfusao emrecem-nascldos (RN)• DHRNABO: Doenca hemolitlca do recem-nascldo por incompaflbllldade ABO• DHRNRh:Doenc;:ahemolitlca do recem-nascldo por Incompatlblildade Rh

Noverita e quatro por cento doscateterismos foram realizados em media,nos primeiros 15 dias de vida, sendo 0mais tardio com 56 dias.

A tecnica utilizada para cateterizayaoda veia umbilical foi a descrita porSanchezl6 Utilizaram cateteres tipooxigenio de calibres nO6 e nO8. 0 tempode manutenyao dos cateteres no recem-nato variou de 20 minutos a 11 dias, sendoque em 82,5% dos casos, 0 periodo mediode permanencia foi de 4 horas.

Foram administrados, por meio docateter, somente sangue e seus derivados,mantendo-se a perviedade do mesmo, nosinterva10s de troca sanguinea, comsoluyoes glicosadas it 5%, gota a gota1entamente.

Dos 40 recem-nascidos submetidos aoprocedimento, 17 fa1eceram no periodo.A maioria dos recem-nascidos foramsubmetidos a urn so procedimento, sendoque em 13 crianyas rea1izaram-se mais deuma ex-sanguineo transfusao. Quinze das17 crianyas que faleceram foram subme-tidas it necropsias. A analise dosrela~orios das autopsias dos recem-nas¢idos nao caracterizou nenhum casode trombose de veia porta ou outracomplicayao ligado ao procedimento qucpudesse ter contribuido para a morte dorecem-nascido.

Vinte e tres crianyas evoluiram bemapos a ex-sanguineo transfusao ereceberam alta hospitalar em boascondiyoes.

Em junho de 1994 as 23 crianyassobreviventes foram convocadas atravesde cartas, para comparecer ao ambulato-rio da Disciplina de Cirurgia Vascularpara reavaliayao clinica.

As complicayoes imediatas (da tecni-ca de dissecyaO e da cateterizayao) e amedio prazo (infecyoes e tromboses)eram anotados nos protocolos de ex-sanguineo transfusao durante a fase deinternayao. As complicayoes tardiasforam pesquisadas reavaliayao ambula-toria1, sendo a hipertensao portal investi-gada clinicamente pela presenya decirculayao colateral na parede abdominale varizes esofitgicas (caracterizadas pormelena e hematemese, ascite, hepato eesplenomegalia). A hemia incisional foipesquisada pelo exame clinico da regiaoumbilical da crianya.

A analise dos 40 prontuario naorevelou nenhuma anotayao referente as

complicayoes imediatas e amedio prazo nos protocolos deex-sanguineo transfusao.

Das 23 crianyas que rece-beram alta dez compareceram aoambulatorio da Disciplina deCirurgia Vascular para reava-liay1io clinica. enhuma delasapresentou sinais que caracte-rizassem complicayoes tardias(hernia incisional ouhipertensao portal) numperiodo medio de 3 anos aposcateterismo umbilical.

As outras 13 crianyas quenao compareceram ao ambu-latorio toram seguidas no ambu-latorio de Pediatria par um perio-do medio de 3 meses apos arealizayao do procedimento.Estas crianyas evoluiram bem ereceberam alta do ambulatorioem boas condiyoes.

Os re1atorios das necropsias

N' Reglslro Causa Mortis

1 0113831-G Broncopneumonla confluenle

2 0118533-G Hldrancefalla loxoplasm6llca

3 0135808-G Eslado loxlco Infeccloso

4 o147470-G Anoxia neonatal

5 o 162657-K Anoxia neonatal

6 0178359-G Membrana Hlallna

7 0174094-J Broncopneumonla

8 o188325-C Meningtte baclerlana

9 0193061-0 Anoxia neonatal

10 0201457-J nCio aufopsiado

11 0213991-K Anoxia neonatal

12 022529o-B Seplicerna

13 0226532-A Pneumonia bilateral

14 0241268·K Anoxia neonatal

15 0247534-0 Anoxia neonatal

16 0254227·C nCio aufopslado

0268491-1 Sindrome hemorrtlca

Tabela 2Causa morlls de 17 recem-nalos falecldos (dados danecropsla)

dc 15 dos 17 recem-natos falecidos naocaracterizou nenhum caso de trombosede veia porta ou outra complicayaoligada ao cateterismo venoso. Ascrianyas faleceram em virtude de suadoenya de base (tabela 2).

A cateterizayao de veia umbilical norecem-nascido e um procedimentopadrao para n\pido acesso venoso parase promover a ex-sanguineo transfusao,a medida de pressao venosa central e 0

acesso vascular como ultimorecurs07.11.22

Diamond4 em 1947 e Kittem1an e coPem 1970 foram os primeiros autores arelatar 0 usa da cateterizayao de vasosumbil icais e referiram como praticacomum.

Apesar de ser um procedimentolargamente utilizado Kitttem1an e coP em1970 ja chamava a atenyao para aspossiveis complicayoes do cateterismovenoso. Assim, a trombose da veia portapdo cateterismo venoso varia de 3 ate33%5.2\ segundo dados de autopsias eseguimento de cnanyas sobreviventes.Nestas ultimas, a trombose da veia portacaracteriza -se pelas suas manifestayoessecundilrias associadas 1'.21,2,.Cateteresmantidos nos vasos umbilicais podemconduzir a embolia de cm\gulos fonnadosou da inieyao de ar7,10 Outras complica-yoes vasculares tambem foram descritas:vasoespasm07

, perfurayao vascular24,lesao vascular por usa de soluyoeshipertonicas5.19 e hemorragia7 Variosautores tem relatado perfurayao deintestino grosso apos ex-sanguineotransfusa 02.',6,12

A maior parte destas complicayoesforam descritas em autopsiasI9,22.25Segundo Seguin e col (1994)20 estascomplicayoes se devem it posiyao daextremidade do cateter abaixo da veiacava interior ou pe1a infusao de soluyoeshiperosmolares frequentemente descri-tas nas historias clinicas precedendo asmortes das crianyas. Outras complica-yoes clinicas foram publicadas, incluindoabcesso hepatico17, cisto intra-hepatic09,

ca1citicayao de veia portalS, obstruyao deveia cava superior com quilo-toraxbilateraP, ascite e derrame pericardicol5.

A ausencia de complicayoes por nosencontrado nestes 40 pacientes (atravesde relatos de necr6psia e nos seguimentosambulatoriais pelo periodo de tempo jareferido) provavelmente, esta ligado aofato do procedimento ser utilizado com 0

unico objetivo de se promover a ex-sanguineo trans(usao. As outras possiveisindicayoes do cateterismo de veia umbilicalnao tern sido utilizado no Hospital das

COMPLICATIONS OF UMBILICALVEIN CATHETERIZATION INNEWBORN INFANTS WITHMUMMIFIED UMBILICAL CORDS

The authors have analyzed thecomplications of umbilical veincatheterization for exchangetransfusion in 40 newborn infants withmummified umbilical cords. FromJanuary 1983 to December 1992, 40newborn infants were subjected to the

Clinic as de Ribeirao Preto. Alem disso 0

tempo de permanencia do catetef na veiaumbilical roi de 4 horas na maioria doscasos. Administrou-se somente sangue ederivados por meio do cateter, 'mantendo-se a perviedade do mesmo com soluyaoglicosada 5%.

Concordamos com a recomendayao dosautores que utilizam 0 cateterismo de veiaumbilical somente quando ele eabsolutamente necessario; 0 cateter deveser mantido "in situ" 0 minimo possivel eremovido prontamente uma vez

procedure, in the Hospital das Clfnicasda Faculdade de Medicina de RibeiraoPreto - USP.The umbilical vein catheterswere kept in place from 20 minutes to11 days (mean time of 4 hours) in 82,5%of the cases, and it was used exclusivelyfor transfusion of blood and bloodproducts. Seventeen infants died, but nodeath was related to the procedure. Atthe autopsies of 15 of these infants, nosigns of portal vein thrombosis wer5lfound. The 23 survivors had no clinical

completado a terapial,15.Alguns autores 1'1 sugerem vigiHincia

constante, quando se usa 0 acesso vascularpor meio da veia umbilical, com base naradiografia de torax ecocardiografia eecografia abdominal em recem-natoscateterizados que apresentam agravamentoagudo do estado gera!.

Em conclusao 0 cateterismo da veiaumbilical para 0 fim exclusivo de ex-sanguineo lransfusiio e urn procedimentosimples, segura e praticamente isento decomplicayoes.

signs of early (infection, thrombosis)or late complications (umbilicalhernia or portal hypertension). Theauthors conclude that umbilical veincatheterization of mummifiedumbilical cords for exchangetransfusion is a simple, safe andcomplication-free procedure.

Key words: umbilical vein, portalvein, venous catheterization,umbilical hernia.

1. CAPP MP, STAUTMAN PR: Imageinterpretation session. Neonatalbilateral chylothoraces secondary toobstrution of the superior vena cava(as a complication of inadvertentplacement of an umbilical veincatheter). Radiographics, 10: 152-156,1990.

2. CASTOR WR: Spontaneusperforation of the bowel in thenewborn following exchangetransfusion. Canad Med Ass J, 99:934-939,1968.

3 CORKERY JJ, DUBOWITZ V,LISTER .T, MOOSA A: Colonicperforation after exchangetransfusion. Brit Med J, 4: 345-349,1968.

4. DIAMOND LK Erythroblastosisfoetalis or haemolytic disease of thenewborn. Proc. Roy Soc Med, 40:546-550,1947.

5. ERKAN V, BLANKENSHIP W,STAHLMAN MT: The complicationsof chronic umbilical vesselcatheterization (abstract). Pediat Res;2 317,1968.

6. FRIDMAN AB, AEBELLERA RM,LIDSKY, LUBERT M: Perforation ofthe colon after exchange transfusioninnewbom. PediatRes 2: 317, 1968.

7. KITTERMAN JA, PHIBBS RH,TOOLEY WH: Catheterization ofumbilical vessels in newborn infants.Pediatr Clin North Am; 17: 895-912,1970.

8. LEVKOFF AH, MACPHERSON Rl:Intrahepatic encystment of umbilical

vein catheter infusate. Pediatr Radiol20360-361,1990.

9. MINTZ AA, VALLBONA C: Ahazard of exchange transfusion innewborn infants: negative pressurein the umbilical vein. Pediatrics, 26:661-666,1960.

10. MORlYA T, CHERRl J, PICCINATOCE, JORGE SM, GON<;::ALVESAL:Dissecyao e cateterizayao da veiaumbilical em recem-nascidos ap6smumificayao e queda do cotoumbilical. JPed45 392-"9-1,1978.

11. ORME RL, EADES SM: Perforationof the bowel in the ne\\-born as acomplic'ation of ex hangetransfusion. Brit Med J, -I: 3-19-351,1968.

12. OSKI FA, ALLEN DM, DIAMOl\l)LK: Portal hypertension - acomplication of umbilical \-emcatheterization. Pediatrics, 31: 297-302,1963.

13. REHAN V, SESHIA MMComplications of umbilical yeincatheter. Eur J Pediatr, 153: 1-11,199-1.

14. REJJAL AR, GALAL MO, AZERHM, KARIM AA, OSBA YA:

15. SANCHEZ FR: A ne\\ approach tocatheterization of the umbilical yeinfor exchange transfusion. Pediatrics,25: 485-489,1960.

16. SANTERNE B, MORVILLE P,TOUCHE D, CYMBALI TA _ ,EGRETEAU L Diagnosti ettraitement d'une abcedationhepatique neo-natale multifocale parI'ecographie. Presse Med 16: L-I-I

1987.17. SCHNEIDER:K, HARTLM, FENDEL

H: Umbilical and portal veincalcification following umbilical veincatheterization. Pediatr Radiol 19:468-470, 1989.

18. SCOTT .TM Iatrogenic lesions inbabies following umbilical veincatheterization. Arch Dis Child 40426-429,1965.

19. SEGUIN .T, FLETCHER MA,LAUDERS S, BROWN D,MACPHERSON T: Umbilical venouscatheterizations: audit by the studygroup for complications of perinatalcare. Am.TPerinatolll: 67-70, 1994.

_0. SHALDON S, SHERLOCK S:Obstruction to the extrahepaticportal system in childhood. Lancet,1:6'-6 ,1962.

_I. Y Ai SKY MR, FOX HAUmbilical vessel catheterization:Indi ations, management, andeyaluation of the technique . .TPediatr 0: 20-826, 1972.

_. TIZARD JP: Portal hypertensionfollo\ying exchange transfusionthrough the umbilical vein. ProcRoy oc Med, 55: 772, 1962.

_~. Ai LEEUWEN G, PATNEY MComplications of umbilical vesselatheterization: peritoneal perfo-

ration. Pediatrics 44: 1028-1030,1969.

_-I. WIGGER HJ, BRANSILVER BR,BLA C WA: Thrombosis due tocatheterization in infants andchildren J Pediat 76: I-II, 1970