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Introdução O ambiente escolar, além de prover conceitos científicos e o crescimento cognitivo, proporciona relações sociais e o desenvolvimento psicológico dos indivíduos, sendo assim de fundamental importância a inserção dos jovens nas instituições de ensino. Porém, existem fatores negativos que podem levar a defasagem de aprendizado, sendo eles de ordem biológica (como disfunções cerebrais, TDAH Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, dentre outros) ou aqueles psicológicos (traumas, depressão, etc). Um conhecido desvio comportamental parece estar ligado á inúmeras tragédias da atualidade, ocorrendo principalmente no âmbito acadêmico, com a morte de estudantes e professores, como em Columbine (1999) e Virgínia Tech (2007) nos Estados Unidos, e em Taiúva São Paulo (2003) e Remanso Bahia (2004), sendo denominado Bullying. Parece haver um consenso entre os pesquisadores da área, de que tal fenômeno propicia grandes malefícios ao processo de ensino, assim como ao desenvolvimento dos envolvidos (DE MOURA et al. 2010; LISBOA et al. 2009; LOPES NETO, 2005; MARTINS, 2005). Termo de origem inglesa (to bully = intimidar) que se popularizou na década de 60 na Noruega e Suécia pelo Professor Dan Olweus, com trabalhos em escolas primárias e secundárias sobre a violência infantil. Outros países adotaram suas próprias denominações (ijime no Japão, mobbing na Dinamarca, violenza na Itália), porém, tais vocábulos não conseguem expressar corretamente a dimensão da palavra inglesa, no Brasil é conhecido a expressão “vitimização entre pares” (ANTUNES & ZUIN, 2008; LISBOA et al.; MATOS, 2009). O Bullying pode ser identificado como uma violência assimétrica de forças contra um ou mais alvos, de caráter duradouro e com prejuízos para uma das partes envolvidas, sem nenhum motivo aparente (BANDEIRA, 2012; SMITH et al. 2002). Tal comportamento tem o objetivo de machucar, humilhar e subjugar as vítimas, e pode ocorrer de forma direta física (chutes, socos, empurrões), de forma direta verbal (xingamentos, apelidos, provocações) e de forma indireta (maledicência, exclusão, marginalização, fofocas) (BULLOCK, 2002; MARTINS, 2005). Na atualidade parece haver surgido uma nova prática entre os jovens, denominada Cyberbullying, como identificado pelos pesquisadores, com o uso de ferramentas tecnológicas e redes sociais para perseguir e humilhar os alvos (LOPES NETO, 2005; COLOVINI, 2007; LISBOA et al. 2009; MALTA, 2010; DE MOURA, 2010). Existem três papéis desempenhados pelos indivíduos no Bullying: os Agressores, as Vítimas e as Testemunhas . Os agressores tendem a desenvolver condutas de risco como o uso de tabaco, drogas e álcool em longo prazo, assim como dificuldades em manter relações pessoais e posterior abandono acadêmico. As testemunhas apresentam quadros de ansiedade e insegurança, prejudicando seu desempenho na escola, para as

Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

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Artigo apresentado como um relatório de atividades realizadas no ano de 2011 para o Nucleo de Educação de uma cidade do interior do estado de são paulo.

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Page 1: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

Introdução

O ambiente escolar, além de prover conceitos científicos e o crescimento

cognitivo, proporciona relações sociais e o desenvolvimento psicológico dos indivíduos,

sendo assim de fundamental importância a inserção dos jovens nas instituições de

ensino. Porém, existem fatores negativos que podem levar a defasagem de aprendizado,

sendo eles de ordem biológica (como disfunções cerebrais, TDAH – Transtorno do

déficit de atenção com hiperatividade, dentre outros) ou aqueles psicológicos (traumas,

depressão, etc).

Um conhecido desvio comportamental parece estar ligado á inúmeras tragédias

da atualidade, ocorrendo principalmente no âmbito acadêmico, com a morte de

estudantes e professores, como em Columbine (1999) e Virgínia Tech (2007) nos

Estados Unidos, e em Taiúva – São Paulo (2003) e Remanso – Bahia (2004), sendo

denominado Bullying. Parece haver um consenso entre os pesquisadores da área, de que

tal fenômeno propicia grandes malefícios ao processo de ensino, assim como ao

desenvolvimento dos envolvidos (DE MOURA et al. 2010; LISBOA et al. 2009;

LOPES NETO, 2005; MARTINS, 2005).

Termo de origem inglesa (to bully = intimidar) que se popularizou na década de

60 na Noruega e Suécia pelo Professor Dan Olweus, com trabalhos em escolas

primárias e secundárias sobre a violência infantil. Outros países adotaram suas próprias

denominações (ijime no Japão, mobbing na Dinamarca, violenza na Itália), porém, tais

vocábulos não conseguem expressar corretamente a dimensão da palavra inglesa, no

Brasil é conhecido a expressão “vitimização entre pares” (ANTUNES & ZUIN, 2008;

LISBOA et al.; MATOS, 2009).

O Bullying pode ser identificado como uma violência assimétrica de forças

contra um ou mais alvos, de caráter duradouro e com prejuízos para uma das partes

envolvidas, sem nenhum motivo aparente (BANDEIRA, 2012; SMITH et al. 2002). Tal

comportamento tem o objetivo de machucar, humilhar e subjugar as vítimas, e pode

ocorrer de forma direta física (chutes, socos, empurrões), de forma direta verbal

(xingamentos, apelidos, provocações) e de forma indireta (maledicência, exclusão,

marginalização, fofocas) (BULLOCK, 2002; MARTINS, 2005).

Na atualidade parece haver surgido uma nova prática entre os jovens,

denominada Cyberbullying, como identificado pelos pesquisadores, com o uso de

ferramentas tecnológicas e redes sociais para perseguir e humilhar os alvos (LOPES

NETO, 2005; COLOVINI, 2007; LISBOA et al. 2009; MALTA, 2010; DE MOURA,

2010).

Existem três papéis desempenhados pelos indivíduos no Bullying: os Agressores,

as Vítimas e as Testemunhas . Os agressores tendem a desenvolver condutas de risco

como o uso de tabaco, drogas e álcool em longo prazo, assim como dificuldades em

manter relações pessoais e posterior abandono acadêmico. As testemunhas apresentam

quadros de ansiedade e insegurança, prejudicando seu desempenho na escola, para as

Page 2: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

vítimas torna-se comum a exclusão do ambiente escolar e o desinteresse, com o

surgimento de quadros depressivos e suicidas, vendo assim negligência intelectual dos

envolvidos impossibilitando o processo de ensino e aprendizagem (COLOVINI, 2007;

ISERNHAGEN & HARRIS, 2004; LIMA, 2009; LISBOA et al. 2009).

Torna-se importante, o uso de intervenções que busquem atenuar e/ou erradicar

o Bullying da escola, para assim garantir um ambiente eficiente para a educação (DE

MOURA et al. 2010).

Objetivos

O seguinte trabalho teve como objetivo principal verificar a ocorrência do

Bullying em uma instituição pública de ensino fundamental do interior do Estado de São

Paulo, e como objetivos secundários, obter melhor reconhecimento desse

comportamento e perfil de percepção dos próprios alunos e professores, acerca da

conduta discente.

Materiais e metodologias

A pesquisa foi realizada em duas partes: A primeira etapa foi referente ao

diagnóstico da escola em relação à presença do fenômeno Bullying; a segunda etapa diz

respeito a percepção dos próprios alunos e professores, sobre o comportamento que

possuem.

Primeira Etapa: O público alvo do trabalho foram alunos de 5ª Série (6º Ano) á

8ª Série (9ºAno) do Ensino fundamental, distribuídos na faixa etária que compreende os

10 aos 16 anos. Utilizou-se um questionário adaptado da ONG KIDSCAPE (anexo 1),

que realiza trabalhos voltados a violência juvenil. As adaptações foram exigências da

escola, que se baseiam em alterações de palavras por sinônimos.

A instituição de ensino em que o questionário foi aplicado é pública do

município de Ilha Solteira, a participação foi voluntária, contando apenas com

identificação de idade e série para fins de análise. Ambos os períodos letivos

participaram. O questionário é composto por 13 questões, sendo onze de múltipla

escolha e duas descritivas, para sistematização dos dados foi considerado apenas

aquelas de múltipla escolha e adotou-se uma análise quantitativa somatória. Algumas

questões poderiam ser respondidas mais de uma alternativa, sendo assim, todas aquelas

marcadas com asterisco e a sigla M.A (múltiplas alternativas) seguem o esquema.

Segunda Etapa: O público alvo é o mesmo da etapa anterior, assim como a

instituição de ensino, porém, nesta parte optou-se por incluir o corpo docente da escola,

para melhor visualização do comportamento dos alunos, visto que os professores

passam quantia razoável de tempo com eles.

Houve a elaboração de dois questionários de conduta: O questionário A (anexo

2) foi aplicado somente com os alunos, novamente, de todas as séries em ambos os

períodos letivos, contando com seis questões de múltipla escolha, com o objetivo de

Page 3: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

melhor conhecer suas ações. O questionário B (anexo 3) foi aplicado somente com os

professores, possuindo igual número de perguntas e com o objetivo de conhecer a

percepção docente sobre os comportamentos de seus alunos.

Nenhuma questão era possível responder mais de uma alternativa. A

participação tanto de alunos quanto professores foi voluntária, e sem identificação de

nome, apenas idade e série para fins de análise. Para sistematização dos dados adotou-se

uma análise quantitativa somatória.

Resultados e Discussão

Primeira Etapa: Os resultados e comparação entre outros pesquisadores sobre a

pesquisa encontram-se relacionados abaixo, obteve-se um total de 511 participantes na

primeira parte.

A maioria dos alunos participantes são do gênero masculino, com um total de 283

indivíduos.

Tabela 1: Gênero dos alunos.

Resposta Porcentagem

Masculino 55,38%

Feminino 44,42%

Sem resposta 0,02%

Na tabela 2 é possível perceber que 162 alunos, ou seja, 31,70% do total

afirmam terem sofrido/sofrer algum tipo de agressão, o que corrobora com os dados

encontrados pelo pesquisador Boris (2011), que utilizou a mesma metodologia em outra

instituição, com um total de 39,04% vítimas em 438 participantes. A média de vítimas

em outras pesquisas também é similar, como a ABRAPIA (2003) com um total de

40,5% vítimas em cinco mil participantes, e Bandeira (2012) apresenta dados de 23,2%

para vítimas passivas e 43,6% para vítimas agressoras com 465 participantes.

Tabela 2: “Você já sofreu algum tipo de intimidação, agressão ou assédio?”.

Resposta Porcentagem

Sim 31,70%

Não 65,56%

Sem resposta 2,74%

Total 100%

Page 4: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

A agressão mais presente foi a Verbal (19,96%), que é caracterizada por

apelidos, xingamentos e provocações. O percentual encontrado por Boris (2010) foi de

15,29% para a agressão Verbal, também, sendo a mais presente. Este tipo de agressão

também foi a mais presente na pesquisa de Bandeira (2012), na porcentagem de 61,1%

para insultos e deboches, e 25,7% para mentiras e fofoca.

Tabela 3: “Que tipo de intimidação, agressão ou assédio você sofreu?”

Resposta Porcentagem*

Física 12,13%

Emocional 9,78%

Racista 6,06%

Verbal 19,96%

Sexual 1,56%

Nunca sofreu 61,25%

A faixa etária mais alvo de agressões é a correspondente dos 11 aos 14 anos,

com um total de 20,15% dos indivíduos, o que corrobora com os dados encontrados por

outros pesquisadores: Boris (2010) encontrou um total de 19,86%, Bandeira aponta em

sua pesquisa um total de 89,7% e Lopes Neto (2005) afirma que o bullying é mais

prevalente nestas idades.

Tabela 4: “Que idade você tinha quando isso ocorreu?”

Resposta Porcentagem

Menos de 5 anos 0,97%

5 – 11 anos 16,82%

11 – 14 anos 20,15%

Mais de 14 anos 0,78%

Nunca sofreu 61,05%

Analisando a tabela 5 em categorias separadas, é possível observar que apenas

uma minoria afirma ter sofrido agressões recentemente (3,13%), porém, considerando o

Page 5: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

período de um semestre, a porcentagem sobe para 20,14%, isto é, de 162 (31,7%) que

afirmam ter sofrido agressões, 33 deles sofreram recentemente.

Tabela 5: “Quando foi a última vez que você sofreu algum tipo de intimidação,

agressão ou assédio?”

Resposta Porcentagem

Hoje 3,13%

Últimos 30 dias 9,19%

Últimos 6 meses 7,82%

Há um ano ou mais 18%

Nunca sofreu 61,64%

Novamente, somando-se as categorias “Quase todo dia”, “Diversas vezes” e

“Várias vezes ao dia” é possível concluir que 22,88% do total de alunos que sofrem

agressões, relatam sofrer bullying, dada a freqüência dos atos violentos.

Tabela 6: “Quantas vezes você já sofreu intimidação, assédio ou agressão?”

Resposta Porcentagem

Uma vez 15,65%

Quase todo dia 7,04%

Diversas vezes 13,11%

Várias vezes ao dia 2,73%

Nunca sofri 60,66%

A maior incidência de agressões ocorreu em Sala de Aula (19,56%), local

também encontrado por outros pesquisadores: ABRAPIA (2003) 60,2%; e por Boris

(2010) 21,46%.

Page 6: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

Tabela 7: “Onde isso aconteceu?”

Resposta Porcentagem* (M.A)

Indo e vindo da escola 6,06%

Bairro 6,06%

Pátio da escola 12,91%

Banheiro da escola 1,56%

Sala de aula 19,56%

Refeitório da escola 1,36%

Outros locais* 2,73%

Nunca sofri 60,86%

*Exemplos de respostas: “Na escola inteira”, “Em casa”, “Na rua”.

A maioria das vítimas diz sentir-se mal com as agressões (17,22%), e outras

mostram não se incomodarem (14,09%). Para Bandeira (2012), a categoria “Não se

incomodou” aparece em segundo lugar (31,8%) e para Boris (2010), “Não se

incomodou” aparece em primeiro lugar, com um percentual de 14,38%, seguido de

“Sentiu-se mal” 13,92%.

Tabela 8: “Como você se sentiu quando isso aconteceu?”

Resposta Porcentagem* (M.A)

Não se incomodou 14,09%

Sentiu-se assustado 2,54%

Sentiu-se amedrontado 3,13%

Sentiu-se mal 17,22%

Não quis mais ir á escola 4,5%

Nunca sofreu 60,66%

Um total de 23,28% das vítimas afirma que não houve consequência das

agressões, o que está em concordância com o encontrado por Boris (2010) 20,09%.

Page 7: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

Tabela 9: “Quais foram as consequências da agressão, intimidação ou assédio sofrido

por você?”.

Resposta Porcentagem* (M.A)

Não teve consequências 23,28%

Algumas consequências ruins 10,17%

Consequências terríveis 1,95%

Fez mudar de escola 1,76%

Outros* 1,56%

Nunca sofreu 60,86%

*Exemplos de respostas: “Chorei”, “Passei mal”, “Fiquei com raiva/medo”, “Não queria

mais ir á escola”.

Em relação ao sentimento por quem pratica as agressões, 39,72% dos

participantes não gostam dos agressores, corroborando com o valor encontrado por

Boris (2010) de 43,83%. Uma fração dos alunos ainda dizem sentir medo dos mesmos

(9,98%), estando próximo do percentual encontrado por Bandeira (2012) de 10,18% e

novamente, por Boris (2010) de 14,15%.

Tabela 10: “O que você pensa sobre quem pratica agressão, intimidação ou assédio?”

Resposta Porcentagem* (M.A)

Não pensa nada 21,52%

Não gosta deles 39,72%

Tem pena deles 30,33%

Tem medo deles 9,98%

Gosta deles 0,97%

As agressões foram realizadas mais por indivíduos do gênero masculino

(32,57%), sendo 29,15% Meninos e 3,52% Homens adultos. O pesquisador Boris

(2010) aponta em sua pesquisa um total de 34,47%, sendo 29,68% das agressões

realizadas por Meninos e 4,79% por Homens. Para Lopes Neto (2005), há um

predomínio do sexo masculino nos agressores, o que está relacionado á natureza das

intimidações, corroborando com Bandeira (2012), os pesquisadores afirmam que

meninos preferem agressões físicas como forma de ganhar respeito ou realizar vontade,

Page 8: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

ao passo que meninas utilizam formas mais sutis de intimidação como marginalização e

calúnia, assim, o gênero masculino é mais fácil de ser reconhecido.

Tabela 11: “Quem intimidou, agrediu ou assediou você é?”

Resposta Porcentagem* (M.A)

Menino 29,15%

Menina 11,35%

Homem (adulto) 3,52%

Mulher (adulta) 1,17%

Ninguém 60,07%

Somente 73 (14,28%) alunos afirmam praticar bullying, seja em resposta a

alguma agressão ou como agressores primários, o que torna o assunto ainda de difícil

reconhecimento de envolvidos.

Tabela 12: “Você já intimidou, assediou ou agrediu alguém?”

Resposta Porcentagem

Sim 14,28%

Não 84,54%

Sem resposta 1,17%

Total 100%

Segunda Etapa: Os resultados da pesquisa encontram-se relacionados abaixo, obteve-

se uma participação de 472 alunos com o questionário A (246 do gênero masculino e

224 do gênero feminino) e uma participação de 19 docentes com o questionário B.

Os questionários possuem cinco afirmações, das quais tanto os alunos quanto os

professores deveriam avaliar o quanto a situação apresentada está de acordo com a sua

realidade, em uma escala de “Nunca”, “Pouco”, “Bastante” e “Muito”. A sexta questão

é um quadro de situações, em que os participantes devem escolher entre “Concordo” e

“Discordo” para cada uma das alternativas apresentadas.

Page 9: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

Questionário comportamental A – Para alunos.

Quase metade dos alunos parece não se importar com a bagunça dos outros

alunos quando o professor começa a explicação (45%), o que se torna ainda maior se

incluído aqueles que realmente não se incomodam, em um total de 54,4%.

Questão 1 – Quando alguns dos meus colegas começam a atrapalhar a explicação do

professor, eu me sinto incomodado com situação.

Nunca Pouco Bastante Muito Total

9,5% 44,9% 24,3% 20,3% 99%*

*Nulos = 1%

Novamente, uma grande maioria dos alunos não se envolva em brigas de colegas

e nem chamam adultos para separá-las (25,6%) e um percentual ainda maior intervém

raramente em brigas e/ou pede auxílio á maiores (30,5%).

Questão 2 – Ao ver um colega sendo agredido fisicamente eu tento separar a briga ou

chamo um adulto que termine a confusão:

Nunca Pouco Bastante Muito Total

25,6% 30,5% 19,9% 21,6% 97,6%*

*Nulos= 2,4%

Os alunos, em sua maioria, relatam não insultarem um colega que está sendo

alvo de gozações (52,5%) e apenas um pequeno percentual parece se envolver com

frequência neste tipo de agressão (12,8% - Bastante e Muito).

Questão 3 – Quando algum colega recebe apelidos ou gozações de outro, eu acho

engraçado e insulto o mesmo colega:

Nunca Pouco Bastante Muito Total

52,5% 33,8% 5,9% 6,9% 99,1%*

*Nulos= 0,9%

Pela análise dos questionários é possível extrair uma informação importante,

quanto á conduta de violência, a maioria dos alunos frequentemente revidam agressões

recebidas (30,5%) o que se torna ainda maior a ocorrência dos casos se a categoria

“Bastante” for incluída (47,4%). Isso quer dizer que 224 alunos respondem ás agressões

sofridas, este é um número considerável.

Page 10: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

Questão 4 – Quando sofro algum tipo de agressão (física, verbal, emocional, racista ou

sexual), revido:

Nunca Pouco Bastante Muito Total

24,7% 26,9% 16,9% 30,5% 99%*

*Nulos= 1%

Mesmo que um grande percentual de alunos (58,1% - Bastante e Muito) ainda

tente prestar atenção nas aulas, ainda existe uma grande parcela (41,9%) de alunos que

não se esforçam ou muito raramente escutam o professor, em números, 198 alunos não

estão se dedicando aos estudos como deveriam, por ser um número tão alto, é um

cenário preocupante.

Para o pesquisador Willis (1988), certas formas de violência, bem como o

abandono escolar, e assim, uma grande resistência aos estudos, se mostram como um

sentimento de que os conhecimentos escolares e o próprio diploma são ainda

insuficientes para possibilitar uma ascensão social. Dubet (2003) também afirma que

tais condutas, são frutos de uma percepção de que é difícil atingir as exigências

educacionais disseminadas pela instituição.

Finalmente, Silva e Salles (2010) apontam que o acesso em massa á educação,

torna o valor material e simbólico do diploma, desvalorizado; os alunos ainda percebem

que o diploma não possui reconhecimento esperado e prometido no mercado de

trabalho, sendo apenas um benefício ilusório.

Questão 5 – Quando tenho aula de alguma disciplina que não gosto, eu tento me

esforçar e prestar atenção assim mesmo:

Nunca Pouco Bastante Muito Total

12,5% 29,4% 33,6% 24,5% 100%

A questão 6 tem o objetivo de reforçar as respostas dadas nos item anteriores, e

sua comparação com os demais resultados é interessante. As afirmações 1, 2 e 8 são

complementares, então é pressuposto que os resultados obtidos sejam similares, o que

pode ser observado na tabela abaixo.

Ainda, o percentual de alunos que não ficam em silêncio na explicação dos

professores (afirmação 3) corrobora com o encontrado nas demais questões (41,9%)

com uma diferença de apenas 11%. O fator que pode ter causado diferenças é o termo

“disciplina que eu não gosto” e que no caso da questão 6, afirmação 3, se refere somente

á “disciplina do professor” sem explicitar se é uma matéria que o aluno tenha

preferência ou não.

Page 11: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

Analisando a afirmação 4, temos um cenário conflitante, pois 30,5% dos alunos,

ou seja, 144 indivíduos não obedecem as ordens da escola, o que pode atrapalhar o

rendimento escolar dos outros alunos. O pesquisador Martuccelli (2001) aponta que os

alunos reivindicam um tratamento de igualdade entre alunos e professores, ou seja, uma

relação não hierárquica, como se a relação com adultos devessem ser a mesma com o

colega de classe.

Na afirmação 5, temos um percentual de 23,5% dos alunos que acreditam que

gozações e insultos não fazem mal a ninguém, o que é similar ao dado da questão 3

(12,8%), temos uma diferença de 10,7%. Porém, não se deve esquecer que a

porcentagem de alunos que Pouco se envolvem neste tipo de agressão é 33,8%, ou seja,

por mais que não seja frequente, ainda há participação dos mesmos em grande número.

A afirmação 6, que diz respeito ao revide de agressões corrobora em seus

resultados com o valor encontrado na questão 4, com percentuais de 43,2% e 47,4%

respectivamente. E finalmente na afirmação 7, é possível perceber que a maioria dos

alunos acredita que a escola seria melhor se todos fossem respeitados (87,5%), mas isso

não será possível ainda com alunos que não se esforçam para respeitar os demais

(afirmação 1, com 25,2%).

Questão 6 - Assinalar a coluna que mais se identifica com sua forma de pensar:

Page 12: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

Questionário comportamental B – Para professores.

Por meio da análise dos questionários, é possível observar que a maioria dos

alunos, na visão dos próprios professores, parecem se incomodar com a bagunça

realizada pelos outros alunos (48,8% - Bastante e Muito), o que está próximo ainda se

comparado à resposta dos próprios alunos (44,6% - Bastante e Muito), porém ainda há

um desencontro, é necessário pesquisar quais são os sinais interpretados pelos docentes,

que indicam o incômodo pela bagunça, se estão de fato corroborando para a resposta

dos educandos.

Questão 1 - Quando algum de seus alunos começa a atrapalhar a sua explicação, você

nota que os outros colegas se sentem incomodados?

Nunca Pouco Bastante Muito Total

17,60% 23,50% 29,40% 29,40% 99,9%

0,1%* Nulos

Em relação a interferência nas brigas, os professores afirmam que uma boa

parcela dos alunos não se envolvem (29,4%) que está de acordo com a resposta dos

mesmos, porém, se considerarmos a quantia daqueles que raramente se envolvem, o

percentual é muito maior do que aqueles que se envolvem que certa frequência: Pouco =

41,4% e Bastante = 29,4%. Logo, tornar-se visível a não participação e intervenção dos

alunos e número muito elevado (70,5% - Nunca e Pouco).

Questão 2 - Ao ver um estudante sendo agredido fisicamente, você percebe que os

outros alunos procuram algum adulto para terminar a briga?

Nunca Pouco Bastante Muito Total

29,40% 41,10% 29,40% 0% 99,9%

0,1%* Nulos

Na visão dos professores, metade dos alunos parecem se envolver nas

provocações contra outros colegas (50%), o que se torna muito maior se considerados

os casos mais frequentes (83,33% - Bastante e Muito) em relação aos que raramente se

envolvem (17,6%). Se comparados com o questionário dos alunos, os resultados são

bastante divergentes, o que realmente estaria ocorrendo no ambiente escolar?

Segundo Silva e Salles (2010), os professores têm notado e relatado a crescente

violência, não somente em termos de quantidade, mas também em qualidade, sendo a

agressão verbal a mais praticada, seja nas relações aluno-aluno como aluno-professor,

sendo o desrespeito, o constante nas situações; ainda aponta que tais atos encontram-se

tão banalizados, que tendem a tornar-se despercebidos, o que é muito preocupante.

Ainda no trabalho de Souza e Castro (2008), as pesquisadoras apontam que os

professores consideram como principal manifestação de violência, as agressões físicas e

Page 13: Bullying: fenomeno no interior do estado de são paulo

verbais, sendo esta última a mais apontada na Primeira Etapa desta pesquisa, dessa

forma, a visão docente parece mais acurada.

Questão 3 - Quando algum aluno recebe apelidos ou gozações de outro, você percebe

que os outros colegas acham engraçado e começam a provoca-lo também?

Nunca Pouco Bastante Muito Total

0% 17,60% 50,0% 33,33% 99,9%

0,1%* Nulos

Na questão 4, ambas as respostas dos professores e discentes, corroboram o fato

de revide dos alunos á alguma agressão sofrida, que segundo os docentes, ocorre com

uma grande maioria dos indivíduos (78,7%).

Questão 4 - Quando algum aluno sofre um tipo de agressão (física, verbal, emocional,

racista ou sexual),você percebe que ele revida?

Nunca Pouco Bastante Muito Total

0% 23,50% 61,10% 17,60% 99,9%

0,1%* Nulos

Os professores também afirmam que há pouca dedicação dos alunos em suas

disciplinas (70,5%), o que é ainda mais se unido á aqueles que realmente não se

importam (76,2% - Nunca e Pouco). Comparando ambos os questionários, também

existe uma divergência, este caso, talvez haja o temor dos alunos em responderem

aquilo que realmente sentem ou praticam, pois nesta situação, 360 alunos parecem não

se esforçarem nas disciplinas.

O pesquisador Buratto (1998) afirma que o interesse e empenho pela disciplina

dependem do respeito pelo professor, e que os alunos tornam-se mais dedicados e

comprometidos com os deveres escolares quando percebem que o docente preocupa-se

com o bem estar deles, e permite que façam parte no processo de tomada de decisões,

assim como o respeito ás suas ideias.

Questão 5 – Você percebe dedicação dos alunos em relação a sua disciplina?

Nunca Pouco Bastante Muito Total

5,80% 70,50% 11,70% 11,70% 99,9%

0,1%* Nulos

Observando as afirmações 1 e 2, é possível perceber que os professores não

consideram que haja respeito mútuo entre os alunos (84,2% e 57,8% respectivamente

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discordam das afirmações de respeito entre alunos), mesmo havendo diferença entre

eles, o que está em divergência do que foi respondido pelos próprios discentes.

Silva e Salles (2010) argumentam que o ambiente escolar é permeado pela

presença constante de desrespeito ao próximo, o que pode ser visto na resposta dos

alunos no questionário A, havendo a presença de 25% de alunos que discordam com o

respeito aos outros.

Os professores também discordam do fato dos alunos estarem em silêncio em

suas explicações (68,4%) como descrito na afirmação 3, o que corrobora com a questão

5 (76,2%) , porém novamente está em desacordo com o respondido pelos alunos.

Para o pesquisador Dubet (2003), os alunos possuem grande necessidade em

mostrar aos outros alunos, um descompromisso com os afazeres da escola e suas

obrigações acadêmicas, para serem reconhecidos como desafiadores da autoridade.

Felizmente, na afirmação 4, é possível observar que mais da metade dos

professores são respeitados pelos alunos (68,4%), porém ainda existe uma parcela dos

docentes (31,6%) que sofrem com o desrespeito e desobediência, o que está de acordo

com o respondido no questionário A, em um percentual de 30,5%.

O pesquisador Sposito (2001) afirma que as relações conflituosas entre aluno-

professor tem gerado medo nesta ultima parcela, fazendo que haja o uso de segurança

policial, afetando as interações educativas e o clima escolar.

E na afirmação 5, a maioria dos professores (57,8%) concordam que há um

revide dos alunos ás agressões, corroborando com tanto questionário A quanto a questão

4 do questionário B.

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Questão 6 - Assinalar a coluna que mais se identifica com a forma de agir de seus

alunos.

Na pesquisa de Silva e Salles (2010) e Buratto (1998), os autores afirmam que a

diminuição da violência escolar está relacionada á uma postura firme e á um trabalho

didático de empenho pelos docentes, pelo compromisso dos mesmos com o seu

exercício e á um tratamento igualitário com todos os alunos, independente de seus

rendimentos. Os interesses dos alunos também têm um grande peso, pois será de suas

perspectivas acadêmicas em desenvolver-se, que as violências no âmbito escolar serão

atenuadas.

Souza e Castro (2008) ainda afirmam que o papel da direção e dos professores é

fundamental para que haja essa mudança de paradigma, uma vez que além de

educadores, muitas vezes realizam o papel de psicólogos.

Considerações Finais

Por meio das análises realizadas nessa pesquisa, pode-se concluir que a

instituição em estudo é afetada pelo fenômeno Bullying, sendo necessárias intervenções

mais drásticas para sua atenuação. As medidas devem ser enérgicas, pois é possível

observar por meio da aplicação dos outros questionários, que não há um respeito total

entre os alunos, mesmo em suas percepções e pelo relato dos docentes, são alunos que

não se dedicam aos estudos e tendem a revidar toda agressão sofrida em sua maioria.

Neste caso, aconselha-se o uso de estratégias que busquem melhorar a

autoestima dos mesmos e enfatizar valores, como o respeito e a dedicação. Portanto, os

objetivos do trabalho foram plenamente alcançados.

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ANEXOS

1 – Anexo 1

Questionário adaptado da ONG KIDSCAPE.

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2 – Anexo 2

Questionário comportamental para alunos.

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3 – Anexo 3

Questionário comportamental para professores.