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APONTAMENTOS SOBRE O
SIGNIFICADO BÍBLICO DO TERMO
I G R E J A
SUMÁRIO:
Introdução ao Assunto
O significado do termo ek-klesia:
1. - no grego clássico;
2. - na Septuaginta;
3. - nos evangelhos Sinóticos:
3.1. - em Mateus (especialmente cap. 18);
3.2. - na missão dos 12 e/ou 70 (Mateus e Lucas);
3.3. - em Atos dos Apóstolos;
4. - em Paulo;
5. - nos escritos joaninos;
6. - nas cartas pastorais;
7. - em I Pedro;
8. - Considerações finais.
Neste final de milênio e início de um novo tempo
histórico muiþR‰Þ°`4¼ç4ÐÁâã²~¯\;Ocºmæm³é¶|
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Deste parágrafo acima se destaque que o termo IGREJA é
oriundo da língua grega, sendo uma transliteração 4 para o
latim e deste para o português. O termo em si não tem origem
religiosa, mesmo na língua grega. No mundo helênico (de
cultura grega) designava as assembléias públicas,
regularmente convocadas, quer de um grupo, quer de todos os
cidadãos 5. Em Atos dos Apóstolos temos um exemplo em 19.24-
40, onde é convocada 6 uma assembléia dos cidadãos de Éfeso.
Para convocações religiosas os gregos utilizavam-se de
outros termos, que não ek-klesia. Entretanto, a Bíblia não se
utiliza (quer na Septuaginta, quer no Novo Testamento - NT)
de nenhum destes termos para designar o que chama de IGREJA.
Não é no mundo grego que o termo Igreja, como hoje o
conhecemos, tem origem, mas na antiga tradição judaica (e,
por isso, mormente, na Septuaginta - versão grega do Antigo
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6Çãíþkÿÿköoúõ®-
Testamento (AT) feita em Alexandria na época da hegemonia
grega).
1.2. - na Septuaginta
Na versão grega do AT o termo tem o mesmo sentido
genérico de convocação, como em terreno helênico, mas com um
novo significado de ênfase religiosa, pelo fato de que esta
tal ek-klesia é convocada por Deus. O AT designa por
"convocação (igreja) de Deus" o ajuntamento daquele povo que
Deus chamou (elegeu) para Si. Ek-klesia é o povo eleito,
chamado e convocado por Deus. Disto já se nota que para o AT
a Ek-klesia é constituída por Deus, por vocação divina e por
destinação d'Ele mesmo.
No AT a designação "a igreja de Deus" (e seus
equivalentes - "a igreja de Israel", p. ex.) é o modo de
designar-se o povo eleito por Deus, ou melhor, o povo eleito
por Deus e que é o portador da Aliança. Este povo como
"portador" da Aliança é o povo chamado por Deus para ser
instrumento Seu na história dos homens, realizando na mesma a
História da Salvação. Vejamos melhor este conceito.
Deus fez uma Aliança com um povo que chamou para Si. Este
povo foi Israel, e a Aliança foi estabelecida com Ele no
Sinai 7. Na Teologia do AT este povo foi escolhido, em meio
de muitos, ôòcm÷éûís.oîn÷çkýo²ïiõÿ«Þomý� � � 8ÿ=×í¿kÿ÷ýífõÿoïnþ÷ÿ-
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ver dos profetas a gravidade e abrangência do pecado
determinou um juízo divino ainda maior. Este é o testemunho
da ira de Deus, o lado de juízo implícito na Aliança sobre o
todo 11. Este "resto" ou "sobra" do povo é o testemunho da
condenação da maioria que pereceu 12.
Para os profetas, entretanto, o "remanescente" não é
somente obra da ira justa de Deus, mas clara e notória
manifestação de sua graça imerecida. Não é por causa de
Israel, nem por causa da bondade e fidelidade dos que
permanecem, mas da graça de Deus: é ato miraculoso que
encontra sua explicação exclusivamente no amor gracioso de
Deus. Veja, Israel não é uma constituição de indivíduos, mas
um povo visto como tal 13. Se Deus preserva um remanescente em
meio ao caos e a catástrofe, instrumentos de Seu juízo, por
meio dela preserva a humanidade, a Sua criação. Por isso Is.
1.9 afirmará que o "remanescente" é criação de Deus, obra ou
trabalho de Deus: "Se o Senhor Deus não nos tivesse deixado
alguns sobreviventes já nos teríamos tornado como Sodoma", ou
seja, haveríamos sumido da face do planeta. Assim, um
"remanescente" deixado por Deus fala de Seu juízo mas,
10µÿàsþîôéw¿-ñû~ùâoiåo«õþÿÿï%åï`ûuwûí1óûmuó}ýávûmoôªwîuo%ûõã{óö}ïw÷®ýöúïï� � � � � ~ÿÿ�11 ‡¼ï»wnòÿ}?¹{ÿµ¿� =«ãÿýÿão#øoÿôoóõïíöwû¨nsbúïk}ñåo4ýgëoêáùäwuû,worÿãw,8ÿwåovüunåoo|ôu(úoll(}� � �� � � w
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principalmente, de Sua graça e fidelidade à Aliança que
estabeleceu com Israel 14. A esta graça chama Isaías e
Jeremias de redenção: Deus redime a Israel.
Mas os profetas, por causa deste novo conceito,
introduzido em Israel após o exílio (leitura deuteronomista)
integram à Teologia do AT um outro conceito "Nova Aliança".
Toda a esperança messiânica exílica e principalmente pós-
exílica alimentar-se-á destes dois importantes conceitos:
resto e nova Aliança. Não é o caso de estudar-se aqui o
desenvolvimento do messianismo em Israel (alguma coisa do
messianismo veterotestamentário deve ter sido mencionado pelo
Prof. Rev. João Leonel). Basta-nos destacar que o messianismo
é essencialmente profético e dos profetas do final do exílio
e dos pós-exílicos. São eles que destacarão que o libertador15
de Israel fará uma nova aliança. Note-se: Israel não cumpre a
Aliança; Deus julga Israel com Sua ira; o instùýµíïñ3¦·Ù|
ë~Ö°g¤êûâ÷ùCösóÉ]N÷o·_¿ÕéøöÞÏ×üuâ7̤/É~¿uî|imʼþå…vçËþooÿí÷
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FýÛ{{ûç¾ýýóß þ Assim, o Messias Libertador, com base neste�
remanescente, congregará à Sua volta todos aqueles que Deus
chamar (verbo grego , kaléo - chamar) por seu
intermédio, estendendo a Sua salvação a todo povo, língua
raça e nação, estendendo-se em número e abrangência o
conceito de "povo eleito" ou "igreja".
Um crítica satírica desta infidelidade de Israel e deste
modo equivocado do mesmo entender a sua missão como
"congregação - ek-klesia - de Deus" encontra-se no Profeta
Jonas. Jonas é tipo de Israel: chamado por Deus para anunciar
a Sua justiça às nações, ele foge da presença de Deus e
deseja a morte à conversão dos pagãos. Destarte é função
primordial deste "resto" congregado pelo Messias Libertador
manifestar esta graça divina para todos (pois ele, o
remanescente, é fruto da ação graciosa de Deus). Ele é como
um servo escolhido por Deus para, em meio ao sofrimento a que
está submetido, permanecer entre todos para mostrar que Deus
preserva por graça 17.
Este remanescente que formará o novo povo de Deus, à
volta do Messias Libertador é, também, um mistério
fundamentado na livre e graciosa eleição divina. Isso faz do
remanescente, nas esperança messiânicas do profetismo, o
"povo do futuro". Este povo não tem saudades do passado, mas
do futuro (por incrível que possa parecer a expressão), visto
ser um povo que se direciona ao futuro. Liga-se ao passado
somente por causa da promessa, mas como a mesma destina-se
não ao presente, mas ao futuro, o remanescente é o povo do
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futuro e à ele se liga. Em outras palavras: este é o povo da
esperança! Ele vive na tensão entre a promessa e a sua
realização, daí ser um povo que se alimenta de esperança 18. O
povo do futuro, que alimenta-se das esperanças nas promessas,
é o "povo escatológico" que sonha em ser, não um punhado ou
um resto, mas "uma numerosa multidão": "serão renovos por Mim
plantados, obra das Minhas mãos, para que Eu seja sempre
glorificado. O mais pequeno virá a ser mil, e o mínimo uma
nação forte; Eu, o Senhor, a seu tempo farei isso
prontamente" 19.
Não há
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ÿ}wîûïøÿímoüíibÿÿsûloï¨ecsöuóïde, mas o monopólio de Deus.� � � � � �
Isso faz da seita um fim em si mesma, pois não é ele
instrumento transmissor da graça e do amor divino, mas
proprietária dos bens divinos e do próprio deus 21. Isso faz
da seita um fim em si e um modo de autopreservação.
Não é sem razão que todas as seitas, ao substituírem a
História pela Idéia, destacam-se de modo orgulhoso, egoísta e
completamente apartada do sentido de amor fraterno. Elas
odeiam os demais, preferem a sua perdição, visto que tal fato
as destaca. Este é o motivo da rejeição de Israel como povo
21 - a letra minúscula é proposital.
escolhido, permanecendo somente em Jesus de Nazaré, o único
remanescente fiel daquele sentido de povo escolhido por Deus
para manifestar a Sua glória, a Sua graça e o Seu poder
salvador no mundo.
Israel esqueceu-se, ou perdeu-se de si mesmo, quando
julgou ser o proprietário de Deus. Perdeu-se de sua missão e
dos objetivos para o qual foi escolhido dentre todas as
nações. Assim, para Israel, os povos tornarem-se para a Torá
significava o mesmo que submeter-se a Israel, os
proprietários da Torá. Deus salvar e redimir a Israel
significava oprimir e submeter os povos à sua volta. Esta é a
total eversão do sentido de ser povo escolhido, ek-klesia de
Deus, que está claramente colocado não somente em Jonas, mas
nos essênios e nos fariseus dos tempos de Jesus. Este é um
conceito antropocêntrico de criar-se ou delimitar-se o
"remanescente".
Note-se, por exemplo (mas não discutiremos aqui e nem nas
possíveis perguntas feitas os conceitos do grupo, mas só nos
referiremos aos mesmos com exemplo) os 144 mil do Apocalipse
e a interpretação dos Testemunhas de Jeová: eles são os 144
mil, o número exato daqueles que são os fiéis, que são os
remanescentes. Tal apropriação que delimita de modo
"instantâneo" do remanescente é característico das seitas.
Veja-se, por exemplo 22 os fundamentalistas: eles são os donos
da verdade e da tradição bíblica e teológica reformada, todos
os demais são infiéis, hereges e inimigos de deus 23 e que
devem ser extirpados da igreja "verdadeira". A missão de
ambos osëórõãl{ºòñÇáR?Õ÷Ó,ù+ãemÏùÿÚm_ø[õf©çÞ{æîG¸o
22 - mas não discutiremos aqui e nem nas possíveis perguntas feitas os conceitos do grupo, mas só nos referiremos aos mesmos com exemplo.
23 - a letra minúscula é proposital.
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ýºûywM÷n[Qåéi÷Ũÿ
~ ÿ¿uÊÿplë‹÷ÍŒízf{۟³1-ùä265Jâendo sempre nos lábios de
Jesus ao referir-se a Si mesmo. Ela não destaca somente que
Jesus é "humano" ou, ainda, "salvador" da humanidade, mas
também "o enviado celeste", "aquele que vem para julgar" 27.
Este é o termo messiânico menos comprometido com o
nacionalismo dos judeus. Este termo designa o "Homem
Escatológico", a figura aguardada para o fim dos tempos e que
seria o "novo Adão", ou a "nova Humanidade". Dele nasceria,
segundo as esperança pós-exílicas e especialmente as do
período intertestamentário, o "remanescente", o povo do
futuro. Ele inauguraria o "novo tempo" pois seria não somente
um "novo Homem", mas um "juiz celeste" a separar as coisas
por meio do seu juízo 28.
Ao aplicar este conceito sobre Si, Jesus entende que
veio, como Filho do Homem, separar os que Lhe pertencem,
julgando entre "ovelhas e bodes". Por isso sempre afirmou que
veio procurar e agrupar em torno de Si o povo de Deus (o 25 ? - RICHARDSON, A. - Introdução À Teologia do Novo Testamento - trad. Jaci Correia Maraschin,
ed. ASTE, São Paulo, 1966, 389p.26 ? - nos demais textos no NT aparece mais 4 vezes, sendo 3 em Atos, que é de autoria de lucana.27 - cf., Dn. 7.13-14.28 - cf., Is. 11.1-16.
"novo" povo). Ele entende-se, pois, como o reconstituidor do
povo de Deus, não mais na perspectiva do Israel perecível,
mas na perspectiva do Reino de Deus que faz-se presente em
Sua pessoa 29. Ainda que tenha dado Sua atenção às grandes
multidões, Jesus dedicou-se a um pequeno grupo a quem chamou
de "discípulos" e, neste grupo menor aos chamado "grupo dos
12", ou "os doze apóstolos" que são o grupo central dos
discípulos. A estes discípulos, tendo por centro os doze,
Jesus chamou de "família" 30. Entendeu este grupo que procurou
e chamou para si como "pequeno rebanho" a quem o Pai se
alegrou em dar o Seu Reino 31.
Não é significativo que Jesus tenha se dedicado a um
pequeno grupo, tenha evitado as multidões (embora não fugisse
delas), chegando a criticar os grandes grupos (cheios de
interesses, como no caso do Pão 32) e a unanimidade das massas 33? E, de igual modo, não é interessante que julgamos o valor
de um grupo, sua piedade, seu "fervor" religioso, sua fé,
muitas vezes, pelo número de pessoas que para lá acorrem? Não
faz-se isso quando exigimina-se estatísticas, não como modo
de sabermos quem somos e quantos
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þÿwõûc÷òká7gûém}e~}åuïýôokýtïmgqÿûlóïîoï~oï÷-� � � � �29 - cf., Mc. 1.15.30 - cf., Mc. 3.33-35 e pares.31 - cf., Lc. 12.32; Mt. 26.31; comparando com Jo. 10.1-18.32 - cf., Jo. 6.33 - cf., Mt. 5.10-11 e Lc. 6.26
öå÷ñï{ûunÿwÿömjqïþuwýûïýÿÿõïpygùîtïÿk{wïÿßoÜëzõjeuÿûgîóöxoÿøÿ�
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34? - cf., Mc. 13.12; 14.58.
ÿqoÿ¥ubwþùíïÿzg� õuwsïsçå¸åæoïkwrª}ýù Igreja - prédio), a�
Igreja passa a ser proprietária neste mundo e, com isso, a
ter interesses nesse mundo (note-se que os grande problemas e
"brigas" nas igrejas atuais são por causa de administração
patrimonial - onde existe patrimônio existe interesses
semelhantes aos deste mundo, cuja mola mestra é o dinheiro e
seu lucro). Mas... voltemos ao tema.
Sabe-se que é da teologia do NT que Jesus consuma a Sua
obra neste mundo por meio de Sua morte e ressurreição. Tal
fato é por Ele mesmo anunciado. A Instituição da Eucaristia
deste anúncio, quando disse de Sua morte expiatória como meio
de criação da "Nova Aliança, feita no Meu sangue". Esta
Aliança supera a Antiga (a sinaítica). Cabendo aos discípulos
serem os "anunciadores" desta "Nova Aliança", não mais
restrita à uma nacionalidade (judeus) mas extensiva ao mundo
inteiro 35. O objetivo de Sua obra é formar o povo da nova
Aliança, congregando `a Sua volta a nova comunidade dos
fiéis que tem por missão histórica estender a graça de Deus,
revelada em Cristo, por todo o mundo.
Assim: a obra de Jesus, Suas palavras, Seus gestos, a
reunião dos discípulos à Sua volta, Sua morte e ressurreição,
a instituição da Santíssima Ceia, a missão confiada por Ele
aos seus fiéis discípulos revela que a idéia de uma ek-klesia
(Igreja) está no centro dos interesses de Jesus Cristo, ainda
que utilize-se das tradicionais imagens veterotestamentárias
para assim falar, usando-se, muito pouco, do termo ek-klesia.
Visto ser ela o instrumento privilegiado de Deus para o Seu
Reino.
35 - cf., Mc. 13.10 e pares.
1.3.1. - em Mateus (especialmente cap. 16 e 18);
Com tal explicação introduz-se a questão de Jesus somente
por duas vezes nos evangelho ter-se utilizado deste termo ek-
klesia: Mt. 16.16-19 e Mt. 18.15-20, a primeira é chamada de
"A Confissão de Pedro", a segunda refere-se à questão da
congregação fraterna. Sobre a confissão de Pedro destaca-se
que Jesus é quem edifica a Igreja, que esta Lhe pertence, e
que, como tal, arrebentará as portas do inferno (resgatando
do mesmo os que nele estão cativos - "portas"
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36? - sobre este tema falaremos mais adiante: 2.3. - onde a disciplina é aplicada.
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wtîj¥+Ígøû¶µûnÇ´¼ïûA§suÞU¿yBgüˆoíʵýg� (que, por sua vez, dá
sentido à sua função ou trabalho e, com isso, à sua vida que,
neste caso, existe para fazer cumprir a vontade daquele que o
enviou levar a mensagem ao seu destino certo). Via de
conseqüência, deve, ainda, o enviado ser submisso ao sentido
de sua missão.
De outro lado, o modo como se recebe o enviado revela
amor, respeito, atenção, boa vontade e tudo mais o que se
revelar, não ao enviado em si (embora seja ele o objeto
direto destas atitudes e ações), mas àquele que o enviou.
Como se recebe o mensageiro e sua notícia, recebe-se, não ao
mensageiro, mais aquele que envia. Quando se dá ouvidos ao
enviado, escuta-se, não a este, mas aquele que o enviou, e
vice-versa: "... até hoje, enviei-vos todos os Meus servos,
os profetas, mas não Me destes ouvidos... esta é a nação que
não atende à voz do Senhor seu Deus..." 37.
Jesus, quando disse que "envia" os Seus discípulos,
designou que o faz como quem manda "ovelhas para o meio de
lobos", sem alforje (provisões de um viajante), sem dinheiro,
sem roupas para trocas, de dois em dois, destina-lhes uma
mensagem: proclamar o Reino de Deus. Assim como os enviou por
todo o mundo para proclamar o Evangelho entre todas as
nações.
37 - Jr. 7.25-28.
Antes de tudo deve-se corrigir um equívoco quanto à
missão dos enviados: a Igreja não tem uma missão (ir aos
povos, ou às nações, ou a um lugar determinado), a Igreja é
missão. Todos são chamados e enviados, e não somente alguns.
O mundo é o campo, e não somente determinados lugares
estabelecidos como tal. Ser enviado e estar na missão são uma
e a mesma coisa e, via de conseqüência, não existe ninguém
que não tenha sido enviado por Cristo ao mundo para cumprir a
missão. Repetimos: a Igreja não tem um missão (dentre
outras), mas Igreja é missão. Não existe uma adjetivação do
substantivo "missionária" para a Igreja, como se pudéssemos
dizer esta é uma Igreja "Missionária". Se a Igreja não for
missionária, não é Igreja.
Ele é composta de pessoas que reconhecem, cada qual a seu
modo, que foram chamadas () pelo Senhor e por Ele
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38? - cf., Mc. 16.15 e pares.
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Enviado de Deus, a Igreja. Quando esta perde de vista esta
perspectiva, perde-se de si mesma e transforma-se em uma
seita orgulhosa, repleta de ódios e sem a graça divina que
deve transmitir como instrumento.
Como fez Jesus, deve fazer a Igreja (Ele, enviado do Pai;
ela, enviada por Ele): congregar os que pertencem a Deus,
dispersos e sofridos em meio de um mundo "cão". Ela deve
buscar o que se perdeu. Abandonar as 99 ovelhas do aprisco e
buscar, fora dela, aqueles que desviaram-se do caminho. Por
isso, todos os que acolhem os enviados, acolhem Aquele que os
enviou. Por isso a Igreja é também "reunião" ("assembléia")
do povo de Deus. Deus quis, após a dispersão do exílio,
reunir os Seus dentre todas as nações. Para tal enviou Seu
Filho que, por Sua vez, enviou a Igreja. Assim, enviar e
reunir são dois lados de uma mesma moeda que é chamada no NT
de ek-klesia.
1.3.3. - em Atos dos Apóstolos
Encerrando esta visão dos sinóticos, incluímos a questão
da Igreja em Atos dos Apóstolos (que é de autoria do mesmo
que escreveu o terceiro Evangelho, ou Segundo São Lucas).
Assim, pensar neste ponto sobre a Igreja é pensar, também, no
conceito lucano de Igreja. Para tal, uma visão da obra lucana
oferece boas condições de entender-se o conceito.
São Lucas define, no Evangelho, em seu chamado "prólogo" 39 o objetivo de seu empenho literário: "esclarecer tudo o que
tem acontecido nos últimos dias". Sendo o Livro dos Atos dos
Apóstolos o segundo volume (ou a continuação) do Evangelho
Segundo São Lucas, pode-se afirmar que Lc. objetiva mostrar
que aquilo pelo que vem passando a Igreja (de seus dias -
Atos dos Apóstolos) está em continuidade com o que se deu com
Jesus (Evangelho).
São Lucas é o primeiro pensador cristão a procurar
esboçar uma "História da Salvação". Procura defini-la na
39 - Lc. 1.1-4.
idéia de "continuidade": a mesma obra iniciada por Jesus
prossegue na Igreja. Ela é a continuadora da "História da
Salvação". Ele mesmo é quem diz que procurou anotar tudo "em
ordem", em meio a vários documentos que consultou
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Ïåomßio¾¦°òosus promove a salvação no meio da perdição. Mas
isso gera sempre conflito. Assim, ao entrar a História da
Salvação no meio da História dos Homens (que é história da
perdição), superando as contradições desta história, tal
encarnação gera conflito, pois acaba esbarrando em interesses
daqueles que se locupletam das contradições e delas vivem: os
"donos deste mundo".
Jesus, para Lucas, veio libertar destas contradições
estes excluídos da História dos Homens, criando um novo povo,
dentro desta história que, agora, vivem uma outra história,
não mais de perdição, mas de salvação 41. Ver-se-á que esta
postura foi assumida literalmente pela Igreja de Jerusalém,
onde "não havia necessitados entre eles" 42.
Jesus, para Lucas, veio realizar tal proeza, cumprindo as
profecias veterotestamentárias, mormente por ter sobre Si o
Espírito Santo (ou de Deus). O mesmo Espírito que ungiu
Jesus, unge a Igreja para superar estas rupturas históricas
que geram perdição e se alimentam de contradições 43. esta
obra divina faz-se na força do Espírito, visto que não é algo
40 ? - cf. Lc. 6. 20-26; 7. 36-50; 8. 26-34; 8. 40-56; 9. 10-17; 9. 37-46; 10. 21-22; 10. 25-37; 11. 14-36; 12. 13-34; 13. 10-17; 14. 1-6; 16. 19-31; 18. 9-14; 18. 15-17; 18. 18-30; 18. 35-43; 19. 1-10; etc.
41 - cf. as esperança do "resto fiel", presente em Lc., nos relatos da infância, p. ex., Zacarias em Lc. 1.68-79 - que afirma que ele será "sinal de contradição' - e Maria em Lc. 1. 46-55 - que engrandece a Deus por inverter a situação histórica, intervindo em favor dos esquecidos da história.
42 - cf. At. 2. 42-47 e 4. 32-35.43 - cf. Lc. 4. 18-19 e 7. 22, com At. 2.
que nasce de fora, ou vem pela força, ou se faz por
imposição, mas é algo que nasce da ação do Espírito na vida
daqueles a quem Deus chamar. Ora, Jesus anuncia e realiza o
Evangelho, assim como a Igreja deve anunciar e realizar a
boa-nova que anuncia na força do Espírito.
O maior material do Evangelho de São Lucas está
concentrado nos chamados "Relatos de Viagem" para Jerusalém.
Na verdade Jesus, em Lucas, é descrito como um peregrino, um
caminhante, alguém que está na estrada descendo em direção à
Jerusalém, onde vai cumprir seu destino histórico. Mas é de
lá que, segundo Atos, parte a Igreja, para cumprir no mundo
(Judéia, Samaria e os confins da terra) seu destino histórico
objetivando o Reino de Deus. Como Jesus teve conflitos com as
elites religiosas e econômicas de seu tempo, na continuidade
da Igreja há, também, conflitos com as mesmas elites
(ourives, fazedores de imagens, donos de escravos
adivinhadores, chefes religiosos).
Destarte, em Atos, a Igreja é chamada
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{ÿovìg¶ïÿm¡eîëyþÿë:çûïówû¯üÿ Nazaré, crucificado pelos� �
judeus, Deus o ressuscitou e o fez Senhor.
44? - cf., tb., Lc. 3.8.45? - cf., At. 2.22-24, 29-36, cf. tb., Jo. 16.2.
Esta comunidade persevera no ensino apostólico, vive em
comunhão, participa da liturgia (orações) e reparte o pão 46,
sendo a Ceia o centro desta comunhão, desta diaconia e desta
liturgia 47. Para fazer parte dela há que crer em Cristo e ser
recebido pelo Batismo 48, sendo estendido este benefício a
todos os descendentes dos que crêem 49. Até que retorne o seu
Senhor, esta comunidade nutre-se desta esperança 50,
estendendo a todos o ministério apostólico 51, a diaconia 52,
estendendo a Palavra de Deus a toda criatura 53, bem como os
atos graciosos de Deus que são sinais de que Deus opera com
poder por meio desta nova comunidade 54.
Mas a continuidade que está estabelecida entre o
remanescente da antiga aliança, o caminho de Jesus e a Igreja
não se dá apenas nestes fatos positivos, mas nos negativos.
Como o remanescente fiel, tipificado nos profetas 55, e, como
Jesus, o Servo-Sofredor, a Igreja também será incompreendida,
perseguida e maltratada. Ela será constituída de mártires
(testemunhas). O martírio será conseqüência de sua ação,
visto que ao levar a Palavra de Deus aos povos, encontrará
interesses estabelecidos e que se lhe oporão de modo
violento. Como o "remanescente" é um resto que sobreviveu aos
"destroços", como Jesus foi "imolado" na cruz, a Igreja
também, guiada pelo mesmo Espírito que falou pelos profetas e
atuou por meio de Jesus, perseguirá e prosseguirá este mesmo
46 - cf., 2.42-47.47 - cf., 2.46.48 - cf., 2.38.49 - cf., 2.39.50 - cf., 3.20-22.51 - cf., 2.42-47.52 - cf., 4.32-35; 6.1-7.53 - cf., 6.7; 9.31; 10.44-48; 13.1-3.54 - cf., 3.6-10.55 - cf., 3.25.
caminho, amealhando oposição, incompreensão, calúnia e
violência das elites e dos poderes constituídos:
nobreza sacerdotal: 4.1-4, 5.17-42;
magistrados corruptos e subornados: 6.8-15, 7.52-60;
enganadores: 8.9-13, 13.4-12;
ricos gananciosos: 8.14-25;
lideranças políticas: 9.1-2;
reis: 12.1-8;
autoridades em conluio: 14.1-7;
exploradores de pessoas: 16.16-26;
a malandragem "contratada": 17.1-9;
intelectuais: 17.32-34;
comerciantes de superstições e ourives: 16.23-40;
militares e líderes: 21.27-40.
Poder-se-ia, ainda, continuar na lista, mas, seja aonde
for, o Evangelho sempre~+|
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56? - cf., 8.1.
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57? - cf., 1.8.58? - cf., At. 7.56; 8.1; 9.1-2; I Co. 15.9; Gl. 1.23; Fl. 3.6.59? - cf., At. 13.1-2.60? - cf., At. 9.26.
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Îêe×û{~ýlË}oô|¿ýóö׶±õ²dëÑúolo", Paulo sempre lutou, todo o� ��
tempo de seu ministério 62, para ser reconhecido como tal,
visto que seu apostolado não nasceu de homens, nem do
reconhecimento destes, mas por vontade de Deus 63. Seu
apostolado é diferente, não somente porque ele tenha chegado
à Igreja depois de sua fundação, mas porque tinha uma
destinação também um pouco diferente, visto ser seu "público
alvo" os gentios. Mas é justamente com o aparecimento do
Ressuscitado, extemporaneamente 64, a Paulo que se marca uma
mudança séria no caminho da Igreja: um definitivo rompimento
da Igreja com o judaísmo, que tornar-se-á explicito no
ministério apostólico de Paulo 65.
Paulo anuncia à Igreja o Evangelho de Cristo que é o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, judeu
ou gentio 66. Isto o coloca em clara linha de continuidade com
a Igreja de Jerusalém, ainda que haja rompimento com o
judaísmo. Paulo, pois prega para o Novo Israel , formado pela
Igreja gentílica em comunhão com a Igreja de Jerusalém. Por
isso faz questão de destacar que aprendeu nesta referida
Igreja toda a tradição 67. Sua vocação ou chamado direto para
o apostolado não o colocou contrário à tradição da Igreja de
Jerusalém. Por isso, ainda que controvertida tenha sido a
figura de Paulo e não reconhecido o seu apostolado por
alguns, os líderes de Jerusalém e Paulo reconhecem-se
61? - cf., Gl. 2.6-10.62 - cf., II Co. 11.16-36.63 - cf., Rm. 1.1; I Co. 1.1; II Co. 1.1; Gl. 1.1; Ef. 1.1; Cl. 1.1.64 - cf., At. 9.1-9; I Co. 15.8-10.65 - cf., At. 19 - bem como todo livro referido, visto que, ao que tudo indica, São Lucas escreveu Atos para,
também, justificar que a continuidade da obra de Cristo estende-se a todos e não somente aos judeus66 - cf., Rm. 1.16-17.67 - cf., I Co. 11.23-26; 15.1-7,11; Gl. 1.17.
mutuamente como apóstolos de Jesus Cristo, em linha de
continuidade, pregando versões diferentes de um mesmo
Evangelho 68.
Não é interessante que alguns fundadores de seitas e
igrejas, diferentemente de Paulo e dos reformadores do Séc.
XVI, pretendam fundar comunidades desrespeitando e
menosprezando a tradição acumulada pela sabedoria divina na
história da Igreja? São "bispos" e "apóstolos" que desprezam
a tradição antiga, quer a neotestamentária, quer a da Igreja
do Pais, quer a dos Reformadores, julgando que, assim, estão
cumprindo dileto mandato divino, mas negam tal fato em suas
posturas ao menosprezarem a tradição da Igreja.
Por estar na mesma continuidade histórica, Paulo entende
que seu Evanïýíû=0{}}§ïÿzçðgÿþgþïç½g´kï÷,uýÿÿóÿÿý{}ëuïyím� � � � � �
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68 - cf., Gl. 2.7-10; cf., tb. At. 13.69? - cf., Rm. 15.19.70? - cf., At. 1.8.71? - cf., I Co. 1.10-16; 3.1-12.
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todos foram incorporados a Cristo e passam a fazer parte do
72? - cf., Ef. 2.13-22.73? - cf., Ef. 2.11-19.74? - cf., I Co. 1.2.75? - ou universal - cf., Rm. 16.16; I Co. 7.17.76? - cf., At. 8.1.77? - cf., I Co. 12.; cf., tb., Rm. 12.5-8.
Seu Corpo, a Igreja. Mas Paulo entende que a Igreja é o
início da nova criação, o começo no novo mundo, o “plano
piloto” de Deus que aponta para as novas relações do Reino de
Deus, a “futura sociedade”, onde "Deus será tudo em todos" 78.
No Corpo de Cristo, segundo Paulo, há muitas funções
expressas nos diferentes dons. Unidade não representa
nivelamento das necessárias alteridades, mas a sua
complementação. Paulo não nega as diferenças características
que é apanágio dos seres humanos, razão porque os dons,
capacidades e aptidões são diferentes. A integridade dá-se
por complementaridade das funções. Pluralidade e
peculiaridade nas diferentes funções do corpo estão em função
da idéia de conjunto e unidade. Os membros do Corpo não estão
simplesmente colocados acima ou abaixo, mas relacionados
entre si. A questão fundamental do Novo Testamento é a
integralidade, a complementaridade. Reafirma-se a pluralidade
na integralidade das diferentes aptidões, resgatando-se a
harmonia desejada por Deus ao conferir aos seres humanos a
Sua imagem. Paulo nunca defendeu uniformização nem
nivelamento dentro da Igreja, mas, de igual modo, acentua a
participação de todos. Chegou mesmo a combater a idéia de que
um dom tenha prevalência sobre os demais, visto que todos são
importantes para o Corpo.
As figuras, aqui, são meros símbolos. Cristo é o Cabeça,
porque é a razão de ser da Igreja. Sem Ele a Igreja está
incompleta e morta, como um corpo humano sem a sua cabeça. De
modo igual o termo corpo, não pode ser tomado literalmente,
mas em seu sentido figurado, conforme o exemplo do casal 79.
Sendo que, à este símbolo Paulo aduz o conceito de “glória”.
78 - cf., I Co. 15: 28.79 - cf., Ef. 5.22-32.
Se Cristo é a razão de ser da Igreja, a mesma é a Sua glória.
Este termo quer dizer que a Igreja deve refletir, exprimir e
manifestar a Cristo, refletindo a Sua glória neste mundo. Por
isso a Igreja está debaixo da autoridade, ou seja, da
proteção amorosa de Cristo que tudo fez para apresentá-
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80? - cf., Ef. 5: 27.81? - cf., Ef. 4: 16.
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82? - cf., I Co. 12: 22ss.
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como a Septuaginta resolveu traduzir o termo hebraico
"kadosh". Com estas duas palavras para entender um único
sentido, quer o AT, quer o NT estão a expressar que "Deus é
Santo", ou seja, em relação ao mundo criado, a tudo o que se
vê e conhece, Deus é "separado", ou diferente, ou insondável,
indefinível, indecifrável. Por esse motivo não se pode fazer
"imagens" de Deus, visto não Lhe haver "semelhante" 84. Assim,
aplicado ao Senhor, o conceito "santo" está ligado à Sua
"glória". Ninguém há que possa contemplar a Sua glória, visto
que Ele é Santo e ninguém o pode ver (ou perceber, ou
apreender, ou delimitar, ou definir, ou exprimir) plena e
completamente. Daí o AT entender que Deus, para ser
conhecido, deve "revelar"(mostrar) a Sua glória. Neste
conceito de Deus santos os reformadores cunharam um termo
muito significativo para expressá-lo: Deus Abscôndito. Assim
83? - cf., I Co. 1.2; II Co. 1.1; Ef. 1.1; Fl. 1.1; Cl. 1.2 etc.84 - cf., Ex. 20.1-3.
como a lua tem um lado oculto, que não vemos, Deus tem uma
realidade que não podemos atingir, perceber, captar,
apreender. A questão aqui é humana e não divina: o ser humano
é que por seus limites não pode abarcar a Deus em Sua
totalidade (se o pudesse seria um deus e não Deus). Por isso,
para os seres humanos, há um lado obscuro de Deus, ou
"escondido", como dizem Calvino e Lutero "abscôndito" e nunca
teremos condição de abarcar.
De Deus conhecemos somente aquilo que Ele mesmo, de moto
próprio, nos mostra ou "revela". Este é o outro lado da
santidade de Deus, visto que Ele, por misericórdia, graça e
beneplácito próprios resolve "comunicar-Se, dar-Se, revelar-
Se. Ao fazer assim o desejo manifesto de Deus é fazer os
seres humanos, aos quais revela-Se, participantes daquilo que
Ele é. Daí entender-se nas Escrituras que santidade não é
algo estático, mas dinâmico: Deus intervém na vida dos seres
humanos, mostra-Se e, com isso, chama-os para um novo viver.
Assim, todo encontro real com o Deus da Bíblia implica num
auto-conhecimento 85 e, como conseqüência deste auto-
conhecimento uma mudança de vida 86. O encontro com o Deus
Santo dá auto-wïoìëímõo÷o®uïkÿ÷|sìýÿ$mýv÷þ÷ýveçfwyìéº� �
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85 - cf., Ex. 3; Is. 6.1-5.86 - cf., Is.6.6-8.87? - cf., Lv. 11.44; 19.2; 20.7,26; Nm. 15.40; Dt. 7.6; Is. 8.13.
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88? - cf., Rm. 15.16; I Co. 6.1.89? - cf., Rm. 12.1-3; 15.16; Fl. 2.17.90? - cf., Ef. 4.12; I Co. 7.19; 9.1;16.15; II Co. 8.4.
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to Santo. Por isso os vocacionados para a santificação, por
obra do Espírito, são santificados e exortados a tal 91.
Espiritualidade não é apanágio de um rigor de caráter
ascético, visto que tudo o que Deus criou é bom e, recebido
com ações de graças, não precisa ser recusado 92. Santidade
não é necessariamente qualquer tipo de abstinência ou
esforço, como, por exemplo, fizeram os monges e/ou ermitões
antigos. A santificação de que fala toda a Bíblia, mas em
especial Paulo, está ligada à prática do bem. O bem é sempre
algo que direcionamos a outros. Assim, ser santo é não
somente cumprir a primeira tábua dos mandamentos, mas a
segunda que exige de nós claras atitudes em relação ao nosso
próximo. A Igreja é santa porque cuida dos necessitados,
ampara os órfãos e as viúvas em suas tribulações, não explora
o corpo dos outros por causa de desejos lascivos, não faz uso
de malogros e mentiras contra os outros etc. Também não é
algo que se dá por "mágica", no estilo do que disse alguém:
"Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder;
nenhuma oração, nenhum poder". Como se a prática da piedade,
por melhor que seja, confira a alguém algo diferentes dos
demais. Aplica-se, o mesmo, aos chamados "jejuns", usado como
meios "mágicos" para se alcançar favores divinos, como se o
favor de Deus pudesse ser comprado com este ou aquele gesto.
Deus livrou o Seu povo para servir-Lhe e, este povo, serve a
Deus na medida que estende a Sua bondade infinita para todos.
Isso é santificação. Não se deve confundir santificação com
ascese ou mística contemplativa, sobre as quais o NT tem
somente críticas e não elogios.
91 - cf., Rm. 6.19-22; Ef. 1.4; 5.27; I Ts. 4.3-12.92 - cf., p. ex., Rm. 14.20; I Tm. 4.4-5; Tt. 1.15.
1.5. - nos escritos joaninos
O termo grego Ek-klesia (Igreja) não aparece nos escritos
joaninos, entretanto, para referir-se à idéia, São João usará
um termo "técnico" em seus escritos "os discípulos". Este é
um critério dos escritos joaninos, referindo-se aos grupos
por meios de conceitos metonímicos. Por exemplo: quando João
deseja se referir ao judaísmo oficial, aquele grupo de
líderes (sacerdotes, escribas e
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Sua vida, Sua causa, Seu destino, e passam a segui-Lo por fé,
visto que n'Ele está a "luz" 97 e as palavras de "vida eterna" 98. Eles se ligam ao Mestre não pelas idéias em si, mas por
causa da "Vida" que d'Ele recebem. São "discípulos" não por
mera "razão", mas por "imitação", recebendo sempre a ordem de
Jesus: "assim como eu fiz, façais vós também" 99. O sentido
seria este: Jesus faz as obras do Pai 100, que o enviou, os
discípulos o imitam e, assim, realizam de Cristo 101, deste
modo, estendem uns aos outros e aos demais as obras de Deus 102.
93? - cf., Jo. 1.35-42.94? - cf., Jo. 1.29-31; 1.43-51.95? - cf., Jo. 5.37; 6.37, 65.96? - cf., Jo. 9.28.97 - cf. Jo. 1.1-14; 3.16-21.98 - cf., Jo. 6.68.99 - cf., p. ex., Jo. 12.26; 9.4; 13.13-17; 15.14.100 - cf., Jo. 5.19; 8.29; 10.37.101 - cf., Jo. 15.5.102 - cf., Jo. 14.12-14.
As obras de Cristo são "verdade" e, por isso, frutos do
"amor", razão porque são as obras de Deus 103. De outro lado,
as obras do "mundo" (em São João este termo significa toda a
realidade deste mundo posta em si mesma, sem Deus e, por
isso, aqueles que não crêem nas obras de Cristo e, via de
conseqüência, não crêem n'Ele) são "mentira" e, por isso,
frutos do "ódio", razão porque são as obras do diabo que é o
pai da mentira e é homicida desde o princípio 104. Assim, os
discípulos, são "livres" porque conhecem "a verdade" 105, e
esta verdade não é uma idéia ou um conceito, mas uma pessoa:
o próprio Jesus 106. Por isso, ao chamar para si "discípulos"
Jesus os faz conhecer o Pai 107.
Todo este "conhecimento" de Deus que Jesus dá aos Seus
"discípulos" está baseado no Seu conhecimento de Deus como
Abbá, Pai 108. Em São João isso significa dizer que o
conhecimento de Jesus do Pai se dá por causa de Sua
fidelidade para com Ele. Ele é obediente ao Pai e isso revela
o Seu conhecimento de Deus Pai. Ora, para a mentalidade do
hebreu piedoso conhecer a Deus é cumprir os Seus mandamentos.
Destarte este "conhecimento" é algo prático e não teórico,
racional ou filosófico. Fica explicito este conhecimento que
Jesus tem de Deus como Pai, quando se submete à Sua vontade
diante da cruz 109. O "caminho" que Cristo mostra a Seus
discípulos, não é outro senão o de um conhecimento prático do
Pai, caminho este que passa pela cruz. Por isso exige dos que
103 - cf., Jo.8.104 - cf., Jo. 8.42-47.105 - cf., Jo. 8. 31-32.106 - cf., Jo. 14.6.107 - cf., Jo. 14.8-11.108 - cf., Jo. 3.35; 5.17,20,37; 8.49; 10.15, 30; 12.49; 14.6,9,20; 16.3,15,32.109 - cf., Jo. 10.17-18.
o seguem que amam-se uns aos outros 110, pois é por causa do
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110 - cf., Jo.13.111? - cf., Jo. 3.16112? - cf., Jo. 1.8; 3.31-35; 15.14-15; I Jo. 1.1-3; 2.4-6; 4.7-12.113? - cf., Jo. 10.1-16; 11.47-53.114? - cf., Jo. 17.6,20-24.115? - cf., Jo. 13.12-16.116? - cf., Jo. 15.1-17.
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vide má 120 a esperança profética apontará para a "videira
escatológica". Por isso Jesus, em São João, apresenta-se como
"A Videira Verdadeira". Tal adjetivação à videira pressupõe
que existe uma videira falsa. Em João esta videira falsa está
representada no judaísmo oficial, ou "os judeus". Muito
provavelmente, no chamado "Cântico da Videira" 121, onde a
mesma está em paralelo com o conceito de Filho do Homem, foi
que São João se abeberou para falar de Jesus como a Videira
Verdadeira. Jesus não é somente o sustento do povo de Deus,
Ele é o único e verdadeiro representante deste povo, a partir
do qual nascerão novos e outros ramos que deverão dar os
frutos ausentes da outra (ou da falsa) videira (o judaísmo
oficial).
Se em Paulo utiliza-se a figura do Corpo e da Cabeça, ou
do Esposo e da Esposa, aqui em João o conceito de videira
representa o mesmo esquema de raciocínio. Cristo e Seus 117? - cf., Is. 5.1-7; Is. 27.2-6.118? - cf., Mq. 4.4; Os. 9.10, Sl. 80.119? - cf., Is. 5.1; Jr. 2.21; Ez. 19.10.120 - cf., Jr. 2.21; Os. 9.10.121 - cf., Sl. 80.
discípulos representam a Nova Videira, a Verdadeira Videira,
onde Deus descansa e come de seus frutos 122. Os ramos têm
vida porque estão ligados ao caule, Cristo. Se não estiverem
ligados, não produzem frutos, são cortados e lançados fora.
Mas os ramos produtivos, que têm dentro de si correndo a
seiva da vida que vem do caule (segredo de produzirem os
frutos devidos), estes são limpos ainda mais para que
continuem produtivos. Dois são os verbos aqui usados: estar e
permanecer ligados ao caule: a ligação (estar) não pode
permanecer estática, deve, antes, passar à sua lógica
conseqüência que é dinâmica, ou seja, produzir frutos. Ora é
pelo batismo que passa-se para "estar em Cristo", mas é pelo
amor que se "permanece n'Ele" 123.
Volta-se, neste ponto, ao conceito inicial de São João
sobre "conhecer" ou "estar ligado" a Deus. Tal fato não é
algo teórico, mas profundamente prático, visto que amar a
Deus é mostrar isso para com o próximo. Tal mostra revela
conhecimento de Deus, pois conhecer a Deus é praticar os seus
mandamentos 124 que, segundo São João não são penosos. Cumprir
a primeira tábua dos mandamentos e mostrar tal fato
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122 - cf., Os. 9.10.123 - cf., Jo. 15.2,4,9-10,12; cf., tb.; I Jo. 3.11-18; 4.7-21.124 - cf., I Jo. 1.7-11.
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125? - cf., I Jo. 4.7-21.126? - cf., Jo. 13.127? - cf., 1.12; 3.1-13; 5.17-20; e, muito provavelmente 5.3-10.
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enganadores e gananciosos 137.
Nota-se já neste espaço da vida da Igreja uma pequena
mudança: ela perde aquela dinâmica própria dos exemplos
marcantes de organismos vivos (corpo, videira, rebanho) e
passa a ganhar referências mais estáticas ou menos dinâmicas
como "casa". Entretanto é rica em recomendações e regras,
normas e costumes a serem observados quer pelo Pastor da
Igreja, quer pelos demais oficiais da Igreja, quer pelos
diferentes membros. Isso pode denotar uma maior
institucionalização, exigindo-se regras mais definidas e
claras para a vida da Igreja que, sendo casa, acolhe,
protege, guarda. Não é sem razão que o autor da epístola
mencionará por várias vezes a palavra "guardar". Como a
lembrar que uma determinada tradição deve ser preservada e
mantida. Outro detalhe significativo é o espírito patriarcal
revelado na carta, não somente na questão da relação homem -
mulher, mas no trato com os mais velhos, no cuidado com as
viúvas, no modo de tratar-se os mais antigos (presbíteros?).
Entretanto deve-se, ainda, destacar que tal mentalidade
patriarcal é estabelecida não nas bases do patriarcalismo
gentílico, mas no chamado "patriarcalismo do amor" 138 (as
134? - cf., 6.1-2.135? - cf., 5.5-8.136? - cf., 6.17-19.137 - cf., 6.3-10.138 - tal ponto de vista da teologia paulina encontra-se bem desenvolvida em, THEISSEN, Gerd - Sociologia
da Cristandade Primitiva, estudos - trad. Ivone Richter Reimer, ed. Sinodal, São Leopoldo, 1987, Coleção Estudos Bíblico Teológico NT (10), 211p.
demais cartas, II Tm. e Tt., não são diferentes e refletem os
mesmos conceitos naquilo que são semelhantes).
Valorizar-se-á a doutrina tradicional de Igreja como
"família de Deus", baseada nos elementos que se seguem
abaixo, mas dando-lhe, assim, uma dimensão mais
institucionalizada do que na tradição.
A ninguém sobre a terra chamareis vosso pai; porque só um
é vosso Pai, Aquele que está no céu 139. Estas palavras de
Jesus parecem chocar-se com o entendimento de que a chamada
Lei Moral 140 onde, por exemplo, deve-se honrar pai e mãe. Mas
não é somente esta expressão que pode causar espécie ao
leitor menos atento do Novo Testamento, mas ainda que Jesus
disse que veio causar divisão entre o homem e o seu pai;
entre a filha e a sua mãe; entre a nora e a sogra. Assim, os
inimigos do homem serão os da sua própria casa 141. Jesus
mesmo conheceu esta dificuldade com
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nÿáåe÷üå¡Åïm,å÷{õ=ïþï÷ý©ýsïóoü$ùw}ë,å:ïãÿ=�� 142.}]roò÷tþ÷sìîmsöu139 - Mt. 23: 9.140 - contida resumidamente no Decálogo - cf. Confissão de Fé de Westminster – op. cit., XIX, II, III -
doravante referida somente como C.F.W.141 - Mt. 10: 35 – 56.142? - Mc. 3: 33 – 34.
s½tqmi{ï÷?�
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143 ? - conceito para designar que o homem é o cabeça da família, no sentido de ser o “dono” ou “chefe”, muito ligado e correlacionado ao conceito de “chefe do clã”.
144? - as da antiga Criação - cf. II Co. 5: 17 - ...em Cristo as cousas antigas passaram, eis que se fizeram novas.145 ? - cf. Mt. 8: 21: Senhor, permita-me ir primeiro sepultar meu pai. Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me,
e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.
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que se negam a tal repúdio familiar 148.
Com a chegada do Reino vaticinou Jesus Cristo a superação
da família baseada meramente nos laços de parentesco natural
e racial, pois O mesmo veio a dividi-la e, como tal, uma casa
dividida contra si mesma, não pode subsistir 149. Esta mudança
no quadro familiar, que é não somente secundarização dos
laços de parentesco mas, também, rompimento dos laços de raça
a que os parentescos conduzem, dão lugar ao surgimento de uma
nova família, a família da nova sociedade, fruto da nova
Criação que operou O salvador Jesus Cristo: a família de
Deus, onde não há distinção racial, econômico social ou
sexual. Daí concluir-se, como já antes se viu, que os termos
em Cristo, nova sociedade, nova criação, são modos figurados
do Novo Testamento referir-se à Igreja: a Casa de Deus 150 .
Nela há um Pai, um Primogênito e vários irmãos adotivos.
Sendo Paulo é o autor mais prolixo do Novo Testamento,
especialmente ele usará o linguajar familiar que caracteriza
esta nova relação de parentesco: Deus é Pai 151, assim como
146 ? - cf. Mt. 10: 21 – Um irmãos entregará à morte o outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se levantarão contra seus progenitores e os matarão. Esta é a divisão que se provocou com a chegada do Reino onde os crentes serão maltratados até pelos de sua própria casa.
147 ? - cf. Mc. 10: 29 – Ninguém há que tendo deixado casa, ou irmãs, ou irmãos, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de Mim ou por amor do Evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos e, no mundo por vir, a vida eterna.
148 - cf. Lc. 14: 26 – Se alguém vem a Mim, e não aborrece [no sentido de “ame menos”] a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo; note-se que há exegetas que traduzem o termo aborrecer por odiar, o que torna tudo muito mais radical.
149 - cf. Mc. 3: 25.150 - por vezes, na tradição, chama-se o prédio onde reúnem-se os cristãos de “Igreja”, mas deve-se ter em
mente que somente no Século IV é que o Cristianismo conheceu tais prédios. As reunião cristãs eram, especialmente na primitiva Igreja, em casas, às vezes sem determinação de endereço, pois não se pode confundir tijolo e argamassa com o conceito neotestamentário de Igreja: povo chamado por Deus para o servir em Cristo.
151 - cf., Mt. 23: 9.
Paulo mesmo é tido como pai na fé de Timóteo 152, Tito 153 e
Filemon 154, ou mesmo diz ser como mãe de suas comunidades,
visto que as colocou no mundo 155, dentro os inúmeros
exemplos. Nota-se que o conceito de parentesco secundarizado
nesta nova família está relacionado aos laços raciais
(nacionalidades) pois Paulo afirma que os gentios, uma vez
recebidos pelo batismo à Igreja, fazem parte da família de
Deus 156. Há bispos que podem ser vistos como o pai de uma
família 157, e mulheres que são verdadeiras mães para Paulo 158. O novo cidadão deste povo novo, não mais limitado pelos
laços raciais, nacionais, fazem parte de uma nação santa, de
um povo de exclusiva propriedade de Deus 159, sobre os quais
deve-se ter especial atenção, até mesmo no exercício geral e
justo do bem, por serem eles de uma mesma família devem-se
ter por principais nesta prática 160. Assim ensina a Confissão
de Fé de Westminster:
Todos os santos, que pelo Espírito de Deus e pela fé,
estão unidos a Jesus Cristo»èó–ÍÚòUuŸæo/Y±iFoowÚ|nùåæ†`Ç|�
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152 - cf., I T. 1: 2, 18; II Tm. 1: 2, 2: 1.153 - cf., Tt. 1: 4.154 - cf., Fm. 10.155 - cf., Gl. 4: 19; I Ts. 2: 7.156 - cf., Ef. 2: 19 – já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos e sois da família de
Deus.157 - cf., I Tm. 3: 5.158 - cf., Rm. 16: 13.159 - cf., I Pd. 2: 10.160 - cf. Gl. 6: 10 – enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da
fé.161? - C.F.W. – op. cit., XXVI, I.
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162 ? - SUMMERS, Ray - A Mensagem do Apocalipse:, Digno é o Cordeiro - Rio de Janeiro, ed. Juerp, 1978, p. 56.
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163 ? - cf., p. ex., Mt. 15: 21 - 28Mc. 5: 40 – 42; Lc. 7: 11 – 17; Jo. 4: 46 – 54; 11: 1 – 46; dentre tantos exemplos outros.
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crentes devem batizar seus filhos 164.
O coração da família de Deus é mantido pela sua “célula
mater”: as famílias individuais. Não só no Novo Testamento,
mas em toda a história da fé cristã as famílias foram, são e
serão honradas como fonte de benção, vinculadas que são ao
Pai da Fé, Abraão, chamado a abençoar, com a sua família,
todas as famílias da terra 165. Ser família é pois uma vocação
que se estabelece dentro da família da fé. A Igreja, ou o
pertencer à família da fé, não desqualificou a família
natural, antes deu-lhe nova qualificação. Ela deixa de ser um
fim em si mesma, para tornar-se um meio de benção para os
seus, para os da família da fé e mesmo para toda a sociedade
humana. Ser família em laços de parentesco é uma vocação. A
família cristã tem, por isso, que dar um público testemunho
como tal, revelando nesta pequena sociedade o destino de toda
a sociedade humana: a glória de Deus.
Segue-se, pois, que a família cristã tem uma ética
especial, diferente, diria Paulo, nova, pois tudo se constrói
em Cristo. Ela nasce dos que são chamados ao matrimônio 166,
que receberam de Deus este dom de construir uma família. Como
esta vocação é de testemunho e serviço, não somente mútuo,
mas para toda sociedade, aconselha Paulo a que não se associe
um crente com um incrédulo pelos laços matrimoniais. Porém,
como uma das partes em contrato matrimonial pode converter-se
à fé, cada qual permanece honrando os seus laços familiares,
pois a mulher crente santifica o marido incrédulo e vice-164 - pois é duplo o chamado, mas não paralelos, antes integrados, para quem for destinado à vocação de
constituir uma família, dentro da família da fé.165 - cf. Gn. 11: 1 – 3; em ti serão benditas todas as famílias da terra.166 - cf. I Co. 7: 7 – cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro ;
trata aqui o Apóstolo sobre ser casado ou solteiro.
versa, do contrário, assevera o Apóstolo, os filhos deste
casal seriam vetados à participar da família maior, a família
fé, mas, tais filhos são, também santos 167.
1.7. - em I Pedro
Nesta carta o autor 168 e seus companheiros da Babilônia -
Roma? 169- dirigem-se aos que denominaram de "forasteiros" 170
e "peregrinos" 171, ou aqueles que estão em trânsito ou
residem como estrangeiros da dispersão 172 em províncias
romanas da Ásia Menor e que, no momento, estão debaixo de
séria e forte perseguição, ou vivendo em meio a
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167 - cf. I Co. 7: 12 – 14; por esta designação, santo, indica Paulo em todas as suas cartas os que compõem a Igreja, razão porque estes meninos e meninas devem ser recebidos à família da fé pelo santo Sacramento do Batismo, visto que compõem a família de Deus.
168 - cf., 1.1.169 - cf., 5.12-13.170 - = parepidemos; cf. 1.1.171 - = paroikos; cf. 2.11.172 - = diáspora; cf. 1.1.173? - cf., 1.6; 2.12,19-20; 3.14-16; 4.1,1,12-16,19; 5.9.174? - = oikos tou theou; cf. 4.17; e, tb., 2.4-10,25; 4.12-16.175 ? - uma exegese e análise séria destes conceitos em I Pedro pode ser encontrada na obra: ELLIOT, Jonh
Hall - Um Lar Para Quem Não Tem Casa, interpretação sociológica da peimira carta de Pedro - trad. J. Resende Costa, ed. Paulinas, São Paulo, 1985, Coleção Bíblia e Sociologia (3), 260p.
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oxiÿw¼ûõg»ÿ{uãowmüm}nados da cultura. De outro lado ele é� �
sempre alvo da curiosidade, ou alguém visto com suspeita, ou
como bizarro.
Um exemplo explica melhor: quem é afeito aos filmes de
"bang-bang" conhece bem a figura do "forasteiro", do
"estranho" que chega na cidade, entra no bar, sob o olhar de
todos, sendo vítima das perguntas curiosas do "barman" e que,
não poucas vezes, acaba arrumando dificuldades e conflitos. A
imagem pode não ser a melhor e mais clara, mas define um
pouco do sentido de paroikos.
Ganhou o termo, no mundo antigo, um sentido técnico na
área político-jurídica para de a posição, em relação ao
Estado, de uma pessoa que é estrangeira, ou para falar de um
alguém que "mora no estrangeiro" e, por isso, não está em
pleno gozo de seus direitos civis. A Septuaginta paroikos
está em oposição aos cidadãos 176, ou seja, o cidadão pleno,
aquele que goza de todos os direitos civis. Assim,
socialmente, considera-se o paroikos menor, inferior, alguém
com direitos reduzidos. Por isso, muitas vezes, o termo
recebe tradução de "exilado" 177.
Na teologia do AT, ainda que Israel tenha ganho um terra,
mesmo assim permanece paroikos, visto que a terra não lhe
pertence, mas ao Senhor que a concedeu a Israel. O
proprietário é o Senhor, Israel usa a terra como um paroikos.
Por isso repete o salmista: "Sou paroikos na terra: não
escondas de mim os Teus mandamentos" 178. Assim, no AT o
paroikos é uma questão social, mas é também uma condição
espiritual, ou seja, na relação do crente com o seu Senhor e
no modo de tratar as realidades que lhe são circundantes. Em
176 - politai ().177 - cf. Ed. 8.35; cf. tb., Gn. 12.10; 15.13; 17.8; 19.19; 23.4; Êx. 2.22; 12.45; 18.3; Lv. 22.10; Dt. 23.7-8;
Nm. 35.15; Jz. 17.7-9; I Cr. 29.15; Rt. 1.1; Sl. 39.12; 105.12; 119.19; Is. 16.4, entre outras.178 - Sl. 119.19.
outras palavras, primeiramente vem a situação social e, em
seguida a metáfora espiritual.
Para o autor da epístola os paroikos estão na diáspora 179. Este termo é um termo técnico usado na Septuaginta para
designar a dispersão dos judeus entre os gentios, enquanto
moradores em terras que estão além das fronteiras de Israel.
Mas, na visão profética a diáspora é ação divina: Deus julgou
Israel e o dispersou entre as nações 180. A dispersão fez de
Israel um paroikos, ou seja, um povo de pé]¼»� 82¯ï¶Ýotí¤üý
179 - cf., 1.1.180 - cf., Is. 35.8; Jr. 3.24; Ez. 22.15.
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181? - Sl. 119.53-54; cf. tb., 120.5-7.182? - cf. Ex. 19.5-6; Dt. 7.6; 14.2; Os. 2.23; com I Pd. 2.9-10.
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183? - cf., 1.14-18.
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185? - cf., 2.11.186? - cf., 2.12.187? - 2.10.
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qýîã2QôoLÖWLóOóåg'kpassado em tipos de comportamento e
associações. Assim é a argumentação: eles "renasceram" 188,
pois foram "chamados" e, como "eleitos" e "santificados" por
Deus 189, por Ele remidos "dos modos fúteis de viver" 190,
devem, agora, no presente (à luz daquele passado), "absterem-
se das paixões carnais" 191, "não se moldando aos desejos
egoístas que tinham antes quando eram ignorantes" 192. Viver
como o povo de Deus significa deixar de viver como antes
viviam, conforme a cultura gentílica. Agora, devem obedecer a
Deus e não às injeções dos homens 193, ou seja, devem
comportar-se como paroikos cujo único "temor" é dirigido a
Deus 194.
Em I Pedro entende-se a Igreja no presente como paroikia,
não em função do futuro (a morada celeste) mas em relação ao
passado. Sendo que esta contraposição, de algum modo, está
relacionada à questões sociais e, tais distinções associadas
à santificação. Esta santificação, ainda que neste presente
sejam eles maltratados pelos que se sentem "em casa" no mundo
gentílico, tem como objetivo a misericórdia de Deus para com
aqueles, pois, pela vida santificada dos paroikos, os gentios
serão por Deus alcançados.
Para concluir-se a visão de I Pedro sobre a Igreja, deve-
se ainda pensar sobre a questão da "casa de Deus" 195. Estes
188 - cf., 1.3,23; 2.2.189 - cf., 1.1,4,14-16; 2.4-10.190 - conforme haviam "herdado dos pais"; cf. 1.18.191 - 2.11.192 - 1.14.193 - cf., 4.2-3.194 - cf. 1.17; onde recomenda honrar ao imperador, mas temer somente a Deus.195 - = oikos tou theou; cf. 4.17; e, tb., 2.4-10,25; 4.12-16.
termos, e os seus parônimos, apontam na direção de um
conceito significativo que o autor tem sobre a Igreja.
Na Septuaginta este termo, em geral, designa um santuário 196 ou o Templo de Jerusalém 197. Mas o NT, caminhando dentro
da perspectiva da teologia dos profetas, questiona o fato de
o homem poder fazer uma "casa" onde Deus venha a habitar 198.
Nesta linha crítica está presente o fato de que Deus fundou o
"novo" ou o "verdadeiro Israel". Assim, Deus edificou para Si
mesmo uma nova morada, não mais de pedras, mas feita de uma
"Pedra Angular" 199 que sustenta as "pedras vivas" 200 deste
edifício 201. Criou-se uma nova identidade social onde Deus
realiza, historicamente, os Seus propósitos eternos (dos
quais tirou Israel, a nação), criando uma nova "casa", ou
"família" por meio de uma "Nova Aléyïçyso=-oÿÇß»ÿ{¢ý÷ýóè}� � � �
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196 - cf., p. ex., Gn. 28.19; Jz. 17.5; 18.31.197 - cf., p. ex., I Rs. 6; Sl. 22.6; 26.4.198 - cf., p. ex., II Sm. 7.5-6; I Rs. 8.27; Is. 66.1.199 - cf., I Pd. 2.6-8.200 - cf., 2.5.201 - cf., tb., Hb. 3.1-6; I Tm. 3.15.202? - cf., Mc. 1.9; 2.15; 7.24; 14.3; Lc. 7.37; 10.38.
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203 ? - cf., cf. At. 10.1-2,48; cf. tb., At. 16.31-34; 18.8; I Co. 1.4; 1.16; 16.15,19; Rm. 16.5,15,23,40; Cl. 4.15,17; Fl.2, etc.
204? - cf., I Pd. 2.5; 4.17.205? - cf., 1.14-18.206? - cf., 5.1-4.207? - cf., 5.3-5.208? - cf. Lc. 12.42-42; 6.1-13; I Pd. 4.10; I Co. 4.1; Tt. 1.5-10.
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ÿ3vo}þþyþýöínwí4÷o8ý÷ujìoje se tem por administração
eclesiástica, que mais significa cuidar de coisas, dinheiro,
patrimônios, negócios, do que cuidar de pessoas. Motivo pelo
qual a maioria das desavenças nas comunidades cristãs
contemporâneas estão ligadas ao poder de administrar as
coisas, sendo que, alguns, esquecem-se de cuidar das pessoas 209. Não se deve esquecer que "igreja", no sentido de
edifício, patrimônio, surge na história cristã somente no
quarto século, quando a mãe de Constantino mandou edifica uma
basílica.
A Igreja é pois a oikos tou theou, a "casa de Deus" 210
onde congregam os paroikos: ela é a casa para aqueles que não
tem casa neste mundo, abrigando-os, protegendo-os, amparando-
os, sustentando-os estendendo a todos o amor da "família de
Deus" 211.
8. Considerações finais.
A Igreja é o povo de Deus da Nova Aliança, constituindo-
se por chamado divino, em Cristo, de todo aquele que, eleito
por Deus, recebe a fé e o dom do Espírito Santo. Ela, pois,
está composta de seres humanos de todas as raças, povos,
língua e nação. Só existe uma Igreja: a Igreja de Jesus Cristo,
ou a Igreja Cristã. A Igreja tem por marca a sua singularidade.
Ela é uma só Igreja porque é o povo que Deus reúne em Cristo, por
Cristo e para Cristo. Razão porque há um só Deus, um só Senhor e,
também, uma só Igreja 212. Ela transcende as barreiras que dividem a
209 - como a Parábola do Administrador Infiel em Lc. 12.42-43; 16.1-13.210 - cf., I Pd. 2.5.211 - cf., 4.17.212 - cf. Ef. 4.1-6.
humanidade, sejam fronteiras, sejam governos, partidos, culturas,
raças, sexos, classes sociais.
Disto depreende-se que a Igreja não pertence aos fiéis, antes
os fiéis é que pertencem a ela, visto que foram chamados por Deus
para a comporem. Mesmo que, como comunidade civil, o grupo dos
fiéis respondam, diante das autoridades públicas, pela comunidade
a que pertencem, a Igreja não pertence a nenhum ser humano ou
grupo de pessoas: ela é a propriedade exclusiva de Deus 213. As
expressões "minha igreja", ou "nossa igreja", contradizem em
sentido e significado aquilo que o NT entende por Igreja. De modo
igual o conceito de "denominação". Porém, o mais estranho é
relacionar a Igreja à uma pessoa, que não
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214? - cf. Rm. 1.6.215? - cf. I Co. 1.2; At. 9.13; Rm. 8.27.216? - cf. At. 2.42-47.217? - cf. At. 2.42.
¿¯û¿áÃsóCGÔ9ü=a?!ÒQ:©õn¿³eH oõ§¹–xÇÙãj÷pn‘Bï¯+›>=å}çz3Oÿÿ>~çÄ�
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Y¿/˜vJÿ0gbYê±µ'¼CîÅ'/rL÷òúÊ?V3ýOî×ÆUj~å,ûuVva, visto que a ela
tem uma missão só. Ela não tem muitas tarefas, muitas obras,
muitas missões. Ser Igreja é que é a missão. Ela recebeu esta
missão do Senhor: ser instrumento de Deus na implantação do Seu
Reino. A Igreja não é do mundo, mas vive neste mundo 218 e, como
tal, vive para servir a Deus, servindo aos seres humanos que estão
no mundo. Este serviço é o anuncio do Evangelho de Jesus Cristo,
testificado por palavras e gestos, assim como Jesus que, estando
no mundo, anunciou as Boas-Novas de Deus por meio de palavras e de
gestos. A Igreja presta este serviço a Deus no mundo. Ela é
separada para servir a Deus e não separada do mundo para ser de
Deus. Ela é separada para servir a Deus dentro deste mundo. Se
julgar que sua santidade é o seu afastamento do mundo, na verdade
afastar-se-á do lugar do serviço de Deus e, por isso, servir-se-á
e não ao Deus que a convocou, perdendo, assim, a santidade para
qual foi chamada. Este é o ser da Igreja: servir a Deus no mundo.
A Igreja é a missão assumida pelos eleitos que sabem ser ela
instrumento de Deus neste mundo para levar a cabo os propósitos de
Deus para a Sua criação. Os frutos do Reino: paz, amor, justiça,
fé, esperança, entre outros mais, são modos distintivos da missão
da Igreja. O Espírito, que é Santo, é quem garante a unidade e
comunhão desta Igreja, reunindo-a no mundo para proclamar as
virtudes d’Aquele que a tirou das trevas para a Sua maravilhosa
luz. Este é o amor que Deus tem por Sua Igreja, chamando-a,
separando-a, vocacionando-a, purificando-a dos seus pecados e
dando-lhe comunhão para que seja o “plano-piloto” do seu Reino em
meio a este mundo.
A Igreja vive de seguir os apóstolos. Isso significa que de um
lado ela preserva, guarda, defende o que recebeu por herança dos
apóstolos, persevera naquilo que deles aprendeu. De outro, na
218 - cf. Jo. 17.14-15.
imitação de suas práticas, a Igreja renova e inova, recriando nos
diferentes contextos da história a prática libertadora,
purificadora, santificadora, dos apóstolos de Cristo. Na pobreza e
simplicidade apostólicas a Igreni<g|�
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