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<OG_07/01/2011_25_ECO_DUARTE PATRICIA> Ofensiva para puxar o dólar Na 1ª medida do governo Dilma, BC cria compulsório de bancos, que devem retirar até US$7 bi do mercado Ogoverno Dilma Rousseff moveu-se do discurso para a ação ao adotar, ontem, sua primeira medida concreta contra o derretimento do dólar. O Banco Central (BC) instituiu um compulsório inédito de 60% que vai, na prática, limitar operações dos bancos que representam apostas na queda do dólar frente ao real. A ação deve incentivar a compra de aproximadamente US$7 bilhões no mercado à vista pelos bancos nos próximos três meses, o que pode puxar para cima a cotação da moeda americana. Ontem, o dólar subiu 0,77%, para R$1,688. Ainda que esse movimento de recomposição do valor do dólar venha a ser discreto, como preveem especialistas e equipe econômica, a regra do BC deixou os agentes financeiros mais atentos à resolução do governo de realmente atuar para conter a valorização excessiva do real, o que tem efeito na formação das expectativas e influencia os negócios. Na equipe econômica, estima-se que a cotação deve ficar mais próxima de R$1,70, sem ultrapassar R$1,75. O compulsório incidirá sobre a posição vendida dos bancos, que, no jargão do mercado, significa que a instituição está fechando mais contratos de venda

Artigos Jornal O globo01 - JANEIRO 2011

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Este documento contém artigos coletados das edições de sexta feira do jornal o globo e que referem-se a crise econômica mundial que assolou a Europa

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<OG_07/01/2011_25_ECO_DUARTE PATRICIA>

Ofensiva para puxar o dólar

Na 1ª medida do governo Dilma, BC cria compulsório de bancos, que devem retirar até US$7 bi do mercado

Ogoverno Dilma Rousseff moveu-se do discurso para a ação ao adotar, ontem, sua primeira medida concreta contra o derretimento do dólar. O Banco Central (BC) instituiu um compulsório inédito de 60% que vai, na prática, limitar operações dos bancos que representam apostas na queda do dólar frente ao real. A ação deve incentivar a compra de aproximadamente US$7 bilhões no mercado à vista pelos bancos nos próximos três meses, o que pode puxar para cima a cotação da moeda americana. Ontem, o dólar subiu 0,77%, para R$1,688.

Ainda que esse movimento de recomposição do valor do dólar venha a ser discreto, como preveem especialistas e equipe econômica, a regra do BC deixou os agentes financeiros mais atentos à resolução do governo de realmente atuar para conter a valorização excessiva do real, o que tem efeito na formação das expectativas e influencia os negócios. Na equipe econômica, estima-se que a cotação deve ficar mais próxima de R$1,70, sem ultrapassar R$1,75.

O compulsório incidirá sobre a posição vendida dos bancos, que, no jargão do mercado, significa que a instituição está fechando mais contratos de venda de dólares (a importadores, por exemplo) do que de compra de moeda. O banco aumenta esta operação porque acredita que a moeda americana ficará cada vez mais barata, ao passo que os reais que recebe em troca podem ser aplicados em títulos públicos, que rendem os juros reais mais elevados do mundo. O crescimento dessa aposta nos últimos meses é identificado como combustível para a contínua apreciação do real.

- A medida em si não afeta tanto as cotações, mas gera um efeito emocional. É uma postura nova do BC, de atuar no câmbio por outras vias - avaliou o superintendente de Tesouraria do banco Banif, Rodrigo Trotta,

lembrando que ainda há muita liquidez no mercado externo, o que limita o efeito da ação.

"Mais emblemática do que prática"

Pela medida anunciada ontem, deverão ser recolhidos ao BC - a título de compulsório bancário, em espécie e sem remuneração - 60% do valor da posição de câmbio vendida que exceder o menor dos seguintes valores: US$3 bilhões ou o patrimônio de referência dos bancos.

Se um banco tem patrimônio de US$2 bilhões e uma posição vendida de US$6 bilhões, a taxa do compulsório recairá sobre a diferença, de US$4 bilhões. Ele teria, portanto, de depositar no BC US$2,4 bilhões em espécie, sem remuneração.

Essa ação é uma regra prudencial que não define as condições da operação, apenas eleva seu custo. Por isso, de acordo com o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, a expectativa é que os bancos façam as contas e reduzam suas posições vendidas até o ponto em que não terão de recolher compulsório.

Segundo os dados de dezembro do BC, as posições vendidas atingiram US$16,8 bilhões. Para não pagar compulsório, teriam de ser de US$10 bilhões, ou seja, os bancos teriam de comprar no mercado cerca de US$7 bilhões para se desfazer de parte de suas posições. Quando há uma força compradora de uma moeda, a pressão é de alta em sua cotação.

- A medida, isoladamente, é um indutor de valorização do dólar (frente ao real) - afirmou Aldo Mendes.

Esta semana, a moeda americana atingiu a menor cotação desde 1º de setembro de 2008, R$1,65, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou na terça-feira que o governo adotaria medidas para não permitir que o dólar "derretesse", prejudicando as exportações. Apesar de sinalizar que haveria um cardápio de medidas, inclusive de controle de capitais, não anunciou qualquer uma. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, já havia puxado o coro na véspera.

A iniciativa do BC, segundo seu presidente, Alexandre Tombini, foi prudencial. O mercado brasileiro de dólares à vista, argumentou, movimenta cerca de US$2 bilhões ao dia. Caso houvesse algum problema, como uma crise financeira, não haveria como cobrir sem volatilidade a atual posição cambial dos bancos (entregar os dólares de todos os contratos).

- (As posições cambiais) estão superdimensionadas. Elas vão se adequar à realidade do mercado - afirmou o presidente do BC.

- Os R$10 bilhões (patamar que o BC calcula para as posições vendidas) são manejáveis e não trazem riscos ao sistema - disse Aldo Mendes.

Para o diretor de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel, o mercado ainda avaliará melhor os impactos da medida, ainda mais que a tendência continua sendo de mais entrada de recursos externos no país também por causa da elevada taxa básica de juros, de 10,75% ao ano. E o mercado acredita que a Selic fechará o ano a 12,25%, melhorando ainda mais os rendimentos dos títulos públicos. Mas Battistel concorda que o governo tem dado sinais de que quer manter o real menos valorizado:

- Vejo a ação (de ontem) do BC mais emblemática do que prática.

Aldo Mendes disse que não há outras medidas cambiais no radar do BC, apesar de reconhecer que permanece a tendência mundial de desvalorização do dólar.

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<OG_07/01/2011_26_ECO_MIRIAM LEITAO>

BC prudente

De um ano para o outro, foram US$ 20 bilhões de diferença nas posições dos bancos. No fim de 2009, eles estavam comprados em US$ 3 bilhões. No fim de 2010, vendidos em US$ 17 bi. Isso significa que eles pegam recursos no exterior, onde há fartura de dólar, e trazem para cá. Imagine se o câmbio sobe de repente, os bancos teriam que correr atrás da moeda americana e ela poderia disparar.

Nada parece que vai inverter a tendência fraca do dólar, que é meio universal, mas a boa prudência manda que o mercado não fique assim tão exposto a esse risco. Em 2007, até setembro de 2008, o Brasil estava na mesma situação: nadando em dólar e a moeda americana só enfraquecendo. Os bancos aumentaram esse movimento de trazer dinheiro de fora, emprestar para empresas aqui. No mercado futuro, derivativos em moeda estrangeira, apostando que o dólar permaneceria baixo, viraram grandes fontes de lucro fácil. Até que, de repente, tudo mudou. O Lehman Brothers quebrou, o dólar disparou, o mercado secou e algumas empresas brasileiras entraram em dificuldade.

Não há sinal de uma reversão assim, mas por que não ser prudente? É nesta linha que o Banco Central trabalhou. Claro, que como efeito indireto ele pode colher uma redução da valorização excessiva da moeda brasileira. Ontem, o economista Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco, me disse que acha que o real já está caro demais e que não há muito espaço para continuar se apreciando. Mas o que o real já subiu foi o suficiente para alguns setores das empresas, principalmente manufaturas, estarem em dificuldades.

O dilema do Banco Central é que ele sabe que não tem poderes para determinar o preço da moeda. Nem quer. Ontem, em sua primeira entrevista coletiva, o novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, repetiu a crença de que o câmbio flutuante é o melhor dos sistemas, e que ele flutua em qualquer direção. Se o BC dissesse que a medida era para tentar segurar uma cotação, ela seria menos efetiva. Por isso, ele mira na redução dos riscos aos quais o mercado está exposto e

cria uma punição na língua que os bancos entendem: dinheiro. Qualquer banco pode ter mais do que US$ 3 bilhões ou o valor estabelecido pela norma do Patrimônio de Referência, o que for menor, de posição em moeda americana. Poder, pode, mas custa caro. A decisão anunciada ontem é que a instituição terá que recolher o equivalente a 60% dessa posição ao Banco Central e sem remuneração nem correção monetária. Ou seja, dinheiro sem remuneração banco só gosta quando a grana é dos outros, como sabemos todos nós, os clientes.

Assim o BC, com um tiro, atinge dois alvos: reduz o risco da economia e pode afetar a tendência contínua de valorização do real. Nesse segundo ponto, a regulação não tem tanto poder de fogo assim. Mas é como disse Ilan: ele está passando um recado de que fez uma medida, outra, e poderá fazer outra. O BC, primeiro, tomou medidas para enxugar o excesso de dinheiro em circulação no fim do ano passado e disse que era

uma ação prudencial também. Agora, está evitando o excesso de posição vendida de dólar também por razões de prudência. Nada impede que ele estabeleça uma nova norma no futuro. Isso se chama impactar as expectativas. Fontes do BC me informam que sim, no futuro, outros anúncios podem ser feitos. Mas o recado que a autoridade monetária está passando é que prefere agir dentro de regras clássicas de proteção contra risco e de política monetária. Um Banco Central ativo, mas não intervencionista. Que tenta direcionar tendência, mas não fixar preços.

Nathan Blanche, da Tendências consultoria, acha que a medida pode encarecer o crédito ao exportador, mas admite que o Banco Central agiu dentro das regras do jogo de mercado. Ele acha que é positivo principalmente diante das alternativas, como quarentena ou outras regras mais intervencionistas. Segundo Blanche, o mercado estava tenso diante das declarações do ministro Guido Mantega, que avisou que algo seria feito, mas não disse o quê. O BC, como se sabe, convocou uma coletiva para as oito da manhã, antes de o mercado abrir, e aí deu tempo para todos entenderem. Inclusive deu tempo também para que os bancos se adaptem: eles terão três meses. É por isso que a alta de ontem do dólar foi bem pequena. O BC quer dar a direção, mas não quer movimentos bruscos.

Mas a medida adianta? Um jornalista quis saber ontem de Tombini se ele não estava enxugando gelo. Há tantas razões para os dólares virem para o Brasil e uma delas é, sem dúvida, o nível dos juros muito acima dos de outros países. Tombini lembrou que mesmo em países emergentes que estão com juros baixos as moedas locais estão subindo em relação ao dólar.

No Brasil, os outros motivos que atraem dólares também estão presentes: o país está crescendo, há boas perspectivas de crescimento futuro, as empresas parecem lucrativas, o comércio é superavitário. Por isso, é difícil imaginar que — a não ser num contexto de crise externa — o dólar suba muito.

E há fatores que ninguém controla: a fragilidade da economia americana, que emite o dólar, ou o fato de que o grande exportador do mundo, a China, segue outra política cambial em vez do flutuante. Esse é um problema mundial, e recentemente Cingapura, Tailândia e Coreia do Sul adotaram medidas para conter o excesso de entrada de dólar. O Chile aumentou o volume das compras da moeda. Todo mundo tenta conter a queda. No Brasil, o BC do novo governo fez um movimento e mostrou seu estilo: prudência e dentro das regras do câmbio flutuante.

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FMI e analistas aprovam medida, que deve deter manipulação no câmbio

RIO, SÃO PAULO e WASHINGTON. As medidas anunciadas ontem pelo Banco Central (BC) foram aprovadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e por analistas. O FMI considerou que a criação de um compulsório sobre a posição vendida dos bancos em dólar é um passo prudente. No mercado financeiro brasileiro, economistas avaliaram que a medida vai reduzir a arbitragem no mercado futuro de dólar (quando investidores ganham com a diferença entre a taxa futura e a cotação à vista da moeda americana) e fechar brechas para a manipulação no câmbio. Embora alguns alertem que a medida não deve mudar a tendência de apreciação do real, o que pode levar o governo a lançar mão de mais medidas no mercado de câmbio.

- Nós vemos tais medidas como medidas macroprudenciais que visam a fortalecer o sistema bancário no Brasil diante de grandes ingressos de capital, e elas podem ser uma parte apropriada do kit de ferramentas - disse Caroline Atkinson, porta-voz do Fundo. Para o FMI, a aprovação de controles de capital é uma mudança em relação a sua posição no passado. Anteontem, o Fundo anunciou que planeja desenvolver guias orientando o uso benéfico desse tipo de controle.

Economista vê dólar a R$1,85 em quatro meses

Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, a decisão do BC foi um movimento de antecipação, diante de novas pressões para a valorização do real que são esperadas nos próximos meses: - Teremos uma política monetária mais agressiva, com juros mais altos. Há uma perspectiva de maior fluxo de estrangeiros na Bolsa, novas aberturas de capital e devem aumentar as captações de empresas brasileiras lá fora. Na avaliação de Velho, o BC vai monitorar o impacto das medidas e ainda pode usar "um mix de instrumentos" para evitar a valorização do real. - Outros países, como o Chile e a Tailândia, estão agindo para conter a alta de suas moedas.

Se o Brasil não fizer, vai perder competitividade - disse. O economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, vê na medida uma sinalização de mudança de estratégia do governo. E ao fechar uma das brechas usadas para as recentes apreciações do real, diz ele, a medida terá efeito sobre os negócios no câmbio e deverá levar o dólar a R$1,85 em, no máximo, 120 dias. - É uma mudança de paradigma na política econômica. Tirando a manipulação com a posição vendida do câmbio, o dólar, naturalmente, terá um preço mais justo e de acordo com as condições brasileiras.

Nehme vê no atual governo disposição para atacar as causas da queda do dólar, e não apenas as consequências como na administração anterior, em que os gastos públicos cresceram fortemente e o crédito se expandiu a um ritmo que favoreceu o avanço da inflação, principal causa dos juros altos que estimulam as operações de arbitragem. - Ao que parece, o propósito hoje é cortar gastos e desaquecer o consumo interno.

E isso nada mais é do que um aceno de que o dólar não será mais instrumento de controle de inflação - disse. "Se ficar só nisso não resolve o problema", diz economista Para Roberto Padovani, estrategista de investimentos do Banco WestLB, contudo, o mercado não está convencido de que as medidas anunciadas ontem vão frear a apreciação do real. - Aumento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e compulsório têm efeitos limitados - afirmou.

A economista-chefe da ICAP Corretora, Inês Filipa, disse que o BC tomou uma atitude correta, mas também não acredita que a medida vá mudar a tendência de valorização do real para 2011. Paulo Oliveira, diretor geral da Brain, avalia que a medida do BC é eficaz, mas só a curto prazo: - Tirar dos bancos a posição vendida tem efeito rápido, mas se ficar só nisso não resolve o problema.

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Presidente do BC alerta sobre dívidas em dólar

Câmbio flutuante flutua para os dois lados, afirma. Mantega avisa que novas medidas podem ser adotadas

BRASÍLIA. Embora a perspectiva seja de que o dólar continue barato, o novo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, alertou ontem que o brasileiro deve ter cautela ao se endividar em moeda estrangeira. Ele lembrou que o regime cambial brasileiro é flutuante e, por isso, uma tendência de curto prazo não necessariamente se prolongará indefinidamente. O dólar tem se mantido abaixo de R$1,70, incentivando cada vez mais compromissos em moeda estrangeira, como viagens e financiamentos.

Esse câmbio flutuante flutua para os dois lados. Então, o cidadão brasileiro, as empresas brasileiras, têm de ter cautela quando assumem compromissos em moeda estrangeira, aquela moeda que não é a dos seus salário e faturamento afirmou ontem Tombini, em sua primeira entrevista coletiva como comandante do BC.

Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a decisão do BC de limitar a posição em câmbio vendida dos bancos vai no cerne da questão, mas indicou que novas ações poderão sair do papel se a cotação do dólar insistir em derreter. Para o ministro, a maior pressão sobre o câmbio hoje está no mercado futuro, que é afetado diretamente pela nova medida. Isso porque a posição dos bancos funciona como uma bússola para as apostas do mercado em contratos derivativos, cujo volume é muito grande.

É uma medida positiva, que vai no cerne da questão. Hoje, a cotação do dólar se faz mais no mercado de derivativos futuro do que no mercado à vista (atingido diretamente pela decisão de ontem do BC). É quase como se fosse uma taxação para excesso de posição vendida disse Mantega. A cada momento você examina e vê de onde vem a pressão. Temos de observar e tomar medidas adequadas sem precipitação. O dólar é flutuante, não dá para arriscar.

Tombini diz que cenário externo pressiona o real

Tombini, por sua vez, também mencionou a preocupação com o cenário externo e seu excesso de liquidez, que acaba mantendo o real valorizado frente ao dólar. O novo presidente do BC disse que esse cenário ainda é volátil, oriundo da recuperação mais lenta das economias desenvolvidas e de sua consequente política monetária expansionista, que inunda o mercado com recursos para incentivar o consumo.

Isso é especialmente verdade nos EUA. Como o aquecimento da atividade econômica ainda é frágil, os investidores acabam buscando alternativas, como os mercados emergentes, que normalmente pagam juros mais altos. No Brasil, por exemplo, a Selic está em 10,75% ao ano, uma das maiores do mundo.

É um ambiente (externo) desafiador. Existe uma ampla liquidez internacional, e isso tem gerado desdobramentos para as economias emergentes, principalmente aquelas com grau de abertura econômica maior, como o Brasil.

Tombini argumentou ainda que a medida anunciada ontem pelo BC, que limita a posição vendida dos bancos quando apostam numa valorização do câmbio frente ao dólar e ajuda a segurar o derretimento do dólar, tem caráter prudencial. Ele, porém, fez questão de afirmar que o país não se fechará para capitais externos.

Isso não quer dizer, muito pelo contrário, que o Brasil não continua aberto para fluxos externos disse o presidente do BC.

Ele voltou a dizer que o país tem condições de buscar uma menor meta de inflação fixada em 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos em 2011 e 2012 , mas não quis colocar prazos. Para ele, outro foco do BC é o mercado de crédito, sobretudo o imobiliário, que continuará crescendo de forma vigorosa.

Para secretário, medidas reduzirão volatilidade

Já Mantega destacou que, há um ano, o mercado tinha mais posições compradas que vendidas em contratos futuros, mas esse quadro se

inverteu agora. Segundo o ministro, o governo está acompanhando a movimentação para tomar medidas gradualmente. Mas o ministro sinalizou que o problema no câmbio está longe de acabar. Segundo ele, a cotação da moeda americana é alvo de pressões tanto no mercado doméstico quanto no internacional:

Vamos observar. O dólar é flutuante, não dá para arriscar (uma cotação com a nova medida do BC). Ele sofre influências internas e externas. Na semana passada, ele estava se desvalorizando. Ontem (anteontem), ele estava se valorizando.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, também afirmou que a nova medida terá impacto gradual no mercado de câmbio. Segundo ele, é mais uma forma de influenciar as expectativas dos investidores e evitar uma volatilidade maior no mercado no futuro.

Ela vai direção correta, mas é uma medida compulsória, que não proíbe, só aumenta o custo das operações. Ela interfere no planejamento dos bancos, principalmente nessas operações de intermediação, de tomada de empréstimo lá fora e aplicação de recursos aqui dentro afirmou Barbosa.

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<OG_07/01/2011_32_MUN_EICHENBERG FERNANDO>

Pentágono propõe maior corte desde 11/9

Além da redução do orçamento militar, EUA anunciam enviar reforços de fuzileiros navais ao Afeganistão

WASHINGTON. O Pentágono procurou mostrar ontem sua disposição em aderir ao esforço de redução do déficit americano, uma das principais pressões da nova maioria republicana na Câmara sobre a Casa Branca. O secretário de Defesa, Robert Gates, vai propor um corte de U$ 78 bilhões no orçamento militar ao longo dos próximos cinco anos, o que poderá configurar a primeira rigorosa contenção desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Num encontro realizado pela manhã com líderes congressistas dos comitês de defesa, Gates e o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, almirante Mike Mullen, detalharam as prioridades do governo em investimento militar e as possibilidades de diminuição das despesas.

O plano inclui o cancelamento do projeto de compra de veículos anfíbios da General Dynamic Corp, os chamados de Veículos Expedicionários de Combate (EFV, na sigla em inglês), algo de acalorados debates no Congresso. Na mira dos cortes também está a nova versão do caça F-35 Joint Strike Fighter, que deverá ter seu desenvolvimento retardado pela limitação da injeção de recursos.

O Departamento de Defesa deverá transformar sua “cultura de dinheiro infinito em uma cultura de poupança e restrições”, apontou Robert Gates, em entrevista coletiva. O orçamento do Pentágono para 2012 está estimado em U$ 554 bilhões – contra os U$ 566 bilhões inicialmente solicitados – sem incluir os gastos com as operações no Afeganistão e o no Iraque. Até 2015, o Exército e a Marinha deverão reduzir seus efetivos em números de 27 mil e entre 10 mil e 15 mil, respectivamente.

Executivo de banco será chefe de gabinete de Obama

Numa outra decisão de governo – relativa à guerra no Afeganistão – o presidente Barack Obama poderá enfrentar resistências dentro de seu

próprio partido. Os EUA decidiram enviar nas próximas semanas um reforço de 1400 fuzileiros navais para o sul do país. O início de retirada das tropas americanas do Afeganistão está previsto para julho deste ano, mas o recrudescimento da violência por parte dos rebeldes talibãs justificou, segundo Robert Gates, o aumento do contingente militar.

Há um ano, Obama autorizou o envio de mais 30 mil soldados ao Afeganistão, com a possibilidade de um acréscimo de três mil militares em caso de necessidade. Os EUA possuem atualmente 97 mil soldados na região.

Para colocar ordem na Casa Branca, no agitado dia de ontem Obama nomeou como seu novo chefe de gabinete William Daley, ex-secretário de Comércio e executivo do J.P Morgan Chase, e irmão do prefeito de Chicago, Richard Daley, ele substitui o interino Pete Rouse, que ocupava o cargo desde a saída de Rahm Emanuel (em outubro passado, para concorrer à prefeitura de Chicago).

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<OG_07/01/2011_3_OPA_GOIS CHICO DE_DAME LUIZA>

Em busca da "porta de saída"

Dilma lançará programa nos moldes do PAC para ampliar serviços além do Bolsa Família

A presidente Dilma Rousseff fez ontem a primeira reunião interministerial para tratar de sua principal promessa de campanha, reafirmada no discurso de posse: uma política para acabar com a miséria no país. Embora ainda não tenha definida a forma como isso ocorrerá, foi estabelecido na reunião um plano geral de trabalho que prevê três frentes de atuação: inclusão produtiva dos mais pobres, ampliação da rede de serviços públicos e continuidade e aprofundamento do trabalho de transferência de renda. Ou seja, além de aperfeiçoar o sistema de transferência de renda, especialmente o Bolsa Família, o programa vai criar a chamada porta de saída para famílias beneficiadas, abrindo oportunidades de trabalho. Dilma quer um plano de gestão para essa área nos moldes do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.

Hoje, o Bolsa Família oferece três programas de preparação dos beneficiários para o mercado de trabalho. A intenção do governo é ampliar essas ofertas e também garantir serviços públicos à população miserável.

- Não vamos atacar a agenda da extrema pobreza somente com transferência de renda. Ao contrário, nossa agenda é de inclusão social e produtiva, de ampliação da rede de serviços públicos, como saneamento, oferta de água, saúde, educação, qualificação profissional. É uma agenda focada na pauta de extrema pobreza, mas que conta com um conjunto de ofertas de ampliação de cidadania e oportunidade de emprego - disse a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, porta-voz da reunião entre Dilma e dez ministros.

"Não é o Fome Zero", diz ministra

Segundo ela, o plano que será desenvolvido terá metas, como o PAC, mas adiantou que não tem uma data definitiva para ter fim nem um nome de

batismo. Está sendo chamado genericamente de Programa de Erradicação da Extrema Pobreza. Também não tem um orçamento específico previsto.

- Nós tiramos hoje (ontem), fundamentalmente, um modelo de gestão, como fizemos para o PAC, onde queremos ter metas claras, condições de monitoramento. Queremos prestar contas para a sociedade e para a imprensa sobre o monitoramento dessas metas - declarou a ministra.

Tereza Campello disse ainda que haverá um comitê gestor organizado pelo núcleo central do governo e coordenado por seu ministério:

- Vamos organizar essas metas e trabalhar em reuniões bilaterais e no comitê gestor para organizar o desenho geral do programa e, logo que isso estiver organizado, vamos apresentar para a sociedade, para os governos estaduais e municipais, que são parceiros estratégicos para que a gente consiga avançar.

Ana Fonseca será a secretária-executiva do programa. Ela foi secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social. Deixou o cargo em novembro de 2004, por divergências com o então ministro Patrus Ananias, sobre as condicionalidades do Bolsa Família. Pesquisadora da Unicamp, foi uma das principais responsáveis pela formatação do programa no governo Lula.

Tereza Campello fez questão de dizer que o novo programa não será um Fome Zero, lançado logo no início do governo Lula, em 2003, e que acabou naufragando.

- Não é o Fome Zero. O conjunto de programas que já estamos fazendo continua. Mas não é uma soma de programas.

Ana Fonseca afirmou que os benefícios de prestação continuada da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) e o Bolsa Família continuarão normalmente, porque são leis.

- Não estamos apagando nada - disse. - Nós não discutimos recursos adicionais.

No Bolsa Família, o governo trabalha com a meta de incluir um milhão de famílias que estão na faixa de renda do programa, mas não têm filhos;

comunidades indígenas; moradores de rua; quilombolas; e comunidades de fronteiras. Há uma verba extra de R$1 bilhão no orçamento deste ano para o Bolsa Família.

Participaram da reunião os titulares dos ministérios do Desenvolvimento Social, da Fazenda, do Desenvolvimento Agrário, da Educação, do Planejamento, do Trabalho e Emprego, das Cidades, da Saúde e da Integração Nacional, a Casa Civil, a Secretaria-Geral e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na reunião, Dilma forneceu dados e acompanhou todas as informações com dois laptops posicionados à sua frente, inaugurando um estilo diferente do antecessor nas reuniões técnicas.

</OG_07/01/2011_3_OPA_GOIS CHICO DE_DAME LUIZA>

<OG_07/01/2011_1_MAN_FABRINI FABIO>

Dilma visitará China, EUA e mais 5 países até abril

Viagem à Argentina deverá dar início ao roteiro internacional

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff visitará até abril pelo menos sete países, entre eles China e Estados Unidos, principais parceiros comerciais do Brasil. O primeiro roteiro internacional será por países da América do Sul, começando pela Argentina. Segundo Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, a prioridade é dinamizar o comércio com os chineses e discutir o fim de medidas protecionistas dos americanos, inclusive o etanol.

- Precisamos melhorar nosso comércio com os Estados Unidos, que no último ano ficou deficitário. Há elementos protecionistas que gostaríamos que fossem removidos. NO que diz respeito ao etanol, por exemplo – Afirmou Marco Aurélio.

Dilma viajará aos EUA a convite do presidente Barack Obama, possivelmente em março. Na China, ela participará de reunião dos Brics ( como é chamado o bloco de Brasil, Índia, China e África do Sul)

- A China é nosso primeiro parceiro comercial, país com o qual temos superávit comercial. Mas nós queremos dinamizar mais o comércio. Gostaríamos também que pudesse entrar na pauta a exportação de produtos com mais valor agregado – disse Marco Aurélio.

Ainda este mês, Dilma deve visitar a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, que assume a presidência do Mercosul.

</OG_07/01/2011_14_OPA_FABRINI FABIO>

<OG_07/01/2011_1_MAN>

BC cria compulsório de 60% para deter dólar

Na primeira medida do governo Dilma para segurar o dólar, o BC criou um compulsório de 60% limitando operações dos bancos que apostam na queda da moeda. Com isso, eles terão que comprar US$ 7 bilhões no mercado. Em reação, o dólar subiu 0,77%, a R$ 1,6888. O BC alertou que o brasileiro deve ter cautela ao se endividar em dólar. Páginas 25 a 27

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<OG_07/01/2011_2_MAN>

EUA farão maior corte de gastos militares desde 11/9

O corte, que será proposto pelo secretário de Defesa, Robert Gates, vai atingir U$ 78 bilhões, durante os próximos cinco anos. O mundo, página 32

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<OG_14/01/2011_19_ECO_D’ERCOLE RONALDO>

Fatura no mercado externo

Empresas brasileiras já emitiram US$ 2,7 bi em títulos este ano. Em 2010, total foi recorde: US$ 40 bi

As empresas e os bancos brasileiros nunca captaram tanto dinheiro lá fora com a emissão de títulos. Do início do ano até a última quinta feira, 13 de janeiro, cinco grupos - BR Malls (shoppings), Bradesco, Banco do Brasil, Santander e banco Cruzeiro do Sul - já concluíram emissões lá fora, em operações que, juntas, levantaram US$ 2,76 bilhões. O excesso de liquidez nos mercados internacionais e os juros baixos resultantes das politicas monetárias expansionistas nos Estados Unidos e Europa, que tentam reerguer suas economias, criaram um cenário muito favorável para as empresas brasileiras buscarem lá fora recursos para financiar os investimentos aqui. Em 2010, entraram nos cofres das companhias brasileiras US$ 40,37 bilhões por meio das emissões de papéis, como bônus e commercial papers. O volume, 53% maior do que os US$ 26,2 bilhões levantados em 2009, é recorde, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).

- O primeiro trimestre tende a ser muito aquecido, porque a economia brasileira está muito forte, e o dinheiro de longo prazo para as empresas no Brasil ainda é escasso - diz Alexandre Aoude, diretor-executivo do Itaú BBA.

Mais bônus perpétuos e lançamento do BB

A maior operação deste início de ano foi fechada ontem pelo BB, que emitiu C 750 milhões em bônus com prazo de cinco anos, pagando juros de 4,625% ao ano. Ainda em Londres, ontem, o vicepresidente de Finanças e Relações com Investidores do BB, Ivan Monteiro, comemorava a primeira captação do banco no mercado europeu desde 2003.

- Retornamos a esse mercado, que volta a ser uma fonte adicional de funding importante, possibilitando ao banco manter a liderança no financiamento às exportações brasileiras - disse Monteiro, informando que a demanda pelos papéis do banco chegou a C 1,4 bilhão.

Os bancos têm aproveitado bastante as boas condições de captação no exterior. Dos US$ 40,3 bilhões levantados lá fora com a emissão de títulos no ano passado, US$ 21,3 bilhões, ou 53%, foram para reforçar o caixa de empresas não financeiras, enquanto US$ 14,2 bilhões (35%) ficaram com os bancos.

A maior parte foi de "dívida subordinada", ou seja, recursos que servem para aumentar a capacidade de financiamento dos bancos. Recorreram a essas operações tanto bancos menores, como BicBanco e ABC, quanto Itaú Unibanco, Santander, Bradesco e BB.

- O mercado está muito aberto e é uma oportunidade para a diversificação de prazos das captações, a custos menores. Em 2010, o mercado teve um apetite forte, os bancos souberam aproveitar, e o ano começou nessa linha - diz Fábio Mentone, diretor de Investimentos do Bradesco BBI, que na semana inaugurou a temporada de captações, com a emissão de US$ 500 milhões em bônus.

Em 2010, o governo federal captou apenas US$ 2,8 bilhões lá fora com o relançamento de um bônus global, enquanto o BNDES levantou US$ 1,9 bilhões com debêntures.

O maior interesse por papéis brasileiros reabriu também às empresas brasileiras o mercado para as emissões de títulos perpétuos (sem prazo de vencimento). Companhias como Odebrecht, Braskem e AmBev aproveitaram para fazer novas emissões.

- Esse dinheiro é quase um investimento direto por não ter prazo - observa Aoude, do Itaú BBA.

As boas condições para buscar recursos lá fora, contudo, levaram a um maior endividamento nos últimos dois anos. Levantamento da consultoria Economática mostra que, entre setembro de 2009 e o mesmo mês de 2010, o estoque de dívidas em moeda estrangeira das 291 empresas brasileiras de capital aberto aumentou 32%, passando de US$ 115,7 bilhões para US$ 153,8 bilhões.

- Desse aumento de US$ 37 bilhões no estoque de dívidas, parte veio de novos empréstimos diretos tomados junto a bancos - observa Einar Rivero, da Economática.

A elevação do endividamento decorrente do aumento das captações, observa Luiz Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, exige das empresas uma gestão mais eficiente da variável cambial em seus balanços.

- O governo já sinalizou que vai intervir para calibrar o nível do dólar, o que representa um componente novo de incerteza cambial, que deve ser considerado nas decisões de novas emissões - diz.

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Após dois anos, Banco Central volta a atuar no mercado futuro de dólar

EFEITO CÂMBIO: Terceira medida do governo Dilma quer evitar moeda mais forte

Para conter alta do real, leilão de swap cambial reverso hoje pode atingir US$1 bi

BRASÍLIA e RIO. Depois de quase dois anos, e com o objetivo de evitar que o dólar perca mais força ainda frente ao real, o Banco Central (BC) voltará hoje a realizar os chamados leilões de swap cambial reverso. Na prática, essa ação equivale a uma compra futura de dólares, instrumento que vinha sendo defendido também pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como uma arma para evitar mais distorções no mercado de câmbio. Quando a autoridade monetária compra dólares, ela pressiona a alta da cotação.

O primeiro leilão está marcado para hoje e pode chegar a US$1 bilhão, depois de o BC ter feito uma pesquisa de interesse do mercado ontem à noite. A última vez que um swap cambial reverso foi utilizado foi em 5 de maio de 2009, na crise internacional.

O BC quer voltar a atuar no mercado futuro de câmbio, o principal formador dos preços das moedas. E essa tendência se acentuará ainda mais. Isso porque, na semana passada, o BC anunciou uma medida que limitou, por meio da imposição de compulsórios, a posição cambial vendida dos bancos. Esta ocorre quando as instituições apostam numa valorização cambial.

Sob a batuta da presidente Dilma Rousseff, o governo elevou o tom do discurso para deixar claro que fará as ações necessárias para evitar mais fraqueza do dólar. Esta é a terceira medida com este objetivo em 13 dias de administração. Além da limitação de posição vendida dos bancos, a Fazenda regulamentou o uso do Fundo Soberano do Brasil na compra de dólares.

O BC, no entanto, resistia em realizar esses leilões por causa dos elevados custos. Pelos contratos, a autoridade monetária paga a variação da Selic - hoje 10,75% ao ano - e recebe a variação cambial.

Analista: tendência não muda. Dólar volta a cair, a R$1,669

No leilão de hoje, o BC colocará à disposição do mercado 20 mil contratos, de US$50 mil cada um. Serão três mil contratos com vencimento em 1º de abril de 2011, sete mil para 1º de julho de 2011 e 10 mil para 2 de janeiro de 2012. Todos esses contratos podem, se o BC quiser, ser rolados. Hoje, não existe nenhum swap cambial reverso na carteira da autoridade monetária.

Para o diretor de Câmbio da Corretora Renova, Carlos Alberto Abdala, a decisão do BC de realizar um leilão de swap cambial reverso traz um certo equilíbrio, mas não muda a direção do mercado de câmbio.

- A medida ameniza a queda do dólar, mas não consegue mudar a tendência - diz Abdala.

Ontem, o dólar fechou em queda de 0,47% no mercado brasileiro, a R$1,669, acompanhando o movimento de outros países. Foi feito um leilão de compra de dólares no mercado à vista, no qual o BC comprou, segundo o mercado, algo entre US$150 milhões e US$200 milhões.

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Ofertas de Espanha e Itália anima, mas desemprego nos EUA afeta bolsas

Títulos espanhóis obtêm € 3 bi, e italianos, € 6 bi, mas juros são maiores

MADRI, NOVA YORK e RIO. Depois de Portugal, Espanha e Itália. Estes dois países fizeram ontem leilões de títulos que forma considerados bem sucedidos, o que contribuiu para acalmar os temores do mercado sobre o contágio da crise da dívida. As bolsas, no entanto, acabaram cedendo devido ao aumento dos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos.

A Espanha obteve € 2,999 bilhões com o leilão, dentro das estimativas. No entanto, teve de elevar o juro dos papéis a 4,59%, o maior desde julho de 2008. Há dois meses, o juro ficara em 3,6%.

Já a Itália, em sua segunda emissão no ano, obteve € 6 bilhões com títulos de 5 e 15 anos, com juros de 3,67% e 5,06%, respectivamente, também acima das taxas registradas anteriormente. A demanda superou a oferta em 1,4 vez.

Refletindo o leilão de títulos de Portugal na quarta-feira, as bolsas asiáticas fecharam em alta. Tóquio avançou 0,73%, Xangai 0,23% e Hong Kong 0,47%.

Já na Europa, houve recuo depois do alerta do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, sobre a inflação. Apesar de o BCE ter mantido ontem os juros em 1%. Trichet disse haver pressões a curto prazo sobre os preços, que seriam atentamente monitoradas. Analistas viram um sinal de alta futura de juros.

Londres recuou 0,44% e Frankfurt, 0,99%. Já Paris avançou 0,75%, enquanto Milão subiu 0,91% e Lisboa, 0,37%. Madri teve a maior alta: 2,67%. O euro avançou 1,8% frente ao dólar, para US$ 1,3364.

O BCE e o fundo Monetário Internacional (FMI) manifestaram apoio à proposta do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, de reforçar o fundo de resgate criado para os países da zona do

euro, hoje de € 440 bilhões. A proposta será discutida pelos ministros de Finanças da União Europeia (EU) semana que vem

Bovespa recua 1,27%, depois de três dias de alta

Nos EUA, pesou o aumento de pedidos de auxílio-desemprego na semana passada, de 410 mim para 445 mil, o maior nível desde outubro. O Dow Jones, o principal índice da Bolsa de Nova York, teve queda de 0,20%. O S&P, mais amplo, recuou 0,17%, e o Nasdaq, 0,07%.

Acompanhando o mercado externo, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda depois de três altas consecutivas. O Ibovespa, principal referência do mercado, caiu 1,27%, aos 70.721 pontos.

- O mercado abriu positivo com os leilões da Espanha e da Itália, mas os números do seguro-desemprego nos Estados Unidos levaram os investidores a embolsarem seus ganhos recentes – afirmou o sócio-diretor da Hera Investimentos, Nicholas Barbarisi.

Papéis de blue chips como Petrobras e Vale recuaram, enquanto ações do setor de energia, com caráter mais defensivo, foram destaque entre as altas do Ibovespa. Petrobras ON (ordinária, com voto) perdeu 3,08% a R$ 30,50, enquanto que a PN (preferencial sem voto) caiu 2,11% a R$ 27,31. A queda nas ações da Vale foi de 0,70% a ON e de 0,32% a PN. Light ON subiu 2,61%. Já Copel PN avançou 2,32%.

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<OG_14/01/2011_21_ECO_GODOY FERNANDA>

Um milhão de americanos perdeu a casa em 2010

NOVA YORK - A crise das hipotecas continua batendo recordes nos Estados Unidos: um milhão de famílias americanas perderam suas casas em 2010, superando o recorde de 2009, de 918 mil. Os números devem continuar crescendo este ano. O balanço foi divulgado nesta quinta-feira pela RealtyTrac, site que agrega dados de imóveis. O porta-voz da empresa comparou o trabalho de contabilizar as execuções imobiliárias a "contar as cadeiras no deque do Titanic".

Um total de 2,9 milhões de notificações foram mandadas a lares americanos com hipotecas sob risco no ano passado, 2% a mais que em 2009. O número só não foi maior porque o último trimestre de 2010 registrou queda, em consequência de ações legais dos procuradores estaduais após denúncias de que os bancos não teriam examinado devidamente a documentação de cada caso antes de executar as hipotecas.

- Muitos desses casos de retomada de propriedade que foram interrompidos no fim de 2010, que estimamos em 250 mil, provavelmente serão retomados e se somarão aos números do início de 2011 - previu James J. Saccacio, diretor do RealtyTrac.

Califórnia registra maior número de casos

No estado de Nova York, por exemplo, a velocidade das execuções de hipotecas só é reduzida graças a uma exigência legal que estabelece que as empresas ou bancos responsáveis pela operação afirmem ter checado todos os documentos e garantido sua autenticidade.

Cinco estados respondem por 51% dos casos de famílias ameaçadas de perder as casas: Califórnia, Flórida, Arizona, Illinois e Michigan. A Califórnia registra o maior número de casos: 546.669. Mas a situação começa a melhorar, porque houve uma redução de 14% em comparação a 2009. Em segundo lugar veio a Flórida, com 485.286 notificações de execução hipotecária, queda de 6% frente ao ano anterior.

Já nevada foi o estado com a maior porcentagem de hipotecas efetivamente executadas – mais de 9% dos imóveis, ou um em cada 11 -, mas também registrou melhora frente a 2009, com recuou de 5%.

Analista acha que calote pode chegar a 11 milhões

O programa do governo Barack Obama para ajudar famílias em dificuldades com suas hipotecas, por meio de refinanciamento, tem ficado aquém de seus objetivos. Dos quatro milhões de proprietários que seriam beneficiados, de acordo com as estimativas iniciais, a previsão caiu para um milhão. Mas, até agora, apenas 435 mil hipotecas foram modificadas com incentivos do programa.

Alguns analistas do setor, como Laurie Goodman, do grupo Amherst Securities, estimam que até 11 milhões de pessoas que contrataram hipotecas correm risco potencial de não conseguir pagar a dívida. A persistência da crise econômica, com índices de desemprego na faixa dos 10%, contribui para o pessimismo das estimativas. Para o RealtyTrac, no entanto, o número do desastre potencial ficaria entre 4 e 5 milhões.

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<OG_14/01/2011_21_ECO_GODOY FERNANDA>

Falência pessoal nos EUA tem aumento de 9%

NOVA YORK. Mais de 1,5 milhão de americanas declararam falência em suas finanças pessoais em 2010, em parte como consequência do desemprego e da crise das hipotecas, em parte como tentativa de renegociar outras dívidas e manter a propriedade do imóvel ameaçado. Foi uma alta de 9% frente a 2009, segundo dados do Instituto Americano de Falências (ABI, na sigla em inglês) e do Centro Nacional de Pesquisas de Falências.

A Lei de Falências foi modificada em 2005 para tornar mais difícil aos consumidores recorrerem a ela como forma de se livras de dívidas. Com a mudança, as pessoas que pedem falência são levadas a renegociar as dívidas e fazer em um novo cronograma de pagamentos, em vez de simplesmente entregar suas propriedades.

- A Contínua subida no número de pedidos de falência, apesar das restrições da lei a partir de 2005, mostra que as famílias continuam a recorrer à falência diante do peso das dívidas e da estagnação na renda. Prevemos tendência de aumento em 2011 – disse o diretor-executivo da ABI, Samuel Gerdano.

Já o nível de inadimplência das empresas, que chegou a bater o recorde de 15% em novembro de 2009, caiu para menos de 4% nos últimos meses, segundo a Moody1s.

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<OG_14/01/2011_22_ECO_OLIVEIRA FLAVIA>

Recuperação ainda parcial

A recuperação do emprego na Indústria em 2010 ainda não foi suficiente para ultrapassar – e nem mesmo igualar – o nível máximo de ocupação, alcançado antes da crise de 2008/2009. Em novembro do ano passado, o total de vagas ainda estava 1,9% abaixo de setembro de 2008, quando o sistema financeiro dos EUA ruiu. O total de horas trabalhadas, termômetro de jornada extra, está 2,3% menor que no melhor momento do indicador. Não por acaso, aquele setembro foi o segundo maior patamar da produção industrial na série do IBGE, iniciada em 1991. O ponto máximo foi março deste ano, quando a atividade ultrapassou em 0,2% o resultado do nono mês de 2008. De lá para cá, a indústria se equilibra no mesmo ritmo. Como houve ganhos de produtividade típicos dos ajustes pós-crise, o emprego não tem como avançar. “Qualquer movimentação do mercado de trabalho está relacionada ao ritmo da produção. Se ela se estabiliza, a abertura de vagas também estaciona”, explica André Macedo, da Coordenação de Indústria do IBGE. O comportamento do emprego – e também da produção – tem diferença nos segmentos. Na indústria extrativa, as vagas estão no pico, a produção, 2% acima do recorde anterior, de setembro de 2008. Já a indústria de transformação opera a 1,2% abaixo do melhor momento do setor. Com isso, os empregos tiveram queda de 2% sobre o mesmo mês. A produção fabril só está bem em áreas relacionadas ao consumo interno, como bebidas, perfumaria, veículos e mobiliários, além de computadores e itens de informática. A queda do dólar causa estragos em que exporta ou concorre com importados.

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<OG_21/01/2011_19_ECO_OLIVEIRA ELIANE>

Alívio para os exportadores

Governo vai desonerar setor produtivo. Ministro quer força-tarefa para lidar com avanço chinês

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, vai sugerir ao Itamaraty a criação de um grupo interministerial voltado exclusivamente ao monitoramento das relações com a China – maior parceiro comercial do Brasil, mas uma de nossas principais fontes de preocupação, na briga por mercados e na guerra cambial. O objetivo da força-tarefa será a elaboração de uma estratégia de atuação junto a Pequim para defender o Brasil da onda chinesa e contra-atacar quando necessário. Ele antecipou ainda que o novo pacote de incentivos ao setor produtivo trará novas desonerações de impostos que incidem sobre as exportações.

Pimentel, que tratará do tema na segunda ou terça-feira que vem com o chanceler Antonio Patriota, está preocupado com a queda sucessiva dos superávits comerciais ao longo dos últimos anos. Uma de suas missões, disse, é recuperar as exportações brasileiras.

Aprovada a proposta de criação da força-tarefa, a ideia é que o plano estratégico seja fechado antes de abril, quando a presidente Dilma Rousseff viajará a Pequim. Como O GLOBO antecipou esta semana, no leque de ações, estão acordos comerciais e de investimentos com Pequim, como compensação aos danos concorrenciais provocados pelo país asiático.

Maior parceiro e fonte de problemas

Apesar de ser, hoje, o maior parceiro comercial do Brasil, com uma corrente de comércio (soma de exportações com importações) de US$56,4 bilhões em 2010, contra US$36,9 bilhões em 2009, a China tem sido um dos grandes responsáveis pela perda de competitividade de produtos brasileiros, afetados pela valorização do real frente ao dólar, enquanto o yuan está desvalorizado ante a moeda americana.

Desde que assumiu o cargo, o economista e ex-prefeito de Belo Horizonte enfrenta uma maratona diária de trabalho de mais de 12 horas. Sem esconder o jeito mineiro de fazer política, Pimentel evitou polemizar com o Banco Central (BC), que voltou a elevar juros, e entrar em detalhes sobre as novas desonerações. Explicou que quem deve falar é Dilma, de quem é amigo desde a faculdade. A seguir, os principais pontos da entrevista:

A EQUIPE: “Estamos montando uma equipe que conjuga três coisas fundamentais: a experiência no setor público, a juventude e a interface com o setor privado. Somos o ministério da indústria, não só do governo. Quero dizer ao empresário que vier ao meu gabinete: “Aqui é sua casa”.”

CHINA: “Não sei se vamos conseguir o mesmo que os Estados Unidos ganharam na visita do presidente (da China) Hu Jintao a Washington, como a abertura do mercado chinês para manufaturados. Mesmo porque a relação entre chineses e americanos é quase simbiótica. São eles quem financiam o déficit americano. Mas vamos tentar. A China é, hoje, o principal personagem da cena comercial do mundo, e não pode ser tratada como um país igual aos outros. Vou conversar com o Patriota na segunda ou na terça-feira que vem e sugerir a criação de um grupo permanente de trabalho interministerial para elaborarmos uma estratégia, que leve em conta possíveis acordos a serem fechados e a revisão de acordos que já existem.”

DEFESA COMERCIAL: “Vamos manter o que já fazemos, só que com um rigor maior, no sentido de buscar nossos direitos se (formos prejudicados por) qualquer país que pratica qualquer ato em desacordo com as normas internacionais de comércio.”

SALDO COMERCIAL: “Precisamos recuperar a tendência de crescimento do saldo comercial. Estamos em decréscimo. Já tivemos US$50 bilhões de saldo, que depois caiu para US$25 bilhões. As estimativas para 2011 apontam para um superávit de apenas US$10 bilhões, um pouco mais, um pouco menos. Por isso, o conjunto de medidas em estudo (pacote de incentivo ao setor produtivo, previsto para fevereiro) vai contemplar o setor exportador, com redução de custos e novas desonerações.”

PACOTE DE MEDIDAS: “O objetivo básico é destravar a economia brasileira. Em vez de ficarmos falando em ampla reforma tributária, vamos identificar os pontos onde de fato teremos (condições de trabalhar). Os estados terão de comparecer, fazer a parte deles.”

JUROS X INFLAÇÃO: “A disciplina fiscal não é um fim em si mesmo; é um meio em que você tem condições de dar crescimento econômico com estabilidade, com distribuição de renda. Espero que a conjuntura seja passageira, porque juro alto ninguém quer, nem o Banco Central, nem o Ministério da Fazenda. Tenho certeza de que o Tombini (Alexandre Tombini, presidente do BC) concorda com isso. Sabemos que as chuvas geraram pressão inflacionária sobre os alimentos, além de outros fatores. Nosso objetivo é termos uma taxa de crescimento com sustentação, entre 4,5% e 5%.”

INFRAESTRUTURA: “Não adianta a economia brasileira crescer se não temos infraestrutura e capacidade logística. Portos, aeroportos, estradas, tudo isso é fundamental para a produção e os embarques ao exterior.”

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<OG_21/01/2011_19_ECO_BOAS BRUNO VILLAS>

China cresce 10,3 e bolsas caem

Expansão foi acima do previsto em 2010. Temor de alta de juros derruba ações

Expansão foi acima do previsto em 2010. Temor de alta de juros derruba ações

PEQUIM, NOVA YORK e RIO. A economia da China continuou acelerada no quarto trimestre de 2010 e a inflação deu apenas um leve alívio. Dados divulgados ontem pelo Escritório Nacional de Estatísticas revelaram que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) da China cresceu 10,3% em 2010, ante 9,2% em 2009. No último trimestre do ano passado, a expansão do PIB foi de 9,8%, contra 9,6%, no terceiro trimestre de 2010.

Já a inflação do país em dezembro foi de 4,6%, ante 5,1% no mês anterior, o maior resultado em 28 meses.

Tanto o crescimento trimestral quanto o anual - que confirmaram que, em 2010, a China superou o Japão como segunda maior economia do mundo - ficaram acima das previsões. E mostraram que as medidas que o governo chinês adotou para levar o crescimento econômico para um patamar mais sustentável tiveram efeito limitado.

Aperto monetário reduziria demanda chinesa

Assim, economistas preveem que o governo chinês vai apertar ainda mais sua política monetária, o que poderá inclusive levar a uma valorização do yuan frente ao dólar. Os analistas acreditam que Pequim não só elevará a sua taxa básica de juros, como deve adotar novas medidas macroprudenciais, como a elevação do compulsório dos bancos.

Essa percepção afetou os mercados financeiros mundiais. Os preços do petróleo e de outras commodities, assim como das ações das empresas que os produzem, recuaram. O barril do petróleo do tipo leve americano caiu 1,41%, para US$89,45. A demanda chinesa por commodities tem sido um fator de pressão nos preços desses produtos. Um possível aperto

monetário na China, portanto, reduziria essa demanda, o que derrubou os preços.

- Os investidores e companhias nesses dias estão de olho nessa história da demanda chinesa - disse Jack Ablin, chefe de investimentos do Harris Private Bank. - E qualquer coisa que afete essa demanda poderá ter efeitos nefastos.

Ibovespa cai 0,71%. Ações da Vale recuam 1,68%

As ações chinesas recuaram. O índice de Xangai perdeu 2,9%, e o Shenzhen, 3,4%. O Nikkei japonês caiu 1,1% e o Heng Seng, de Hong Kong, 1,7%. Na Europa, o FTSE londrino recuou 1,8%, o DAX, de Frankfurt, 0,83%, e o CAC-40, de Paris, 0,3%. O robusto crescimento chinês também afetou as ações em Wall Street. O Dow Jones fechou quase estável, com queda de 0,02%. O S&P 500 recuou 0,13% e o Nasdaq caiu 0,77%.

No Brasil, também, o temor de novas medidas do governo chinês para conter a expansão do país afetou ontem a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa, índice de referência do mercado, recuou 0,71%, aos 69.561 pontos, menor patamar deste ano.

- Um cenário de aperto monetário na China afeta a Bovespa via exportadores de commodities, como a Vale - explica Paulo Hegg, operador da Um Investimentos.

As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Vale recuaram 1,68%, a R$58,60. Já os papéis preferenciais (PNA, sem voto) caíram 1,06%, a R$52,12.

BC fará leilão de US$1 bi no mercado futuro de dólar hoje

A agência de classificação de risco Moody"s divulgou ontem um relatório afirmando que o Brasil pode ser afetado por uma queda da demanda da China. Mas mantém "perspectivas positivas" para o país e vai rever o rating do Brasil no segundo trimestre deste ano, atualmente em grau de investimento com nota "Baa3".

Ontem, o dólar comercial fechou em queda de 0,05%, a R$1,672. O Banco Central (BC) informou que vai realizar hoje, pela segunda semana seguida,

um leilão de swap cambial reverso, que na prática significa uma intervenção no mercado futuro de câmbio. Serão oferecidos 20 mil contratos, num total de US$1 bilhão.

</OG_21/01/2011_19_ECO_BOAS BRUNO VILLAS>

<OG_21/01/2011_20_ECO_LEITAO MIRIAM>

Nos extremos

Dois economistas me disseram nos últimos dias que o mundo está vivendo extremos. Só um deles falava do clima. Alguns países estão crescendo fortemente, como a China, que não conseguiu desacelerar, outros estão em crise, da qual ainda não se viu a luz no fim do túnel. Alguns, gelados, outros, superaquecidos, economicamente falando.

Mas a vida de extremos, seja no clima, seja na atividade econômica, está afetando a economia. José Roberto Mendonça de Barros, que me falou dos efeitos climáticos, e Armínio Fraga, que me falou dos níveis polares de ritmo da economia do mundo, apontaram para a mesma direção: o aumento da inflação.

Outro economista com o qual conversei, Luiz Roberto Cunha, me falou dos efeitos nos preços da tragédia da Região Serrana do Rio. Ainda que nem tudo vá para os índices, pelo sistema de pesos, os consumidores estão sentindo já os aumentos de preços de alimentos.

Mas como se faz com uma inflação de tão amplo espectro? Basta subir os juros? No clima, às vezes fenômenos diversos se somam. Segundo me explicou recentemente o meteorologista Marcelo Seluchi, a Zona de Convergência do Atlântico Sul produziu um aumento da umidade, a Região Serrana já é normalmente nebulosa, e o Sistema de Bloqueio, outro fenômeno, impediu, por alguns dias, que o que é vulgarmente chamado de frente fria se espalhasse.

Na economia, está assim: a inflação sobe, puxada por fatores externos como a alta de preços de commodities; alguns alimentos aqui sobem — ou caem pouco apesar de ter terminado o período da entressafra, como a carne —; a demanda cresce puxada por salários e crédito farto; os preços dos serviços que não enfrentam competição externa sobem mais fortemente; o governo expande muito seus gastos. Mesmo se fosse um aumento de despesas relacionado a investimento, antes de ser crescimento ele será mais demanda agregada. Mas o aumento foi principalmente de gastos de custeio encomendados no ano passado, com

a leniência do Ministério da Fazenda, que não apenas dizia não haver relação entre gasto público e inflação, como mudou números e fórmulas de cálculo das contas públicas para que elas parecessem mais equilibradas do que estão.

Tudo isso se juntou a outro fato: a mudança de governo. Os empresários, pressionados por pedidos de aumentos de salários dos funcionários, que estão sendo disputados por outras empresas, e por elevação de alguns custos, olharam para o Banco Central. A inflação em 12 meses está mais perto do teto do que do centro da meta. Pelo regime de metas, o BC teria que subir os juros. Se ele não subisse, o radar da economia captaria o seguinte sinal: o governo Dilma não está disposto a pagar o preço de manter a inflação baixa. Isso afetaria o clima econômico. O empresário repassaria seus custos para os preços com mais um percentual de expectativa de alta de inflação; o seguinte, na cadeia de produção, também aumentaria. O atacado exigiria mais do varejo. O varejo subiria os preços ao consumidor.

Mais do que ter um efeito de derrubar a inflação no curto prazo, o que o Banco Central está tentando é alterar o ambiente econômico, cujo clima estava mudando na direção de mais aceitação da inflação.

A Fiesp disse que foi um mau começo. O que seria um bom começo? Aceitar que a inflação continuasse subindo numa virada de governo, com dúvida sobre se o Banco Central, que não é autônomo na lei, teria autonomia de fato — como nos dois últimos governos — para perseguir a meta de inflação?

Os juros produzem efeitos perversos na economia. O mais imediato deles é mandar para o câmbio o sinal oposto do que se quer enviar. Ontem, a economista Monica de Bolle disse que o Copom está “entre o câmbio, objetivo que não quer ter, mas que também não pode perder, e a inflação, cujas rédeas não pode soltar. Nem afrouxar.” O câmbio em queda ajudou a segurar a inflação, mas derrubar o dólar não é o objetivo do Banco Central. O Relatório de Inflação de dezembro, lembra Monica, disse que não havia pressões inflacionárias vindas de fora. O cenário mudou e elas começaram a vir.

José Roberto Mendonça de Barros lembrou que o Índice da FAO que mede os preços de uma cesta de alimentos está nos mesmos níveis de 2008, na crise de preço de alimentos. Outros medidores têm indicado isso também.

A elevação dos juros no Brasil pode aumentar o fluxo de capitais para o país. O jornal inglês “Daily Telegraph” disse que o presidente do Banco Central brasileiro, Alexandre Tombini, inaugurou sua gestão tomando uma decisão que pode aumentar a inundação de dólares especulativos (hot money). A elevação dos juros pode provocar uma “tsunami” nessa entrada de dólares, diz o jornal. O Brasil não é o único a subir os juros. China e Índia também fizeram, assim como outros emergentes. O problema é que no Brasil os juros já são altos demais, o que faz o país cada vez mais atrativo para o capital que quer vir apenas por curto prazo. Para sair desse sistema de bloqueio, só havendo uma zona de convergência entre a política fiscal e a monetária. Sozinho, o BC não consertará a economia.

Por falar em consertar. Ontem, no texto que escrevi sobre a vida de Ramiro Saraiva Guerreiro, houve um erro. O nome do livro é “Lembranças de um empregado do Itamaraty”. Minhas desculpas. Conheço bem o livro e o tempo que ele relata, período que fiz a cobertura do Itamaraty.

</OG_21/01/2011_20_ECO_LEITAO MIRIAM>

<OG_21/01/2011_24_MUN_GODOY FERNANDA>

Golpe nas Cinco Famílias de NY

Em maior operação já feita nos EUA num único dia contra a Máfia, polícia prende 127 suspeitos

Com uma precisão na coordenação que fez lembrar cenas de ¿O poderoso chefão¿, o FBI (a polícia federal dos EUA) e policiais de três estados prenderam, ao amanhecer de ontem, mais de 100 integrantes das Cinco Famílias da Máfia de Nova York ¿ Genovese, Bonanno, Colombo, Gambino e Luchese ¿ e das organizações criminosas de Newark (Nova Jersey) e Providence (Rhode Island). Chefes mafiosos e consiglieri estão entre as 127 pessoas acusadas de homicídio, extorsão, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, entre outros crimes, na maior operação já feita nos EUA num único dia contra a Máfia.

O procurador-geral dos EUA, Eric Holder Jr., foi ao Brooklyn, distrito de Nova York onde mais de dois terços das prisões foram realizados, anunciar o êxito da investida.

¿ Essas prisões marcam um importante passo adiante na tarefa de interromper as operações da Cosa Nostra, mas nossa luta contra organizações criminosas está longe do fim. Ela continua a ser uma prioridade ¿ disse Holder. ¿ Mafiosos estão entre os criminosos mais perigosos do país, com impacto negativo sobre a economia, por meio de uma variedade de esquemas fraudulentos e com a cobrança de impostos da Máfia sobre nossos portos, construção civil e pequenos negócios.

Fraudes e agiotagem movidas pela crise

Um dos objetivos da fala de Holder parece ter sido evitar que mais uma vez a polícia proclame a morte da Máfia. Após duas décadas de declínio, as atividades mafiosas estariam vivendo uma nova fase de crescimento, segundo especialistas. Um dos motivos seria a redução de recursos do FBI para o combate ao crime organizado, com o redirecionamento para o contraterrorismo, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

O ex-procurador-geral e ex-governador de Nova York Elliot Spitzer, que teve anos de experiência no combate ao crime organizado no estado, alertou que ¿a Máfia nunca acaba¿.

¿ Depois do 11 de Setembro, o FBI se concentrou, como era certo fazer, no combate ao terrorismo, mas o que estamos vendo agora prova que a Máfia nunca acaba, seja a tradicional Cosa Nostra, de origem italiana, ou outras. Este é o décimo-oitavo obituário da Máfia que eu leio, mas a verdade é que sempre existe crime organizado ¿ disse Spitzer no canal de TV a cabo CNN, do qual é apresentador.

Organizações mafiosas continuam tendo grande influência na área de construção civil e em regiões portuárias, controlando sindicatos e praticando extorsões contra trabalhadores.

¿ O FBI vem travando uma luta bastante bem-sucedida contra os mafiosos nas últimas três décadas, mas eles têm se mostrado resistentes e persistentes ¿ disse a chefe do FBI em Nova York, Janice Fedarcyk.

No caso dos estivadores, por exemplo, a Máfia se apropria de grande parte do bônus que eles recebem em dezembro, proporcional ao número de contêineres de carga que ajudaram a movimentar ao longo do ano. Fraudes e agiotagem contra pessoas com problemas de restrição de crédito estão entre as modalidades em alta após a crise econômica de 2008.

A ação de ontem, da qual participaram mais de 800 policiais, atingiu de forma particularmente dura a família Colombo, que teve todos os seus chefes ¿ aqueles ainda fora da cadeia ¿ presos. Eles são acusados de assassinatos, fraudes e extorsão contra sindicatos de trabalhadores da construção civil.

As acusações formalizadas agora cobrem crimes praticados ao longo de várias décadas. Entre eles, pelo menos cinco assassinatos, inclusive de pessoas que não tinham ligação com nenhum dos grupos mafiosos, como dois homens baleados numa briga ocorrida num bar do distrito nova-iorquino do Queens, em 1981, por causa de uma bebida derramada.

¿ Algumas acusações incluem clássicos ataques mafiosos contra rivais, outras envolvem homicídios verdadeiramente sem sentido ¿ disse Holder.

Com a cooperação de delatores que quebraram o código de silêncio da Máfia nos anos 90 ¿ como Alphonse D¿Arco, ex-chefe da família Luchese, e Salvatore Gravano, da família Gambino ¿ a polícia havia conseguido grandes avanços. Em 2003, com a prisão de Salvatore Vitale, que se tornou informante da polícia sobre a família Bonanno, muitos outros crimes foram esclarecidos. Vitale confessou sua participação em 11 assassinatos, inclusive o do gângster Donnie Brasco, e delatou muitos outros.

¿ O voto de silêncio que é parte da omertà (o código de honra da Máfia) é mais mito do que realidade hoje ¿ explica a chefe do FBI em Nova York, Janice Fedarcyk.

Na sexta-feira passada, um juiz federal de Nova York condenou John '¿Sonny'¿ Franzese, de 93 anos, a oito anos de prisão por extorsão contra clubes de strip-tease em Manhattan e uma pizzaria de Long Island. Um agente do FBI testemunhou ter ouvido Sonny se vangloriar de 60 assassinatos.

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A situação fiscal do Brasil está em estado de alerta, apontaram documentos divulgados ontem tanto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como pelo próprio Banco Central (BC). A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, que deu início a um ciclo de aumento de juros ao elevar a Taxa Selic de 10,75% para 11,25% ao ano, afirmou que o cumprimento - sem manobras - das metas fiscais acordadas para este ano e o próximo, com controle efetivo de gastos, e a moderação na expansão do mercado de crédito serão fundamentais para que a política monetária do BC não seja mais restritiva que o esperado atualmente pelo mercado.

Já o FMI alertou, na atualização de seu relatório "Monitor Fiscal", para uma deterioração "particularmente acentuada" nas contas fiscais. E ressaltou que as metas fiscais não devem ser cumpridas "por ampla margem". Na ata do Copom, o BC também reforçou sua preocupação com o avanço da inflação por causa dos preços elevados das commodities em geral e dos alimentos em particular, além da atividade econômica ainda forte, com a demanda por bens e serviços crescendo acima da capacidade de oferta do setor produtivo.

- O BC trabalha com o cumprimento da meta fiscal cheia (economia para pagamento de juros equivalente a 3% do Produto Interno Bruto, PIB, em 2011) e jogou um pouco da responsabilidade de cumprir a meta de inflação para o governo todo - afirmou o sócio da consultoria Tendências Juan Jensen, para quem a Selic será elevada a 12,25% até abril, em linha com a mediana do mercado mostrada pela pesquisa Focus, do BC. BC espera superávit de 3%, FMI não Desde o fim de 2009, o BC tem indicado a necessidade de o setor público aumentar o controle fiscal para evitar pressões adicionais sobre a inflação. Quanto mais o governo gasta, mais a demanda cresce, consequentemente estimulando o reajuste de preços. Na ata de ontem, no entanto, o BC foi bem mais enfático que o normal, usando um parágrafo inteiro para defender sua ideia.

"O Copom reafirma que seu cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis

fiscais. Importa destacar que a geração de superávits primários compatíveis com as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta, solidificará a tendência de redução da razão dívida pública sobre produto (PIB)".

O BC informou que, dentro do seu quadro de expectativas, trabalha com a projeção de o governo fazer um superávit primário de 3% do PIB neste ano e de 3,1%, como "hipótese", em 2012. Este é o compromisso firmado pelo setor público no Orçamento deste ano. Mas boa parte dos analistas - e o FMI - não acredita nisso e projeta superávit inferior a 3% neste ano, devido ao elevado gasto público. No "Monitor Fiscal", o Fundo observou que "o aumento da arrecadação foi usado, de maneira geral, para financiar gastos maiores", principalmente no Brasil, na China e na Índia. O FMI apontou ainda como problemas os elevados déficits fiscais de Estados Unidos e Japão.

Apesar de ser mais otimista que a média do mercado nesse campo, o BC piorou suas expectativas sobre inflação. Sem citar números, disse que suas contas para o IPCA estão "acima do centro da meta" em 2011, tanto no cenário de mercado (com previsões de analistas) quanto no de referência (com indicadores confirmados até uma determinada data). Para 2012, o BC também passou a enxergar um índice maior que o centro da meta no cenário de referência, mas ainda com a Selic a 10,75% ao ano. Ou seja, sem levar em conta a elevação nos juros já feita. A meta de inflação para 2011 e 2012 é de 4,5% pelo IPCA, com margem de oscilação de dois pontos percentuais para mais ou menos.

O BC destacou a importância, para o controle da inflação, das medidas macroprudenciais tomadas em dezembro, que limitaram o acesso ao crédito de consumo de longo prazo. Os efeitos já foram sentidos em janeiro, com a queda de 3,5% das concessões de empréstimos às famílias e a forte elevação nas taxas de juro. No cenário externo, o BC avaliou que pode estar começando uma recuperação econômica nos Estados Unidos, mas que esta ainda é uma incerteza. Não voltou, no entanto, a defender que o cenário internacional possa ajudar a segurar a inflação. Mercado teme novas medidas e inflação A ata de ontem foi a primeira com

Alexandre Tombini como presidente do BC e, para os analistas, apesar de a forma ainda estar bastante parecida com as demais, as questões inflacionárias foram tratadas de maneira mais clara.

Para o economista do banco Santander Cristiano Souza, a ata do BC não traz indicações, pelo menos a priori, de que o Copom vai acelerar o ciclo de aperto de juros. - Essa ata dá mais cores à discussão sobre a inflação, mas não parece que vai acelerar o passo no aperto monetário - afirmou Souza, que mantém a perspectiva de que a Selic será elevada para 13% ao ano até julho. A preocupação com a inflação e com a possibilidade de mais medidas macroprudenciais do governo, além da saída de investidores estrangeiros, fizeram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) encerrar em queda ontem.

O Ibovespa, seu principal índice, caiu 0,96%, aos 68.050 pontos. Companhias de construção e varejo tiveram as maiores quedas, devido ao temor sobre o impacto da alta da Selic. - O mercado está com muito medo da inflação e percebe que os juros estão fortes não apenas aqui, mas também nos emergentes. E vão continuar fortes - afirma o gestor de renda variável da Vetorial Asset Management, Fernando Belaciano. Já o gerente de renda variável da Corretora Futura, Renato Bandeira de Mello, destacou o movimento de saída dos estrangeiros da Bolsa: - A ata do Copom citou mais medidas macroprudenciais, e o mercado não sabe qual será o alcance dessas medidas.

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DAVOS, Suíça, BRASÍLIA e RIO. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, que este ano preside o G-20 - grupo das 20 maiores economias do planeta - defendeu ontem em Davos, no segundo dia do Fórum Econômico Mundial, que o mundo regule o preço das commodities para evitar uma nova crise de alimentos, como a que ocorreu em 2008. E fez um alerta, citando especificamente o Brasil, um dos líderes mundiais de exportação de commodities:

- Digo a nossos amigos produtores de matérias-primas agrícolas, e penso na Índia e no Brasil: não se trata de impedi-los de lucrar com a alta de preços - disse Sarkozy. - Digo apenas, cuidado: a um período de aumento exponencial de preço, se segue geralmente um período de baixa exponencial de preço.

Sarkozy anunciou esta semana que as commodities serão uma de suas prioridades na presidência do G-20. Preços de produtos básicos, como grãos e açúcar, atingiram cotações recordes em dezembro do ano passado. Ele insistiu que todo mercado precisa de regras.

- Não é do interesse de ninguém ver motins causados pela fome em vários países, porque as pessoas não podem garantir a alimentação para si próprias ou suas famílias - disse Sarkozy. - E não é nem do interesse daqueles que estão produzindo commodities, sejam combustíveis fósseis ou alimentos.

Soros vê risco de desintegração da UE

Além dos alertas do presidente francês, o segundo dia do Fórum Econômico Mundial foi marcado pelo susto causado por uma pequena explosão num hotel próximo ao centro de convenções. A explosão quebrou algumas vidraças, mas ninguém ficou ferido. Mais tarde, um grupo chamado Revolutionary Perspective divulgou nota em um site afirmando ter colocado a bomba porque havia ministros suíços e representantes do UBS no local.

Thomas Hobi, porta-voz da polícia suíça, disse que houve "uma pequena explosão" no subsolo de uma garagem do Post Hotel Morosani, por volta

das 9h da manhã (horário local). O atentado está sendo investigado pela polícia federal suíça.

Os executivos presentes no Fórum expressaram ceticismo sobre as chances de a crise da dívida da zona do euro ser resolvida sem afetar a Espanha e sem causar prejuízo a investidores. O megainvestidor George Soros disse que a União Europeia corre o risco de se desintegrar se não permitir que a Irlanda reestruture a dívida de seus bancos, e a Grécia, do governo.

Sarkozy, por sua vez, fez uma defesa veemente do euro, dizendo que a moeda representa a própria identidade da Europa, e que França e Alemanha não vão deixar que a moeda seja destruída.

- Aos que querem apostar contra o euro, cuidado com seu dinheiro - alertou.

Tombini faz alerta: não apostem no real valorizado

Na mesma linha de Sarkozy, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, leva para Davos um recado aos investidores estrangeiros: não apostem no real valorizado. Esta é a mensagem que o novo xerife da autoridade monetária vem enviando ao mercado desde que recebeu o cargo das mãos de Henrique Meirelles. Não há no governo a intenção de mexer na cotação do dólar, mas não se descarta que, em um repique da crise - que ainda não foi superada pelos países desenvolvidos, sobretudo a Europa -, o preço da moeda americana no Brasil volte a subir.

A mensagem está direcionada, sobretudo, àqueles que pretendem especular com a moeda brasileira em um momento em que a expressão da moda é "guerra cambial". Na primeira entrevista coletiva à imprensa, Tombini já havia alertado para que empresas e pessoas ficassem atentas a seus empréstimos em moeda estrangeira.

- As crises surgem de forma lenta e, por vezes, silenciosas. Muitas vezes, só são percebidas quando já se encontram em estágios avançados - disse Tombini em seu discurso de posse.

Por trás das palavras do presidente do BC o que se lê é que o país está preparado para oscilações do câmbio, como ocorreu na crise de 2008, quando o nível de reservas estava em US$206 bilhões, mais do que suficiente para amainar os efeitos da turbulência que levou o dólar de R$1,56 em 1º de agosto para R$2,50 em 5 de dezembro. Para o ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas, o recado é que o país não vai socorrer quem apostar contra o Brasil:

- É uma lembrança de que a moeda é flutuante e pode ir de um lado para outro e que o governo não tem como socorrer quem apostar contra o país.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, não há a expectativa de turbulências graves, mas o BC está preparado para enfrentá-las e o mercado deve estar também.

Ontem, o dólar avançou 0,47%, para R$1,679, após o BC realizar o quarto leilão de swap cambial reverso (que equivale a uma compra de dólar no mercado futuro) no ano, o primeiro anunciado no mesmo dia de sua realização. Além disso, a autoridade monetária fez dois leilões no mercado à vista, comprando cerca de US$750 milhões. Dos 20 mil contratos ofertados, só 10,2 mil foram vendidos pelo BC no swap cambial reverso, no valor de US$503,5 milhões. Nos três leilões anteriores, o mercado comprou toda a oferta, chegando a cerca de US$3 bilhões.

- O BC incluiu o fator imprevisibilidade na operação do leilão de swap cambial, foi uma surpresa para o mercado - disse o economista da BCG Liquidez Alfredo Barbutti.

COLABORARAM Vivian Oswald, Martha Beck e Lucianne Carneiro, com agências internacionais

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Desocupação no país é uma das mais baixas

Num ranking de 37 nações, Brasil ocupa a 29º posição e foi um dos poucos a reduzir a taxa

O Brasil fechou o ano passado com uma taxa de desemprego das mais baixas numa comparação com 37 países, feita pelo economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Pelo estudo, a maioria dos países da Zona do Euro ainda ostenta desemprego superior a 2010. Na região, o desemprego atingiu 10% dos trabalhadores. Em 2009, estava em 9,4%. Já na América Latina e Caribe, o movimento foi inverso. A taxa de desemprego passou de 8,2% para 7,6%:

- Muitos países da América Latina reduziram o desemprego a reboque do Brasil. Vimos isso na Argentina (a taxa caiu de 8,7% para 7,8%), no Paraguai (de 8,2% para 7,8%), no Uruguai (7,7% para 7,1%). Foi a força da economia brasileira no ano passado que se refletiu nos vizinhos.

O ranking do desemprego é liderado pela Espanha, onde 20% da força de trabalho está à procura de uma ocupação. Agostini afirma que os países com crises fiscais são os que apresentam as maiores taxas. Não por acaso, Irlanda ocupa o terceiro lugar no ranking, com desemprego de 13,5%. Em 2009, a taxa ficara em 11,9%. Em Portugal, situação semelhante. A taxa de desocupação saiu de 9,6% para 10,9%.

- A questão crítica do desemprego ainda está na Europa com níveis de desemprego historicamente elevados.

Desemprego nos EUA subiu de 9,3% para 9,7%

Nos Estados Unidos, a falta de vagas fez a taxa subir de 9,3% em 2009 para 9,7% em 2010. Taxa bastante alta quando a comparação é feita com 2007, quando o desemprego atingia menos da metade da força de trabalho americana. Naquele ano, a taxa ficara em 4,6%.

- O Brasil está a um passo à frente no emprego. O mercado de trabalho fortalece a demanda doméstica e o país não fica tão refém da recuperação do setor externo para manter a atividade econômica aquecida.

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Desemprego em 2010 é o menor em 8 anos: 6,7%

Rendimento de R$ 1.490 é recorde, mas inflação começa a corroer ganho. Falta de mão de obra qualificada preocupa

RIO, SALVADOR e PORTO ALEGRE. O ano de 2010 foi o melhor para o mercado de trabalho brasileiro. Essa avaliação foi unânime entre analistas. A taxa de desemprego, o rendimento, o emprego formal, as diferenças regionais, de gênero e raça estão no melhor patamar histórico, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada pelo IBGE. A parcela de desempregados na força de trabalho foi de 5,3% em dezembro, abaixo dos 5,7% de novembro e bem inferior aos 6,8% de dezembro de 2009. Em 2010, a taxa média de desemprego ficou em 6,7%, contra 8,1% de 2009 e 12,5% em 2003. Já o rendimento subiu 3,8% no ano, mas recuou 0,7% frente a novembro de 2010, efeito do avanço da inflação nos últimos meses.

Com taxa tão baixa, a ponto de os economistas estarem avaliando se o país já está no piso do desemprego, Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, diz que ainda é cedo para classificar a situação atual no mercado de trabalho de pleno emprego:

- É cedo para falar de pleno emprego. Como falar disso num país onde as diferenças regionais são tão grandes?

Ele se refere às altas taxas que ainda persistem em capitais nordestinas, como em Salvador, onde a média da taxa de desemprego em 2010 ficou em 11%, e em Recife, em 8,7%. Desemprego que acompanha há oito meses Antônio Carlos dos Santos, de 25 anos. Ele retornou ao Serviço Municipal de Intermediação de Mão de Obra de Salvador pela sétima vez, desde que seu contrato como técnico em informática terminou na empresa onde trabalhava, para tentar uma vaga como vigilante, com salário de R$990:

- O mercado de trabalho (de informática) é menor e muito mais exigente. Por isso, fiz um curso de vigilante que terminei em novembro. Ainda espero conseguir esta vaga.

Desemprego em Porto Alegre chegou a 3%

Em situação inversa vem Porto Alegre, onde o desemprego alcançou apenas 4,5% no ano e chegou a 3% em dezembro. Joseane de Oliveira Machado, de 26 anos, ajudou a baixar a estatística. Está empregada desde outubro em uma casa de massas no centro de Porto Alegre. A jovem é testemunha do aumento da oferta de emprego na capital gaúcha. Na primeira entrevista, conseguiu a vaga:

- Foi muito rápido! Em dois dias eu estava trabalhando.

Assim como Joseane, mais 743 mil trabalhadores conseguiram vaga formal. Das ocupações criadas em 2010, 91,8% foram com carteira assinada. Na Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, a situação se repete. Dos 765 mil empregos criados, 95% foram com carteira.

A participação desses trabalhadores protegidos no total de ocupados foi recorde em todas as atividades econômicas e em todas as regiões. O exemplo mais marcante foi a construção civil. De 2003 a 2010, a parcela de empregados formais subiu de 25,5% para 36,8%, na maior alta entre os ramos econômicos:

- Houve reestruturação forte no mercado de trabalho na construção civil - constatou Marcia Quintslr, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

No total de ocupados, a participação dos que têm carteira assinada passou de 39,7% em 2003 para 46,3%. Na indústria, o setor mais formal da economia, essa parcela subiu de 60,7% em 2003 para 66,7% em 2010:

- E vimos reduções importantes no emprego sem carteira e doméstico. Foram menos 66 mil no trabalho doméstico. Isso significa que o mercado criou alternativas para entrada no mercado desses trabalhadores - afirmou Sérgio Mendonça, economista do Dieese.

Diante dessa situação, Cristiano Souza, economista do Banco Santander, diz que a pressão da falta de mão de obra, principalmente qualificada, vai continuar este ano. E o ritmo de melhora vai diminuir. O banco projeta taxa de desemprego média em 2011 de 7%.

"A inflação funcionou como uma barreira ao rendimento"

Para Sérgio Mendonça, do Dieese, ainda não há um apagão de mão de obra generalizado no mercado. Mas a situação preocupa em algumas áreas:

- Com 6,7% de desemprego pelo IBGE e 11,9% pelo Dieese, não dá para dizer que haja um gargalo. Há falta de engenheiros, carpinteiros, soldadores. São situações pontuais.

O rendimento médio real também alcançou seu maior nível no ano passado. Chegou a R$1.490,61, uma alta de 3,8% frente a 2009. Um aumento semelhante ao captado em 2009, de 3,2%, quando o mercado de trabalho sofria as consequências da crise global, e a taxa de desemprego média subira de 7,9% para 8,1%. Segundo Azeredo, do IBGE, o aumento da inflação teve o seu papel nesse "progresso mais tímido" no rendimento:

- Havia uma expectativa de que iria aumentar ainda mais o rendimento no ano passado. A inflação funcionou como uma barreira ao progresso do rendimento - afirmou Azeredo.

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No centro das decisões

O G-20, que reúne as maiores economias do mundo, toma cada vez mais jeito de ser o organismo apropriado para as decisões do novo mundo multipolar que vem se desenhando, substituindo o G-8 antes que os fatos o tornassem obsoleto. Em poucos anos, países emergentes como China, Índia e Brasil estarão entre as principais economias do mundo, superando muitas das que hoje fazem parte do G-8.

A Rússia, pela importância política mais do que pela sua economia, já fazia parte como convidada do principal fórum de decisões.

A realidade fez com que esse fórum tivesse que ser ampliado, e agora os países emergentes estão inseridos nas decisões internacionais, e têm que assumir as responsabilidades decorrentes da nova situação.

Pois o presidente francês, Nicolas Sarkozy, está disposto a usar seu mandato à frente do G-20 para conseguir um consenso entre as principais economias do mundo, para regulamentar não apenas os mercados financeiros internacionais, mas também o mercado internacional de commodities, em especial o de produtos agrícolas.

Ele ontem fez um discurso bastante incisivo no Fórum Econômico Mundial, acenando inclusive com a possibilidade de uma revolta dos países pobres caso as principais economias do mundo não cheguem a um consenso para ajudá-los.

É dentro do contexto de um mundo que muda rapidamente, onde as informações chegam em segundos às mais diversas partes através dos mais diferentes meios tecnológicos, que Sarkozy vê a necessidade de uma ação para conter as especulações.

Não parecia estar fazendo cena quando previu que em 20 a 30 anos, se não houver uma mudança de postura diante dos problemas como escassez de alimentos devido à alta especulativa dos preços, pode haver uma crise de proporções inestimáveis.

Ele chamou atenção especificamente para o Brasil, dizendo que os países que hoje estão ganhando muito dinheiro com a alta dos preços das commodities estão sujeitos a quedas bruscas, o que pode desequilibrar suas economias.

Para ele, melhor será para todos se houver um mercado equilibrado pela regulação.

Sarkozy defendeu até mesmo uma taxa, que classificou de "infinitesimal", sobre as transações financeiras para a formação de um fundo de ajuda aos países pobres - fundo este com que os países ricos já estão comprometidos, mas para o qual não haverá dinheiro diante do enorme déficit fiscal que os países tiveram para enfrentar a crise financeira que estourou em 2008.

Dificilmente Sarkozy conseguirá esse consenso, e provavelmente as diferenças dos interesses dos países que formam o G-20 ficarão patentes durante as discussões. E Sarkozy parece jogar com a união dos países europeus para tentar dar os rumos das discussões, deixando os emergentes em posição subalterna.

O Brasil, por exemplo, se nega a apoiar uma regulamentação dos preços de commodities, mas quer a regulação dos mercados financeiros.

A própria gênesis do G-20 mostra como é difícil acomodar os interesses desse mundo multipolar, que tem hoje em países emergentes - como os que formam os Brics - jogadores fundamentais.

O G-20 nasceu em 2003, por ocasião da reunião da Organização Mundial do Comércio em Cancún, no México - que paralisou as negociações da Rodada de Doha para liberalização do comércio internacional devido a um impasse que colocou o grupo de países emergentes, à época liderado pelo Brasil, em contraposição a Estados Unidos, Japão e União Europeia.

Houve quem, na ocasião, se vangloriasse de que os emergentes haviam enfrentado com êxito os "países ricos" pela primeira vez, mesmo que à custa do fracasso das negociações.

Cinco anos depois, em 2008, o Brasil via-se na posição oposta à da China, e principalmente, à da Índia. Estávamos então do outro lado da mesa, com os "países ricos", na negociação da agricultura.

O problema é que a coesão do G-20 só se dá por razões que são ideológicas. A estratégia deu certo para os emergentes até o momento em que o G-20 representava uma resistência para a abertura em produtos industriais.

O que impediu a negociação naquela ocasião foi a proteção à agricultura familiar na Índia e na China. Dentro do G-20 não há um consenso básico em matéria de agricultura para poder negociar, porque a agricultura não é um tema Norte-Sul.

A Índia está protegendo seus pequenos agricultores porque eles não têm produtividade para competir, assim como a União Europeia protege os seus agricultores pela mesma razão. E o competidor, em grande parte das vezes, é o agronegócio brasileiro.

O Brasil pode ser considerado hoje a "fazenda do mundo". E poucos interesses comuns existem entre os representantes dos emergentes.

Alguns desses países já são potências econômicas, como a China, e outros estão a caminho, como Índia e Brasil, mas, quando lhes interessa, posam de pobres.

Porém, quando a França levanta a necessidade de dinamizar o comércio de alimentos para atender às necessidades justamente dos "países pobres", são os emergentes que produzem alimentos que não querem uma regulação.

Mesmo porque desconfiam que a preocupação francesa com os mercados tem mais a ver com a tentativa de controlar a ascendência das novas potências do que propriamente defender os países pobres.

A situação paradoxal leva a que seja possível que Índia ou China sejam obrigadas até a reduzir suas tarifas em caso de escassez de algum alimento, assim como os interesses do Brasil e dos Estados Unidos são

convergentes quando se trata da produção de biocombustíveis, acusada frequentemente de ser responsável pela alta do preço dos alimentos.

Há ainda interesses políticos conflitantes entre os emergentes do G-20, como, por exemplo, a aspiração de fazer parte de um Conselho de Segurança da ONU reformulado que reflita esse novo mundo multipolar.

O apoio do presidente Barack Obama à entrada da Índia, anunciado recentemente, teve como objetivo principal enfraquecer diplomaticamente a China, mas atingiu diretamente o Brasil, que vem tentando obter dos Estados Unidos uma declaração formal de apoio e nunca conseguiu mais do que declarações genéricas e indiretas.

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Desemprego é o menor em oito anos, mas inflação corrói renda

O desemprego no país caiu a 5,3% em dezembro e fechou 2010 com taxa média de 6,7%. A renda subiu 3,8% no ano, mas caiu 0,7% frente a novembro. ECONOMIA, página 25

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