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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Biologia Programa de Pós Graduação em Ecologia (PPGE) ESTEQUIOMETRIA ECOLÓGICA DA INTERAÇÃO TRÓFICA CONSUMIDOR PERIFÍTON: UMA ABORDAGEM EXPERIMENTAL Leonardo Fonseca da Silva Orientador: Prof. Dr. João José Fonseca Leal Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de mestre em Ecologia. Rio de Janeiro RJ. 2010

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Biologia

Programa de Pós Graduação em Ecologia (PPGE)

ESTEQUIOMETRIA ECOLÓGICA DA INTERAÇÃO

TRÓFICA CONSUMIDOR – PERIFÍTON:

UMA ABORDAGEM EXPERIMENTAL

Leonardo Fonseca da Silva

Orientador: Prof. Dr. João José Fonseca Leal

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Ecologia,

Departamento de Ecologia do Instituto

de Biologia da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos para a obtenção do grau de

mestre em Ecologia.

Rio de Janeiro – RJ.

2010

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Orientador:

Prof. Dr. João José Fonseca Leal

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Estequiometria Ecológica da Interação Trófica Consumidor – Perifíton: uma

abordagem experimental

Leonardo Fonseca da Silva

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ecologia,

Departamento de Ecologia do Instituto de

Biologia da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos para

a obtenção do grau de mestre em Ecologia.

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Paulo Paiva

Prof. Dr. Adriano Caliman

Prof. Dr. João José Fonseca Leal

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Ficha Catalográfica

SILVA, Leonardo Fonseca

Estequiometria Ecológica da Interação Trófica Consumidor Perifíton – Uma Abordagem

Experimental [Rio de Janeiro 2010]

Dissertação de Mestrado - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Departamento de Ecologia, UFRJ, 2010. 133p.

Palavras chave: 1. Limnologia; 2. Estequiometria ecológica (ecological stoichiometry); 2.

Biomphalaria tenagophila;3. Ostracoda; 5. Perifíton; 6. Ciclos biogeoquímicos

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.......se você vive de acordo com a sua

própria vontade, pode errar muitas

vezes; mas, cada queda, cada erro vai

torná-lo mais inteligente, mais

compreensivo, mais humano.....

(OSHO, filósofo indiano)

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“ Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme

de medo.

Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas,

o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos

povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar

nele nada mais é do que desaparecer para sempre.

Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar.

Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você

pode apenas ir em frente.

O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.

E somente quando ele entra no oceano é que o medo

desaparece.

Porque apenas então o rio saberá que não se trata de

desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.

Por um lado é desaparecimento e por outro lado é

renascimento...”

(OSHO, filósofo indiano)

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Dedico esta dissertação aos meus pais, Roberto

Domingues e Lia de Vasconcellos, que sempre

lutaram para me permitir chegar aonde estou, e ao meu

filhinho amado Eric, a minha fonte de inspiração

nesta vida.

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Agradecimentos

Ao meu orientador Dr. João José Fonseca Leal por me receber no laboratório de limnologia,

acreditar em mim, me apoiar, incentivar e ajudar durante todo o período de realização deste

trabalho. Grato também por me dar liberdade de pensamento científico, o que, certamente, me fez

aprender a “andar sozinho” e amadurecer profissionalmente. E também, um amigo e boa companhia

nas horas das “cervejinhas”....

Aos professores Dra. Vera Huszar e Dr. Mauro Rebelo, membros da pré-banca avaliadora,

que fizeram contribuições importantes que, sem dúvida, aumentaram a qualidade deste trabalho.

Aos professores Dr. Adriano Caliman e Dr. Paulo Paiva por aceitarem participar da banca

avaliadora deste trabalho de dissertação de mestrado.

À todos os colegas do laboratório de limnologia pela companhia, conselhos e idéias

discutidas que também ajudaram na realização deste trabalho. Um “obrigado” especial vai para o

Cláudio Marinho, vulgo “Claudão”, e para o Mário Neto, que me ajudaram com as análises

químicas. Grato também ao Rafael Guariento, vulgo “Jabour” pela ajuda com a estatística.

Ao Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (NUPEM), pelo apoio logístico, alimentação

e estadia, durante os períodos de trabalho em Macaé. Em especial, ao João Marcelo, técnico do

NUPEM, pela ajuda nos trabalhos realizados no campo, e por “tomar conta” dos substratos

artificiais para o crescimento do perifíton que ficaram na lagoa Cabiúnas.

Ao Anderson “mineiro” e Raquel do Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade

Federal de Juiz de Fora pela grande ajuda prestada com as análises de carbono no TOC, vocês

literalmente “cairam do céu” quano mais precisei!! Valeu mesmo!

À Vera Huszar do laboratório de Ficologia, Museu Nacional/UFRJ, por me receber com

tamanha cordialidade e ensinar e ajudar na identificação do conteúdo e algas do perifíton. Sua

participação trouxe uma contribuição importante para o trabalho.

À Aline Mattos do laboratório de Malacologia, Fundação Oswaldo Cruz, por ceder,

gentilmente, exemplares de Biomphalaria tenagophila, para a realização de um dos experimentos

deste trabalho.

Ao “seu Carlos”, marceneiro da UFRJ-CCS, por me ajudar na construção dos substratos

artificiais para o crescimento do perifíton.

A CAPES pelo apoio financeiro através da bolsa de estudo disponibilizada para viabilizar a

realização deste trabalho.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRJ (PPGE-UFRJ), pelo apoio logístico e

financeiro, garantindo estadia e alimentação em congressos e disciplinas ministradas fora da cidade

do Rio de Janeiro.

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Ao meu núcleo familiar, pai, Roberto Domingues, mãe, Lia de Vasconcellos, irmã Gisela

Fonseca, vulgo “barata”, por existirem e terem sido minha espinha dorsal por todos estes anos, sem

vocês eu não estaria aqui neste momento. Vocês fizeram eu ser quem sou hoje.....é.....não se sintam

ofendidos, por favor,....estou falando dos aspectos positivos....Amo vocês!

Ao meu filhinho Eric, fonte de inspiração, alegria e amor da minha vida, e à mamãe dele,

minha querida Pamela, por ter me dado o maior presente da minha vida e ter sido companheira,

amiga e amante nos momentos mais especiais da minha vida. Sem vocês este mestrado não existiria

e vocês sabem o porquê....Amo vocês...

Aos demais familiares tios, tias, avôs, avós, primos, “cachorrinhos”, que também fizeram e

fazem parte da minha vida e com certeza também me ajudaram e incentivaram durante a vossa

existência.

À todos os velhos amigos que de alguma forma também me fizeram crescer e ficaram do

meu lado em momentos importantes. Em especial, à minha grande amiga e orientadora, Ana

Cláudia dos Santos Brasil, na época da graduação na Universidade Federal Rural (UFRRJ),

Seropédica, diga-se de passagem....bons tempos aqueles.....saudades demais....por ter me feito

crescer e amadurecer profissionalmente, o que sem dúvida me permitiu ingressar e realizar o meu

mestrado.

À mãe natureza, ao sol, à vida, a biologia, esta ciência tão bela e instigante, pela qual me

apaixonei e que todos os dias me surpreende com novidades, curiosidades e novas descobertas. Um

agradecimento, também vai para os “bichos” usados nos experimentos. Eles deram as suas vidas

pela ciência!!! Morreram com honra....

Leonardo Fonseca da Silva

Rio de Janeiro, Abril de 2010

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Resumo

A estequiometria ecológica estuda o balanço entre os elementos químicos nas interações

ecológicas. O foco principal desta linha de pesquisa está no balanço entre o carbono, nitrogênio e o

fósforo. As pesquisas inicias se desenvolveram em ecossitemas pelágicos de águas doces e

marinhos na relação trófica zooplâncton-fitoplâncton. Posteriormente, se estenderam para os

sistemas bentônicos, quando começaram a surgir estudos com a interação trófica entre o

consumidor e o perifíton. Muitos desses estudos viram que as variações estequiométricas do

perifíton influenciavam na esquiometria dos consumidores, enquanto outros trabalhos verificaram

que os consumidores mais homeostáticos tinham suas razões C:N, C:P e N:P mais independentes do

perifíton. Dentro deste contexto, os objetivos deste trabalho foram: (1) determinar se a adição de

nitrogênio e fósforo afetam as razões C:N, C:P e N:P do perifíton; e (2) se as variações nas razões

C:N, C:P e N:P perifíticas causam alterações na estequiometria dos ostrácodas (experimento 1) e de

Biomphalaria tenagophila (Mollusca: Gastropoda) (experimento 2). Para se obter o perifíton, foram

utilizados substratos artificiais com placas de PVC de 20 x 6 cm que ficaram na lagoa Cabiúnas

(Macaé-RJ) durante 30 dias. Depois desse período, o perifíton foi levado para o laboratório e as

placas incubadas em quatro tratamentos: (1) controle (sem nutrientes); (2) +N (adição de

nitrogênio); (3) +P (adição de fósforo); (4) +N+P (adição de nitrogênio e fósforo). Cada um dos

experimentos durou 20 dias. Ao término, foram calculadas as razões C:N, C:P e N:P do perifíton e

de Biomphalaria tenagophila, e apenas a razão N:P dos ostrácodas. Além da estequiometria do

perifíton e dos gastrópodas, foram calculados os valores de biomassa (mg de peso seco / cm2),

clorofila a (µg / cm2) e razões carbono:clorofila a (C:Clor a) do perifíton. No experimento 2

também foi estabelecido um tratamento controle sem adição dos gastrópodas e sem de nutrientes

(tratamento Con) para se verificar se a presença dos gastrópodas na ausência dos nutrientes

(tratamento controle) iria exercer alguma influência na estequiometria do perifíton. Neste segundo

experimento ainda foram calculadas as razões N:P das egestas e as taxas de egestão (estimativas de

taxas de herbivoria) de B. tenagophila. Os valores finais da biomassa perifitica não foram

significativamente distintos entre os tratamentos nos dois experimentos realizados. Os

consumidores reduziram mais a biomassa perifítica no tratamento controle, podendo, portanto,

serem adeptos da compensação alimentar ativa, ingerindo mais perifíton para compensar uma dieta

pobre em nutrientes. Os valores finais de clorofila a e das razões C:Clor a não foram

significativamente distintos entre os tratamentos em ambos os experimentos, o que indicou ausência

de um estímulo dos nutrientes para a biomassa algal e uma alta proporção de material heterotrófico

no perifíton. Nossos resultados também deixaram claro que o fósforo é o principal elemento

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limitante para o perifíton da lagoa Cabiúnas e que o enriquecimento com este nutriente reduz as

suas razões C:P e N:P. Essas modificações sofridas pela estequiometria do perifíton não afetaram a

estequiometria dos ostrácodas. Já a estequiometria dos gastrópodas esteve relacionada às razões

C:N, C:P e N:P do perifíton. Além disso, os consumidores liberaram mais nitrogênio do que fósforo

nas suas excretas, o que pode reduzir as razões C:N e elevar as razões N:P do perifíton. B.

tenagophila ainda pode liberar o fósforo através das suas egestas e torná-lo disponível de forma

indireta para o perifíton. Conclui-se, portanto, que a eutrofização artificial com a adição de fósforo

diminui as razões C:P e N:P do perifíton e que, dependendo da capacidade homeostática do

consumidor, isto pode afetar sua estequiometria. Consumidores mais homeostáticos como os

ostrácodas não sofreriam tanta variação na sua estequiometria, enquanto consumidores menos

homeostáticos como o B. tenagophila iriam refletir as variações das razões C:P e N:P do perifíton.

Dessa forma, consumidores com baixa capacidade homeostática poderiam indicar se possíveis

alterações no balanço entre o C, N e o P estão ocorrendo na lagoa Cabiúnas.

Abstract

The ecological stoichiometry studies the balance between the chemical elements in the

trophic interactions. The main focus of this research field is on the balance between the carbon,

nitrogen and phosphorus. In the beginning, the investigations within ecological stoichiometry were

restricted to the pelagic regions of the freshwater and marine’s ecosystem, concentrated in the

zooplankton-phytoplankton trophic’s relationships, but afterward these studies expanded to the

benthic system. Some investigation dealing with the periphyton-grazer interactions using an

ecological stoichiometry appeared. Many of these studies had seen that stoichiometry variation in

periphyton could reflect in the consumer’s stoichiometry, while others works verified that more

homeostatic consumers had their C:N, C:P and N:P lesser dependent in relation to periphyton. Thus,

the objectives of this work were: (1) to determine if the nitrogen and phosphorus additions would

affect the periphyton C:N, C:P and N:P ratios; and if (2) variations in the periphyton C:P, C:N and

N:P ratios would result in alterations on the ostracods (experiment 1) and Biomphalaria tenagophila

(Mollusa: Gastropoda) stoichiometry (experiment 2). To obtain the periphyton, artificial substrates

were used with PVC’s plates with 20 cm x 6 cm. They remained 30 days in the Cabiúnas Lagoon

(Macaé –RJ). Them, the periphyton was carried to the laboratory and four treatments were

established: (1) control (without nutrients); (2) + N (addition of nitrogen); (3) +P (addition of

phosphorus); (4) +N+P (addition of nitrogen and phosphorus). The experiments lasted 20 days and,

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in the ending, the C:N, C:P and N:P ratio were calculated. For Ostracoda, only the N:P was

computed. Beyond the periphyton and consumers’s stoichiometry, the values of periphyton biomass

(mg / cm2), chorophyll a (mg / cm

2) and Carbon to Chorophyll a ratios (C:Chl a) were evaluated. In

the second experiment, an additional treatment (Con treatment) without the gastropods and nutrients

was established to evaluate if the presence of the consumers and the absence of the nutrients would

exert any effect on the periphyton stoichiometry. In this second experiment, the B.tenagophila

faeces’s N:P ratios and egestion rates (an estimation of the grazer rates) were calculated too. In both

experiments, the final values from the periphyton biomass weren’t significantly differents among

the treatments. Also, the biomass reduction was higher in the control treatment. So, these organisms

might compensate a nutrient poor diet increasing the amount of periphyton ingested, a strategy

denominated active compensatory feeding. The final values of the chl a and the C:Chl a ratios

weren’t significantly distinct among the treatments in both experiments. This revealed an absence of

any nutrient stimulus for the periphyton biomass and that the proportion of heterotrophic material

was high. Our results made clear that the phosphorus is the main limiting nutrient for the Cabiúnas

lagoon periphyton and that the phosphorus enrichment can reduce the periphyton C:P and N:P

ratios. These modifications on the periphyton N:P ratios didn’t reflect on the ostracods’s N:P.

However, the gastropods’s stoichiometry were related to the periphyton C:N, C:P and N:P ratios.

Moreover, the consumers released more nitrogen than phosphorus in their excretas. This might

decrease the C:N and increase the periphyton N:P ratios. B. tenagophila could also release

phosphorus in their faeces and make this nutrient available to the periphyton in an indirect way. It

was concluded that the artificial eutrophication with an phosphorus addition might decrease the

periphyton C:P and N:P ratios and that, depending on the homeostatic capacity of the consumer,

affect the consumer stoichiometry. More homeostatic consumers, like ostracods, wouldn’t suffer a

great variation in their body stoichiometry, while lesser homeostatic consumers, like B.tenagophila,

would reflect the periphyton C:P and N:P ratios. Hence, lesser homeostatic consumers could

indicate if alterations between the C, N and P balance are happening in the Cabiúnas lagoon.

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Sumário

Resumo vii

Abstract viii

1.Introdução 01

1.1. Breve histórico e conceituação da teoria da estequiometria ecológica 01

1.2. As biomoléculas como determinantes das razões estequiométricas C:N:P dos

consumidores

03

1.3. A qualidade do recurso alimentar como determinante das razões estequiométricas

C:N:P dos consumidores

06

1.4. Variações na estequiometria C:N:P da comunidade perifítica e a sua influência na

estequiometria dos consumidores

10

1.5. A reciclagem de nutrientes dirigida pelos consumidores 14

1.6. Hipóteses 17

1.7. Objetivos 17

2. Metodologia 17

2.1. A lagoa Cabiúnas 17

2.2. Organismos usados nos experimentos 19

2.3. Uso do substrato artificial para o crescimento do perifíton 20

2.4. Desenho experimental e adição de nutrientes 22

2.5. Determinação da biomassa perifítica, clorofila a (clor a) e razões carbono:clorofila e

razões carbono:clor a

26

2.6. Determinação do conteúdo de carbono total do perifíton 27

2.7. Determinação do conteúdo de nitrogênio total do perifíton 27

2.8. Determinação do conteúdo de fósforo total do perifíton 27

2.9. Determinação do conteúdo de nitrogênio e fósforo total de Ostracoda 28

2.10. Determinação do tamanho e biomassa de Biomphalaria tenagophila 29

2.11. Determinação do conteúdo de carbono total de Biomphalaria tenagophila 29

2.12. Determinação do conteúdo de nitrogênio e fósforo total de Biomphalaria

tenagophila

29

2.13. Experimentos de taxa de egestão e cálculo das razões N:P de Biomphalaria

tenagophila

30

2.14. Análises estatísticas 31

2.14.1. Teste t 31

2.14.2. Análise de variância de dois fatores (ANOVA) e Análise de Variância

Multivariada (MANOVA)

33

2.14.3. Regressão linear simples 34

3. Resultados 35

3.1. Experimento com Ostracoda (Experimento 1) 35

3.1.1. Biomassa perifítica 35

3.1.2. Clorofila a e razão carbono:clorofila a (C:clor a) 37

3.1.3. Concentrações de carbono, nitrogênio e fósforo total do perifíton 37

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3.1.4. Estequiometria do perifíton 39

3.1.5. Estequiometria dos ostrácodas 44

3.1.6. Relação entre a estequiometria do perifíton e dos ostrácodas 46

3.2. Experimento com Biomphalaria tenagophila (Experimento 2) 46

3.2.1. Biomassa perifítica 46

3.2.2. Clorofila a e razão carbono:Clorofila a (C:Clor a) 49

3.2.3. Concentrações de carbono, nitrogênio e fósforo total do perifíton 49

3.2.4. Estequiometria do perifíton 52

3.2.5. Influência de Biomphalaria tenagophila na estequiometria do perifíton 55

3.2.6. Tamanho e biomassa final Biomphalaria tenagophila 57

3.2.7. Concentrações de carbono, nitrogênio e fósforo total de Biomphalaria tenagophila 58

3.2.8. Estequiometria de Biomphalaria tenagophila 60

3.2.9. Relação entre a estequiometria do perifíton e de Biomphalaria tenagophila 61

3.2.10. Razão N:P da egestae taxa de egestão de Biomphalaria tenagophila 63

3.3. Comparação entre as razões estequiométricas perifíticas do experimento 1 com as

razões estequiométricas perifíticas do experimento 2

64

3.4. Comparação entre as razões estequiométricas dos consumidores e do perifíton 66

4. Discussão integrada (experimentos 1 e 2) 68

4.1. Biomassa perifítica 68

4.2. Clorofila a e razão carbono:Clorofila a (C:Clor a) 72

4.3. Carbono, nitrogênio, fósforo total e razões estequiométricas do perifíton 78

4.4. Estequiometria do perifíton e dos consumidores 92

4.5. Comparação entre a estequiometria dos ostrácodas e de Biomphalaria tenagophila 108

5. Conclusões Gerais 112

6. Referências 115

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1. Introdução

1.1. Breve histórico e conceituação da teoria da estequiometria ecológica

Alfred J. Lotka, um dos pioneiros no estudo da estequiometria escreveu: “Devemos empregar

o termo estequiometria para lidar com o ramo da ciência que diz respeito às transformações

materiais com relação entre as massas dos componentes” (Lotka, 1925). A palavra estequiometria

vem do grego stoicheon que significa elemento e metron que significa medida. Estequiometria,

portanto, significa “medindo os elementos” (Sterner & Elser, 2002). Sterner & Elser (2002) e Elser

& Hamilton (2007) definiram a estequiometria como: “A aplicação das leis de conservação da

matéria e das proporções definidas para o entendimento das taxas e produtos das reações químicas

de um grupo de reagentes”. A aplicação destas leis nas reações químicas permite entender o

balanço dos elementos químicos entre os reagentes e produtos. Além disso, é, justamente, por lidar

com os elementos químicos e estudar o balanço de massas nas conversões químicas que a

estequiometria se torna diretamente ligada às leis das proporções definidas, lei da conservação de

massa e lei da conservação de matéria e energia (Olmsted & Williams, 2005).

Nesta empreitada de unir princípios da química com ecologia, Lotka se destacou porque foi

um dos primeiros a analisar e comparar as razões estequiométricas dos elementos químicos

essenciais entre os organismos e o meio abiótico (Loladze & Kuang, 2000). Entretanto, o trabalho

de Lotka na área da estequiometria não se tornou popular entre os ecólogos e ficou em segundo

plano durante muitos anos (Loladze & Kuang, 2000). Contudo, outros autores como Alfred C.

Redfield e Williams A. Reiners também vieram a trabalhar com ecologia sob a perspectiva da

estequiometria e fizeram contribuições marcantes. Alfred Redfield, teve a iniciativa de tentar

relacionar a disponibilidade dos elementos químicos dos oceanos com a composição elementar do

plâncton marinho (Falkowski, 2000; Sterner & Elser, 2002). Isto foi realizado ao longo de dois

trabalhos em 1934 e 1958, e Redfield descobriu que a razão NO3- : PO4

3- dos oceanos era muito

similar à razão N:P do plâncton. Foi, então, considerada a razão C:N:P de 106:16:1 como a ideal

para o desenvolvimento do plâncton, a qual também é conhecida como a razão de Redfield, até hoje

citada em muitos trabalhos (Falkowski, 2000; Sterner & Elser, 2002). Redfield, entretanto, não

distinguiu entre zooplâncton e fitoplâncton e, à sua época, o bacterioplâncton não foi amostrado

(Falkowski, 2000). Já em 1986, William A. Reiners, no seu artigo intitulado Complementary

Models for Ecosystems, menciona a dificuldade de se elaborar um conceito unificador para definir

ecossistema e propôe idéias mais integradoras que ajudem a explicar os ecossistemas nas diversas

escalas e níveis de organização. Discute, ainda, a fragmentação entre a abordagem energética e de

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fluxo de matéria e propõe o uso da estequiometria dos seres vivos – vida protoplásmica – e das suas

estruturas mecânicas (organelas celulares, ossos, fibras vegetais, etc.) como uma maneira de

interligar matéria e energia nos ecossistemas. Reiners, lança também, praticamente, todas as

questões que serão a base da elaboração da teoria da estequiometria ecológica: (1) grupos de

organismos afins têm estequiometria semelhantes; (2) existem diferenças na forma pela qual os

organismos obtêm o elemento limitante para síntese de nova biomassa, as quais foram moldadas ao

longo da evolução; (3) os organismos sofrem restrições pelos elementos essenciais limitantes; (4) as

trocas elementares entre a biomassa e o meio vão afetar a disponibilidade dos elementos; (5) os

ciclos biogoequímicos podem ser afetados pelos seres vivos.

O artigo de Reiners revolucionou a ecologia e fez surgir um campo fértil para novas teorias.

A teoria da estequiometria ecológica já tinha um embrião. Como ele se desenvolveu? A partir das

leis de conservação de matéria e lei das proporções definidas fica estabelecido que não se pode

combinar compostos em proporções arbitrárias, e que existe uma relação quantitativa entre os

reagentes e produtos. Como todos os elementos que formam as moléculas que reagem entre si estão

sujeitos às leis citadas, ficou bem estabelecido que as reações químicas na natureza, inclusive as

reações do metabolismo, ocorrem em um limiar bem definido. Estas restrições da química podem se

refletir também nas interações biológicas, influenciando de maneira marcante os processos

ecológicos. Isto se torna mais evidente quando os organismos são analisados como complexos

químicos e, portanto, como matéria com diversificada composição química que foram modificados

no decorrer da evolução em função das disponibilidades dos elementos químicos e das pressões

seletivas (Williams & Fraústo da Silva, 2003). Visto que, estes organismos (complexos químicos)

interagem entre si e com o mundo abiótico, torna-se coerente interpretar as interações ecológicas a

partir das leis da química como a de conservação de matéria e energia. Como as interações

ecológicas invariavelmente envolvem reações químicas, existiria uma estequiometria na ecologia. A

partir deste raciocínio, Sterner & Elser (2002), elaboraram a teoria da estequiometria ecológica, a

qual estuda o balanço das múltiplas substâncias químicas nas interações e processos ecológicos.

Então, de maneira sintética, pode-se comprovar que os organismos apresentam uma composição

química definida evolutivamente, a qual está envolvida nas reações químicas dos processos

fisiológicos (Williams, 1981; Williams & Fraústo da Silva, 1997; 2003; 2005) e ecológicos, sendo

os elementos químicos envolvidos nestas reações sujeitos às leis da conservação de matéria e

energia e, conseqüentemente, estando a vida também submetida à estas leis.

Os padrões de abundância dos elementos químicos nos organismos são um dos focos

principais da estequiometria ecológica. A partir desses elementos pode-se obter uma perspectiva do

ecossistema e focar os estoques e fluxos de matéria e energia no ambiente (Sterner & Elser, 2002).

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É possível, também, estabelecer uma rede de comunicação entre os níveis de organização porque

torna-se viável calcular a composição elementar e estimar os fluxos dos elementos químicos numa

enorme variedade de entidades biológicas, desde organelas e células, até ecossistemas e toda a

biosfera (Elser et al., 2000b; Sterner & Elser, 2002). Os elementos C, N e P são o enfoque principal

porque estão envolvidos em ciclos geoquímicos ou na composição da atmosfera, sendo muito

influenciáveis pela biota (Wetzel, 2001; Begon et al., 2006), além de serem os principais

constiutintes das biomoléculas. Como as biomoléculas que formam a vida têm concentrações

distintas destes três elementos, isto irá se refletir nas razões C:N:P dos organismos (Elser et al.,

1996; Sterner & Elser, 2002). Além disso, os organismos têm uma rede de biomoléculas diferentes,

em distintas proporções, e irão diferir nas suas razões C:N:P (Elser et al., 1996).

1.2. As biomoléculas como determinantes das razões estequiométricas C:N:P dos

consumidores

Os lipídios e carboidratos são biomoléculas ricas em carbono (Nelson & Cox, 2004;

Koolman & Roehm, 2005), refletindo na porcentagem de carbono dos organismos e influenciando

nas suas razões C:N e C:P, mas não afetando a razão N:P (Sterner & Elser, 2002). O conteúdo de

carbono nos carboidratos é menor se comparado aos lipídios, o que reflete a maior contribuição do

oxigênio para os carboidratos (Sterner & Elser, 2002; Nelson & Cox, 2004). Por exemplo, a

porcentagem de carbono num ácido graxo pode chegar a 75 %, enquanto num carboidrato é em

torno de 37 % (Sterner & Elser, 2002). Ainda que ambos tenham muito carbono na sua composição

molecular, dentre os lipídios temos os fosfolipídios que são ricos em fósforo e dentre os

carboidratos alguns polissacarídeos como a quitina apresentam nitrogênio (Nelson & Cox, 2004).

Então, os fosfolipídios e a quitina apesar de ricos em carbono também podem contribuir com

nitrogênio e fósforo para a biomassa e afetar as razões N:P da biota (Sterner & Elser, 2002).

Todavia, estas moléculas não são tão abundantes em todos os seres vivos e podemos considerar

como um padrão mais geral a alta porcentagem de carbono e razões C:N e C:P nos lipídios e

carboidratos (Sterner & Elser, 2002).

Enquanto os lipídios e carboidratos são ricos em carbono e contribuem para o aumento nas

razões C:nutrientes dos organismos, as proteínas são ricas em nitrogênio e os ácidos nucléicos são

ricos em nitrogênio e fósforo (Sterner & Elser, 2002). No geral, a porcentagem de nitrogênio nestas

biomoléculas é alta (em torno de 20 % do peso da proteína) - as razões N:P variando de 15:1 a 50:1

(Elser et al., 1996) e a C:N com um valor em torno de 2.7 (Sterner & Elser, 2002). As proteínas

também são ricas em carbono e, no geral, não contêm fósforo na sua composição (Nelson & Cox,

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2004; Koolman & Roehm, 2005). Desta maneira, um aumento na quantidade de proteínas num

organismo pode elevar suas razões C:P e reduzir suas razões C:N (Sterner & Elser, 2002). Já os

ácidos nucléicos são formados por várias unidades de nucleotídeos, ricos em nitrogênio (existente

nas bases nitrogenadas) e fósforo (existente no radical fosfato) (Nelson & Cox, 2004; Koolman &

Roehm, 2005), e um aumento na quantidade destas biomoléculas leva a um decréscimo nas razões

N:P. Segundo Sterner & Elser (2002), os ácidos nucléicos têm 32,7 % de C, 14,5 % de N e 8,7 % de

P, com uma razão C:N:P de 9,5:3,7:1; logo são moléculas ricas em fósforo e têm uma baixa N:P. Os

nucleotídeos ainda podem funcionar como transportadores de energia, como é o caso do ATP. O

ATP contém 28 % de C, 14 % de N e 18 % de P (uma razão C:N:P de 3,9:1,7:1), e é uma das

moléculas mais ricas em fósforo nos seres vivos (Sterner & Elser, 2002). Apesar de ser amplamente

distribuído na biota, participar de diversas vias metabólicas (Koolman & Roehmn, 2005) e ser rico

em fósforo, isso não dá ao ATP o status de um grande contribuidor de fósforo porque os seus níveis

na biomassa total dos seres vivos são baixos. Isto também se aplica ao DNA, o qual possui níveis

relativamente constantes na biomassa e, da mesma maneira que o ATP é rico em fósforo, mas a sua

concentração na biomassa não é relevante para afetar o conteúdo elementar de um organismo

(Sterner & Elser, 2002). A história é diferente quando se trata do RNA ribossomial. Os níveis de

RNAr variam entre os diferentes taxa em função do desenvolvimento, ontogenia, condições

fisiológicas e ecológicas (Elser et al., 2003), e a sua contribuição para a biomassa é relativamente

alta (Sterner & Elser, 2002). Estas características fazem do RNAr a molécula rica em fósforo que

realmente pode influenciar no conteúdo de fósforo e nas razões C:N:P de um organismo – e.g.,

segundo Acharya et al. (2004), o RNAr pode explicar até 48,8 % (± 2%) do conteúdo de P de

Daphnia, e de acordo com Elser et al. (2003), até 49,9 % (± 1,9%) em diversos taxa como bactérias,

insetos e crustáceos.

Como as proteínas são ricas em nitrogênio, a sua síntese pode ser limitada por este nutriente.

Segundo Murata et al. (2006), a concentração de proteínas por célula e as razões proteína:C do

dinoflagelado Alexandrium tamarense aumentaram com o aumento da razão N:P do meio de

cultivo. As taxas de crescimento também aumentaram com uma maior razão N:P e concentração de

proteínas, e de acordo com Murata et al. (2006) isto é uma conseqüência da ação das proteínas na

manutenção do crescimento celular. O crescimento de um organismo, inclusive, pode ser

determinado a partir da concentração de proteínas, de onde se estima o número de células (Lang et

al., 1965). De acordo com estes autores, a porcentagem de proteínas durante os estágios de vida do

Aedes aegypti variou muito (principalmente durante o estágio larvar), aumentando de forma

marcante na fase de pupa até os insetos atingirem a idade adulta – concordando com um estágio de

rápida diferenciação e crescimento celular. Aquele estudo também concluiu que a quantidade de

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proteínas aumentou mais rapidamente do que a quantidade de ácidos nucléicos nos momentos

iniciais do desenvolvimento larvar. Neste contexto, organismos que apresentarem altas razões N:P

na biomassa podem estar numa fase de crescimento sustentado pela síntese protéica. Entretanto, a

razão N:P também sofre influência da quantidade de ribossomos e RNAr, rico em fósforo e

responsável pela síntese de proteínas (Elser et al., 1996; Sterner & Elser, 2002). Segundo Karpinets

et al. (2006), a razão bioquímica RNA:proteína tende a aumentar enquanto a razão estequiométrica

N:P tende a diminuir quando ocorre um investimento em ribossomos para sustentar um rápido

crescimento celular de organismos unicelulares.

Este padrão observado por Karpinets et al. (2006) já vem sendo encontrado em outros

grupos de organismos e estes estudos têm encontrado correlações entre o conteúdo de RNA e a

porcentagem de fósforo na biomassa com as taxas de crescimento e razões estequiométricas C:P e

N:P (Main et al., 1997; Makino et al., 2003; Acharya et al., 2004, 2006; Vrede et al., 2004; Elser et

al., 2006; Kyle et al., 2006; Watts et al., 2006). De fato, existem fortes indícios de que os

organismos que crescem rápido são ricos em fósforo e podem ter o seu crescimento restringido por

uma escassez deste elemento no meio (algas e bactérias) ou no alimento (protozoários e

metazoários) (Elser et al., 2000a; Elser et al., 2003). Mas qual a relação entre o P e o crescimento?

Após a compilação de uma grande quantidade de informações obtidas a partir de pesquisas

relacionando o conteúdo de P e razão N:P dos organismos com a quantidade de RNA ribossomial

(RNAr), foi elaborada a hipótese da taxa de crescimento (growth rate hypothesis - GRH) (Elser et

al., 1996; Elser et al., 2000a; Sterner & Elser, 2002). Segundo a GRH, os organismos com um

crescimento rápido têm muito fósforo e baixas razões N:P e C:P porque investem muito na

produção de RNA (rico em fósforo) para sustentar as elevadas taxas de síntese protéica requeridas

durante o crescimento. Esta hipótese parece ser testável com diversos taxa de invertebrados (Vrede

et al., 2004). Elser et al. (2003) a testaram utilizando espécies de bactéria, zooplâncton, uma espécie

de caranguejo, e insetos coleópteros e concluíram que o crescimento, o conteúdo de RNA, e o

conteúdo de fósforo na biomassa estão estreitamente interligados em todas as espécies estudadas (P

x Taxa de crescimento: média final de r2 entre todos os táxons = 0,75; RNA x Taxas de

crescimento: r2 = 0,78; P x RNA: r

2 = 0,77). Esta correlação se mantém durante a ontogenia e

períodos de limitação por fósforo, mas é enfraquecida quando o fósforo não é o elemento limitante

para o crescimento (Elser et al., 2003; Acharya et al., 2004; Acharya et al., 2006). Quando outro

fator for o limitante para o crescimento como o nitrogênio (limitação por proteínas), ou quando um

organismo for submetido à uma situação de inanição (limitação por energia – falta de moléculas

ricas em carbono como lipídios e carboidratos), nenhuma relação significativa para qualquer

combinação entre o P, o RNA e o crescimento fica evidente (Elser et al., 2003). Já outros autores

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(Acharya et al., 2004; Hessen et al., 2007), relataram que uma limitação por N (alta razão C:N no

alimento) pode afetar negativamente o crescimento porque a limitação pela síntese de ribossomos e

RNA, ambos ricos em fósforo, é alterada para uma limitação por síntese de proteínas devido a

escassez de aminoácidos ou precursores dos aminoácidos, os quais são ricos em nitrogênio (Sterner

& Elser, 2002). Então, quando o fósforo não é o fator limitante para o crescimento, este poderia

ficar restringido pela escassez de nitrogênio, o que limitaria a síntese de proteínas (ricas em

nitrogênio), ou ser restringido pela falta de carbono (limitação energética), o que diminuiria a

síntese de carboidratos e lipídios, ricos em carbono e importantes fontes de energia para o

metabolismo.

1.3. A qualidade do recurso alimentar como determinante das razões estequiométricas

C:N:P dos consumidores

Os organismos com composição elementar e molecular distintas têm requerimentos

diversos, sofrendo restrições pelas fontes de elementos que utilizam. Essas restrições podem ser

oriundas da qualidade dos recursos, que vão desde alguns minerais solubilizados na água ou no solo

até uma grande presa com composição química complexa (Sterner & Elser, 2002). Grande parte dos

estudos que buscaram verificar como a qualidade do recurso alimentar influencia na estequiometria

C:N:P dos consumidores foram desenvolvidos em ecossistemas aquáticos continentais na região

pelágica, sobretudo avaliando como a disponibilidade de nitrogênio e fósforo afeta o fitoplâncton, o

que acaba por determinar a qualidade do recurso para o zooplâncton (Sterner & Elser, 2002). O

estudo pioneiro que buscou verificar como a disponibilidade dos elementos químicos no meio

abiótico influencia na química dos seres vivos foi o de Alfred Redfield já citado anteriormente. A

apreciação fundamental de Redfield em relação à química dos ecossistemas, além de estabelecer a

clássica razão C:N:P de 106:16:1 como ótima para o plâncton marinho, foi realizar a conexão entre

a composição química do plâncton (especialmente a razão N:P) e a da água do mar (Falkowski,

2000). Pode-se afirmar que o trabalho de Redfield foi uma das primeiras tentativas de

interrelacionar a qualidade do recurso (N- NO3- e P- PO4

3-) à composição química do organismo e o

seu efeito para o ecossistema. Neste sentido, a razão de Redfield é uma verdadeira propriedade

emergente que reflete a interação de múltiplos processos. Dentre estes temos: a aquisição de

elementos (sujeita a qualidade do recurso) pelo plâncton; a formação de nova biomassa (a

composição química do organismo); a remineralização da biomassa pelas bactérias (reciclagem de

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nutrientes); e a perda de nutrientes para o sedimento (nitrogênio e fósforo) ou para a atmosfera

(nitrogênio) (Falkowski & Davis, 2004).

De maneira geral, o fitoplâncton assim como os demais produtores primários sofrem maior

influência da composição química do meio do que os consumidores, estando sujeitos a maiores

alterações das suas razões estequiométricas em função das variações dos elementos no ambiente

(Sterner & Hessen, 1994; Muller et al., 2001; Agren, 2004; Frost et al., 2005a). Os autótrofos

devem adquirir cada um dos elementos nos compostos que estão dispersos no meio (CO2, PO43-

,

NH4+, NO3

-) e a aquisição destes elementos ocorre em cadeia. Para assimilar carbono, os autótrofos

requerem proteínas (p.ex. RUBISCO - fixação do CO2 ), o que aumenta a demanda por nitrogênio e,

para sintetizar proteínas é necessário um investimento em RNAr, exigindo a entrada de fósforo

(Ågren, 2004). No caso de passarem por limitações por nitrogênio, os autótrofos podem absorver

quantidades consideráveis de fósforo e estocá-lo (e vice-versa) e, portanto, as medidas das razões

N:P podem se tornar enganosas se não for levada em conta a real necessidade do organismo já que

existe uma capacidade considerável nos autótrofos para captar o elemento não limitante. Por isso,

somente ao se usar resultados derivados de condições em que ambos os elementos (N e P) da razão

são limitantes é que se terá acesso a uma razão N:P mais realista.

Mas e os consumidores? Eles enfrentariam uma variação na sua estequiometria C:N:P tão

nítida quanto a dos produtores primários? Segundo Agren (2004) e Frost et al. (2005b), os

consumidores sofreriam menos restrições elementares porque não têm que obter os elementos de

fontes diversas como os produtores primários – os consumidores teriam acesso ao alimento já

“pronto”. Duas situações podem ocorrer quando um consumidor com uma determinada razão C:N:P

utiliza um recurso com uma razão C:N:P particular. Quando o recurso tiver uma composição

química similar à do consumidor, haverá uma interação estequiometricamente balanceada e um

equilíbrio estequiométrico - o alimento teria uma qualidade ótima, o que não é comum na natureza.

Caso a composição química do recurso seja diferente, escassa em algum dos nutrientes necessitados

pelo consumidor, haverá uma interação estequiometricamente desbalanceada e um desequilíbrio

estequiométrico – o que ocorre mais freqüentemente nas interações tróficas (Sterner & Elser, 2002).

Os consumidores que refletirem a composição química do alimento são considerados pouco

homeostáticos e são incluídos no modelo denominado “você é o que você come” (you are what you

eat’) (Sterner & Elser, 2002). Obviamente, algum grau de homeostase deve existir caso contrário tal

organismo não sobreviveria. Na verdade, as evidências de que os consumidores são homeostáticos e

sofrem menos variações na sua composição química do que os produtores são bem estabelecidas

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para diversos grupos de consumidores (Woods et al., 2002; Stelzer & Lamberti, 2002; Makino et

al., 2003; Kagata & Ohgushi, 2005). Muitos podem balancear os elementos e suas razões C:N:P

mesmo utilizando um recurso alimentar com uma razão elementar distante do seu equilíbrio

estequiométrico. Lógico que uma homeostase estrita também não é real e nenhum consumidor é

capaz de viver com uma composição química definitivamente constante. Dois estudos realizados

com gastrópodas verificaram que a estequiometria C:N:P dos consumidores pode variar com

alterações na estequiometria do recurso alimentar e que, portanto, os consumidores não são

homeostáticos estritos. No trabalho realizado por Figueiredo-Barros et al. (2006), foi descoberto

que os gastrópodas detritívoros Heleobia australis têm as razões C:N:P diretamente realcionadas às

concentrações de C, N e P do sedimento. Na área mais próxima ao aporte de esgoto doméstico, o

sedimento apresentou maiores concentrações de N e P, o que refletiu em menores razões C:N, C:P e

N:P no gastrópoda. Cross et al. (2003) realizaram um estudo similar, comparando a estequiometria

de invertebrados bentônicos de rios entre dois locais distintos: um mantido nas condições naturais e

outro enriquecido com nutrientes. Os resultados foram semelhantes aos de Figueiredo-Barros et al

(2006). O folhiço do local enriquecido com nutrientes apresentou maior porcentagem de fósforo e

menores razões N:P e C:P, o que se refletiu em maiores concentrações de fósforo e menores C:P e

N:P nos consumidores invertebrados. Já num estudo realizado por Stelzer & Lamberti (2002) com o

gastrópoda Elimia Livescens, foi observado que a composição elementar deste consumidor não

sofreu influência da composição elementar e estequiometria C:N:P do seu recurso alimentar, o

perifiton. Mesmo quando alimentado com perifíton enriquecido com fósforo, logo com menores

razões C:P e N:P, as razões C:P e N:P de E. livescens se mantiveram constantes. Estes exemplos

demonstram que na natureza tanto a ausência de homeostase quanto uma homeostase perfeita não

terão lugar e que a composição elementar e razões C:N:P dos consumidores podem acompanhar as

variações na composição elementar do recurso alimentar.

A regulação homeostática da estequiometria do consumidor pode ocorrer de três formas:

ajustes comportamentais, fisiológicos e bioquímicos (Sterner & Elser, 2002). Quando confrontado

com recursos desbalanceados, um consumidor pode selecionar o melhor suplemento alimentar de

acordo com suas necessidades, ou buscar um local com a oferta do alimento mais adequado – (1)

ajuste comportamental. Um exemplo deste tipo de ajuste pode ser encontrado no trabalho de Grover

& Chrzanowski (2006) realizado com protozoários flagelados bacteriófagos. Aquele estudo deixa

claro a estratégia seletiva que o protozoário adota, escolhendo os recursos mais ricos em nutrientes

e ingerindo menos do recurso pobre em nutrientes Outra maneira de garantir a homeostase seria

realizando um ajuste fisiológico para absorver o nutriente mais importante. Neste caso, o

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balanceamento ocorre durante o processo de assimilação, geralmente assimilando o nutriente mais

raro – (2) ajuste fisiológico (Sterner & Elser, 2002; Frost et al., 2005a). Dois exemplos ajudam a

elucidar como funciona um ajuste fisiológico. Segundo Woods et al. (2002), as larvas do

lepidóptero Manduca sexta são capazes de concentrar mais P quando submetidas a um alimento

pobre neste elemento. Essas larvas podem reter até 85 % de P, quando alimentadas com um

alimento pobre em P, e retêm apenas 25 % numa dieta rica em P. Outro exemplo está no trabalho de

Darchambeu et al. (2003). Aqueles autores concluíram que Daphnia pode aumentar as taxas de

excreção de carbono orgânico dissolvido e da respiração (liberando mais CO2) ao consumir um

alimento com uma alta razão C:P, liberando assim o excesso de C ingerido. Em terceiro lugar, a

regulação homeostática da estequiometria pode ocorrer primariamente ao nível bioquímico. Por

exemplo, a degradação de proteínas aumenta para elevar a liberação de N durante uma dieta rica

neste elemento; ou, ainda, durante uma escassez de nutrientes, as rotas bioquímicas que conservam

os nutrientes são ativadas – (3) ajuste bioquímico (Sterner & Elser, 2002). Esse ajuste bioquímico,

na realidade pode ser compreendido como um ajuste pós-ingestivo de regulação dos elementos e

compostos bioquímicos (Frost et al., 2005a).

Além da qualidade do recurso (como fonte de nutrientes) influenciando a composição

elementar e limitando o crescimento dos consumidores, a quantidade do recurso também pode estar

relacionada ao sucesso dos consumidores. Segundo Stelzer & Lamberti (2002), o crescimento do

gastrópoda Elimia livescens foi maior quando este se alimentou de uma baixa quantidade de

perifíton rico em fósforo. Nos experimentos, o gastrópoda também recebeu uma maior quantidade

de perifíton de baixa qualidade (altas razões C:P), o que também favoreceu seu crescimento,

indicando que a quantidade também pode limitar seu desenvolvimento. Para aqueles autores, Elimia

livescens é homeostático, uma vez que, sua composição elementar não sofreu influência da

composição elementar do perifiton e ao ingerir uma maior quantidade de perifíton de baixa

qualidade foi capaz de manter seu crescimento ao incorporar mais C (energia). Segundo os autores,

o gastrópoda não comeu menos quando lhe foi ofertada uma maior quantidade de perifíton

enriquecido com fósforo (melhor qualidade), concluindo que ele não estaria mantendo a homeostase

através de um ajuste comportamental (discutido anteriormente). No trabalho de Fink & Von Elert

(2006), foi observado que o gastrópoda Radix ovata, ao contrário de Elimia livescens, faz um ajuste

comportamental para garantir a homeostase, realizando uma compensação alimentar ativa. Para

compensar os efeitos negativos no crescimento ocasionados por um alimento de baixa qualidade

nutricional (pobre em N e P), R. ovata, aumentou as taxas de herbivoria. Em outra investigação,

Frost & Elser (2002) concluíram, ao avaliar a interação trófica entre o perifíton e insetos

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efemerópteros, que um enriquecimento com fósforo não eleva o crescimento dos insetos caso a

quantidade de perifíton se mantenha baixa. Apenas quando foi oferecida uma maior quantidade do

perifíton com menor C:P o inseto atingiu taxas de crescimento maiores. Frost & Elser (2002),

também mencionam que o inseto irá sofrer uma limitação por carbono durante o crescimento (além

da limitação por P) caso o perifíton seja formado por matéria orgânica com carbono de baixa

qualidade (de difícil assimilação). Estes estudos mostram claramente como a quantidade e

qualidade do alimento interagem para determinar o crescimento do consumidor.

1.4. Variações na estequiometria C:N:P da comunidade perifítica e a sua influência na

estequiometria dos consumidores

O termo perifíton é um termo mais amplo para definir toda microbiota que vive aderida a

qualquer substrato dentro d’água, vivo ou morto, seja planta, animal, rocha ou sedimento (Wetzel,

2001; Pompêo & Moschini-Carlos, 2003). O perifíton, na realidade, é uma comunidade composta

por algas, cianobactérias, bactérias heterotróficas, fungos, protozoários, metazoários e detritos, que

se desenvolvem sobre uma matriz de mucopolissacrídeos secretados por algas e bactérias (Wetzel,

2001). Já o termo biofilme, é mais utilizado para denominar as comunidades bacterianas associadas

a um substrato, mas que na realidade também tem sido considerado um sinônimo de perifíton

(Wetzel, 2001). Contudo, para definir as diferentes comunidades algais existentes em vários tipos

de substratos, foram criados alguns termos mais específicos: (1) epilíton, para designar as algas que

crescem em rochas; (2) epipélon, para as algas que crescem no sedimento orgânico, com partículas

finas; (3) epifíton, para as algas que crescem sobre macrófitas; (4) epizoon, para as algas que

crescem em superfícies animais como, por exemplo, conchas de bivalves; e (5) episamon, para as

algas que crescem sobre sedimento arenoso (Fernandes, 1993; Kahlert, 2001; Wetzel, 2001;

Pompêo & Moschini-Carlos, 2003). Finalmente, metafíton é um termo utilizado para designar um

grupo de algas encontradas na zona litoral que não estão aderidas a nenhum substrato e nem se

encontram totalmente em suspensão na coluna d’água. O metafíton geralmente se origina de

populações de algas flutuantes que se agregam a macrófitas e detritos da zona litorânea como

resultado da ação das correntezas geradas na água pelos ventos (Wetzel, 2001).

São três os fatores preponderantes que influenciam no metabolismo, crescimento e produção

da comunidade perifítica: (1) aquisição de recursos do meio externo à matriz perifítica como luz e

nutrientes; (2) uso de recursos internos obtidos de fontes bióticas ou abióticas do próprio substrato;

(3) reciclagem interna de nutrientes entre as algas e a microbiota associada (Wetzel, 2001). Um

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outro fator não menos importante é a espessura da chamada camada limítrofe (“boundary layer”).

De acordo com Riber & Wetzel (1987), o perifíton com uma maior biomassa e com uma camada

limítrofe mais espessa é menos afetado pelo fluxo da água circundante e, como conseqüência, as

condições químicas do perifíton podem diferir de forma marcante em relação a do meio

circundante. Segundo estes mesmos autores, a reciclagem de fósforo a partir da camada limítrofe,

por exemplo, pode significar a forma de reposição de fósforo predominante no perifíton, até mesmo

mais importante do que o aporte através do meio circundante. Desta forma, a camada limítrofe

também desempenha um papel essencial para o metabolismo da comunidade perifítica.

A intensidade luminosa pode afetar as razões C:nutrientes no perifíton e levar a uma

limitação por nutrientes nos consumidores. O conteúdo de fósforo do perifíton pode diminuir com o

aumento da intensidade luminosa e a magnitude deste efeito é mais severa quando os níveis de

fósforo forem menores no meio (Fanta et al., 2010). Esta relação entre a luz e os nutrientes já foi

demonstradas pra outros produtores primários, onde grandes variações na composição elementar e

nas razões estequiométricas estavam relacionadas às variações luminosas. Isto porque um aumento

na intensidade luminosa eleva as taxas de fixação de carbono, elevando-se as razões C:nutrientes

(Sterner & Elser, 2002). Segundo Sterner et al. (1997), quando a intensidade luminosa é alta e os

níveis de P são baixos, as razões C:P dos autótrofos será alta e, conseqüentemente, a base da teia

trófica será rica em carbono e pobre em fósforo. A situação oposta também pode ocorrer, com

menor intensidade luminosa significando menores razões C:P e, portanto, produtores com uma

maior proproção de fósforo na biomassa (Sterner et al., 1997). Uma correlação positiva entre a

razão luz:fósforo e a razão C:P também pode existir, o que se permite fazer previsões de como o

balanço entre luz e nutrientes pode afetar a estrutura e processos do ecossistema. Por exemplo, os

ecossistemas com uma razão luz:fósforo baixa poderão ter diversos níveis tróficos limitados por

carbono ou energia, enquanto ecossistemas com uma razão luz:fósforo alta poderá apresentar níveis

tróficos limitados por fósforo. Então, apesar de mais luz representar maior fixação de carbono, o

produtor estará limitado por nutrientes (alta razão C: nutrientes), o que significa um recurso de

baixa qualidade para os consumidores. Alguns autores denominaram esta relação complexa entre

luz e nutrientes de hipótese da razão luz:nutrientes, e alguns estudos vem sendo realizados tentando

testar esta hipótese e avaliar como a interação entre luz e nutrientes afeta a estequiometria dos

produtores primários (Chrzanowski & Grover, 2001; Hessen et al., 2002; Dickman et al., 2006).

Os nutrientes como nitrogênio e fósforo podem ser obtidos do meio externo por difusão a

partir da coluna d’água ou serem provenientes do substrato. A disponibilidade dos nutrientes para o

perifíton é, então, determinada pela espessura da camada limítrofe, pela concentração de nutrientes

na água e pela densidade e atividade metabólica dos organismos aderidos ao substrato (Riber &

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Wetzel, 1987; Wetzel, 2001). Em alguns casos, o perifíton pode estar limitado tanto por nitrogênio

quanto por fósforo (Havens et al., 1999b; Maberly et al., 2002). Tem sido observado que, ao se

aumentar a oferta desses nutrientes, a biomassa perifítica aumenta (Rosemond et al., 1993;

Hillebrand & Kahlert, 2001; Hillebrand, 2002; Stelzer & Lamberti, 2001; Hillebrand et al., 2004).

As concentrações de clorofila a e a produtividade primária também podem se elevar com um maior

aporte de nitrogênio e fósforo (Heavens et al., 1999a; Heavens et al., 1999b, Liess & Hillebrand,

2006). A adição desses nutrientes ainda pode causar uma alteração na composição taxonômica das

algas do perifíton (Chételat et al., 1999; Heavens et al., 1999b; Stelzer & Lamberti, 2001; Frost &

Elser, 2002). Uma adição diferenciada de nitrogênio e fósforo também pode vir a alterar as

concentrações desses nutrientes no perifíton e alterar a sua estequiometria C:N:P. No estudo

realizado por Havens et al. (1999a), um enriquecimento com fósforo reduziu a razão N:P do

perifíton que crescia em substrato vegetal e artificial. No trabalho de Frost & Elser (2002a), também

foi observada uma menor razão C:P no perifíton após a adição de fósforo. Aqueles autores também

verificaram que a proporção de carbono orgânico de origem algal e as concentrações de clorofila a

também aumentaram após a adição do fósforo. Outros estudos (Hillebrand & Kahlert 2001; Liess &

Hillebrand, 2006) também verificaram que as razões C:N e C:P diminuíram com a adição de

nitrogênio e fósforo, respectivamente.

O perifíton pode ser um dos principais produtores primários em ambientes aquáticos rasos

(Bicudo et al. 1995, Wetzel, 2001) e servir como fonte de alimento para diversos consumidores

bentônicos (Wetzel, 2001; Cross et al., 2005). Suas razões C:N:P são indicadoras da qualidade

nutricional – altas razões C:nutrientes indicam recurso de baixa qualidade (Forst et al., 2002b). De

fato, alguns dos estudos que investigaram como a adição de nitrogênio e fósforo poderia afetar a

razão C:nutrientes no perifíton também tinham com objetivo entender como as variações na

estequiometria C:N:P do perifíton poderiam influenciar na estequiometria dos consumidores. Cross

et al. (2003) constataram que os consumidores que se alimentaram de perifíton com menores razões

C:P e N:P também apresentaram estas razões estequiométricas mais baixas. Liess & Hillebrand

(2005) encontraram variações sazonais nas razões C:N, C:P e N:P de diversos invertebrados

bentônicos e concluíram que isso foi um reflexo das variações na estequiometria do seu recurso

alimentar, o perifíton. Entretanto, conforme já mencionado anteriormente (ver qualidade do recurso

e as razões C:N:P), alguns consumidores podem ser mais homeostáticos e apresentarem uma

variação na sua estequiometria menor do que a encontrada no seu alimento. Isso foi visto em alguns

estudos que avaliaram a interação trófica entre consumidores bentônicos e o perifíton (Stelzer &

Lamberti, 2002; Evans-White et al., 2005; Fink et al., 2006; Fink & Von Elert, 2006).

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Já os consumidores, através da herbivoria e excreção diferenciada de nitrogênio e fósforo,

podem exercer influência na biomassa e razões C:N:P do perifíton (Rosemond et al., 1993;

Hillebrand & Kahlert, 2001; Hillebrand et al., 2004). Em geral, a herbivoria reduz a biomassa

perifítica (Mulholland et al., 1991; Anderson et al., 1999; Hillebrand & Kahlert, 2001; Hillebrand

& Kahlert, 2002; Hillebrand et al., 2004; Alvaréz & Peckarsky, 2005), mas não tem apenas este

efeito negativo (Liess & Hillebrand, 2004). A herbivoria também pode facilitar a difusão de

nutrientes no interior do perifíton, ao remover as células senescentes, e aliviar a competição interna

por nutrientes ao diminuir a densidade de algas (Mulholland et al., 1991; Kahlert, 2001; Liess &

Hillebrand, 2004). Outro efeito indireto e positivo dos consumidores sobre o perifíton é através da

liberação de excretas ricas em nutrientes que, em situações nas quais o perifíton esteja sob uma

forte limitação por nutrientes e a densidade do herbívoro seja baixa, o efeito positivo do maior fluxo

de nutrientes pode se tornar mais importante do que o efeito negativo da diminuição da biomassa

(Liess & Hillebrand, 2004). De fato, alguns estudos vêm mostrando que a presença dos

consumidores aumenta o conteúdo de nutrientes para o perifíton diminuindo suas razões

C:nutrientes (Hillebrand & Kahlert, 2001; Hillebrand et al., 2004; Hillebrand et al. 2007). Esta

liberação de nutrientes via excreção pode estar ligada à composição elementar, demanda elementar

e razões C:N:P dos consumidores (Sterner & Elser, 2002; Hilebrand et al., 2007). Evans-White &

Lamberti (2005) demonstraram que um consumidor com maior razão N:P e, portanto, mais rico em

nitrogênio, excretou mais fósforo, enquanto o consumidor com menor razão N:P e mais rico em

fósforo, excretou mais nitrogênio, afetando de forma diferenciada o perifíton. Hillebrand et al.

(2004) verificaram que os consumidores com uma menor porcentagem de nitrogênio na biomassa

liberaram mais nitrogênio para o perifíton. Numa revisão realizada por Hillebrand et al. (2007), foi

concluído que os consumidores com menos fósforo na biomassa têm uma tendência a reduzir o

conteúdo de fósforo para o perifíton, enquanto os consumidores ricos neste elemento elevam o

conteúdo de fósforo do perifíton. Isto não significa que os consumidores com menor conteúdo de

fósforo na biomassa, maior razão C:P e que excretam menos fósforo tenham uma quantidade

pequena deste elemento na biomassa, mas indica que estão com o desenvolvimento limitado por

este elemento e, para compensar, apresentam uma maior eficiência de retenção de fósforo, liberando

menos deste nutriente para o perifíton (Hillebrand et al., 2007)

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1.5. A reciclagem de nutrientes dirigida pelos consumidores

A composição elementar e o grau de homeostase dos consumidores, a alocação diferenciada

dos elementos para o crescimento e as restrições impostas pela composição elementar do alimento

irão interagir de maneira complexa para gerar uma resposta em nível de ecossistema, uma liberação

diferenciada de C, N e P que vai refletir na reciclagem de nutrientes. Alguns autores denominam

essa influência dos consumidores na reciclagem de nutrientes de reciclagem de nutrientes dirigida

pelo consumidor (Elser & Urabe, 1999; Sterner & Elser, 2002). Como mencionado anteriormente,

um consumidor com maior capacidade de homeostase deve reter eficientemente as substâncias

deficientes e liberar as que estiverem em excesso. Um animal, por exemplo, pode liberar os

elementos do alimento ingerido através das fezes ou excretas e reter o elemento mais limitante

(Sterner et al., 1992; Sterner & Elser, 2002; Frost et al., 2005a). O elemento limitante é

determinado pelos requerimentos elementares de cada espécie e, por isso, a composição da

comunidade consumidora pode nortear o processo da reciclagem de nutrientes. Segundo Sterner et

al. (1992), mudanças na composição da comunidade zooplanctônica de espécies ricas em nitrogênio

para espécies ricas em fósforo transforma uma limitação dos autótrofos por nitrogênio numa

limitação por fósforo e vice-versa. Como exemplo para esta questão, temos o gênero Daphnia,

cladócero rico em fósforo, e os copépodas, ricos em nitrogênio. Numa comunidade dominada por

Daphnia (rico em fósforo e com baixa razão N:P) a razão N:P reciclada será alta e, ao contrário,

numa comunidade dominada por herbívoros com uma alta N:P, a N:P reciclada será baixa. Assim,

estes crustáceos herbívoros iriam liberando os nutrientes em razões diferentes às das algas que

ingeriram, e as taxas de liberação destes nutrientes estariam fortemente influenciadas pelos

desequilíbrios nas razões elementares entre o alimento e os consumidores (Elser & Urabe, 1999;

Sterner & Elser, 2002).

A influência das excretas dos consumidores nos produtores primários também já foi

explorada no compartimento bentônico dos ecossistemas aquáticos continentais. Num estudo

realizado por Evans-White & Lamberti (2005), verificou-se que dois invertebrados bentônicos de

rios, o crustáceo Orconectes propinquus e o gastrópoda Elimia livescens liberavam nutrientes para o

epilíton de forma distinta e de acordo com suas razões elementares. O. propinquus com uma razão

N:P igual a 18 liberou mais NH4+, enquanto o E. livescens com uma N:P de 28 liberou mais PO4

3-.

Foi concluído que essa excreção diferenciada pode surtir efeito na composição nutricional do

epilíton e que os invertebrados podem regular a disponibilidade de nutrientes para as algas presentes

no epilíton. Como conseqüência, num ambiente limitado por nitrogênio e dominado por O.

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propinquus, o epilíton terá mais nitrogênio e será menos limitado por este elemento do que num

ambiente pobre em nitrogênio e dominado por E. livescens. Em ambientes pobres em fósforo e

dominados por O. propinquus, o epilíton será mais limitado por fósforo, limitação esta que poderia

ser diminuída caso o táxon dominante fosse E. livescens. Na pesquisa de Rothlisberger et al. (2008),

larvas de efemerópteros aumentaram as taxas de excreção de fósforo ao se alimentarem de um

perifíton com uma menor N:P e excretaram mais nitrogênio quando seu alimento tinha uma alta

N:P. Ainda assim retiveram fósforo na sua biomassa e os autores daquele estudo concluíram que

além dos desequilíbrios estequiométricos entre o alimento e o consumidor, a eficiência de

assimilação dos nutrientes está ligada às razões N:P excretadas. Portanto, além da composição

elementar do consumidor e do alimento, as eficiências de assimilação (fisiologia do organismo) de

nitrogênio e fósforo dos consumidores também podem influenciar nas razões estequiométricas dos

produtores (Frost et al., 2005a; Rothlisberger et al., 2008).

A oferta diferenciada dos elementos, através da reciclagem de nutrientes dirigida pelos

consumidores, além de afetar a composição elementar dos produtores primários, também pode

exercer outros efeitos nos ecossistemas. Uma ampla revisão elaborada por Vanni (2002) concluiu

que a reciclagem de nutrientes realizada por animais também pode alterar a composição taxonômica

das espécies de produtores primários, reciclar os nutrientes num hábitat específico (liberação de

nutrientes no próprio local da ingestão do alimento) ou ainda translocar nutrientes entre hábitats ou

ecossistemas diferentes (liberação de nutrientes em locais ou ecossistemas diferentes da onde houve

a ingestão do alimento). Aquele autor também concluiu que os animais podem afetar a reciclagem

de nutrientes de uma forma direta ou indireta. Os efeitos diretos são fisiológicos e relacionados à

transformação dos nutrientes de uma forma para outra no corpo do animal. Aí estariam incluídos o

consumo de nutrientes e sua alocação subseqüente para o crescimento ou sua liberação nas excretas

e fezes. Os nutrientes assimilados e deslocados para o crescimento e manutenção não estariam

disponíveis imediatamente. Os nutrientes existentes nas fezes poderiam se tornar disponíveis após a

remineralização realizada por bactérias e fungos, enquanto a forma mais acessível seria liberada nas

excretas. Os efeitos indiretos ocorreriam quando os animais afetam o fluxo de nutrientes através da

remoção seletiva de suas presas, alterando a composição taxonômica de uma comunidade, ou ao

modificar a estrutura do hábitat – através da bioturbação, por exemplo, liberando os nutrientes do

sedimento para a coluna d’água.

Poucos estudos se detiveram em avaliar a interação trófica entre os consumidores e o

perifíton utilizando uma abordagem estequiométrica (Cross et al., 2005). Além disso, tendo em

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vista que, na maioria dos casos, a razão C:nutrientes varia mais no perifíton do que nos

consumidores (Cross et al., 2003; Frost et al., 2003; Evans-White, Stelzer & Lamberti, 2005) e que,

portanto, existe um grande desbalanço entre a composição elementar do perifíton e dos

consumidores nos sistemas bentônicos (Liess & Hillebrand, 2005), qualquer informação adicional

inédita pode vir a preencher lacunas existentes, seja acumlando mais informações deste tipo para os

sistemas bentônicos, ou estendendo os padrões encontrados em ambientes temperados para os

ambientes tropicais. Além disso, o grau de um desbalanço elementar entre o perifíton e os

consumidores em lagoas tropicais húmicas de águas escuras e limitadas por luz, onde grande parte

do perifíton pode ser heterotrófica (Guariento et al., 2007), praticamente não foi investigado. Desta

forma, este estudo, que buscou avaliar a relação trófica perifíton-consumidor para um ecossitema

tropical rico em susbstâncias húmicas e de águas escuras limitado por luz, como é o caso da lagoa

Cabiúnas, utilizando uma abordagem estequiométrica pode ajudar a satisfazer estas questões em

aberto.

No presente estudo foi utilizada uma abordagem experimental para se avaliar como a adição

diferenciada de nitrogênio e fósforo para o perifíton poderia afetar a sua estequiometria e refletir

nas razões estequiométricas C:N:P dos consumidores. O perifíton se desenvolveu em substratos

artificiais na lagoa Cabiúnas (Macaé – RJ), e em laboratório foi adicionado nitrogênio e fósforo em

isolado ou em conjunto de forma a se verificar também o efeito da interação destes nutrientes na

estequiometria C:N:P do perifíton e dos consumidores. Foram estabelecidos, então, quatro

tratamentos: controle (sem nutrientes), +N (adição de nitrogênio), +P (adição de fósforo), +N+P

(adição de nitrogênio e fósoforo). Foram realizados dois experimentos, um utilizando ostrácodas

como consumidores e outro utilizando gastrópodas (Biomphalaria tenagophila). Ao término dos

experimentos as razões C:N:P do perifíton e dos consumidores foram calculadas de maneira a se

acessar a qualidade do recurso, o perifíton (altas razões C:nutrientes compatíveis com uma baixa

qualidade e vice-versa), se detectar possíveis limitações por nitrogênio ou fósforo no perifíton e se

avaliar como as razões C:N:P dos consumidores respondiam às variações nas razões C:N:P do

perifíton. Consumidores como os ostrácodas foram considerados mais homeostáticos do que B.

tenagophila porque os últimos tiveram uma maior variação nas suas razões C:N:P em função das

razões C:N:P do perifíton.

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1.6. Hipóteses

Haja vista a íntima relação entre a composição elementar, demanda elementar e razões

estequiométricas dos consumidores e a estequiometria C:N:P do recurso alimentar e que a

eutrofização artificial (enriquecimento com nitrogênio e fósforo) pode alterar a estequiometria do

perifíton, podendo levar a alterações na estequiometria do consumidor, com reflexos no balanço de

N e P na cadeia alimentar, torna-se relevante avaliar a interação trófica entre os consumidores e o

perifíton utilizando uma abordagem estequiométrica. Além disso, pouco se sabe sobre os valores

das razões C:N:P dos consumidores bentônicos (Elser & Urabe, 1999; Frost et al., 2002b), e

informações deste tipo são fundamentais para se determinar os desequilíbrios elementares entre os

consumidores e o perifíton nas redes alimentares dos sistemas bentônicos (Cross et al., 2005).

Dentro deste contexto, elaborou-se as hipóteses que dirigiram o desenvolvimento desta pesquisa:

(1) A adição diferenciada de nitrogênio e fósforo aumenta a quantidade absoluta destes

nutrientes no perifíton, alterando as suas razões estequiométricas C:N, C:P e N:P;

(2) As razões estequiométricas C:N:P dos consumidores variam em função das razões

C:N:P do perifíton – o consumidor não possui homeostase estrita.

1.7. Objetivos

1. Investigar se a eutrofização artificial (adição de nitrogênio e fósforo) altera a

estequiometria C:N:P do perifíton.

2. Verificar se variações nas razões C:N:P do perifíton levam a alterações nas razões C:N:P

dos consumidores.

3. Determinar se os consumidores utilizados neste trabalho se aproximam de uma

homeostase estrita, mantendo a sua estequiometria C:N:P constante, independente de variações na

estequiometria do perifíton, ou se têm sua estequiometria variando em função da estequiometria do

perifíton.

2. Metodologia

2.1. A lagoa Cabiúnas

A lagoa Cabiúnas está localizada no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Macaé, Rio

de Janeiro (figura 1). Cabiúnas é uma lagoa oligohalina (Esteves, 1998), oligotrófica (Roland, 1998)

e sujeita a influência marinha esporádica devido a sua proximidade ao mar (Petrucio, 1998). Possui

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uma área de 0,32 km2

(Panosso et al., 1998), temperatura média da água de 24,8ºC e profundidade

média de 3,2 m (Petrucio, 1998). Seus níveis médios de NH4+, NO3

-, PO4

-, nitrogênio total (N-

Total) e fósforo total (P- total) da água variam em torno de 15, 4,4, 0,03, 60 e 0,58 µMol/L

respectivamente (Relatório Eco-lagoas, 2009). Apresenta, portanto, uma razão N-total : P- total da

água em torno de 100, compatível com um ambiente limitado por fósforo (Hillebrand & Sommer,

1999; Kahlert, 2001). Além disso, Cabiúnas é rica em susbtâncias húmicas que conferem à água

uma coloração escura, tornando parte da coluna d’água limitada por luz (Faria & Esteves, 2000).

Tal limitação pode dificultar o desenvolvimento de uma comunidade autotrófica expressiva no

perifíton da Cabiúnas e tornar a contribuição dos organismos heterotróficos mais importante

(Guariento et al., 2007).

A escolha da lagoa Cabiúnas para a colocação do substrato artificial foi devido ao fato de ser

oligotrófica e limitada por fósforo, permitindo se levar ao laboratório um perifíton submetido à

pequenas concentrações de nitrogênio e fósforo. Tal condição potencializaria as respostas do

perifíton ao enriquecimento artificial em laboratório, permitindo-se avaliar com mais realismo como

esta comunidade é influenciada pelos nutrientes quando estes estão em excesso (tratamentos com

adição de nutrientes).

Figura 1: Lagoa Cabiúnas com a localização do ponto onde foi colocado o substrato artificial para o

crescimento do perifíton.

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A lagoa Cabiúnas tem uma extensa região litorânea (Panosso et al., 1998) e é densamente

ocupada por macrófitas aquáticas (Petrucio & Faria, 1998), as quais podem ser colonizadas por

perifíton. Nesses bancos de macrófitas são encontrados os organismos consumidores utilizados

neste trabalho - os ostrácoda e Biomphalaria tenagophila (d'Orbigny, 1835) - os quais se alimentam

do perifíton aderido às macrófitas (Santos e Freitas, 1983; Roca et al., 1993; Ministério da Saúde,

2007). Por esta razão, o substrato artificial foi colocado num ponto localizado próximo a um banco

de macrófitas.

2.2. Organismos usados nos experimentos

Ostracoda

Os ostrácodas são crustáceos diminutos com uma carapaça formada por duas valvas

compostas por um polissacarídeo, a quitina (Delorme, 2001). São encontrados em ambientes

marinhos e dulciaquícolas e, nesses últimos, podem ocorrer em lagos, poças, manguezais, rios,

águas subterrâneas e até mesmo em bromélias e áreas muito poluídas (Tressler, 1959; Delorme,

2001). Devido à boa fossilização de sua carapaça resistente, muitos ostrácodas são utilizados em

estudos paleontológicos de reconstrução de ambientes remotos e ainda podem ser úteis para detectar

mudanças climáticas ou eutrofização antropogênica (Delorme, 2001). Esses organismos podem ter

reprodução assexuada ou sexuada, a maioria são ovíparos (Dole-Olivier et al., 2000) e seu

desenvolvimento ocorre ao longo de oito estágios até atingirem a idade adulta (Delorme, 2001).

Podem ser considerados, em sua maioria, como detritívoros e herbívoros e sua dieta inclui algas

como diatomáceas e cianobactérias, além de matéria orgânica particulada (Dole-Olivier et al., 2000;

Delorme, 2001). Alguns ostrácodas, inclusive, apresentam preferência alimentar pelo perifíton e

ainda podem utilizá-lo como refúgio contra a predação (Roca et al., 1993).

O experimento com ostrácodas teve como objetivo verificar se sua estequiometria N:P varia

em função da estequiometria N:P do seu recurso alimentar - o perifíton - e corresponde aos

objetivos já descritos anteriormente na seção 1.7. Entretanto, a idéia inicial era trabalhar somente

com gastrópodas - Biomphalaria tenagophila e Heleobia sp (Hydrobiidae). Todavia, durante os

preparativos para o que seria o primeiro experimento, ou seja, durante a fase de adição de nutrientes

(NH4NO3 e KH2PO4) e tempo de espera para o perifíton assimilá-los (4-5 dias segundo Liess &

Hillebrand, 2005), foi observado o aparecimento de uma grande quantidade de ostrácodas em todos

os microcosmos que representariam os diferentes tratamentos (ver desenho experimental e adição

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de nutrientes). Justamente, por terem aparecido ostrácodas em todos os microcosmos de forma

homogênea (observação visual) e por estes organismos se alimentarem de perifíton (Roca et al.,

1993), decidiu-se seguir adiante e realizar esse experimento mantendo o foco nas hipóteses sobre as

quais se baseou esta dissertação de mestrado (seção 1.6). Desta forma, foram realizados dois

experimentos, um com ostrácodas e outro com Biomphalaria tenagophila.

Biomphalaria tenagophila (d'Orbigny, 1835)

O gastrópoda Biomphalaria tenagophila também é encontrado na lagoa Cabiúna nos bancos

de macrófitas associados à região litorânea. Alimenta-se do perifíton associado às macrófitas

(observações pessoais; Guariento, 2008) e por estas razões decidiu- se utilizá-lo nos nossos

experimentos.

B. tenagophila pertence à família Planorbidae que tem como características principais uma

concha lisa, planispiral (7 a 35 mm de diâmetro e até 11 mm de largura) com uma saliência, a

carena; um par de tentáculos cefálicos não-invagináveis, com apenas um par de olhos na base;

tecido ricamente vascularizado com hemoglobina; são hermafroditas (Lima, 1995; Ministério da

Saúde, 2007). Tem uma ampla distribuição em todo o território brasileiro, principalmente, nas

regiões sul e sudeste do Brasil, com hábitos dulciaquícolas (Lima, 1995; Ministério da Saúde, 2007)

e vivem tanto em ambientes lênticos quanto lóticos (Barbosa & Barbosa, 1994; Ministério da

Saúde, 2007). Pode se alimentar raspando o substrato com sua rádula, extraindo algas, bactérias,

fragmentos de animais e vegetais, sais mineriais, etc. (Ministério da Saúde, 2007). Portanto, o

perifíton pode ser uma fonte de nutrientes em potencial para B. tenagophila (Santos & Freitas,

1986; Santos & Freitas, 1987) e o estudo dessa interação trófica com uma abordagem

estequiométrica ainda é novidade para a literatura científica.

2.3. Uso do substrato artificial para o crescimento do perifíton

A metodologia empregada para a obtenção do perifíton no campo através da utilização de

um substrato artificial foi a mesma para os dois experimentos realizados. O mesmo tipo de substrato

artificial (descrito a seguir) foi usado para o crescimento do perifíton no campo durante as fases que

antecederam cada um dos experimentos.

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A escolha do substrato artificial para a obtenção do perifíton se deu devido às seguintes

razões: (1) dificuldades de remoção do material aderido aos substratos naturais (macrófitas no caso)

e de determinação da área de onde se removeria o perifíton; (2) facilidade de coleta e manuseio das

amostras; (3) eliminação da interferência da respiração e de produtos de excreção das plantas que

servem de substrato para o perifíton na composição química deste (Guariento et al., 2007) ; (4) para

evitar uma herbivoria mais intensa, a que o perifíton dos substratos naturais está mais sujeito, uma

vez que, os herbívoros como os insetos mineradores preferem substratos naturais; (5) por permitir

uma colonização uniforme durante o tempo e na área do substrato (Cattaneo & Amireault, 1992;

Pompêo & Moschini-Carlos, 2003).

O substrato artificial para o crescimento do perifíton consistiu de placas retangulares de

PVC (20 x 6 cm) suspensas num suporte retangular também de PVC com 0,75 m2 de área. O

suporte que sustentava as placas tinha formato de mesa (figura 2) e foi construído baseado no

trabalho de Fernandes (1997), o qual também utilizou um substrato artificial denominado pela

própria autora de “mesa”. No presente estudo esse substrato tinha um comprimento de 1,5 m e 0,5

m de largura, com um tubo de PVC central para dar maior firmeza ao substrato. Os pés tinham 1,5

m de comprimento e serviam para a fixação do substrato no sedimento da lagoa. Através dos tubos

de PVC que formavam o suporte passavam fios de arame em aço inox que serviam para sustentar as

placas. As placas foram presas nos arames de forma a ficarem na posição vertical na coluna d’água.

De acordo com Cattaneo & Amireault (1992), essa é a posição usada para a colonização do

perifíton em substratos artificiais em lagos. Havia um total de 20 placas em cada substrato artificial

e foram construídos 4 substratos desse tipo. Os substratos artificiais com as placas ficaram numa

profundidade de 20 cm em relação à superfície e os “pés” enterrados cerca de 30 cm no sedimento

seguindo as recomendações de Fernandes (1997). O substrato ficou na lagoa durante um período de

aproximadamente 30 dias, que segundo a literatura (Cattaneo & Amireault, 1992; Pompêo &

Moschini-Carlos, 2003; Guariento et al., 2007) é o período ideal para a obtenção de uma

comunidade perifítica uniforme e madura, com uma biomassa elevada.

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Figura 2: Substrato artificial para o crescimento do perifíton na lagoa Cabiúnas. As setas indicam a

localização dos pés do substrato e as placas de PVC usadas para a colonização do perifíton.

2.4. Desenho experimental e adição de nutrientes

Após os 30 dias de colonização do perifíton nas placas, o material foi levado ao laboratório

para a realização dos experimentos. No campo, ainda, as placas contendo perifíton foram retiradas

do suporte e colocadas em potes de vidro com água da lagoa para o transporte do material até o

laboratório. Em laboratório, as placas foram colocadas em garrafas de polietileno (PET) de 2 litros,

com a parte superior removida (figura 3). Foram colocadas duas placas em cada uma das garrafas

(microcosmos), as quais continham 1,5 litros de água da lagoa previamente filtrada em rede de 20

μm e autoclavada a 120 °C e 1 atm por 30 minutos. Esse procedimento visou eliminar o

fitoplâncton e bacterioplâncton da água da lagoa, organismos que poderiam vir a competir com o

perifíton pelos nutrientes que seriam adicionados em seguida (Kahlert, 2001). As garrafas foram,

então, cobertas com uma malha, o tule, para evitar a entrada de insetos e oviposição destes no

interior. Posteriormente, as garrafas foram colocadas numa bancada iluminada e o perifíton

submetido a um ciclo de 12 horas luz / 12 horas escuro, com uma temperatura da água em torno de

24,7ºC (± 0,1). O perifíton ficou, dessa forma, se aclimatando a estas condições iniciais de

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laboratório durante 2 dias até o início do experimento. As garrafas também permaneceram aeradas

durante todo o experimento de maneira a garantir a sua oxigenação no período da noite e facilitar a

difusão de nutrientes para o interior do perifíton.

Figura 3: Experimento montado sobre a bancada. As placas de PVC retiradas da lagoa estão

indicadas na figura.

No experimento com Ostracoda foram estabelecidos quatro tratamentos: controle (sem

adição de nutrientes), adição de nitrogênio (+N), adição de fósforo (+P), adição de nitrogênio e

fósforo (+N+P). Havia, portanto, dois níveis de nitrogênio (controle e adição de nitrogênio) e dois

níveis de fósforo (controle e adição de fósforo), tendo então um desenho fatorial de 2 níveis de

nitrogênio x 2 níveis de fósforo x 4 réplicas de cada tratamento, totalizando 16 microcosmos. No

experimento com Biomphalaria tenagophila, decidiu-se incluir um novo tratamento, sem a adição

de nutrientes e sem a adição dos consumidores, denominado Con. Dessa forma, ficaram cinco

tratamentos: Con (sem adição de nutrientes e sem B. tenagophila), controle (sem adição de

nutrientes), adição de nitrogênio (+N), adição de fósforo (+P), adição de nitrogênio e fósforo

(+N+P). Nos tratamentos com a adição de B. tenagophila, foram inseridos dois indivíduos em cada

réplica. Todos estes tratamentos com um número de réplicas maiores do que no experimento com os

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ostracodas, ou seja, com 8 réplicas. O desenho fatorial deste segundo experimento foi de 2 x 2 x 8,

totalizando 32 microcosmos (figura 4). As oito réplicas do tratamento Con não foram submetidos às

análises de variâncias, apenas aos testes t (ver análises estatísticas adiante). Em ambos os

experimentos, os microcosmos foram aleatorizados de 3 em 3 dias sobre a bancada para garantir

uma exposição luminosa o mais homogênea possível. Cada experimento durou 20 dias.

O nitrogênio foi adicionado na forma de nitrato de amônio (NH4NO3) e o fósforo na forma

de di-hidrogenofosfato de potássio monobásico (KH2PO4). Os nutrientes foram adicionados de

maneira a se obterem concentrações finais de 200 µM de nitrogênio e 50 µM de fósforo. Dessa

maneira, a razão N:P final nos microcosmos foi de 5:1. Essas concentrações dos nutrientes foram

adicionados de acordo com Carneiro (2008) e Guariento (2008). Aqueles autores trabalharam com

mesocosmos e a perda de nutrientes para o sedimento justifica a quantidade elevada de nitrogênio e

fósforo adicionados. Todavia, nosso experimento foi realizado em microcosmos e seria de se

esperar a adição de uma menor quantidade de nutrientes. Contudo, segundo Hillebrand et al. (2004),

em experimentos em microcosmos com a adição de nutrientes, estes podem ser rapidamente

consumidos pelo perifíton. Além disso, as concentrações finais de NH4NO e KH2PO4 também

foram muito similares às usadas no experimento de Liess & Hillebrand (2006), o qual teve uma

abordagem muito semelhante à do nosso trabalho. Os tratamentos enriquecidos tiveram, portanto,

concentrações de nitrogênio e fósforo compatíveis com uma condição hipereutrófica (Carneiro,

2008), o que também objetivava garantir que os nutrientes não fossem depletados no período do

experimento, conforme visto por Hillebrand et al. (2004). Ainda assim, os níveis de NH4+e PO4

3-

foram monitorados para verificar se seria necessária a adição de mais nutrientes para manter as

concentrações desejadas.

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4 réplicas por tratamento x 2 níveis de nitrogênio x 2 níveis de fósforo = 16 microcosmos

8 réplicas por tratamento x 2 níveis de nitrogênio x 2 níveis de fósforo = 32 microcosmos

Tratamento Con (ausência de Biomphalaria tenagophila) x 8 réplicas = 8 microcosmos

Figura 4: Esquema mostrando como os dois experimentos foram organizados. (A) experimentos

com os ostrácodas. (B) experimentos com Biomphalaria tenagophila. As placas de PVC estão

representadas pelos retângulos e os consumidores pelos círculos pretos.

Controle Adição de nitrogênio (+N) Adição de Fósforo (+P)

Adição de Nitrogênio e

Fósforo (+N+P)

Luz

B) Experimento com Biomphalaria tenagophila

Luz

A) Experimento com Ostrácodas

Controle Adição de nitrogênio (+N) Adição de Fósforo (+P)

Adição de Nitrogênio e

Fósforo (+N+P)

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2.5. Determinação da biomassa perifítica, clorofila a (clor a) e razões carbono:clorofila

a (C:Clor a)

Para a análise de clorofila a de acordo com Nusch & Palme (1975), foi raspada uma parte da

placa de área igual a 3 cm de comprimento x 6 cm de largura, em ambos os lados da placa,

correspondendo ao comprimento x largura x 2 lados da placa (18 cm2). Esta área foi selecionada de

maneira aleatória e foi utilizada para os cálculos de clorofila a e de biomassa. Este material

perifítico raspado foi filtrado em microfiltros de fibra de vidro (Whatman GF/C de 47 mm Ø e 1,3

micrômetros de porosidade) em 50 ml de água deionizada, depois envolvido em papel alumínio,

identificado e congelado para posterior determinação do conteúdo de clorofila a. As concentrações

de clorofila a foram determinadas por espectrometria, por unidade de área de placa raspada (µg clor

a / cm2). A concentração de clorofila a deve ser interpretada com cautela como um indicador da

biomassa algal, visto que variações na incidência luminosa podem levar a oscilações no conteúdo

de clorofila a sem, no entanto, alterar a biomassa perifítica (Bourassa & Cattaneo, 2000; Fost &

Elser, 2002; Dickman et al., 2006). Contudo, no presente experimento a luz permaneceu constante,

uma vez que, foi mantido um fotoperíodo de 12 horas luz / 12 horas escuro e as concentrações de

clorofila a puderam ser interpretadas como um indicador robusto da biomassa algal.

Outra parte da placa, também com a mesma área já mencionada, foi raspada para a

determinação da biomassa inicial do perifíton expressa em peso seco (mg). Foi adotado o seguinte

procedimento: os filtros GF/C foram previamente incinerados a 500 °C, resfriados e colocados em

estufa para atingirem peso constante antes de serem pesados para se conhecer o peso do filtro sem

nenhum material. Em seguida, o material perifítico foi filtrado, identificado e colocado para secar

em estufa a 65 °C até atingir peso constante sendo, então, pesado. O cálculo para se conhecer a

biomassa foi realizado subtraindo o peso final adquirido pelo filtro já com o material filtrado do

peso inicial do filtro (peso final do filtro – peso inicial do filtro = biomassa do perifíton em

miligramas). O valor da biomassa do perifíton foi dividido pela área da placa de onde o material foi

raspado (mg / cm2).

As razões carbono:clorofila a (C:Clor a) permitem determinar se no perifíton há um

predomínio de organismos autótróficos ou heterotróficos e detritos (Frost et al., 2005b). Caso o

valor da razão seja elevado (> 1000), o perifíton pode ser considerado mais heterotrófico porque a

maior parte do carbono é de origem não-algal. Caso contrário, com uma razão C:Clor a baixa

(~ 500), pode-se supor que o perifíton é mais autotrófico com uma maior contribuição de algas para

o conteúdo de carbono, assim como de nitrogênio e fósforo do perifíton. As razões C:Clor a foram

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calculadas após a determinação da concentração de clorofila a e da concentração de carbono

(μMol / mg), descrita a seguir.

2.6. Determinação do conteúdo de carbono total do perifíton

Foi utilizada a mesma área raspada de perifíton mencionada para o cálculo da biomassa. Em

seguida, o material raspado foi filtrado em filtros previamente incinerados a 500 °C e pesados.

Depois o material foi seco em estufa até atingir peso constante e determinado seu peso seco. Estes

filtros foram então analisados num TOC analyzer (Shimadzu 5000) para determinação da % de

carbono total por miligrama. Tendo em vista que este TOC apresentou problemas técnicos durante

as análises, parte do material foi analisado em outro equipamento, o TOC Boat sampler Tekmar

Dohrmann Phoenix 8000, o qual dá os resultados em µg de carbono. Posteriormente, estes valores

(% carbono / mg; µg de C) foram transformados em μMol de Carbono / mg de peso seco de

perifíton, e usados nos cálculos das razões C:Clor a, assim como das razões C:N e C:P.

2.7. Determinação do conteúdo de nitrogênio total do perifíton

Para a análise de nitrogênio total do perifíton, o material foi preparado da mesma maneira

citada para a análise de carbono. Os filtros foram colocados em tubos de rosca de 25ml contendo 5

ml de água deionizada e 3 ml de perssulfato de potássio tratado. Em seguida, o material foi

autoclavado a 120 °C e 1 atm por 30 minutos para a quebra das moléculas orgânicas e liberação do

nitrato (NO3-) para a água. Procedeu-se então à análise em sistema de ingestão por fluxo (FIA). O

conteúdo de nitrogênio total foi determinado de acordo com peso seco do perifíton usado para a

análise, sendo expresso em μMol de N / mg de peso seco de perifíton. Os valores finais das

concentrações de nitrogênio foram usados para os cálculos das razões C:N e N:P do perifíton.

2.8. Determinação do conteúdo de fósforo total do perifíton

As amostras de perifíton para a análise de fósforo total foram preparadas da mesma maneira

citada para a análise de carbono e nitrogênio. Os filtros foram colocados em tubos de rosca de 25 ml

contendo 10 ml de água deionizada, 1 ml de perssulfato de potássio, 0,3 ml de ácido sulfúrico 2 M

e autoclavados a 120 °C e 1 atm por 30 minutos para a quebra das moléculas orgânicas e liberação

do ortofosfato (PO43-

) para a água (Golterman et al., 1978). Após a digestão por perssulfato de

potássio, o material foi resfriado, adicionado o reagente misto e procedeu-se, então, a leitura no

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espectrofotômetro em comprimento de onda de 882 nm. O conteúdo de fósforo total foi

determinado de acordo com peso seco do perifíton usado para a análise, sendo expresso em μMol

de P / mg de peso seco de perifíton. Os valores finais das concentrações de fósforo foram usados

para os cálculos das razões C:P e N:P do perifíton.

2.9. Determinação do conteúdo de nitrogênio e fósforo total dos ostrácodas

Para a remoção dos ostrácodas filtrou-se a água de cada um dos microcosmos dos

tratamentos em peneiras de malha de 0,25 mm que é a mais adequada para se coletar uma maior

quantidade de ostrácodas, desde que também é possível se obter os organismos menores (Delorme,

2001). Estes organismos foram então colocados em recipientes contendo água e congelados para as

análises de carbono, nitrogênio e fósforo. Como o número de indivíduos não seria o suficiente para

a realização das análises de nitrogênio e fósforo, decidiu-se analisar somente o conteúdo de

nitrogênio e fósforo total dos ostrácodas. Isto porque é comum uma limitação por estes dois

nutrientes em ambientes oligotróficos como a lagoa Cabiúnas (Roland, 1998) e, por isso, desejou-

se obter informações a cerca do balanço destes elementos na interação trófica ostrácodas-perifíton.

Ficou estabelecido, assim, um número de 30 indivíduos para cada uma destas análises. Para a

realização das análises de nitrogênio e fósforo, foram utilizados microfiltros de fibra de vidro

(Whatman GF/C de 25 mm Ø) previamente incinerados a 500 ° C, resfriados e secos em estufa para

atingirem peso constante. Os filtros foram, então, usados para filtrar os ostrácodas de cada um dos

tratamentos. Foram, então, coletados os 30 indivíduos por cada réplica de cada um dos tratamentos

e filtrados. Em seguida, os filtros com os organismos foram colocados em estufa por 24 horas para

desidratação do material e pesagem final. O peso seco (em miligramas) dos ostrácodas foi

determinado da seguinte maneira: peso final do filtro (com os 30 indivíduos) – peso inicial do filtro.

Este valor foi considerado o valor da biomassa de ostrácodas e este procedimento foi o mesmo

adotado tanto para a análise de nitrogênio quanto para a análise de fósoforo. O conteúdo de

nitrogênio e fósforo total foi determinado de acordo com peso seco dos ostrácodas usados para a

análise, sendo em μMol de N / mg ou μMol de P / mg de peso seco dos ostrácodas. As análises de

nitrogênio e fósforo foram realizadas da mesma maneira empregada para o perifíton. Os valores

finais das concentrações de nitrogênio e fósforo foram usados para os cálculos das razões N:P dos

ostrácodas.

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2.10. Determinação do tamanho e biomassa de Biomphalaria tenagophila

Para a determinação do tamanho inicial (mm) de Biomphalaria tenagophila, os organismos

(n = 30) foram medidos antes do início do experimento. Ao término do experimento, os organismos

de cada tratamento foram novamente medidos para se verificar se haviam crescido e observar se

haveria diferenças significativas de tamanho entre os tratamentos. As medições foram realizadas em

microscópio esteroscópio, utilizando-se papel milimetrado no campo focal para a obtenção do

diâmetro da concha em milímetros. Para se determinar a biomassa inicial de Biomphalaria

tenagophila, os organismos foram pesados logo antes de serem inseridos nos microcosmos (n = 30).

Como os organismos deveriam permanecer vivos para a realização do experimento, foi utilizado o

peso úmido (mg). Ao término do experimento os organismos foram novamente pesados para

verificar se haviam obtido algum ganho de biomassa e se, caso houvesse tal aumento de biomassa,

este iria diferir significativamente entre os tratamentos.

2.11. Determinação do conteúdo de carbono total em Biomphalaria tenagophila

Os indivíduos foram coletados de cada um dos tratamentos ao término do experimento e

congelados. Em seguida, foram liofilizados e, após completamente desidratados, foram macerados

até formarem um pó fino e encaminhados para a análise. As análises de carbono total foram

realizadas num o TOC Boat sampler Tekmar Dohrmann Phoenix 8000, o qual dá os resultados em

µg de carbono. Posteriormente, os valores em µg de C foram transformados para μMol de Carbono

/ mg de peso seco de Biomphalaria tenagophila, e usados nos cálculos das razões das razões C:N e

C:P.

2.12. Determinação do conteúdo de nitrogênio e fósforo total de Biomphalaria

tenagophila

Para a análise de fósforo total os organismos foram pesados e inseridos em tubos de rosca de

25 ml contendo 10 ml de água deionizada, 1 ml de perssulfato de potássio e 0,3 ml de ácido

sulfúrico 2 M. Em seguida, o material foi autoclavado a 120 °C e 1 atm por 30 minutos para a

quebra das moléculas orgânicas e liberação do ortofosfato (PO43-

) para a água (Golterman et al.,

1978). Após a digestão por perssulfato de potássio, o material foi resfriado, adicionado o reagente

misto e procedeu-se à leitura no espectrofotômetro em comprimento de onda de 882 nm. O

conteúdo de fósforo total foi determinado de acordo com peso seco do Biomphalaria tenagophila

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usado para a análise, sendo em μMol de P / mg de peso seco. Os valores finais das concentrações de

fósforo foram usados para os cálculos das razões C:P e N:P.

Para a análise de nitrogênio total, os organismos foram pesados e inseridos em tubos de

rosca de 25 ml contendo 5 ml de água deionizada e 3 ml de perssulfato de potássio tratado. Em

seguida, o material foi autoclavado a 120 °C e 1 atm por 30 minutos para a quebra das moléculas

orgânicas e e liberação do nitrato (NO3-) para a água. Procedeu-se então à análise em sistema de

ingestão por fluxo (FIA). O conteúdo de nitrogênio total foi determinado de acordo com peso seco

do Biomphalaria tenagophila usado para a análise, sendo expresso em μMol de N / mg de peso

seco. Os valores finais das concentrações de nitrogênio foram usados para os cálculos das razões

C:N e N:P.

2.13. Experimentos de taxa de egestão, e cálculo das razões N:P das egestas de

Biomphalaria tenagophila

Com o objetivo de se verificar em qual dos tratamentos os gastrópodas exerceram uma

herbivoria mais intensa, foi realizado um experimento para se determinar as taxas de egestão em

cada tratamento. A taxa de egestão pode ser usada como uma estimativa para se determinar a taxa

de herbivoria (King-Lotufo et al., 2002).

Ao término dos experimentos com a adição de nutrientes, os gastrópodas foram removidos

dos microcosmos e acondicionados em placas de Petri, contendo a mesma água de cada respectivo

tratamento e um pedaço cortado da placa de PVC com o perifíton (3 cm x 6 cm). Nesse

experimento foram usados quatro réplicas, uma vez que, das oito usadas no experimento com

enriquecimento com nutrientes, algumas placas de PVC já se apresentavam com pouco perifíton

aderido. Decidiu-se, então, selecionar as frações das placas que tivessem mais perifíton, tentando

escolher placas com uma quantidade de material similar. Os tratamentos foram os mesmos do

experimento com enriquecimento, mas sem o tratamento Con. Os gastrópodas ficaram 48 horas se

alimentando do perifíton. Ao término deste experimento, os gastrópodas foram pesados e suas

egestas coletadas. Os gastrópodas foram os mesmos usados nas análises de C, N e P, as quais foram

realizadas apenas após este experimento.

As egestas foram coletadas filtrando-se a água das placas de Petri, uma vez que, não se

observou, no período do experimento, desprendimentos marcantes do perifíton e pôde-se assegurar

que o material filtrado correspondia apenas às egestas. A filtração foi realizada usando-se

microfiltros Whatman GF/C (25 mm Ø) previamente incinerados a 500 ° C, resfriados e secos em

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estufa para atingirem peso constante. Em seguida, o material filtrado foi seco em estufa à 60°C

durante 24 horas. O peso final das egestas foi calculado da seguinte maneira: peso seco final do

filtro com as egestas – peso inicial do filtro (mg). A taxa de egestão foi calculada de acordo com

King-Lotufo et al. (2002):

Taxa de Egestão = peso seco das fezes (mg) / peso úmido dos gastrópodas (mg) / hora

As concentrações de nitrogênio e fósforo total das fezes foram calculadas para se obter a

razão N:P das egestas e verificar se elas refletiam as concentrações de nutrientes no perifíton de

cada tratamento. Os métodos para os cálculos das concentrações de nitrogênio e fósforo total das

egestas foram os mesmos empregados para o perifíton e para Biomphalaria tenagophila.

2.14. Análises estatísticas

Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa Statistica (versão 7.0, Statsoft).

Os gráficos foram elaborados no programa Graphpad Prism (versão 5.01). Para todas as análises

estatísticas, os dados foram logaritimizados (log10) para atingirem homogeneidade de variâncias e

aproximarem-se da normalidade (Underwood, 1997; Gotelli & Ellison, 2004). As unidades

experimentais consistiram dos 16 microcosmos no experimento com os ostrácodas e dos 32

microcosmos no experimento com Biomphalaria tenagophila. As oito réplicas do tratamento Con

do experimento com o gastrópoda não foram consideradas nas análises de variância, apenas nos

testes t realizados, conforme descritos na seção 2.14.1. Isto porque com este tratamento objetivou-

se, apenas, verificar como seriam as respostas das variáveis biomassa e razões C:N, C:P e N:P do

perifíton na ausência do Biomphalaria tenagophila. Desta forma, se tornaria possível realizar

comparações entre estas variáveis dos tratamentos Con (ausência dos gastrópodas) e controle

(presença dos gastrópodas) e ver qual a influência dos consumidores sobre estas variáveis do

perifíton.

2.14.1. Teste t

Biomassa perifítica

No experimento com ostrácodas, a biomassa inicial foi comparada com a biomassa final em

cada um dos tratamentos (controle, +N, +P e +N+P) através de testes t pareados para amostras

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dependentes, uma vez que, se tratavam de duas medidas (inicial e final) realizadas na mesma

unidade amostral (Underwood, 1997; Callegari-Jacques, 2006). Já no experimento com

Biomphalaria tenagophila, foram realizados testes t para amostras independentes, uma vez que, só

foram obtidos os valores da condição inicial geral para a biomassa perifítica. Com os testes t, foram

realizadas as seguintes comparações da biomassa do perifíton:

a) biomassa inicial X biomassa final do tratamento Controle

b) biomassa inicial X biomassa final do tratamento Con

c) biomassa final do tratamento Controle X biomassa final do tratamento Con

Através destas comparações objetivou-se verificar:

(1) No experimento com ostrácodas: em qual dos tratamentos houve uma maior

intensidade de herbivoria.

(2) No experimento com Biomphalaria tenagophila: verificar se os gastrópodas

reduziram a biomassa perifítica durante o experimento e se a biomassa perifítica

aumentaria no tratamento Con sem a interferência do consumidor.

Razões estequiométricas C:N, C:P, N:P e concentrações de amônio (NH4+)

Foram realizados testes t pareados para amostras dependentes entre as razões C:N:P iniciais

e finais do tratamento controle, para verificar se a presença dos ostrácodas ao longo do experimento

causaria alguma influência nas razões estequiométricas C:N, C:P e N:P do perifíton. Só foram

realizados estes testes t para o tratamento controle porque foi o único que não recebeu adição de

nutrientes e, portanto, qualquer alteração da estequiometria do perifíton seria proveniente da oferta

de nitrogênio ou fósforo a partir das excretas dos ostrácodas. No experimento com Biomphalaria

tenagophila, foram realizados testes t para amostras independentes para as razões estequiométricas

C:N, C:P e N:P do perifíton entre os tratamentos Controle e Con. As comparações só foram

realizadas entre esses dois tratamentos porque foram os únicos que não receberam nutrientes, sendo

que no tratamento Con também não houve a adição dos gastrópodas. Dessa forma, qualquer

alteração mais marcante na estequiometria C:N:P do perifíton no tratamento controle poderia estar

relacionada à excreção de nitrogênio e fósforo dos gastrópodas.

Foi realizado, também, um teste t para amostras independentes entre as concentrações de íon

amônio dos tratamentos Con e Controle ao término dos experimentos. Esta comparação teve o

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objetivo de verificar se houve maior liberação de amônio nos tratamentos com a presença dos

gastrópodas, já que este íon é a principal forma de excreta destes organismos (Brown, 2001).

Razão N:P dos ostrácodas x razão N:P de Biomphalaria tenagophila

Um teste t para amostras independentes foi realizado com o objetivo de se avaliar se

existiam diferenças significativas entre as razões N:P finais dos ostrácodas e dos gastrópodas

2.14.2. Análise de variância bifatorial (ANOVA) e Análise de variância multivariada

(MANOVA)

Foram realizadas análises de variância bifatorial (ANOVAs) para se determinar os efeitos do

enriquecimento com nitrogênio e fósforo, quando adicionados em separado, e da interação entre os

dois quando adicionados em conjunto, sobre a biomassa (mg / cm2), clorofila a (µg / cm

2), razões

C:Clor a, concentrações (µMol / mg) de carbono, nitrogênio e fósforo total, assim como sobre as

razões estequiométricas C:N, C:P e N:P do perifíton. Quando as ANOVAs foram significativas,

procedeu-se ao teste de Tukey HSD (honestly significant difference) como um teste post hoc para se

determinar quais as diferenças existentes entre os tratamentos. Essas mesmas análises foram

empregadas para se avaliar o efeito da adição de nitrogênio e fósforo e da sua interação sobre as

concentrações (µMol / mg) de nitrogênio e fósforo total, sobre a razão estequiométrica N:P dos

ostrácodas, assim como sobre a biomassa (mg), tamanho (mm), concentrações (µMol / mg) de

carbono, nitrogênio e fósforo total, sobre as razões estequiométricas C:N, C:P e N:P, razão N:P e

taxas de egestão de Biomphalaria tenagophila. No experimento com B. tenagophila, ainda foram

realizadas análises de variância multivariada bifatorial (MANOVAs) para se determinar o efeito do

nitrogênio, do fósforo e da interação entre eles sobre a estequiometria C:N:P do perifíton e do

gastrópoda. As MANOVAs foram utilizadas porque as razões C:N, C:P e N:P são variáveis

resposta interdependentes. Foi usado o critério de Pillai para detectar os efeitos significativos nas

variáveis repostas interdependentes, porque este teste é o mais robusto caso haja alguma violação

das premissas de normalidade multivariada e de homogeneidade das covariâncias entre os grupos

(Gotelli & Ellison, 2004).

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34

2.14.3. Regressão linear simples

Com o objetivo de verificar se as razões estequiométricas do perifíton refletiram às adições

de nitrogênio e fósforo, foram realizadas regressões lineares simples entre as concentrações de

NH4+ (variável independente) e as razões C:N e N:P (variáveis dependentes), e entre as

concentrações de PO43-

(variável independente) e as razões C:P e N:P (variáveis dependentes). Uma

diminuição na razão C:N e um aumento na N:P em função do aumento das concentrações de NH4+

indicam efeito positivo do nitrogênio no conteúdo nutricional do perifíton, da mesma maneira que

menores razões C:P e N:P em resposta à maiores concentrações de PO43-

indicam efeito positivo do

fósforo. Tendo em vista a possibilidade de uma rápida absorção do íon fosfato (PO43-

) pelo perifíton

(Hillebrand et al., 2004), também foram calculados os valores de nitrogênio total dissolvido e

fósforo total dissolvido da água, os quais seriam usados nas regressões linerares caso os valores de

fosfato obtidos se mantivessem abaixo dos limites de detecção, o que inviablizaria a realização

desta análise estatística.

Para se verificar se os ostrácodas tinham sua razão estequiométrica N:P variando em função

da N:P do perifíton foi realizada uma regressão linear simples entre a N:P do perifíton (variável

independente) e a N:P dos ostrácodas (variável dependente). No experimento com Biomphalaria

tenagophila, foram realizadas regressões lineares simples entre as razões C:N:P do perifíton e as

razões C:N:P dos gastrópodas. Utilizar a regressão linear nestes casos permite verificar se os

consumidores têm a sua estequiometria variando em função da estequiometria do seu recurso

alimentar e, desta forma, se determinar se os consumidores são mais ou menos homeostáticos. Uma

inclinação (β1) mais próxima a 1 e um intercepto (β0) em torno de zero indicaria baixa capacidade

homeostática e que o conteúdo nutricional do consumidor varia em função do conteúdo nutricional

do recurso. Neste caso, o consumidor assimilaria e reteria na sua biomassa os nutrientes numa

proporção similar a encontrada no recurso alimentar – modelo conhecido como “você é o que você

come”. Enquanto uma inclinação (β1) mais próxima de zero e intercepto maior que zero indicaria

maior homeostase e uma menor influência da estequiometria do alimento na estequiometria do

consumidor (Sterner & Elser, 2002). A regressão linear também avaliaria o grau de desbalanço

elementar ou desequilíbrio estequiométrico entre o consumidor e o recurso (perifíton).

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35

3. Resultados

3.1. Experimento com Ostrácodas

3.1.1. Biomassa perifítica

Não foram detectadas diferenças significativas entre os valores da biomassa do perifíton na

fase inicial do experimento (tabela 1). Desta maneira, não havia diferenças significativas na

biomassa perifítica ofertada aos ostrácodas no início do experimento (figura 5a).

Tabela 1: Resultados da análise de variância bifatorial da biomassa perifítica inicial (logo após a

adição de nutrientes) e da biomassa final (após o término do experimento) do experimento com

ostrácodas.

Biomassa Inicial (mg/cm

2) Biomassa Final (mg/cm

2)

Efeito gl SQ F p gl SS F p

+ N 1 0,0017 0,31 0,58 1 0,022 4,28 0,06

+ P 1 0,0033 0,58 0,46 1 0,0001 0,02 0,88

+N +P 1 0,0035 0,62 0,44 1 0,00008 0,01 0,89

0.0

0.5

1.0

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

Controle +N +P +N+P

0.0

0.5

1.0

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

Controle +N +P +N+P

Figura 5: (a) Biomassa perifítica inicial antes da adição de nutrientes e (b) biomassa perifítica final

ao término do experimento com ostrácodas (média + erro padrão, n = 4).

Apesar de o gráfico indicar que a biomassa final do perifíton foi maior nos tratamentos +N e

+N+P (figura 5b), não houve diferenças significativa entre os tratamentos (tabela 1). As

comparações entre a biomassa inicial e final dos tratamentos mostraram que a biomassa foi

significativamente reduzida no tratamento controle (tabela 2, figura 6a). Para os demais

tratamentos, o teste t não indicou diferenças significativas entre a fase inicial e final do experimento

(tabela 2, figura 6).

a

b

)

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36

Tabela 2: Valores da biomassa inicial e final (média ± erro padrão, n = 4) para cada um dos

tratamentos do experimento com ostrácodas. O valor de p é referente ao teste t, e quando

destacado em negrito indica resultado significativo.

Biomassa (mg/cm

2) p

Tratamento Inicial Final

Controle 0,57 ± 0,09 0,30 ± 0,02 0,05

+ N 0,60 ± 0,07 0,57 ± 0,19 0,71

+ P 0,60 ± 0,19 0,32 ± 0,11 0,16

+N+P 0,41 ± 0,11 0,58 ± 0,09 0,47

0.0

0.5

1.0

Bio

massa (

mg

/ c

m 2

)

Controle inicial Controle Final

a

b

0.0

0.5

1.0

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

+N inicial +N Final

0.0

0.5

1.0

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

+P inicial +P Final

0.0

0.5

1.0

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

+N+P Final+N+P inicial

Figura 6: Comparação entre a biomassa perifítica inicial e final para cada um dos tratamentos do

experimento com ostrácodas (média + erro padrão, n = 4).

a

)

b

c d

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37

3.1.2. Clorofila a e razão carbono:clorofila a (C:Clor a)

Não houve efeitos significativos da adição de nutrientes nas concentrações de clorofila a, que

não foram significativamente distintas entre os tratamentos (tabela 3, figura 7a). O gráfico da figura

7b indica maiores razões C:Clor a no tratamento controle em relação aos demais, porém também

não houve efeitos significativos da adição de nutrientes na razão C:Clor a (tabela 3).

Tabela 3: Resultados da análise de variância bifatorial para a clorofila a e razão C:Clor a do

perifíton do experimento com ostrácodas.

Clorofila a (µg / cm

2) C:Clor a

Efeito gl SQ F p gl SQ F p

+ N 1 0,00005 1,43 0,25 1 0,16 1,35 0,26

+ P 1 0,00001 0,27 0,6 1 0,05 0,46 0,5

+N + P 1 0,00009 2,33 0,15 1 0,43 3,6 0,08

0.0000

0.0002

0.0004

0.0006

0.0008

0.0010

Controle +N +P +N+P

Clo

ra (

g / c

m2)

0

20000

40000

60000

80000

100000

Controle +N +P +N+P

C : C

lor

a

Figura 7: Valores de clorofila a (a) e razão C: Clor a no perifíton (média + erro padrão, n = 4) (b)

do experimento com ostrácodas.

3.1.3. Carbono, nitrogênio e fósforo total do perifíton

Não houve efeitos significativos da adição dos nutrientes nas concentrações de carbono e

nitrogênio total e, potanto, nenhuma diferença significativa entre os tratamentos (tabela 4, figura

8a,b). Para as concentrações de fósforo total do perifíton foram detectados efeitos significativos do

nitrogênio, do fósforo e da interação entre os nutrientes (+N+P) (tabela 4). As concentrações de

a b

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fósforo total foram significativamente maiores no tratamento +P (~ 0,21 µMol/mg) (figura 8c) em

relação aos demais tratamentos (Tukey HSD, p < 0,05).

0

20

40

60

80

100

µM

ol C

/ m

g

0.0

0.5

1.0

1.5

µM

ol N

/ m

g

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Controle +N +P +N+P

a a

b

aµM

ol P

/ m

g

Figura 8: Concentrações de carbono (a), nitrogênio (b) e fósforo total (c) no perifíton (média + erro

padrão, n = 4) do experimento com ostrácodas. Letras diferentes indicam diferenças

estatisticamente significativas (Teste de Tukey, p < 0,05).

a

b

c

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39

Tabela 4: Tabela de análise de variância bifatorial mostrando as respostas das concentrações

(µMol/mg) de carbono, nitrogênio, fósforo total e razões estequiométricas C:N, C:P e N:P no

perifíton ao enriquecimento com nitrogênio e fósforo (experimento com ostrácodas). Os valores

de p para os efeitos significativos dos tratamentos estão indicados em negrito.

Efeito gl SQ F p

Carbono Total

+N 1 0,19 2,4 0,13

+P 1 0,20 2,82 0,11

+N+P 1 0,01 0,15 0,70

Nitrogênio Total

+N 1 0,0008 0,05 0,82

+P 1 0,0002 0,01 0,90

+N+P 1 0,0345 2,08 0,17

Fósforo Total

+N 1 0,0023 5,21 0,04

+P 1 0,0084 18,59 0,001

+N+P 1 0,002 6,15 0,02

C:N

+N 1 0,042 0,44 0,50

+P 1 0,41 4,36 0,05

+N+P 1 0,25 2,60 0,13

C:P

+N 1 0,031 0,49 0,49

+P 1 4,64 71,7 < 0,0001

+N+P 1 0,09 1,48 0,24

N:P

+N 1 0,14 3,34 0,09

+P 1 2,27 51,5 0,0001

+N+P 1 0,03 0,81 0,38

3.1.4. Estequiometria do perifíton

Apenas a adição de fósforo exerceu efeito significativo nas razões C:N e não foram

detectadas diferenças significativas entre os tratamentos (tabela 4, figura 9a) (Tukey HSD, p <

0,05). O enriquecimento com fósforo (+P) exerceu efeito significativo na razão C:P (tabela 4). A

razão C:P foi significativamente menor nos tratamentos +P (~ 175) e +N+P (~ 300) em relação ao

controle (~ 3000) e tratamento +N (~ 2700) (Tukey HSD, p < 0,05) (figura 9b). A razão N:P do

perifíton seguiu o mesmo padrão da razão C:P e foi menor nos tratamentos +P (~ 3,2) e +N+P (~

4,26) (figura 9c). Contudo, só houve efeito significativo da adição de fósforo (+P) na razão N:P do

perifíton (tabela 4). Os tratamentos controle e +N foram estatisticamente iguais entre si e

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40

diferentes dos tratamentos +P e +N+P que, por sua vez, não foram considerados estatisticamente

distintos (Tukey HSD, p < 0,05) (figura 9c).

0

100

200

300

400

500

C:N

0

1000

2000

3000

4000

5000

aa

b b

C:P

0

10

20

30

40

50

Controle +N +P +N+P

a

a

b b

N:P

Figura 9: Razões estequiométricas C:N (a), C:P (b) e N:P no perifíton (média + erro padrão, n = 4)

do experimento com ostrácodas. Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas

(Teste de Tukey, p < 0,05). As linhas paralelas ao eixo x indicam os limiares para as razões C:N,

C:P e N:P ótimas para o perifíton segundo Hillebrand & Sommer (1999).

a

b

c

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41

As regressões lineares entre as concentrações dos nutrientes da água dos microcosmos

(NH4+ e PO4

3-) e as razões C:N, C:P e N:P confirmaram a ação dos nutrientes sobre a

estequiometria do perifíton, principalmente da adição de fósforo. Com maiores concentrações de

fósforo, observou-se uma redução significativa da razão C:P e N:P do perifíton (tabela 5; figuras

10a,b). Já o aumento das concentrações de nitrogênio não diminuíram a razão C:N porém elevaram

significativamente a razão N:P (tabela 5; figuras 10c,d).

Tabela 5: Resultados da análise de regressão linear entre o log10 das concentrações de NH4+ e

PO43-

da água (µMol/L) e o log10 das razões C:N:P do perifíton (n = 16) (experimento com

ostrácodas). Os valores de p em negrito indicam resultados significativos. Per = perifíton.

Regressão gl SQ F p Inclinação Intercepto r

2

PO43-

x C:P Per

1 0,87 49,9 <0,0001 -1,97 3,44 0,78

NH4+

x C:N Per

1 0,02 0,86 0,36 -0,49 2,74 0,06

PO43-

x N:P Per 1 0,59 16,4 0,001 -1,08 1,32 0,54

NH4+

x N:P Per 1 0,18 9,27 0,009 1,49 -1,48 0,39

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42

0

1

2

3

4

log

10 (

C:P

Pe

r)

0

1

2

3

log

10 (

C:N

Pe

r)

0.0 0.2 0.4 0.6 0.80.0

0.5

1.0

1.5

2.0

log 10 (Mol /L PO43-)

log

10 (

N:P

Pe

r)

Figura 10: Regressões lineares entre o log10 das concentrações de NH4+ e PO4

3- da água e o log10

das razões C:N:P do perifíton (n = 16) do experimento com ostrácodas. (a) log10C:P Per = - 1,97 x

log10PO43-

+ 3,44; r2

= 0,78, p < 0,0001. (b) log10N:P Per = - 1,08 x log10PO43-

+ 1,32; r2 = 0,54,

p = 0,001; (c) log10C:N Per = - 0,49 x log10NH4+ + 2,74, p = 0,36. (d) log10N:P Per = 1,49 x

log10NH4+ - 1,48; r

2 = 0,39, p = 0,009. Per = perifíton.

As comparações realizadas entre as razões C:N:P iniciais e finais do tratamento controle não

mostraram diferenças significativas. Apenas a diferença entre a razão N:P inicial e N:P final foi

marginalmente significativa (tabela 6). A razão N:P inicial foi de 6 (± 2,9) e a final de 19,1 (± 9,1)

(figura 11c).

1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.40.0

0.5

1.0

1.5

2.0

log 10 (Mol /L NH4+)

log

10 (

N:P

Pe

r)

a c

b d

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43

0

200

400

600

C:N

0

2000

4000

6000

C:P

0

20

40

60

Controle Inicial Controle Final

N:P

Figura 11: Comparação entre as razões C:N (a), C:P (b) e N:P (c) iniciais e finais do perifíton do

tratamento controle (média + erro padrão, n = 4) (experimento com ostrácodas).

a

c

b

N

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Tabela 6: Valores das razões estequiométricas C:N, C:P e N:P iniciais e finais (média ± erro

padrão, n = 4) do tratamento controle (experimento com ostrácodas). O valor de p é referente ao

teste t.

Tratamento p

Razões Controle Inicial Controle Final

C:N 359 (± 169,9) 214,1 (± 67,8) 0,9

C:P 1.334 (± 448,1) 3.006 (± 733,4) 0,2

N:P 6,0 (± 2,9) 19,1 (± 9,1) 0,09

3.1.5. Estequiometria dos ostrácodas

As concentrações de nitrogênio total dos ostrácodas sofreram efeitos significativos dos

nutrientes nos tratamentos +N, +P e +N+P e foram maiores no tratamento +N+P (Tukey HSD,

p < 0,05) (tabela 7, figura 12a). Ainda que o gráfico da figura 12b evidencie maiores concentrações

de fósforo total no tratamento +N, o efeito deste nutriente foi apenas marginalmente significativo.

Não houve efeitos significativos do fósforo e nem da interação +N+P sobre as concentrações de

fósforo total dos ostrácodas (tabela 7). Considerando a razão N:P, apenas a interação +N+P exerceu

efeito significativo, sendo o efeito da adição de fósforo marginalmente significativo (tabela 7). A

razão N:P foi maior no tratamento +N+P (Tukey HSD, p < 0,05) (figura 12c).

Tabela 7: Tabela de análise de variância bifatorial mostrando as respostas das concentrações

(µMol / mg) de nitrogênio, fósforo total e da razão estequiométrica N:P nos ostrácodas após

receber como alimento o perifíton enriquecido com nitrogênio e fósforo. Os valores de p para os

efeitos significativos dos tratamentos estão indicados em negrito.

Efeito gl SQ F p

Nitrogênio Total

+N 1 0,12 23,4 0,0004

+P 1 0,12 23,6 0,0003

+N+P 1 0,03 5,11 0,04

Fósforo Total

+N 1 0,003 4,21 0,06

+P 1 0,0001 0,16 0,69

+N+P 1 0,001 1,62 0,22

N:P

+N 1 0 0 0,99

+P 1 0,32 3,9 0,07

+N+P 1 0,45 5,44 0,03

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45

0

1

2

3

4

5

aa a

b

µM

ol N

/ m

g

0.0

0.1

0.2

0.3

µM

ol P

/ m

g

0

20

40

60

80

Controle +N +P +N+P

a

a

a

b

N:P

Figura 12: Concentrações de nitrogênio (a) e de fósforo total (b); e razões estequiométricas N:P (c)

dos ostrácodas (média + erro padrão, n = 4). Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente

significativas (Teste de Tukey, p < 0,05).

a

b

c

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46

3.1.6. Relação entre a estequiometria do perifíton e dos ostrácodas

A regressão linear simples realizada entre a razão N:P do perifíton e dos ostrácodas revelou

uma relação inversa significativa (tabela 8), ou seja, à medida que as razões N:P do perifíton

aumentam, diminuem as razões N:P dos ostrácodas (figura 13).

Tabela 8: Resultados da análise de regressão linear entre o log10 da razão N:P do perifíton e o

log10 da razão N:P dos ostrácodas. O valor de p em negrito indica resultado significativo.

Fonte de Variação gl SQ F p Inclinação Intercepto r2

Regressão 1 1,006 7,099 0,018 -0,45 1,68 0,33

Resíduo 14 1,983

0.0 0.5 1.0 1.5 2.00.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

log

10 (

N:P

Ost)

log 10 (N:PPer)

Figura 13: Regressão linear entre o log10 da razão N:P do perifíton e o log10 da razão N:P dos

ostrácodas (n = 16). log10N:Post = - 0,45 x log10N:Pper+ 1,68, r2 = 0,33; p = 0,018. Ost = ostrácodas;

Per = perifíton.

3.2. Experimento com Biomphalaria tenagophila

3.2.1. Biomassa periftica

Não foram detectados efeitos significativos da adição de nutrientes na biomassa do perifíton

ao término do experimento (tabela 9). O valor médio da biomassa nos tratamentos foi em torno de

0,2 mg / cm2. No tratamento controle foi de 0,18 mg / cm

2 (± 0,04) e de 0,17 (± 0,03), 0,20 (±0,05)

e 0,17 (± 0,04) nos tratamentos +N, +P e +N+P, respectivamente (figura 14).

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47

Tabela 9: Resultados da análise de variância bifatorial para a biomassa perifítica final do

experimento com B. tenagophila.

Efeito gl SQ F p

+ N 1 0,00044 0,23 0,63

+ P 1 0,00003 0,02 0,88

+N +P 1 0,00012 0,05 0,81

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Controle +N +P +N+P

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

Figura 14: Biomassa perifítica final (média + erro padrão, n = 8) do experimento com B.

tenagophila.

As comparações realizadas entre a biomassa inicial e a biomassa final do tratamento

controle não revelaram diferenças significativas (tabela 10, figura 15a). A biomassa final do

tratamento Con foi maior do que a biomassa inicial (figura 15b), mas esta diferença não foi

significativa (tabela 10). A biomassa final do tratamento Con também não foi significativamente

diferente da biomassa final do tratamento controle (tabela 10, figura 15c).

Tabela 10: Comparação entre os valores da biomassa perifítica inicial e da biomassa final (média

± erro padrão, n = 8) dos tratamentos Controle e Con (sem adição de nutrientes e sem a adição de

Biomphalaria tenagophila). O valor de p é referente ao teste t.

Biomassa (mg / cm

2) p

Inicial

0,21 ± 0,04

vs. Controle Final

0,19 ± 0,05

0,77

Inicial

0,21 ± 0,04

vs. Con Final

0,46 ± 0,18

0,17

Controle Final

0,19 ± 0,05

vs. Con final

0,46 ± 0,18

0,14

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48

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

Biomassa Inicial Biomassa Controle Final

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Biomassa Inicial Biomassa Con Final

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

Bio

massa (

mg

/ c

m2)

Biomassa Controle Inicial Biomassa Con Final

Figura 15: (a) Comparação entre a biomassa perifítica inicial e a biomassa final do tratamento

controle. (b) Comparação entre a biomassa perifítica inicial e a biomassa final do tratamento Con

(sem adição de nutrientes e sem adição de Biomphalaria tenagophila); (c) Comparação entre a

Biomassa perifítica inicial do tratamento controle e final do tratamento Con (média + erro padrão, n

= 8).

a

b

c

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49

3.2.2. Clorofila a e razão carbono:clorofila a (C:Clor a)

Não houve efeitos significativos dos nutrientes nas concentrações de clorofila a e nem sobre as

razões C:Clor a (tabela 11). As concentrações de clorofila a foram baixas, em torno de 0,0002 µg / cm2, e as

razões C:Clor a elevadas, sendo acima de 85.000 (figura 16a,b).

Tabela 11: Resultados da análise de variância bifatorial para a clorofila a e razão C:Clor a do

perifíton do experimento com B. tenagophila.

Clorofila a (µg / cm

2) C:Clor a

Efeito gl SQ F p gl SQ F p

+ N 1 0,0 0,63 0,43 1 0,09 0,24 0,62

+ P 1 0,0 0,32 0,57 1 0,13 0,34 0,56

+N x + P 1 0,0 0,19 0,66 1 0,14 0,36 0,55

0.0000

0.0001

0.0002

0.0003

0.0004

Clo

ra (

g / c

m2

)

Controle +N +P +N+P

0

100000

200000

300000

400000

500000

C : C

lor

a

Controle +N +P +N+P

Figura 16: Valores de clorofila a (a) e razão C: Clor a no perifíton (b) (média + erro padrão, n = 8)

do experimento com B. tenagophila.

3.2.3. Concentrações de carbono, nitrogênio e fósforo total do perifíton

As concentrações de carbono total do perifíton ficaram em torno de 60 µMol / mg e não

houve diferenças significativas entre os tratamentos (tabela 12, figura 17a). As diferenças entre as

concentrações de nitrogênio total (figura 17b) também não foram significativas, não havendo efeito

de nenhum nutriente (tabela 12). A adição de nitrogênio, e de fósforo afetaram significativamente as

concentrações de fósforo total do perifíton. As concentrações de fósforo total foram maiores no

a b

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50

tratamento +N+P que não exerceu efeito significativo sobre o fósforo do perifíton (tabela 12).

Enquanto nos demais tratamentos as concentrações de fósforo giraram em torno de 0,05 µMol / mg,

no tratamento +N+P ficaram em torno de 0,13 µMol / mg (figura 17c). Foram observadas

diferenças significativas entre o tratamento +N+P e os tratamentos controle e +N, mas não em

relação ao tratamento +P (Tukey HSD, p < 0,05) (figura 17c).

Tabela 12: Tabela de análise de variância de dois fatores mostrando as respostas das

concentrações (µMol / mg) de carbono, nitrogênio, fósforo total e razões estequiométricas C:N,

C:P e N:P no perifíton ao enriquecimento com nitrogênio e fósforo (experimento com B.

tenagophila). Os valores de p para os efeitos significativos dos tratamentos estão indicados em

negrito. As setas indicam se o efeito significativo levava a um acréscimo ou decréscimo das

variáveis.

Efeito gl SQ F p

Carbono Total

+N 1 0,05 0,98 0,33

+P 1 0,005 0,09 0,75

+N+P 1 0,003 0,06 0,8

Nitrogênio Total

+N 1 0,001 0,12 0,72

+P 1 0 0,0003 0,98

+N+P 1 0,01 0,83 0,36

Fósforo Total

+N 1 0,02 4,59 0,04

+P 1 0,004 8,09 0,008

+N+P 1 0,001 2,74 0,1

C:N

+N 1 0,02 0,24 0,62

+P 1 0,01 0,1 0,75

+N+P 1 0,06 0,55 0,46

C:P

+N 1 0,19 1,62 0,21

+P 1 1,18 9,87 0,004

+N+P 1 0,009 0,07 0,78

N:P

+N 1 0,36 5,04 0,03

+P 1 1,43 19,7 0,0001

+N+P 1 0,02 0,32 0,57

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51

0

50

100

150

µM

ol C

/ m

g

0.0

0.5

1.0

1.5

µM

ol N

/ m

g

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

µM

ol P

/ m

g

Controle +N +P +N+P

a

aba

b

Figura 17: Concentrações de carbono (a), nitrogênio (b) e fósforo total (c) no perifíton (média +

erro padrão, n = 8) do experimento com B. tenagophila. Letras diferentes indicam diferenças

estatisticamente significativas (Teste de Tukey, p < 0,05).

a

b

c

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52

3.2.4. Estequiometria do perifíton

A análise de variância multivariada bifatorial (MANOVA) detectou efeito significativo da

adição de fósforo na estequiometria do perifíton (tabela 13). A ANOVA bifatorial realizada em

seguida, para ver quais razões estequiométricas sofreram o efeito do fósforo, verificou que não

houve efeitos significativos dos nutrientes sobre a razão C:N do perifíton, apenas sobre as razões

C:P e N:P (tabela 12). A razão C:P só sofreu efeito significativo da adição de fósforo (tabela 12). O

pós-teste de Tukey (p < 0,05) não mostrou diferenças entre os tratamentos controle, +N e +P, sendo

que estes dois últimos também foram estatisticamente similares ao tratamento +N+P (figura 18b).

As adições de nitrogênio (+N) e de fósforo (P) exerceram efeitos significativos na razão N:P do

perifíton (tabela 12). A razão N:P foi menor nos tratamentos +P (10,3 ± 2,2) e +N+P (7,7 ± 2,3),

sendo que o pós-teste de Tukey (p < 0,05) não detectou diferenças significativas entre estes

tratamentos. Os tratamentos controle e +N, e os tratamentos +N e +P também não diferiram

estatisticamente (figura 18c).

Tabela 13: Análise multivariada de variância bifatorial (MANOVA) mostrando as respostas da

estequiometria C:N:P do perifíton ao enriquecimento com nitrogênio e fósforo. C:N, C:P e N:P

são as variáveis interdependentes. Os valores de p significativos estão indicados em negrito. PT =

Valor do critério de Pillai (Pillai’s trace).

PT F p

Perifíton

+N 0,15 2,48 0,1

+P 0,43 10,3 0,0004

+N+P 0,02 0,31 0,72

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53

0

200

400

600

C:N

0

2000

4000

6000

a

ab

ab

bC:P

0

20

40

60

Controle +N +P +N+P

a

bc

ab

c

N:P

Figura 18: Razões estequiométricas C:N (a), C:P (b) e N:P no perifíton (média + erro padrão,

n = 8) o experimento com B. tenagophila. Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente

significativas (Teste de Tukey, p < 0,05). As linhas paralelas ao eixo x indicam os limiares para as

razões C:N, C:P e N:P ótimas para o perifíton (Hillebrand & Sommer,1999).

As regressões lineares realizadas entre os nutrientes e a estequiometria do perifíton

revelaram que apenas as concentrações de fósforo total exerceram influência sobre as razões C:P e

N:P. O aumento das concentrações de fósforo total levaram a uma diminuição da razão C:P e

aumento da razão N:P do perifíton (tabela 14; figura 19a,b). Já as variações nas concentrações de

nitrogênio total não afetaram as razões C:N e N:P do perifíton (tabela 14; figura 19c,d).

a

c

b

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54

Tabela 14: Resultados da análise de regressão linear entre o log10 das concentrações de fósforo

total (PT) e nitrogênio total (NT) da água (µMol / L) e o log10 das razões C:N:P do perifíton

(n = 32) (experimento com B. tenagophila). Os valores de p em negrito indicam resultados

significativos. Per = perifíton.

Regressão gl SQ F p Inclinação Intercepto r

2

PT x C:P Per

1 0,004 786,08 <0,0001 -0,13 0,15 0,99

NT x C:N Per

1 0,02 0,39 0,53 -0,15 2,48 0,01

PT x N:P Per 1 0,001 16,62 0,0003 15,3 -3,94 0,36

NT x N:P Per 1 0,001 0,02 0,87 0,037 1,02 0,0008

0.100

0.105

0.110

0.115

0.120

0.125

C:P

0

1

2

3

4

C:N

0.26 0.28 0.30 0.32 0.34 0.36 0.380.0

0.5

1.0

1.5

2.0

N:P

log10 (Mol /L PT)

1.5 2.0 2.5 3.00.0

0.5

1.0

1.5

2.0

log10 (Mol /L NT)

N:P

Figura 19: Regressão linear entre o log10 das concentrações de fósforo total (PT) e nitrogênio total

(NT) da água (µMol / L) e o log10 das razões C:N:P do perifíton (n = 32) (experimento com

B.tenagophila). (a) log10C:P Per = - 0,12 x log10PT + 0,15; r2 = 0,99, p < 0,0001. (b) log10N:P Per = -

3,94 x log10PT + 15,3; r2 = 0,36, p = 0,0003. (c) log10C:N Per = - 0,15 x log10NT + 2,48; p = 0,53.

(d) log10N:P Per = 0,037 x Log10NT + 1,02; p = 0,87. Per = perifíton.

a

b

c

d

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55

3.2.5. Influência de Biomphalaria tenagophila sobre a estequiometria do perifíton

Os testes t realizados entre os tratamentos Con (sem B. tenagophila e sem nutrientes) e

controle (com B. tenagophila e sem nutrientes) mostraram que as razões C:N foram

significativamente menores e as razões N:P significativamente maiores no tratamento controle

(tabela 15, figura 20). A razão C:P final no tratamento controle foi 3096 (± 953,2) e no tratamento

Con foi 4105 (± 572,6), mas não foram significativamente diferentes (p = 0,20) (tabela 15, figura

20b).

Tabela 15: Comparação dos valores das razões estequiométricas C:N, C:P e N:P do perifíton

(média ± erro padrão, n = 8) entre os tratamentos Controle e Con (sem adição de nutrientes e

sem a adição de Biomphalaria tenagophila). O valor de p é referente ao teste t.

Tratamento

Con Controle p

C:N

1428 ± 295,6

vs. C:N

116 ± 25,5

<0,0001

C:P

4105 ± 572,6

vs. C:P

3096 ± 953,2

0,20

N:P

3,3 ± 0,7

vs. N:P

25,3 ± 3,7

<0,0001

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56

0

500

1000

1500

2000

2500

a

b

C:N

Controle Con

0

2000

4000

6000

C:P

Controle Con

0

10

20

30

40

Controle Con

N:P

a

b

Figura 20: Comparação das razões estequiométricas C:N (a), C:P (b) e N:P do perifíton entre os

tratamentos controle e Con (sem adição de nutrientes e Biomphalaria tenagophila) (média + erro

padrão, n = 8).

O teste t realizado não identificou diferenças significativas para as concentrações do íon

amônio entre os tratamentos controle e con (p = 0,36) (figura 21).

0

10

20

30

40

50

NH

4 (

Mo

l /

L)

Controle Con

Figura 21: Comparação das concentrações do íon amônio (NH4+) entre os tratamentos controle e

Con (sem adição de nutrientes e Biomphalaria tenagophila) (média + erro padrão, n = 8).

a b

c

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57

3.2.6. Tamanho e biomassa final de Biomphalaria tenagophila

O tamanho inicial médio B. tenagophila foi de 10,8 mm (n = 25). Ao término do

experimento não houve diferenças significativas de tamanho entre os tratamentos (tabela 16). O

tamanho final para todos os tratamentos ficou em torno de 10 mm (figura 22a).

Tabela 16: Resultados da análise de variância bifatorial para o tamanho e a biomassa final de

Biomphlaria tenagophila.

Tamanho (mm) Biomassa (mg)

Efeito gl SQ F p gl SQ F p

+ N 1 0,003 6,94 0,1 1 0,00 0,00 0,96

+ P 1 0,001 3,07 0,09 1 0,04 5,05 0,09

+N +P 1 0,01 19,52 0,0001 1 0,02 2,44 0,12

A biomassa inicial média de B. tenagophila foi 109,5 mg (n = 25). A adição de nutrientes

para o perifíton não alterarou a biomassa do gastrópoda ao final do experimento (tabela 16, figura

22b).

0

5

10

15

Controle +N +P +N+P

Tam

an

ho

(m

m)

0

50

100

150

Bio

massa (

mg

)

Controle +N +P +N+P

Figura 22: Tamanho (a) e biomassa final (b) de Biomphalaria tenagophila (média + erro padrão,

n = 8).

a b

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58

3.2.7. Concentrações de carbono total, nitrogênio total e fósforo total de Biomphalaria

tenagophila

As concentrações de carbono total de B. tenagophila não foram significativamente

diferentes entre os tratamentos (tabela 17, figura 23a). Houve efeito significativo da adição de

nitrogênio no perifíton para a concentração de nitrogênio total de B. tenagohila, mas sem diferenças

significativas entre os tratamentos (Tukey HSD, p < 0,05) (figura 23b). As concentrações de

fósforo total foram também não sofreram efeitos signifcativos dos nutrientes.

Tabela 17: Tabela de análise de variância bifatorial mostrando as respostas das concentrações

(µMol / mg) de carbono, nitrogênio, fósforo total e das razões estequiométricas C:N, C:P e N:P

do Biomphalaria tenagophila após receber como alimento um perifíton enriquecido com

nitrogênio e fósforo. Os valores de p para os efeitos significativos dos tratamentos estão indicados

em negrito.

Efeito gl SQ F p

Carbono Total

+N 1 0,13 3,23 0,08

+P 1 0,04 1,007 0,32

+N+P 1 0,04 1,073 0,39

Nitrogênio Total

+N 1 0,018 4,99 0,03

+P 1 0,00009 0,02 0,87

+N+P 1 0,007 1,92 0,17

Fósforo Total

+N 1 0,00005 0,79 0,38

+P 1 0,0001 2,42 0,13

+N+P 1 0,0001 2,53 0,12

C:N

+N 1 1,0057 5,94 0,02

+P 1 0,18 1,09 0,3

+N+P 1 0,07 0,43 0,51

C:P

+N 1 0,15 1,14 0,29

+P 1 0,64 4,8 0,03

+N+P 1 0,07 0,55 0,46

N:P

+N 1 0,37 3,65 0,06

+P 1 0,13 1,32 0,25

+N+P 1 0 0 0,99

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59

0

20

40

60

µM

ol C

/ m

g

0.0

0.2

0.4

0.6

µM

ol N

/ m

g

0.00

0.02

0.04

0.06

µM

ol P

/ m

g

Controle +N +P +N+P

Figura 23: Concentrações de carbono (a), nitrogênio (b) e fósforo total (c) em Biomphalaria

tenagophila (média + erro padrão, n = 8).

a

b

c

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60

3.2.8. Estequiometria de Biomphalaria tenagophila

A análise multivariada de variância bifatorial não detectou efeitos significativos dos

nutrientes sobre a estequiometria do Biomphalaria tenagophila. Apenas o nitrogênio exerceu um

efeito marginalmente significativo (p = 0,06) (tabela 18). A ANOVA bifatorial mostrou haver efeito

significativo do nitrogênio (p = 0,02) sobre a razão C:N (tabela 17). Entretanto, não houve

diferenças significativas entre os tratamentos (Tukey HSD, p < 0,05) (figura 24a). A razão C:P

sofreu efeito significativo da adição de fósforo (tabela 17). Contudo, também não houve diferenças

significativas entre os tratamentos (Tukey HSD, p < 0,05) (figura 24b). A razão N:P não sofreu

efeito significativo de nenhum tratamento (tabela 17).

Tabela 18: Análise multivariada de variância mostrando as respostas da estequiometria C:N:P do

Biomphalaria tenagophila ao enriquecimento com nitrogênio e fósforo do perifíton. C:N, C:P e

N:P são as variáveis interdependentes. PT = Valor do critério de Pillai (Pillai’s trace).

PT F p

Biomphalaria tenagophila

+N 0,18 3,13 0,06

+P 0,15 2,46 0,1

+N x +P 0,02 0,29 0,75

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61

0

100

200

300

400

500

C:N

0

1000

2000

3000

4000

5000

C:P

0

10

20

30

40

50

Controle +N +P +N+P

N:P

Figura 24: Razões estequiométricas C:N (a), C:P (b) e N:P em Biomphalaria tenagophila (média +

erro padrão, n = 8).

3.2.9. Relação entre a estequiometria do perifíton e de Biomphalaria tenagophila

As regressões lineares realizadas entre a estequiometria do perifíton e do gastrópoda

mostraram que as razões C:N dos gastrópodas aumentaram significativamente com o aumento das

razões C:N perifíticas. Além disso, esta variação na C:N dos gastrópodas foi quase totalmente

explicada pela variação da C:N do perifíton (r2 = 0,97; p = 0,01) (tabela 19; figura 25a). Ao se

a

c

b

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62

elevar as razões C:P e N:P no perifíton, as razões C:P e N:P do gastrópoda também aumentaram

(figura 25b,c), mas as regressões não foram significativas (tabela 19).

Tabela 19: Resultados da análise de regressão linear entre o log10 da razão C:N:P do perifíton e o

log10 da razão C:N:P do Biomphalaria tenagophila. Per = Perifíton; Bt = Biomphalaria

tenagophila. Valores significativos de p estão indicados em negrito.

Regressão gl SQ F p Inclinação Intercepto r

2

C:N Per x C:N Bt

1 0,073 66,4 0,01 1, 15 - 0,48 0,95

C:P Per x C:P Bt

1 0,072 3,83 0,18 0,95 0,05 0,65

N:P Per x N:P Bt 1 0,128 5,84 0,13 0,63 0,5 0,74

1.8 2.0 2.2 2.4 2.61.8

2.0

2.2

2.4

2.6

log

10 (

C:N

B. te

nag

op

hila)

log10 (C:N Perifíton)

2.8 3.0 3.2 3.4 3.6 3.82.8

3.0

3.2

3.4

3.6

3.8lo

g10 (

C:P

B. te

nag

op

hila)

log10 (C:P Perifíton)

0.8 1.0 1.2 1.4 1.60.8

1.0

1.2

1.4

1.6

log

10 (

N:P

B. te

nag

op

hila)

log10 (N:P Perifíton)

Figura 25: Regressão linear entre o log10 das razões C:N:P do perifíton e o log10 das razões C:N:P

do Biomphalaria tenagophila (n = 4; média dos tratamentos). (a) log10 C:N (B. tenagophila) = 1,15

x log10 C:N (perifíton) - 0,48; r2 = 0,97, p = 0,01. (b) log10 C:P (B. tenagophila) = 0,95 x log10 C:P

(perifíton) + 0,05; p = 0,18. (c) log10 N:P (B. tenagophila) = 0,63 x log10 N:P (perifíton) + 0,5;

p = 0,13.

a b

c

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3.2.10. Razão N:P das egestas e taxa de egestão de Biomphalaria tenagophila

A razão N:P das egestas de Biomphalaria tenagophila sofreu efeito significativo da adição

de fósforo no perifíton (tabela 20). Entretanto, o pós-teste de Tukey HSD (p < 0,05) não mostrou

diferenças significativas entre os tratamentos (figura 26a).

Tabela 20: Resultados da análise de variância bifatorial para a razão N:P das egestas de

Biomphalaria tenagophila. Os valores de p para os efeitos significativos dos tratamentos estão

indicados em negrito.

Efeito gl SQ F p

+ N 1 0,03 0,51 0,48

+ P 1 0,43 6,97 0,02

+N +P 1 0,005 0,09 0,76

A adição de fósforo também exerceu ação significativa na taxa de egestão de B. tenagophila

(tabela 21). A taxa de egestão no tratamento +P foi de 0,0003 mg fezes / mg Bt / h (± 0,0001) e no

tratamento +N+P foi 0,0007 (± 0,0003). No controle a taxa de egestão chegou a 0,001(± 0,0004) e a

0,002 (± 0,0006) no tratamento +N (figura 26b). O teste de Tukey HSD (p < 0,05) não identificou

estas diferenças como significativas.

Tabela 21: Resultados da análise de variância bifatorial para a taxa de egestão de Biomphalaria

tenagophila. Os valores de p para os efeitos significativos dos tratamentos estão indicados em

negrito.

Efeito gl SQ F p

+ N 1 0 1,35 0,26

+ P 1 0,000001 5,40 0,03

+N +P 1 0 0,01 0,91

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0

10

20

30

40

50

Controle +N +P +N+P

N:P

eg

es

tas

0.0000

0.0005

0.0010

0.0015

0.0020

0.0025

Controle +N +P +N+P

Taxad

e E

ge

stã

o

(m

gfe

ze

s/ m

gB

t/ h

)

Figura 26: (a) Razão N:P das egestas do Biomphalaria tenagophila para cada um dos tratamentos.

(b) Taxa de egestão (mg fezes / mg Bt / h) de Biomphalaria tenagophila para cada um dos

tratamentos (média + erro padrão, n = 4). Bt = Biomphalaria tenagophila; h = hora.

3.3. Comparação entre as razões estequiométricas perifíticas do experimento 1 com as

razões estequiométricas perifíticas do experimento 2

Nos dois experimentos realizados, o tratamento +N não levou à redução da razão C:N do

perifíton. No experimento com ostrácodas a razão C:N perifítica foi de 94,2 (± 27,2) no tratamento

+N, porém chegou a 58 (± 18) no tratamento +P (tabela 22). De qualquer forma, a razão C:N no

tratamento +N foi menor do que no tratamento controle (214,1 ± 67,8), o que poderia até indicar

algum efeito positivo da adição do nitrogênio. Contudo, conforme visto anteriormente, não houve

efeito significativo da adição de nitrogênio sobre a razão C:N do perifíton deste primeiro

experimento (tabela 4). No segundo experimento a adição de nitrogênio também não exerceu efeito

significativo sobre a razão C:N do perifíton (tabela 12) e, em geral, as razões C:N do primeiro

experimento foram mais baixas (tabela 22). Nos dois experimentos as razões C:P foram menores

nos tratamentos com a adição de fósforo (+P e +N+P) (tabela 22), mas só sofreram efeito

significativo da adição de fósforo quando apenas este nutriente foi adicionado (tratamento +P) (ver

tabelas 4 e 12). No experimento com os ostrácodas as razões C:P baixaram com a adição de fósforo,

e de forma mais evidente em relação ao experimento com o gastrópoda. Enquanto nos tratamentos

controle (3006 ± 733,4) e +N (2698 ± 742,3) a razão C:P foi elevada, nos tratamento +P (174,8 ±

44) e +N+P (304,1 ± 77,6) ela foi baixa. Já no segundo experimento, a razão C:P também diminuiu

com a adição de fósforo, porém de maneira menos intensa. Por exemplo, enquanto chegou a 3411

b a

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(± 864,5) no tratamento controle, foi de 1452 (± 278,9) no tratamentos +P (tabela 22). As repostas

da razão N:P perifítica também foram mais evidentes no primeiro experimento. Com a adição de

nitrogênio, a N:P alcançou seu maior valor (30,22 ± 6,5), e com a adição de fósforo o seu menor

valor (3,3 ± 0,27). Conforme demonstrado pela ANOVA bifatorial, o efeito do fósforo na razão N:P

foi significativo e o do nitrogênio marginalmente significativo (tabela 4). No experimento com B.

tenagophila, a razão N:P foi maior no controle (27,3 ± 3,2) e menor nos tratamentos +P (10,4 ± 2,3)

e +N+P (7,8 ±2,3). A adição de nitrogênio causou um efeito mais brando neste segundo

experimento, mas ainda assim, tornou a N:P maior no tratamento +N (16,5 ± 3,5) em relação aos

tratamentos +P e +N+P. A ANOVA bifatorial mostrou este efeito significativo do nitrogênio na

razão N:P (tabela 12).

Tabela 22: Comparação da estatística descritiva das razões estequiométricas C:N, C:P e N:P do

perifíton dos experimentos realizados com ostrácodas e Biomphalaria tenagophila. Tratamentos:

C (controle), +N (adição de nitrogênio), +P (adição de fósforo), +N+P (adição de nitrogênio e

fósforo). EP = erro padrão.

Razão Perifíton Perifíton

Experimento com Ostracoda Experimento com B. tenagophila

C +N +P +N+P C +N +P +N+P

C:N

n 4 4 4 4 8 8 8 8

Média 214,1 94,2 58 88,4 123,7 298,7 171,9 174,1

EP 67,8 27,2 18 34,5 26,7 188,5 41,3 50,4

C:P

n 4 4 4 4 8 8 8 8

Média 3006 2698 174,8 304,1 3411 2683 1452 1422

EP 733,4 742,3 44 77,6 864,5 796,8 278,9 708,2

N:P

n 4 4 4 4 8 8 8 8

Média 19,1 30,2 3,2 4,3 27,3 16,5 10,4 7,8

EP 9 6,5 0,27 0,9 3,2 3,5 2,3 2,3

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66

3.4. Comparação entre as razões estequiométricas dos consumidores e do perifíton

Conforme mencionado na metodologia, não foram realizadas as análises de carbono dos

ostrácodas e, portanto, não se procedeu aos cálculos das razões C:N e C:P desses organismos. As

razões C:N do Biomphalaria tenagophila foram maiores no tratamento +N (241 ± 71) (tabela 23).

Algo semelhante ocorreu com as razões C:N do perifíton que também foram maiores no tratamento

+N (tabela 22). No tratamento controle, foi observada a menor razão C:N (89,5 ± 26,5) dos

gastrópodas, enquanto nos tratamentos +P e +N+P as razões C:N foram similares, atingindo os

valores de 121,1 (± 56,7) e 112,5 (± 19,3), respectivamente (tabela 23). Estes resultados seguiram o

padrão encontrado para as razões C:N do perifíton, ou seja, maior C:N no tratamento +N, sendo

seguido pelo tratamento controle e com razões C:N similares nos tratamento +P e +N+P (tabelas 22

e 23). Observando-se as razões C:P do B. tenagophila também pôde-se perceber que elas refletiram

a variação encontrada na C:P perifítica (tabela 22). As maiores razões C:P para os gastrópodas

foram encontradas nos tratamentos controle (1913 ± 655,5) e +N (3132 ± 1102), sendo as menores

C:P observadas nos tratamentos +P (1113 ± 310,5) e +N+P (1038 ± 247) (tabela 23). As menores

razões C:P nos tratamentos +P e +N+P também foram observadas para o perifíton (tabela 22),

sendo interessante o fato das menores razões C:P do gastrópoda (1038 no tratamento +N+P, e 1113

no tratamento +P) terem ocorrido no mesmo tratamento onde o perifíton apresentou as menores

razões C:P (1422 no tratamento +N+P, e 1452 no tratamento +P). Isso demonstra alguma

correspondência entre as razões C:P do perifíton e do gastrópoda. As razões N:P dos gastrópodas

também refletiram as razões N:P do perifíton, porém de maneira menos evidente que para as razões

C:P. A maior N:P do B. tenagophila ocorreu nos tratamentos controle (28,08 ± 12) e +P (17,8 ±

4,4), sendo seguidos, em ordem decrescente, pelos tratamentos +N (14,98 ± 2,9) e +N+P (10,7 ± 2)

(tabela 23). A média para a razão N:P dos gastrópodas de 28 no controle é bem similar a média para

a razão N:P perifítica de 27,3 nesse mesmo tratamento. As razões N:P do tratamento +N também

foram muito similares (16,5 para o perifíton e 15 para o gastropoda). No tratamento +P não parece

ter havido uma correspondência perifíton vs. consumidor tão clara para a N:P (10,4 no perifíton e

17,8 no gastropoda). Entretanto, esta correspondência parece haver no tratamento +N+P (razão N:P

de 7,8 no perifíton e de 10,7 no gastrópoda), as quais foram as menores razões N:P observadas entre

todos os tratamentos (tabelas 22 e 23).

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A razão N:P dos ostrácodas parece não se relacionar com a N:P perifítica. A não ser pelo

tratamento controle, onde as razões N:P foram bem semelhantes (19,1 no perifíton e 20,7 para os

ostrácodas), não houve um padrão de correspondência entre as razões do perifíton vs. consumidor

como o encontrado para o B. tenagophila. Onde se adicionou nitrogênio (tratamento +N), a razão

N:P perifítica aumentou em relação aos demais tratamentos (30,2 ± 6,5), porém foi a menor

registrada para os ostrácodas (11,6 ± 4,6). Onde se adicionou fósforo (tratamento +P) a razão N:P

perifítica alcançou seu menor valor (3,2 ± 0,27), mas a N:P dos ostrácodas foi similar a do controle

(19,7 ± 6,3) e não diminuiu. No tratamento +N+P, a razão N:P perifítica foi baixa (4,3 ± 0,9),

porém a razão N:P dos ostrácodas foram as maiores observadas (45,3 ± 14,7) (tabelas 23 e 24).

Esses resultados demonstram que a estequiometria dos ostrácodas, ao contrário dos gastrópodas,

parece ser mais independente da estequiometria do perifíton.

De uma maneira geral, as razões N:P dos ostrácodas e do Biomphalaria tenagophila foram

muito semelhantes (tabela 23). A média geral para todas as razões N:P dos ostrácodas foi de 24,3 e

para os gastrópodas foi de 17,9. O teste t não mostrou diferenças significativas entre as razões N:P

(p = 0,26) dos dois táxons, confirmando a semelhança da sua estequiometria N:P.

Tabela 23: Comparação da estatística descritiva das razões estequiométricas C:N, C:P e N:P dos

consumidores: ostrácodas e Biomphalaria tenagophila. Tratamentos: C (controle), +N (adição de

nitrogênio), +P (adição de fósforo), +N+P (adição de nitrogênio e fósforo). EP = erro padrão.

Razão Ostrácodas B. tenagophila

C +N +P +N+P C +N +P +N+P

C:N

n - - - - 8 8 8 8

Média - - - - 89,5 241 121,1 112,5

EP - - - - 26,5 71 56,7 19,3

C:P

n - - - - 8 8 8 8

Média - - - - 1913 3132 1113 1038

EP - - - - 655,5 1102 310,5 247,0

N:P

n 4 4 4 4 8 8 8 8

Média 20,7 11,6 19,7 45,3 28 15 17,8 10,7

EP 4,3 4,6 6,3 14,7 12 2,9 4,4 2

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4. Discussão integrada (experimentos 1 e 2)

A discussão dos dois experimentos será integrada. Portanto, para cada um dos tópicos

abaixo serão discutidos os resultados de cada um dos dois experimentos. De forma bem sucinta,

podemos mencionar o que será abordado nesta discussão. Nossos resultados mostraram que tanto os

ostrácodas quanto Biomphalaria tenagophila aumentam a intensidade da herbivoria quando lidam

com um perifíton pobre em nutrientes, uma estratégia denominada compensação alimentar ativa.

Nossos resultados também deixaram claro que o fósforo é o principal elemento limitante para o

perifíton da lagoa Cabiúnas e que o enriquecimento com esse nutriente reduz as razões C:P e N:P

do perifíton. Essa redução da C:P e N:P mediada pelo enriquecimento com fósforo ocorreu em

ambos os experimentos. As modificações sofridas pela estequiometria do perifíton não afetaram a

estequiometria dos ostrácodas. Já a estequiometria dos gastrópodas estava relacionada às razões

C:N, C:P e N:P do perifíton. Concluiu-se que os ostrácodas são consumidores mais homeostáticos

enquanto B. tenagophila é um consumidor pouco homeostático. Além disso, os consumidores

liberam mais nitrogênio do que fósforo nas suas excretas, o que pode reduzir as razões C:N e elevar

as razões N:P do perifíton. B. tenagophila ainda pode liberar o fósforo através das suas egestas e

torná-lo disponível de forma mais indireta para o perifíton.

4.1. Biomassa perifítica

Ostrácodas

A ausência de diferenças significativas entre os valores da biomassa perifítica inicial

(tabela 1) permitiu se ter a certeza de que o perifíton a ser submetido ao enriquecimento com

nutrientes e oferecido aos consumidores não apresentava diferenças marcantes de quantidade. Isso é

imprescindível para garantir que os consumidores sofressem uma influência mínima da quantidade

do alimento e fossem influenciados de forma mais marcante pela qualidade do alimento

(concentração de nutrientes), foco desta pesquisa. Além disso, qualquer mecanismo

comportamental como uma compensação alimentar ativa, através do qual o consumidor intensifica

o forrageamento quando o alimento está pobre em nutrientes (Fink & Von Elert, 2006), se tornaria

mais evidente ao se analisar a biomassa perifítica final para descobrir em qual dos tratamentos

houve uma maior herbivoria e, conseqüentemente, uma maior redução da biomassa.

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Uma menor biomassa final do perifíton nos tratamentos controle e +P poderia indicar uma

maior intensidade de herbivoria na ausência do nitrogênio e, portanto, uma possível limitação por

esse elemento nos ostrácodas. Todavia, não foram detectadas diferenças significativas entre a

biomassa final do perifíton entre os tratamentos (tabela 1) e, à princípio, não se poderia afirmar que

a compensação alimentar ativa seria a estratégia adotada pelos ostrácodas para lidar com um

perifíton sem o nutriente limitante – aparentemente o nitrogênio. No entanto, os testes t pareados

realizados comparando a biomassa inicial com a biomassa final de cada tratamento ajudaram a

esclarecer essa questão. Houve uma redução significativa da biomassa final em relação à inicial no

tratamento controle (tabela 2, figura 6a). Isso demonstra que a herbivoria foi intensa neste

tratamento e a compensação alimentar ativa parece ser uma estratégia de forrageamento dos

ostrácodas quando submetidos a um perifíton pobre em nutrientes. Quanto à possível limitação por

nitrogênio, os resultados do teste t para os demais tratamentos também permitiram responder esta

questão. Para o tratamento +P, houve uma redução da biomassa perifítica de 0,60 (± 0,19) para 0,32

mg/cm2 (± 0,11) mas esta redução não foi significativa (tabela 2, figura 6c). Já no tratamento +N,

praticamente não houve alteração no valor final da biomassa (0,57 mg/cm2 ± 0,19) em relação ao

inicial (0,60 mg/cm2 ± 0,07), indicando um efeito mais brando da herbivoria (tabela 2, figura 6b).

No tratamento +N+P, houve um pequeno aumento na biomassa final (figura 6d), mas novamente

um resultado não significativo (tabela2). Portanto, só houve redução da biomassa perifítica pelos

ostrácodas no controle e nossos resultados não permitiram esclarecer qual nutriente (nitrogênio ou

fósforo) foi, de fato, o mais limitante. De qualquer forma, os ostrácodas podem ter intensificado a

herbivoria ao se alimentarem de um perifíton pobre em nutrientes (controle) e poderiam ter

compensando a ausência das proporções ótimas dos nutrientes aumentando a quantidade de

perifíton ingerido. Isto seria um tipo de ajuste a nível comportamental para manter a homeostase e

enfrentar um desbalanço de nutrientes no alimento (Sterner & Elser, 2002). Esta mesma estratégia

comportamental já foi reportada para o gastrópoda Radix ovata (Fink & Von Elert, 2006). Este

gastrópoda, para lidar com os efeitos negativos no crescimento relacionados a um perifíton com

baixa disponibilidade de nitrogênio e fósforo, aumentou as suas taxas de herbivoria.

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Biomphalaria tenagophila

Assim como no experimento com os ostrácodas (experimento 1 daqui em diante), não

foram observadas diferenças marcantes entre os valores obtidos para a biomassa inicial do

experimento com B. tenagophila (experimento 2 daqui em diante). Desta maneira, o experimento 2

foi iniciado com a segurança de que não havia diferenças de quantidade de perifíton e as suas

implicações já discutidas anteriormente para o experimento 1. Da mesma forma que no primeiro

experimento, os resultados para a biomassa final do perifíton demonstraram não haver diferenças

significativas entre os tratamentos devido a ausência de efeitos significativos dos nutrientes (tabela

9). Isso levanta a possibilidade de ter ocorrido um controle descendente (top-down) (via herbivoria)

ao invés de um controle ascendente (bottom-up) (via nutrientes) da biomassa perifítica. Isto porque,

conforme observado no experimento, foi muito evidente o forrageamento do perifíton pelos

gastrópodas, o que foi revelado pelos rastros e espaços vazios deixados por esses consumidores nas

placas colonizadas pelo perifíton. Então, a herbivoria teria diminuído qualquer efeito positivo dos

nutrientes na biomassa perifítica. Contudo, os resultados dos testes t realizados entre a biomassa

perifítica inicial e a biomassa perifítica final do controle não mostraram diferenças significativas.

Assim como não houve diferenças significativas entre a biomassa final do tratamento Con e a

biomassa inicial, e entre a biomassa final do tratamento Con e a biomassa final do tratamento

controle (tabela 10, figura 15). Isso significa que os gastrópodas não reduziram de forma marcante a

biomassa perifítica durante o experimento e que não houve aumento da biomassa perifítica na

ausência dos gastrópodas. Uma possível ausência de efeitos positivos dos nutrientes, portanto, não

poderia ser explicada pela existência de uma forte herbivoria.

Estudos com a relação trófica entre Biomphalaria tenagophila e o perifíton são escassos na

literatura. Um estudo desta natureza foi realizado por Santos & Freitas (1987). Aqueles autores

verificaram que a biomassa do perifíton foi maior no tratamento com a ausência do Biomphalaria

tenagophila do que no tratamento com a presença de B. tenagophila. Deixaram claro que o

gastrópoda reduziu a biomassa perifítica com uma herbivoria intensa. Este padrão não foi

encontrado no presente estudo o que pode estar relacionado a qualidade do perifíton. As altas razões

C:Clor a e altas razões C:P indicaram que o perifíton do nosso estudo era rico em detritos, o que

pode ter o tornado menos atrativo para o gastrópoda. Guariento (2008) verificou que Biomphalaria

tenagophila exerceu um forte efeito de herbivoria sobre o perifíton apenas no perifíton que se

desenvolveu na superfície dos mesocosmos daquele trabalho. O efeito da herbivoria sobre o

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perifíton desenvolvido não fundo foi significativo. Segundo Guariento (2008), isto foi devido ao

fato do perifíton do fundo ter sido predominantemente heterotrófico e limitado por luz o que,

consequentemente, gerou uma limitação por energia. Portanto, B. tenagophila, ao se alimentar de

um perifíton mais heterotrófico estava passando por limitações por energia, o que tornou este

perifíton pouco atrativo. Como o perifíton do presente estudo também foi mais heterotrófico, a

limitação por energia discutida por Guariento (2008) pode ter ocorrido no nosso estudo e tornado

perifíton pouco atrativo para o gastrópoda. Além disso, é possível que o perifíton usado nos

experimentos de Santos & Freitas (1987) tenha tido menos detritos e mais nutrientes, o que levou a

maior herbivoria de B tenagophila naquele trabalho.

Em geral, os estudos com perifíton, mostram um controle simultâneo da biomassa pela

herbivoria e adição de nutrientes (Hillebrand, 2002). Hillebrand (2002), na realidade, realizou uma

meta-análise de 85 experimentos avaliando o efeito da interação herbivoria vs. nutrientes na

biomassa perifítica em diversos tipos de habitats aquáticos (rios, lagos e ambientes costeiros). Além

do forte controle simultâneo existente da herbivoria e nutrientes na biomassa perifítica, Hilebrand

(2002) descobriu que: (1) estes feitos quase sempre são interativos, aumentando-se o efeito dos

nutrientes com a exclusão do herbívoro, e diminuindo-se o efeito da herbivoria com a adição de

nutrientes; (2) que, em geral, o efeito isolado da remoção do herbívoro na biomassa perifítica é mais

forte do que o da adição de nutrientes; (3) e que a força desta interação pode ser mediada pela

condição trófica do habitat, isto é, o efeito da herbivoria é mais brando em condições eutróficas sem

limitações por luz. Outros estudos também mostraram a força da interação nutrientes vs. herbivoria.

Segundo Hillebrand & Kahlert (2001), não houve sobreposição do efeito da herbivoria sobre o da

adição de nutrientes na biomassa perifítica e vice-versa, havendo uma interação destes efeitos.

Rosemond et al. (1993), chegaram à conclusão de que biomassa perifítica estava sob um controle

dual: ascendente via limitação por nutrientes e descendente, via a herbivoria pelos consumidores

gastropódas, porque os efeitos da interação foram mais fortes do que os efeitos isolados de cada um

destes fatores.

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72

4.2. Clorofila a e razão carbono:clorofila a (C:Clor a)

Ostrácodas

Ainda que não significativas, as maiores concentrações de clorofila a nos tratamentos +N

(figura 7a) poderiam estar indicando um possível estímulo dos nutrientes para o crescimento das

algas perifíticas. Isto também poderia indicar que na ausência de nutrientes (tratamento controle) a

herbivoria exerceria um efeito negativo mais intenso sobre a biomassa algal, uma vez que, após

removidas pelos herbívoros, as algas não teriam o estímulo dos nutrientes para crescer e repor a

biomassa removida. Os próprios ostrácodas, inclusive, devido à limitação por nutrientes no

tratamento controle exerceriam uma maior pressão de herbivoria sobre o perifíton (conforme já

discutido anteriormente para a biomassa perifítica) removendo mais células algais. Ao remover

mais perifíton no tratamento controle, incluindo-se aí mais algas (que já eram mais escassas no

perifíton), os ostrácodas estariam diminuindo a proporção de algas em relação aos organismos

heterotróficos e detritos no perifíton, aumentando a razão C:Clor a no controle em relação aos

demais tratamentos (figura 7b). Além disso, como já mencionado, os ostrácodas não são seletivos e

podem remover tanto as algas quanto os detritos, porém as algas podem se regenerar pelo estímulo

dos nutrientes. Ao permitir o crescimento das algas e elevando a proporção destas em relação aos

organismos heterotróficos e detritos no perifíton, os nutrientes acabariam por diminuir a razão

C:Clor a nos tratamentos com adição de nutrientes. Contudo, nossos resultados deixaram claro que

o perifíton da lagoa Cabiúnas é predominantemente heterotrófico, e a diminuição das razões C:Clor

a em resposta à adição de nutrientes também poderia estar relacionada ao aumento da proporção

dos organismos heterotróficos, que assim como as algas, e ao contrário dos detritos, também podem

se regenerar sob um estímulo de nitrogênio e fósforo. Organismos heterotróficos, como as bactérias,

são mais ricos em nutrientes do que em carbono, e a adição de nutrientes para o perifíton resultaria

num aumento de fósforo na comunidade perifítica mas não de carbono (figura 8a,c). Portanto, é

mais provável que a diminuição das razões C:clor a do perifíton dos tratamentos enriquecidos com

nutrientes estivesse mais relacionada ao aumento de heterotróficos, e menos relacionada ao

aumento da proporção de algas.

Esse cenário proprosto deve ser interpretado com cautela devido aos resultados não

significtivos da ANOVA (tabela 3). De qualquer forma, muitos estudos demonstraram que o

aumento das concentrações de nurientes elevam as concentrações de clorofila a no perifíton.

Segundo Mosisch et al. (1999), os valores de clorofila a foram significativamente maiores nos

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tratamentos com adição de nitrogênio (+N) e adição de nitrogênio e fósforo (+N+P) do que nos

tratamentos controle e com adição de fósforo. Segundo aqueles investigadores, o nitrogênio foi o

principal nutriente a limitar o crescimento do perifíton no rio aonde ocorreu o experimento.

Segundo Bowman et al. (2005), nos rios e lagos estudados, as maiores concentrações de clorofila

foram obtidas nas regiões com maiores concentrações de fósforo total e nitrogênio inorgânico

dissolvido. Tal fato também ocorreu no estudo realizado por Kahlert & Pettersson (2002) em lagos

oligo, meso e eutróficos: as concentrações de clorofila a foram maiores nos lagos mesotróficos e

eutróficos. Já no trabalho de Frost & Elser (2002a), o fósforo foi adicionado num gradiente de

concentração crescente e observou-se que os valores de clorofila a cresceram acompanhando o

aumento da oferta de fósforo. Num experimento realizado por Hillebrand & Kahlert (2006), os

valores de clorofila a foram maiores nos tratamentos +N+P, mas não diferiam entre os tratamentos

controle, +N e +P. Já em outros trabalhos, encontrou-se valores maiores da clorofila a na presença

dos nutrientes mas, assim como no nosso estudo, sem diferenças significativas. Na investigação

realizada por Stelzer & Lamberti (2002), por exemplo, não houve efeitos significativos do

nitrogênio e fósforo sobre a clorofila a do perifíton. Da mesma maneira que no nosso estudo,

Stelzer & Lamberti (2002) relataram que apesar dos resultados estatísticos não serem significativos,

os valores de clorofila a foram maiores nos tratamentos com adição de nutrientes (no estudo

daqueles autores com a adição do fósforo) mas não chegaram a discutir os motivos relacionados a

este aumento. Essa ausência de resposta da clorofila à adição de nutrientes também foi demonstrada

por Mallory & Richardson (2005), que observaram os efeitos da luz, adição de nutrientes e

herbivoria no perifíton, constatando que apenas a luz e a herbivoria causavam mudanças

significativas sobre as concentrações de clorofila a. Nos experimentos com adição de nitrogênio e

fósforo de Havens et al. (1999), também não foram encontrados efeitos significativos isolados ou

interativos dos nutrientes sobre a clorofila a do perifíton. Assim como no nosso experimento,

Havens et al. (1999) encontraram maiores valores da clorofila a nos tratamentos com adição de

nutrientes. Entretanto, nenhum destes estudos procurou explicar os mecanismos que levaram ao

aumento nas concentrações de clorofila a. Segundo alguns autores (Wetzel, 2001; Schulze et al.,

2002), o aumento nas concentrações de clorofila a é um dos indicadores de que as células vegetais

estão saturadas de nitrogênio, uma vez que, este elemento está associado às reações químicas do

fotossistema I onde, durante um aporte de elétrons através dos carreadores, ocorre a redução do

NADP a NADPH, que participa da assimilação do CO2 para a produção de carboidratos. Portanto, a

entrada de nitrogênio é um estímulo para o funcionamento do sistema fotossintético, permitindo o

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aumento nas concentrações de clorofila. Além disso, as próprias moléculas de clorofila a

apresentam nitrogênio na sua composição e diversos precursores nas rotas da sua biossíntese são

formados por este elemento (Taiz & Zeiger, 2002). A oferta de nitrogênio pode, então, levar a um

aumento nas concentrações de clorofila a nas células vegetais. Isto poderia estar relacionado às

maiores concentrações deste pigmento no tratamento +N do nosso estudo. Contudo, conforme será

discutido adiante, o perifíton estava limitado por fósforo e não por nitrogênio. Neste caso, seria de

se esperar um estímulo do fósforo para a biomassa algal (clorofila a). Além disso, as razões C:N

não diminuíram, assim como as razões N:P não aumentaram significativamente no tratamento +N

em relação ao controle, indicando que não houve uma maior assimilação de nitrogênio pelo

perifíton neste tratamento. Então, nossos resultados não puderam esclarecer esta relação clorofila a-

nitrogênio, e esta é uma questão que merece atenção em pesquisas futuras.

A resposta mais fraca da clorofila a à adição de nutrientes pode ser explicada pela alta

proporção de detritos e heterotróficos em relação aos autotróficos (Frost et al., 2005b). Os valores

da razão C:Clor a do nosso trabalho (~10.130 – 55.000) (figura 7b) podem ser considerados altos

em comparação à outros estudos (~ 200 – 1000 em Cattaneo et al. (1998); ~ 100 – 600 em Gross

et al. (2003)). Entretanto, é comum se encontrar razões C:Clor a altas (superiores a 5000) em lagos

e ambientes costeiros (Frost et al., 2005b), e em geral a maior parte do carbono existente no

perifíton é de origem não-algal (Frost et al., 2005b). De fato, ao se analisar a composição do

perifíton pôde-se constatar que havia uma grande proporção de detritos em relação às algas

(observações visuais ao microscópio), e realmente o perifíton deste estudo parece seguir o padrão

encontrado para Frost et al. (2005b). Outra questão a ser levada em consideração é a alta

concentração de substâncias húmicas encontradas na água da lagoa Cabiúnas (Farjalla et al., 2004).

Segundo Gross et al. (2003) e Kahlert (2001), o perifíton de lagos oligotróficos com altas

concentrações de compostos húmicos costumam apresentar uma razão C:Clor a elevada e,

conseqüentemente, uma alta proporção de heterotróficos e detritos em relação à algas, devido à

limitação destas por luz e nutrientes. Visto que, o perifíton utilizado no nosso experimento é

originário da lagoa Cabiúnas (húmica e oligotrófica), as altas razões C:Clor a encontradas podem

estar refletindo as condições naturais (menor intensidade luminosa devido às águas escuras, e

escassez de nutrientes) que deram origem a composição estrutural deste perifíton. De fato, o

metabolismo perifítico na lagoa Cabiúnas é predominantemente heterotrófico (Guariento et al.,

2008) e, conforme observado ao microscópio ótico, a quantidade de detritos encontrados foi alta em

relação às algas (dados não apresentados), um padrão que não apresentou mudanças mesmo após a

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adição de nutrientes. Um estudo similar realizado com o plâncton (seston, fitoplâncton,

bacterioplâncton) também não detectou efeitos significativos da adição de nutrientes nas

concentrações de clorofila a, e os autores concluíram que isso se deu por causa da maior proporção

de heterotróficos e detritos do que autrotróficos (Elser et al., 2002).

A herbivoria no geral reduz as concentrações de clorofila a porque reduz o número de

células algais. Num estudo realizado por Frost et al. (2002a), num gradiente crescente de

densidades de larvas de Trichoptera, foi observado que as concentrações de clorofila diminuiram

drasticamente conforme se aumentava o número de herbívoros e, portanto, a intensidade da

herbivoria. Frost et al. (2002a), também verificaram que as razões C:Clor a obtiveram valores

muito altos (~ 1000 – 1500), sendo o perifíton considerado muito heterotrófico. No estudo de

Hillebrand & Kahlert (2006), ao contrário, houve efeito significativo da herbivoria na clorofila a do

perifíton, mas assim como no trabalho de Frost et al. (2002a), os consumidores não afetaram as

razões C:Clor a. Mallory & Richardson (2005) também testaram o efeito de densidades crescentes

de consumidores (girinos) na clorofila a do perifíton. Foi visto que à medida que a densidade

aumentava, as concentrações de clorofila a diminuíam, concluindo que os girinos desempenhavam

um papel essencial no controle da densidade algal no perifíton. Kahlert (2001) verificou que a

biomassa de algas bentônicas (clorofila a) aumentou com a oferta de nitrogênio e fósforo, porém

quando na presença dos herbívoros, os efeitos da adição de nutrientes foram menores. Na interação

nutrientes x herbivoria houve uma diminuição dos efeitos positivos dos nutrientes, assim como

também houve uma redução dos efeitos negativos da herbivoria. Rosemond et al. (1993),

encontraram um padrão similar a Kahlert (2001), e concluíram que os efeitos mais fortes na

estrutura perifítica ocorreram quando os nutrientes foram adicionados e os herbívoros excluídos.

Rosemond et al. (1993), concluíram que os efeitos combinados de controle ascendente (nutrientes)

e descendente (herbivoria) tinham mais eficiência na regulação da biomassa algal do que a ação

isolada destes fatores. De certa maneira, nossos resultados de clorofia a parecem estar indicando um

padrão similar a estes discutidos, ou seja, o efeito da herbivoria sobre as algas perifíticas é mais

severo quando estas estão sob um regime de baixa disponibilidade nutricional (tratamento controle).

Isto porque, quando submetidas à ação dos nutrientes teriam maior valor nutricional, o que

diminuiria a intensidade de herbivoria dos ostrácodas e aumentaria as chances de elevarem suas

taxas de reposição (mais nurientes e menos herbivoria), elevando-se a sua capacidade de

regenaração no perifíton.

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Como não avaliamos os efeitos isolados e interativos dos nutrientes e herbivoria dos

ostrácodas sobre o perifíton, não podemos tirar conclusões precisas sobre as respostas da clorofila a

(biomassa algal) e biomassa perifítica (biomassa de todos os organismos no perifiton) à cada um

destes fatores. Contudo, nosso estudo indicou que: (1) os ostrácodas reduziram mais intensamente a

biomassa de um perifíton pobre em nutrientes (tratamento controle); que (2) também podem ter

reduzido mais a biomassa algal (concentrações de clorofila a) no perifíton pobre em nutrientes; e

que (3) este forrageanmento mais intensivo sobre o perifíton do tratamento controle seria para

compensar a ausência de nutrientes no seu alimento (compensação alimentar ativa).

Biomphalaria tenagophila

Assim como no experimento 1, não houve diferenças significativas entre os tratamentos

para as concentrações de clorofila a neste segundo experimento. Para as razões C:Clor a, também

não foram encontrados efeitos significativos dos nutrientes (tabela 11). Pela ausência de um

resultado significativo não podemos afirmar ou fazer qualquer conclusão mais firme, mas pode ter

ocorrido um efeito positivo dos nutrientes na biomassa algal dos tratamentos +P e +N+P devido às

menores razões C:Clor a (figura 16b). Ainda que brando (por isso não significativo, ou seja, não

mostrado pelo teste estatísitico mas aparente graficamente), este efeito teria estimulado o

crescimento das algas e diminuído a proporção de carbono não-algal no perifíton. Entretanto,

mesmo diminuindo a razão C:Clor a, esta ainda se manteve elevada nos tratamentos +P e +N+P em

relação à outros estudos (~ 200 – 1000 em Cattaneo et al. (1998); ~ 100 – 500 em Stelzer &

Lamberti (2002); ~ 100 – 600 em Gross et al. (2003)), sendo maior neste experimento em relação

ao primeiro (ver figuras 5b e 14b para comparações). Tal fato demonstra que o perifíton utilizado

neste segundo experimento possuía uma proporção de organismos heterotróficos maior do que no

experimento 1. Frost et al. (2005b) também demonstraram em uma meta-análise a partir de

informações recolhidas em mais 5000 observações da razão C: Clor a, que a maior parte do carbono

existente no perifíton é de origem não-algal. De fato, assim como no experimento 1, as observações

ao microscópio revelaram que a proporção de detritos no perifíton era bem elevada em relação às

algas, um padrão que não apresentou mudanças mesmo após a adição de nutrientes. Realmente,

podemos acreditar que o perifíton da lagoa Cabiúnas é altamente heterotrófico, fato que às suas

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condições húmica e oligotróficas (limitações por luz e nutrientes) (Guariento et al., 2008) conforme

discutido no experimento 1.

Além dos detritos, as bactérias são constituintes importantes do perifíton, assim como do

plâncton de ecossistemas aquáticos continentais. Um estudo realizado na lagoa Cabiúnas mostrou

que a produtividade do bacterioplâncton pode superar a produtividade primária do fitoplâncton

(Faria & Esteves, 2000). Isto seria devido à limitação por luz ocasionada pelas altas concentrações

de carbono orgânico dissolvido, que apesar de refratário (altas concentrações de substâncias

húmicas), ainda pode servir como substrato para o bacterioplâncton e estimular a sua produção

(Faria & Esteves, 2000; Farjalla et al., 2004). É de se esperar, portanto, que na lagoa Cabiúnas a

produtividade bacteriana também possa vir a superar a produtividade algal no perifíton. Em alguns

estudos, por exemplo, foi observada uma produção bacteriana maior no perifiton do que no

bacterioplâncton (Geesey et al., 1978; Theil-Nielsen & Søndergaard, 1999; Haglund et al., 2002),

destacando-se a importância da comunidade bacteriana perifítica para a produtividade dos

ecossistemas aquáticos continentais (Fisher & Pusch, 2001). Além disso, as bactérias tem baixas

razões C:P devido às altas concentrações de fósforo intracelular, podendo ser melhores

competidoras do que as algas por este nutriente (Sterner & Elser, 2002) tanto por assimilarem o

fosfato mais rapidamente quanto por terem taxas de crescimento mais rápidas do que as algas

(Rhee, 1972). Dessa forma, mesmo se adicionando nutrientes, ocorreria um estímulo maior para as

bactérias, as quais, já sendo mais abundantes do que as algas em condições naturais (na lagoa

Cabiúnas), poderiam proliferar e contribuir de forma mais marcante para a produtividade no

perifíton. No estudo de Bernhardt & Likens (2004), por exemplo, as menores concentrações de

clorofila a perifítica foram encontradas no tratamento com adição de nitrogênio, e foi concluído que

houve um maior estímulo para o crescimento bacteriano por causa do acesso às altas concentrações

de carbono orgânico dissolvido existentes e devido ao aporte de nitrogênio. Isto, segundo aqueles

autores, favoreceu as bactérias e culminou nas respostas inexpressivas da comunidade algal à adição

de nitrogênio. As águas da lagoa Cabiúnas também têm altas concentrações de carbono orgânico

dissolvido (Farjalla et al., 2004) e pode ter ocorrido um padrão análogo ao do estudo de Bernhardt

& Likens (2004) no nosso experimento, com a diferença que o fósforo teria estimulado o

crescimento bacteriano e não o nitrogênio. De fato, um predomínio do metabolismo bacteriano no

perifíton da lagoa Cabiúnas já fo demonstrado por Guariento et al. (2008), que verificaram que as

altas concentrações de carbono orgânico dissolvido mais o aporte extra de carbono orgânico de

origem alóctone estimularam o crescimento bacteriano no perifíton. Segundo estes mesmos autores,

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as algas ficariam restritas a um segundo plano no perifíton da lagoa Cabiúnas em função da baixa

disponibilidade de nutrientes e limitação por luz. Portanto, estas informações ajudam a corroborar

nossas observações de que o perifíton da Cabiúnas é naturalmente mais heterotrófico e que as

bactérias, mais do que as algas, teriam sido estimuladas pelos nutrientes adicionados no

experimento.

4.3. Carbono, nitrogênio, fósforo total e razões estequiométricas do perifíton

Ostrácodas

Apesar de não significativo, os menores valores de carbono total nos tratamentos com a

adição de nutrientes (figura 8a) podem estar indicando um aumento na proporção de componentes

vivos no perifíton, uma vez que, esses assimilam os nutrientes na biomassa, enquanto uma adsorção

pela matriz perifítica, como a que ocorre com o fósforo através do CaCO3 (Scinto & Reddy, 2003),

ou uma retenção de nitrogênio em partículas orgânicas mortas do perifíton (Hamilton et al., 2001),

não incorporam os nutrientes da água de maneira marcante. Nossos resultados, portanto, podem

estar demonstrando que os nutrientes adicionados ao perifíton foram incorporados pela biota ali

existente. Entretanto, apesar das observações ao microscópio ótico, não quantificamos os

organismos heterotróficos e apenas verificamos a presença de alguns oligoquetas, e de uns poucos

copépodos e rotíferos, membros da meiofauna perifítica (Wetzel, 2001). Quanto às bactérias,

nenhuma observação mais detalhada ao microscópio foi feita. Entretanto, conforme discutido

anteriormente, o perifíton do nosso estudo apresentou fortes indícios de que era mais heterotrófico

(altas razões C: clor a), e tendo em vista que as bactérias apresentam uma grande capacidade de

absorção de nutrientes, em especial de fósforo (Rhee, 1972; Sterner & Elser, 2002), é bem possível

que estes componentes do perifíton possam ter alcançado uma grande representatividade na

comunidade perifítica. Com relação às algas, algumas considerações podem ser apresentadas.

Quando associamos os resultados das concentrações de carbono total com os resultados das razões

C:Clor a (figura 7b), é possível notar que a diminuição dos primeiros acompanhou o decréscimo das

últimas, ou seja, as menores concentrações de carbono foram observadas nos mesmos tratamentos

onde se encontraram as menores razões C:Clor a. Isto estaria indicando um aumento na proporção

de algas em relação aos demais componentes do perifíton, mas como mencionado não podemos ter

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a certeza que a quantidade de algas estaria aumentando em relação aos detritos, ou aos organismos

heterotróficos como as bactérias, por exemplo. Somente ao se avaliar o efeito dos nutrientes nos

componentes heterotróficos e autrotróficos do perifíton é que se poderia descobrir quais as

respectivas respostas ao aporte destes nutrientes. Em um estudo realizado por Hillebrand et al.

(2002), os efeitos da herbivoria e adição de nutrientes foram avaliados nos diversos membros da

comunidade perifítica, incluindo as algas, bactérias e componentes da meiofauna como ciliados,

rotíferos, nematódeos e pequenos quironomídeos. Concluíram que os nutrientes tiveram um efeito

fraco sobre os componentes da meiofauna, enquanto, dependendo das condições tróficas do habitat

natural, a oferta de nutrientes estimulou ou não o crescimento bacteriano e teve um forte efeito

positivo sobre a biomassa algal. Os efeitos mais fortes dos nutrientes foram encontrados na

comunidade algal, o que nos permite supor que no nosso estudo esta também possa ter respondido

de maneira mais intensa, levando às menores concentrações de carbono total e razões C:Clor a nos

tratamentos com adição de nutrientes, o que se justificaria pelo aumento na proporção de algas em

relação aos detritos e componentes heterotróficos do perifíton.

Nossos resultados demonstraram que as concentrações de nitrogênio total do perifíton foram

maiores nos tratamento +N e +P em relação ao controle e tratamento +N+P (figura 8b), mas as

diferenças não foram significativas (tabela 4). A ausência de uma reposta significativa do perifíon à

adição de nitrogênio também já foi encontrada em outros estudos com uma abordagem

experimental similar (Havens et al., 1999a,b), o que seria indicativo da inexistência de uma

limitação por nitrogênio. Outros estudos já mostraram uma limitação por nitrogênio no perifíton de

lagos oligotróficos (Wetzel, 2001; Rodusky et al., 2001; Maberly et a.l, 2002; Sterner & Elser,

2002). Naqueles estudos, esta limitação ficou nítida quando verificado um aumento das

concentrações do nitrogênio total do perifíton no tratamento onde este nutriente foi adicionado.

Entretanto este padrão não ocorreu no nosso experimento, e nossos dados corroboram a ausência de

uma limitação por nitrogênio no perifíton.

O perifíton demonstrou ter assimilado uma grande quantidade de fósforo no tratamento +P,

onde as concentrações de fósforo total chegaram a 0,21 µMol/mg (figura 8c), sendo

significativamente maior do que nos demais tratamentos (tabela 4). Esta reposta marcante do

perifíton à adição de fósforo evidencia uma limitação severa por este elemento. Em lagoas

oligotróficas como Cabiúnas é comum uma limitação marcante por fósforo (Esteves, 1998; Wetzel,

2001), e as altas razões N-total : P-total da água observadas por Enrich-Prast et al. (2004) (TN:TP =

154), Guariento et al. (2007) (TN:TP = 84) e por este estudo no momento da retirada do substrato

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artificial (TN:TP = 79) corroboram a existência de uma baixa concentração de fósforo neste

ambiente. Além disso, considerando uma razão N:P ótima da água de 16 para o desenvolvimento do

perifíton (Hillebrand & Sommer, 1999), pode-se perceber o quão limitado é o crescimento do

perifíton da Cabiúnas em condições naturais. Essa escassez de fósforo que justifica a eficiente

assimilação deste nutriente pelo perifíton no tratamento +P, o que resultou na recorrente não

detecção dos valores de fosfato da água (dados não mostrados) deste tratamento ao longo das

medições realizadas durante o experimento. Segundo Kahlert & Pettersson (2002), as algas

perifíticas de ambientes oligotróficos têm como resposta adaptativa uma alta capacidade de

absorção do fósforo da água e de acordo com Scinto & Reddy (2003), o perifíton tem altas taxas

assimilação do fósforo da água, que aumentam quando as concentrações deste elemento na água se

elevam. Tais resultados ajudam a entender porque o fósforo “some da água” quando está em altas

concentrações e defronte um perifíton limitado por esse elemento. Além dessa questão, é seguro

afirmar que esse fósforo foi assimilado pelo perifíton pois, ao contrário de alguns estudos que

utilizaram mesocosmos (Havens et al., 1999a,b; Carneiro, 2008; Guariento, 2008), no nosso

experimento não havia o risco de perda de fósforo para o sedimento.

A razão C:N não sofreu efeito da adição de nitrogênio (tabela 4), ou seja, não diminuiu com

a adição de nitrogênio no nosso experimento. Isto mostra que a proporção de nitrogênio em relaçao

ao carbono não aumentou no perifíton após o aporte deste nutriente. Este resultado torna a

confirmar a ausência de limitação por nitrogênio no perifíton. Em outros estudos houve uma

diminuição nas razões C:N do perifíton com a adição de nitrogênio no meio (experimentos) ou com

um maior aporte natural deste elemento no meio (McCormick et al., 1998; Hillebrand & Sommer,

2000; Hillebrand & Kahlert, 2001; Kahlert et al., 2002; Liess & Hillebrand, 2006). Segundo os

autores que realizaram estes estudos isto indicaria limitação por nitrogênio no perifíton. Esta

constatação também já foi feita por Guariento (2008), trabalhando com o perifíton da lagoa

Cabiúnas em experimentos em mesocosmos. Ele observou que a adição de nutrientes reduziu a C:N.

Entretanto, esta redução não foi tão marcante quanto para as razões C:P e N:P. Isto corrobora o

papel central que o fósforo desempenha para o perifíton da Cabiúnas, e evidencia um efeito mais

brando do nitrogênio.

A razão C:N ótima para o desenvolvimento do perifíton varia de 5 a 10 (Hillebrand &

Sommer, 1999), muito abaixo do menor valor médio para a razão C:N observada no nosso estudo

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(C:N = 58 no tratamento +P; ver tabela 22). Já Kahlert (2001), considera um perifíton limitado por

nitrogênio quando atinge razões C:N maiores do que 11. Portanto, segundo estes dois trabalhos,

podemos concluir que mesmo ao se adicionar nitrogênio, as razões C:N não diminuiram a ponto do

perifíton não ficar limitado por este nutriente. Guariento (2008), também observou razões C:N

elevadas (~ 100) mesmo depois da adição de nitrogênio após 3 semanas de experimento. No

trabalho deste autor, a razão C:N só diminuiu a ponto de chegar próximo aos valores ótimos após 7

semanas de experimento. O fator tempo, portanto, pode ser relevante para a assimilação do

nitrogênio, uma vez que, existe um período para os mecanismos de assimilação dos nutrientes, e

posterior reposta ao nível celular para o crescimento entrar em em ação (Hillebrand, 2002).

Todavia, não podemos discutir esta questão devido a natureza distinta dos experimentos de

Guariento (mesocosmos) e do nosso (microcosmo). O que explica, portanto, a resposta tímida ao

nitrogênio é a possibilidade da limitação por fósforo ser muito mais marcante, e o perifíton ter

assimilado mais deste elemento do que o nitrogênio.

Para a razão C:P, o cenário é distinto. As razões C:P extremamente elevadas no controle

(~ 3000) e tratamento +N (~ 2700), onde não foi adicionado fósforo, diminuíram significativamente

nos tratamentos +P (~ 175) e +N+P (~ 300) (Tabelas 4 e 23; figura 9b). Não é comum se encontrar

razões C:P altas como as dos tratamentos controle e +N para o perifíton mesmo em lagos e rios

oligotróficos. Kahlert et al. (2002), investigando as variações estequiométricas sazonais e espaciais

no perifíton de diversos lagos (oligotróficos e eutróficos), chegaram a uma faixa de variação para a

razão C:P entre 90 e 440, com um valor médio de 225. Num estudo de Hillebrand & Kahlert (2001),

as razões C:P variaram entre 100 e 500 e essa variação foi atribuída a adição de nutrientes e efeitos

indiretos dos consumidores. Outros estudos (Frost & Elser, 2002a; Hillebrand & Kahlert, 2002;

Stelzer & Lamberti, 2002; Liess & Hillebrand, 2006) também encontraram uma variação similar

para a C:P e, apenas no trabalho de Scinto & Reddy (2003) (C:P média igual a 2720), de Bowman

et al. (2001) (C:P entre ~ 1000 a 10000), e de Guariento (C:P entre ~ 600 – 2000) é que foram

observadas razões C:P muito elevadas em locais com baixas concentrações de fósforo. Aquelas

altas razões C:P observadas nestes estudos foram associadas à uma extrema limitação por fósforo

encontrada. As altas C:P encontradas no presente estudo, para os tratamentos sem enriquecimento

com fósforo, também são compatíveis com uma forte limitação por este nutriente no perifíton da

lagoa Cabiúnas. Esta limitação também ficou clara porque o perifíton assimilou grandes

quantidades de fósforo e diminuiu drasticamente suas razões C:P nos tratamentos +P e +N+P.

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Segundo Hillebrand & Sommer (1999), uma limitação por fósforo passa a afetar o crescimento e

desenvolvimento do perifíton quando este alcança razões C:P superiores a 185. Com base nestes

autores, nos tratamentos controle e +N a limitação por fósforo era muito alta, no tratamento +P o

perifíton não estava limitado por fósforo, tendo incorporado o nutriente adicionado, e estava

passando por limitações no tratamento +N+P, embora mais sutis do que no controle e tratamento

+N. Kahlert (2001), é menos rigorosa e afirma que o perifíton só está limitado por fósforo quando

atinge razões C:P maiores que 369. Neste caso, o perifíton do nosso experimento só estaria limitado

por fósforo nos tratamentos controle e +N, o que indica que a adição de fósforo foi bem sucedida

em encerrar a limitação por este nutriente existente nas condições naturais.

As razões N:P do perifíton seguiram um padrão semelhante à C:P, sendo menor nos

tratamentos +P e +N+P (figura 9c; tabela 22). A adição de fósforo diminuiu significativamente a

N:P e a adição de nitrogênio, apesar de ter aumentado a N:P em relação aos outros tratamentos,

exerceu efeito marginalmente significativo (tabela 4). Quando adicionado os dois nutrientes, a N:P

também diminuiu, porém não foi detectado efeito significativo da interação +N+P (tabela 4)

provavelmente porque o só fósforo era o elemento limitante. Os valores médios das razões N:P nos

tratamentos controle (19,14) e +N (30) (tabela 22) estão indicando, respectivamente, ausência de

limitação por fósforo e uma ligeira limitação por fósforo. Isto porque o perifíton apresenta um

balanço entre nitrogênio e fósforo quando tem uma N:P entre 13 e 22, sendo valores abaixo de 13

compatíveis com uma limitação por nitrogênio, e valores acima de 22 representativos de uma

limitação por fósforo (Hillebrand & Sommer, 1999). Segundo Kahlert (2001), a limitação por

fósforo só aparece quando a razão N:P passa de 32. Neste caso, haveria um excesso de fósforo nos

tratamentos +P (N:P ~ 3,25) e +N+P (N:P ~ 4,3) e uma eutrofização da magnitude da realizada por

nós (ver métodos) resolveria o problema da limitação por fósforo mas poderia causar uma limitação

por nitrogênio. Ou, conforme já discutido antes, o perifíton da lagoa Cabiúnas, pobre em fósforo,

teria a capacidade de assimilar rapidamente o fósforo da água quando em altas concentrações.

Levando-se em conta as algas, estas poderiam estar apenas realizando um consumo luxurioso para

estocagem, estocando grandes quantidades de fósforo nos vacúolos celulares (Sterner & Elser,

2002) e reduzindo a sua N:P. Esta redução seria apenas por aumentarem demais a proporção de

fósforo na biomassa mas não por se tornarem limitadas por nitrogênio, uma vez que, nossos

resultados estão mostrando que o elemento-chave para o perifíton na Cabiúnas é o fósforo. Agora,

voltando as nossas atenções para as bactérias, tão importantes quanto as algas para o perifíton

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(Wetzel, 2001), verificamos que apesar de não poderem acumular fósforo em vacúolos ou outro

compartimento de reserva (Sterner & Elser, 2002), elas são reconhecidamente ricas em fósforo e

têm uma alta capacidade de assimilação deste nutriente do meio (Rhee, 1972; Sterner & Elser,

2002). Portanto, tanto a comunidade algal quanto a comunidade bacteriana do perifíton poderia

incorporar mais fósforo do que nitrogênio, contribuindo para a redução da razão N:P. Outros

estudos também verificaram que a razão N:P do perifíton pode declinar bastante quando este está

limitado por fósforo e recebe um aporte deste elemento. Segundo McCormick et al. (2001), a razão

N:P do perifíton diminuiu de 20 para 6 após receber uma grande oferta de fósforo. No trabalho de

Liess & Hillebrand (2006), a razão N:P caiu de ~ 13 para ~ 5,5 após a adição de fósforo.

As regressões lineares entre os nutrientes da água e as razões C:P e N:P (figura 10) também

confirmaram a existência da limitação por fósforo no perifíton. O aumento das concentrações de

PO43-

diminuíram significativamente as razões C:P e N:P (tabela 5) corroborando o que já

discutimos, ou seja, quando as concentrações de fósforo se elevam a assimilação deste nutriente

pelo perifíton se torna maior, aumentando a proporção do fósforo na biomassa perifítica. O aumento

das concentrações de NH4+ aumentou a N:P, evidenciando que o perifíton da lagoa Cabiúnas

também assimilou o nitrogênio. Entretanto, as razões C:N não diminuíram com o aumento das

concentrações de NH4+ (tabela 5, figura 10c). Talvez as altas concentrações de carbono total do

perifíton, devido a grande quantidade de material heterotrófico mais detritos, tenham dificultado a

diminuição da proporção de carbono em relação ao nitrogênio no perifíton. Estes resultados indicam

que a limitação por fósforo no perifíton é severa e que a possibilidade de uma co-limitação por

nitrogênio e fósforo seria muito remota. De fato, a ANOVA não detectou efeitos interativos no N e

P nas razões estequiométricas do perifíton (tabela 4). Uma co-limitação por N e P já foi encontrada

no trabalho de Maberly et al. (2002), porém a maior parte dos estudos relata limitação por fósforo,

que se torna nítida quando as razões C:P e N:P diminuem com a adição de fósforo para o perifíton

(Havens et al., 1999a; Havens et al., 1999b; Kahlert et al., 2002).

As comparações realizadas entre as razões estequiométricas C:N:P iniciais e finais do

tratamento controle não revelaram diferenças significativas (tabela 6). Entretanto, o aumento

marginalmente significativo da razão N:P no controle (tabela 6) pode estar indicando alguma

influência do consumidor na estequiometria do perifíton. Isto indicaria alguma liberação de

nitrogênio para a água e posterior assimilação deste pelo perifíton. Além disso, o aumento das

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razões N:P estaria mostrando que ao longo do período do experimento o perifíton foi se tornando

limitado por fósforo no tratamento controle. Então, neste tratamento, tivemos um aumento na

liberação de nitrogênio e retenção de fósforo mediado provavelmente pelos ostrácodas. Tendo em

vista que neste tratamento não foi adicionado qualquer tipo de nutriente, qualquer alteração

marcante na estequiometria do perifíton poderia se dar através das excretas dos ostrácodas. Nossos

resultados estariam indicando que as suas excretas têm uma maior N:P, ou seja, que liberam mais

nitrogênio e retêm fósforo. Esta estratégia estaria de acordo com o ambiente em que vivem, pobre

em fósforo, e a retenção de fósforo seria uma maneira de garantir o fornecimento deste elemento

para sustentar o seu desenvolvimento e reprodução (Sterner & Elser, 2002). Uma vez que, o

perifíton da lagoa Cabiúnas é muito limitado por fósforo, os ostrácodas, para suprirem sua demanda

por fósforo teriam que assimilar com muita eficiência as pequenas concentrações deste elemento no

seu alimento. Esta estratégia levaria os ostrácodas a excretarem numa maior N:P para não se

tornarem limitados por fósforo, aumentando as concentrações de nitrogênio da água, e tornando o

perifíton limitado por fósforo. Esta estratégia já foi demonstrada para microcrustáceos do gênero

Daphnia. Estes crustáceos são ricos em fósforo e dependem dele para um ótimo desenvolvimento e

reprodução, e por isso quando se alimentam do fitoplâncton pobre em fósforo aumentam a

assimilação deste nutriente, liberando menos fósforo e mais nitrogênio nas suas excretas, tornando o

fitoplâncton mais limitado por fósforo (Elser & Hasset, 1994; Urabe et al., 1995; Elser et al., 1996;

Hasset et al., 1997; Frost et al., 2008; He Xiong-Wang, 2007). Moluscos gastrópodas também

podem adotar esta estratégia de retençaõ do fósforo quando este elemento limita seu crescimento.

Segundo Liess & Hillebrand (2006), as razões C:P e N:P aumentaram nos tratamentos aonde não

havia adição de nutrientes mas havia a presença dos gastrópodas. Concluíram que a excreção

diferencial dos gastrópodas, retendo o fósforo e liberando mais nitrogênio, foi a responsável por tal

alteração na estequiometria do perifíton. Por fim, esta estratégia dos consumidores levaria a um

ciclo vicioso de limitações por fósforo no fitoplâncton ou perifíton, que só é aliviado com um aporte

extra deste elemento através de algum enriquecimento com nutrientes na água (Sterner & Elser,

2002). Dentro deste contexto, também cabe ressaltar que nos demais tratamentos além do controle

não foram realizadas as comparações da estequiometria C:N:P do perifíton porque eles receberam

nutrientes, e quando as concentrações de nutrientes do ambiente são altas a reciclagem de nutrientes

dirigida pelo consumidor perde importância (Kahlert, 2001; Evans-White & Lamberti, 2006).

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Podemos concluir que o perifíton da lagoa Cabiúnas é bastante limitado por fósforo e caso

as concentrações deste nutriente no meio se elevem muito haverá uma rápida captação deste

nutriente. Isto levará a alterações na estequiometria do perifíton, diminuindo suas razões C:P e N:P

(hipótese 1 parcialmente aceita). Nossos dados também indicam que uma eutrofização

antropogênica, por exemplo, permitindo a maior entrada de fósforo no ecossistema, pode vir a

elevar as concentrações de fósforo e alterar estequiometria do perifíton com prováveis repercussões

para toda a teia trófica (Cross et al., 2005). Estes resultados também corroboram o papel de bomba

de fósforo da comunidade perifítica que atua praticamente como uma esponja absorvente, retirando

o excesso de fósforo proveniente da coluna d’água, evitando que esta sobrecarga de fósforo

permaneça na água, atinja as macrófitas ou o sedimento (McCormick et al., 1998; McCormick et

al., 2001), o que poderia piorar as condições sanitárias do ecossistema. A limitação por fósforo no

perifíton também pode ser acentuada pela ação dos ostrácodas, que parecem reter o elemento

limitante e excretar mais nitrogênio. Toda essa informação torna- se relevante para o manejo desta

lagoa costeira.

Biomphalaria tenagophila

Os resultados deste estudo demonstraram que as concentrações de carbono total do perifíton

não sofreram efeitos significativos dos nutrientes (tabela 12) e foram muito similares entre os

tratamentos (figura 17). Além disso, observando-se os valores de clorofila a deste segundo

experimento (~ 0,0002 µg/cm2) verificou-se que eles não foram muito distintos dos do primeiro

experimento (~ 0,0003 µg/cm2), porém os valores da razão C:Clor a do experimento 1 (~ 60.000)

foram bem menores do que no experimento 2 (~ 200.000). Tal informação mostra que a quantidade

de carbono no perifíton do experimento 2 era muito maior e, portanto, a quantidade de

heterotróficos, incluindo de detritos, muito mais elevada. Tal fato pode ter dificultado uma maior

assimilação de nutrientes pelo perifíton, o que também ajudaria a manter as altas concentrações de

carbono total observadas. Stelzer & Lamberti (2002) também não observaram efeitos dos nutrientes

sobre o carbono do perifíton (medido em percentual), atribuindo isso à grande quantidade de

detritos que poderia existir no perifíton. Frost & Elser (2002a) adicionaram fósforo num gradiente

crescente e também não verificaram qualquer alteração nas concentrações de carbono total. Frost &

Elser (2002a) atribuíram estes resultados à uma possível maior fixação de carbono pelas algas

limitadas por fósforo e posterior liberação de maiores quantidades de carbono inorgânico dissolvido

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(exsudatos) para manter a homeostase elementar, somado a uma maior atividade decompositora

bacteriana nos tratamentos enriquecidos com mais fósforo, que elevaria a liberação de carbono.

Desta forma, haveriam concentrações similares de carbono em todos os níveis de fósforo, devido às

atividades das algas (ambiente limitado por fósforo) e bactérias (ambiente rico em fósforo).

Entretanto, os autores não avaliaram estas hipóteses com rigor e não concluíram que era esta a

principal explicação para a inalteração nas concentrações de carbono. Desta forma, parece não

haver na literatura outra explicação plausível e testada para explicar porque os níveis de carbono

não se alteram com a adição de nutrientes além da questão do excesso de detritos como barreira a

entrada de nutrientes no perifíton. Como será discutido adiante, houve respostas do perifíton ao

fósforo e diminuição das suas razões C:P nos tratamentos +P e +N+P, o que indica que o fósforo foi

difundido e assimilado no perifíton. As concentrações de fósforo total do perifíton no segundo

experimento, no entanto, foram menores do que as observadas no primeiro experimento e a razão

C:P não diminuiu tanto em relação ao controle (ver adiante). Estas constatações indicam que os

detritos podem sim ter atuado como uma barreira que dificultou o acesso dos nutrientes ao interior

do perifíton neste segundo experimento.

A adição de nitrogênio também não elevou as concentrações de nitrogênio total do perifíton,

mantendo-se similares entre os tratamentos (figura 17b). Tal resultado demonstrou que o perifíton

não estava limitado por nitrogênio cnforme já visto para o experimento 1. Não é novidade a

ausência de resposta do perifíton à adição de nitrogênio e outros estudos concluíram que a causa

disto seria a ausência de limitação por nitrogênio (Havens et al., 1999a,b; Stelzer & Lamberti,

2002). Já uma ausência de resposta à adição de nitrogênio devido a sua perda por desnitrificação ou

transformação do íon amônio (NH4+) em amônia (NH3) que é volátil já foi discutida em alguns

estudos (Havens et al., 1999a,b). Porém, para ocorrer a desnitrificação são necessárias condições

anaeróbicas - o que não houve no nosso experimento - e para a perda de NH4+ em NH3 o pH deve

estar alto (> 9,5) e as temperaturas passarem de 26ºC (Esteves, 1998). Tais condições não

ocorreram no nosso experimento porque ele foi realizado em microcosmos com o pH, a temperatura

e níveis de oxigênio controlados, praticamente não variando e se mantendo nos níveis originais da

água da lagoa Cabiúnas. Já os experimentos realizados nos estudos de Havens et al. (1999a,b)

foram em mesocosmos, mais sujeitos às variações naturais que podem gerar as condições para os

processos relacionados às perdas do nitrogênio ocorrerem. Além disso, os altos níveis de NH4+

(média para os valores dos tratamentos +N e +N+P = 81 µMol/L) e de nitrogênio total (média para

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os valores dos tratamentos +N e +N+P = 400 µMol/L) observados ao término do nosso

experimento mostraram que o nutriente estava na água e realmente não foi assimilado pelo perifíton

(o nível médio de NH4+ da lagoa Cabiúnas é de 15 µMol/L e de nitrogêio total é de 60 µMol/L – ver

área de estudo).

As concentrações de fósforo total foram maiores nos tratamentos +P (0,049 µMol/mg) e

+N+P (0,14 µMol/mg), sendo significativamente maior no tratamento +N+P em relação ao controle

(0,024 µMol/mg) e tratamento +N (0,034 µMol/mg) (figura 17, tabela 12). Houve, portanto, uma

resposta positiva do perifíton à adição de fósforo, o que indica uma limitação por este elemento no

perifíton da lagoa Cabiúnas como já apontado no primeiro experimento. Entretanto, no experimento

1 as concentrações finais de fósforo do perifíton foram maiores e, aparentemente, o perifíton

assimilou mais deste nutriente. Isto pode estar ligado às maiores quantidades de detritos o que

aumenta a dificuldade de difusão de nutrientes através da camada limítrofe (Riber & Wetzel, 1987;

Wetzel, 2001). Entretanto, os níveis de fosfato da água, assim como no experimento 1,

permaneceram abaixo dos limites de detecção ao longo das medições realizadas durante o

experimento o que indicou uma pronta absorção de fósforo pelo perifíton. Talvez o perifíton já

tenha vindo do campo com maior quantidade de detritos e, portanto, mais carbono o que permitiu a

manutenção de razões C:P elevadas mesmo incorporando o fósforo adicionado. De qulquer forma, o

padrão deste segundo experimento é similar ao encontrado no primeiro, corroborando a limitação

por fósforo existente no perifíton e a alta capacidade perifítica de absorção deste nutriente.

Os resultados da MANOVA detectaram efeito significativo do fósforo na estequiometria do

perifíton (tabela 13), porém a ANOVA realizada posteriormente mostrou que não houve efeitos

significativos nem do fósforo, nem do nitrogênio e nem da interação entre eles nas razões C:N do

perifíton (tabela 12). Assim como no experimento 1, o perifíton não alterou a sua razão C:N em

função de uma adição diferenciada de nutrientes e, ao não mostrar reposta ao nitrogênio, torna-se

evidente que não havia limitação marcante por este elemento. Como visto para as concentrações de

nitrogênio total do perifíton, que não se alteraram nos tratamentos +N e +N+P (figura 17), também

já era de se esperar que não haveria alterações nas razões C:N. Os níveis de nutrientes da água

também deixaram claro esta ausência de resposta do perifíton ao nitrogênio: (1) os níveis finais de

NH4+ e N-total permaneceram elevados nos tratamentos +N e +N+P (conforme mencionado

anteriromente); (2) a regressão linear entre as concentrações de nitrogênio total e as razões C:N não

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mostraram qualquer correlação (tabela 14). Mesmo não havendo esta limitação aparente por

nitrogênio no perifíton, os altos valores das razões C:N para todos os tratamentos (média de 192)

estão indicando forte limitação por nitrogênio segundo os valores limiares ótimos de 10 e 11

propostos por Hillebrand & Sommer (1999) e Kahlert (2001), respectivamente. Pode ser que a

limitação por fósforo, muito mais marcante, realmente norteie a fisiologia do perifíton da lagoa

Cabiúnas e os organismos que compõem esta comunidade estejam adaptativamente mais eficientes

na assimilação do fósforo do que do nitrogênio, como já discutido para o experimento 1.

Os resultados da MANOVA mostraram mais uma vez o papel essencial que o fósforo exerce

como nutriente para o perifíton (tabela 13). A adição deste nutriente exerceu um forte efeito

significativo nas razões estequiométricas C:P e N:P do perifíton (ANOVA, tabela 12), diminuindo-

as nos tratamentos +P e +N+P em relação ao controle e tratamento +N (figura 18, tabela 22).

Entretanto, se compararmos os valores das razões C:P entre os dois experimentos, fica claro que no

experimento 2 as razões C:P nos tratamentos com adição de fósforo diminuíram pouco em relação

aos mesmos tratamentos no experimento 1 (tabela 22). Mesmo nos tratamentos +P e +N+P as

razões C:P ficaram elevadas, atingindo os valores de 1452 e 1422, respectivamente (tabela 22), e o

perifíton permaneceu extremamente limitado por fósforo. Tomando como base novamente

Hillebrand e Sommer (1999) e Kahlert (2001) que propõem limitações severas com razões C:P

acima de 185 e 369, respectivamente, nota-se a magnitude da limitação por fósforo do perifíton.

Todavia, ao se observar a razão N:P, verifica-se que os valores finais não foram tão diferentes entre

os dois experimentos (tabela 22). Apesar de menores nos tratamentos +P e +N+P do experimento 1,

no segundo experimento também foi vista uma diminuição notável da razão N:P em relação ao

controle e tratamento +N. A razão N:P chegou a 10,4 e 7,7 nos tratamentos +P e +N+P (tabela 22),

respectivamente, valores que de acordo com Hillebrand & Sommer (1999) e Kahlert (2001) estão

compatíveis com um excesso de fósforo no perifíton (N:P ótima entre 13 e 32, unindo os valores

propostos pelos dois artigos). De acordo com estes autores, estes valores do segundo experimento

ainda indicariam até uma limitação por nitrogênio (abaixo de N:P = 13). Mas esta possibilidade é

remota por duas razões já discutidas: (1) a ausência de resposta do perifíton à adição de nitrogênio e

(2) a alta capacidade de absorção de fósforo pelo perifíton, que pode aumentar quando este

elemento é limitante. Portanto, analisando todos estes resultados, fica claro que a limitação por

fósforo indicada pelas razões C:P não são corroboradas pelas razões N:P. A maior razão C:Clor a

neste segundo experimento (figura 14) ajuda a explicar isto. Os valores maiores da razão C:Clor a

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deste experimento 2 mostram uma contribuição importante de material heterotrófico e detritos para

o perifíton, evidenciando também uma quantidade de carbono mais alta do que no perifíton do

experimento 1. Sendo maior a concentração de carbono, mesmo uma adição proeminente de fósforo

não seria suficiente para aumentar a proporção entre este elemento e o carbono e reduzir de maneira

importante a C:P. Esta parece a explicação mais plausível, uma vez que, citar a camada limítrofe

como barreira para a difusão de fósforo e como a responsável pelas altas razões C:P não se sustenta.

Em primeiro lugar, porque as razões N:P diminuíram de forma similar ao primeiro experimento, ou

seja, o fósforo foi assimilado pelo perifíton. Segundo, porque de acordo com Riber & Wetzel

(1987), um período de 20 a 40 dias não é suficiente para se formar uma camada limítrofe

suficientemente espessa no perifiton a ponto de formar uma barreira para a entrada de nutrientes.

Como o perifíton ficou no campo durante 30 dias, e em seguida já foi para o laboratório, recebendo

os nutrientes, não haveria tempo para esta camada limítrofe aumentar e dificultar a absorção de

nutrientes.

As regressões linerares entre as concentrações de fósforo total (P-total) e as razões

estequiométricas C:P corroboraram a limitação por fósforo encontrada no perifíton. O aumento das

concentrações de P-total da água levaram a um decréscimo das razões C:P (figura 17, tabela 14).

Todavia, isto não foi observado para a razão N:P do perifíton, que aumentou com o acréscimo de P-

Total na água. Até agora discutimos a aparente ausência de limitação por nitrogênio, mas os

resultados desta regressão parecem indicar que no balanço entre os dois elementos no perifíton

existiria uma dependência da incorporação de nitrogênio em relação à assimilação de fósforo.

Então, a maior incorporação de fósforo no perifíton estimularia a assimilação do nitrogênio. Isto

não teria ficado nítido porque ao se adiconar fósforo nos tratamentos +P e +N+P a razão N:P

diminuiu bastante em relação ao controle - em função da rápida capacidade de absorção de fósforo

em relação ao nitrogênio - tornando obscuro qualquer aumento na N:P por mais sutil que ele fosse.

Mas o que explicaria isto? Qual processo fisiológico estaria relacionado a esta possível

interdependência entre o nitrogênio e fósforo? A hipótese da taxa do crescimento (Elser et al.,

2000b; Sterner & Elser, 2002) poderia explicar este resultado. Ao receber um aporte de fósforo, os

organismos do perifíton elevariam a sua síntese de RNAr (rico em fósforo) responsável pela síntese

protéica. Isto levaria a um estímulo à síntese protéica, aumentando a demanda por nitrogênio. Por

mais que a limitação e assimilação de fósforo fossem muito mais fortes, a assimilação de nitrogênio

para a síntese protéica passaria a ser importante quando o maquinário celular de síntese de proteínas

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entrasse em ação, visto que, ele é o responsável pelo crescimento e desenvolvimento (Sterner &

Elser, 2002). Neste caso, um aumento nas concentrações de fósforo da água estimularia a absorção

do nitrogênio, mesmo este não sendo limitante, e elevaria a razão N:P. Esta suposição pode ser

corroborada ao se analisar as concentrações finais de nitrogênio total (N-total) da água de todos os

tratamentos do nosso experimento. Realmente, as concentrações de N-total foram mais baixas no

tratamento +P (59,25 µMol/L) em relação ao controle (93,7 µMol/L), e isto significa que ao receber

fósforo (+P) a assimilação de nitrogênio pelo perifíton aumentou. No tratamento +N+P foi mais

difícil de perceber isto porque também havia enriquecimento com nitrogênio, logo mesmo

ocorrendo um estímulo à absorção de nitrogênio mediado pelo fósforo ainda seria possível que as

concentraçõesde nitrogênio da água se mantivessem altas. Ainda assim, pôde-se perceber um valor

menor da concentração de N-total no tratamento +N+P (85,24 µMol/L) em relação ao controle

(93,7 µMol/L).

Os resultados dos testes t realizados entre as razões estequiométricas C:N, C:P e N:P entre

os tratamentos Con e controle (tabela 15) para inferir sobre a excreção de Biomphalaria tenagophila

revelaram que os gastrópodas excretaram mais nitrogênio do que fósforo. Isto ficou claro porque os

valores finais das razões C:N de 116 e da N:P de 25,3 do tratamento controle foram

significativamente diferentes dos valores do tratamento Con (no qual não havia gastrópodas), onde

a C:N e N:P finais chegaram à 1428 e 3,3, respectivamente (tabela 15). Isto significa que com a

influência dos gastrópodas a C:N do perifíton diminuiu e a N:P aumentou de maneira marcante,

indicando que nitrogênio foi liberado para a água e disponibilizado para o perifíton. A razão C:P

final do perifíton foi ligeiramente maior no tratamento Con, mas o resultado não foi significativo e

podemos concluir que os gastrópodas não liberaram uma quantidade expressiva de fósforo para o

perifíton. Os níveis finais de NH4+ no tratamento controle não foram significativamente maiores do

que no tratamento Con ( p = 0,36) (figura 21), e não podemos afirmar que a liberação de nitrogênio

foi maior no controle durante todo o experimento. Entretanto, analisando-se os valores do íon

amônio para todas as réplicas do tratamento controle pode-se ver que são maiores do que no

tratamento Con, porém alguns valores pequenos (outliers) aumentaram a variabilidade no controle e

podem ter diminuído o poder do teste t em detectar as diferenças (Underwood, 2001). De qualquer

forma, as diferenças significativas encontradas entre as razões C:N e N:P entre os dois tratamentos,

indicaram que a liberação de nitrogênio foi maior e que B. tenagophila retém o fósforo na sua

biomassa. Este resultado é similar ao experimento 1, no qual foi verificado que os ostrácodas

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também estariam estocando fósforo e liberando nitrogênio para a água. Conforme discutido para o

experimento 1, esta estratégia de retenção do elemento limitante é uma resposta adaptativa dos

consumidores que vivem em ambientes oligotróficos pobres em fósforo (Sterner & Elser, 2002).

Liess & Hillebrand (2006) também trabalharam com gastrópodas e acharam o mesmo padrão dos

nossos resultados, mostrando que a presença dos gastrópodas aumentou as razões C:P e N:P do

perifíton e que os consumidores excretaram mais nitrogênio e retiveram o fósforo na biomassa.

Mulholland et al., (1991) também verificaram que o gastrópoda utilizado nos seus experimentos

excretaram numa maior razao N:P e que o perifiton capturou mais fósforo nos tratamentos sem a

presença do gastrópoda. Concluíram, portanto, que os consumidores também liberaram mais

nitrogênio e retiveram o fósforo aumentando a limitação do perifíton por fósforo. Outros grupos

taxonômicos como os insetos (Woods et al., 2002; Perkins et al., 2004) e os crustáceos

zooplanctônicos do gênero Daphnia já mencionados (Elser & Hasset, 1994; Urabe et al., 1995;

Elser et al., 1996; Hasset et al., 1997; Demott et al.1998; Frost et al., 2008; He Xiong-Wang, 2007)

também empregam esta estratégia de retenção do fósforo quando ele é limitante no alimento. Esta

estratégia aumenta a limitação por fósforo no produtor primário (Sterner & Elser, 2002) e é

compatível com uma limitação já existente no alimento por este elemento. Segundo Frost et al.

(2004), os crustáceos do gênero Daphnia aumentaram a razão C:P excretada devido às altas razões

C:P pré-existentes no seu alimento (fitoplâncton). Este padrão foi o mesmo encontrado no nosso

estudo e o B. tenagophila, ao se alimetar de um perifton pobre em fósforo (altas razões C:P e N:P

no controle – ver tabela 22), excretou uma maior N:P, diminuindo ainda mais a oferta de fósforo

para o perifíton.

Alguns estudos demonstraram que a estequiometria do perifiton pode se alterar sob a

influência do consumidor devido às modificações que estes causam na composição taxonômica

algal do perifíton (McCormick e Stevenson, 1989; Mulholland et al., 1991; Hillebrand & Kahlert

(2001). Ao alterar a comunidade algal, os consumidores poderiam alterar a estequiometria do

perifíton, uma vez que, as variações nas razões C:N:P podem ser espécie-específica para as algas

(Sterner & Elser, 2002). Entretanto, isto só ocorre quando os consumidores são seletivos, o que não

é o caso nem dos ostrácodas (Dole-Olivier et al., 2000; Delorme, 2001) e nem de B. tenagophila

(Santos & Freitas, 1986; Santos & Freitas, 1987). Além disso, ao observarmos o perifíton ao

microscópio pôde-se verificar que os grupos de algas predominantes – clorófitas, cianobactérias e

diatomáceas - não foram distintos entre os tratamentos Con e controle. Então, as alterações na

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estequiometria do perifíton mediadas pelos ostrácodas e B. tenagophila seriam mesmo via a

excreção diferenciada de nitrogênio e fósforo. Esta mesma questão da alteração da composição

taxonômica da comunidade algal ainda pode estar relacionada à mudanças no regime de nutrientes

(McCormick e Stevenson, 1989; Hillebrand & Sommer, 2000). Entretanto, a comunidade algal

também não foi diferente entre os tratamentos que receberam nutrientes em relação ao controle,

observando-se a mesma proporção entre os mesmos grupos de algas citados anteriormente. Daí se

concluí que as alterações na estequiometria do perifíton nos tratamentos enriquecidos com fósforo

foi mesmo devido à absorção do nutriente e não por uma alteração na estequiometria via mudanças

nas espécies de algas predominantes.

Podemos concluir a partir deste experimento e do primeiro que a limitação por fósforo é

comum no perifíton da Lagoa Cabiúnas, uma vez que, este acompanhou o regime de nutrientes do

meio diminuindo as suas razões C:P e N:P após a adição de fósforo (tratamentos +P e +N+P).

Outros estudos (McCormick et al., 1998; Kahlert et al., 2002; Hillebrand & Kahlert, 2001) já

mostraram que as razões C:P e N:P do perifíton podem diminuir com o aumento das concentrações

de fósforo do meio e que, portanto, o perifíton refletiria as condições tróficas do ecossistema - nós

estamos estendendo este padrão para uma lagoa tropical oligotrófica. Como a razão C:N não

respondeu à adição de nitrogênio nos dois experimentos não é de se esperar uma limitação por este

elemento no perifíton desta lagoa. Isto pode ser devido a algum aporte extra de nitrogênio de

origem alóctone, via uma entrada pela bacia de drenagem adjacente ou via as excretas dos

consumidores como demonstrado neste estudo (outros consumidores do perifíton como peixes e

insetos também poderiam empregar a mesma estratégia de retenção do fósforo e excretar uma maior

N:P). Também verificamos que a limitação por fósforo no perifíton pode ser ainda mais acentuada

pela atividade excretora dos ostrácodas e Biomphalaria tenagophila que excretam mais nitrogênio e

conservam o fósforo na biomassa.

4.4. Estequiometria do perifíton e dos consumidores

Ostrácodas

Na literatura não existem quaisquer estudos com a estequiometria ecológica de interações

tróficas envolvendo os ostrácodas e existem poucos trabalhos discutindo a composição bioquímica e

elementar deste grupo, os quais foram realizados com ostrácodas marinhos. Num trabalho realizado

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por Childress & Nygaard (1974), a composição bioquímica (porcentagem de lipídios, proteínas e

carboidratos) e elementar (C, H e N) de diversos crustáceos, dentre eles os ostrácodas, foi avaliada.

A composição bioquímica e elementar foi determinada de acordo com o percentual em relação ao

peso seco, e os autores encontraram os seguintes valores para uma espécie de Ostracoda: 1 % de

carboidratos; 7,3 % de lipídios; 39 % de proteínas; 16,4 % de quitina; 35,9 % de carbono; 7 % de

hidrogênio e 10 % de nitrogênio. Entretanto, neste estudo, apenas uma espécie de ostracoda foi

analisada. Já segundo Bühring & Christiansen (2001), o conteúdo de lipídios em alguns ostrácodas

pode chegar a 7 % do peso seco, valor bem próximo ao obtido por Childress & Nygaard (1974). A

quantidade de fosfolipídios obtida foi equivalente a 37 % do conteúdo total de lipídios dos

ostrácodas (Bühring & Christiansen, 2001). De acordo com Kaeriyama & Ikeda (2004), o conteúdo

de carbono e de nitrogênio em três espécies de ostracoda variou, respectivamente, de 39,8 % a 50,8

%, e entre 7,8 a 9,4 % – valores próximos aos encontrados por Childress & Nygaard (1974). A

razão C:N variou oscilou entre 4.2 e 6.6.

Com base em informações já conhecidas pode-se inferir sobre a estequiometria dos

ostrácodas. Os ostrácodas são crustáceos e, portanto, artrópodes. Os artrópodes têm o corpo

formado por um exoesqueleto de quitina, um polissacarídeo (Hickman et al., 2001; Brusca &

Brusca, 2003). Mas este exoesqueleto não contém apenas quitina, tendo também lipídios e proteínas

na sua composição (Hickman et al., 2001). Desta forma, pode-se inferir que o exoesqueleto seja

rico em carbono e nitrogênio, visto que, os polissacarídeos e proteínas são ricos em carbono e

nitrogênio, respectivamente, enquanto os lipídios são ricos em carbono (Sterner & Elser, 2002;

Nelson & Cox, 2004). Desta forma, e admitindo-se que o exoesqueleto tenha uma grande

contribuição material para os ostrácodas (Delorme, 2001), pode-se supor que sejam ricos em

carbono e nitrogênio e, portanto, tenham uma razão C:N baixa e alta N:P. De fato, analisando-se os

trabalhos de Childress & Nygaard (1974), Bühring & Christiansen (2001) e de Kaeriyama & Ikeda

(2004), pôde-se perceber que os ostrácodas são muito ricos em proteínas e quitina, têm uma

quantidade razoável de lipídios e uma baixa razão C:N, informações que corroboram a nossa

especulação. Além disso, dentre os lipídios, 37 % são fosfolipídios, ou seja, a maioria dos lipídios

em ostrácodas são de outras classes que não contém fósforo na sua composição, o que nos leva a

acreditar que os ostrácodas não sejam ricos em fósforo e, portanto, que teriam uma maior N:P.

Porém, tendo em vista que os fosfolipídios não são as moléculas mais contribuidoras de fósforo

para os invertebrados, e que o RNA representa o principal pool de fósforo nestes organismos

(Sterner Elser, 2002), só poderíamos ter a certeza de que os ostrácodas têm menor proporção de

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fósforo em relação ao nitrogênio se fosse analisado um estudo sobre a quantidade deste ácido

nucléico nestes organismos. Alguns estudos fizeram isso pra outros invertebrados: segundo Acharya

et al. (2004), o RNA pode explicar até 48,8 % (± 2%) do conteúdo de P de Daphnia, e de acordo

com Elser et al. (2003), até 49,9 % (± 1,9%) em diversos taxa. Então, o cladócero Daphnia possui

uma grande quantidade de RNAr e fósforo alocado nesta molécula, o que lhe dá uma baixa N:P

variando de 7:1 a 15:1 (Elser et al., 1996). E para os crustáceos ostrácodas? Teriam eles alta

quantidade de RNAr e altas concentrações de fósforo com baixas razões N:P? Infelizmente às estas

questões não teremos respostas definitivas, porque um estudo determinando a quantidade de RNAr

e fósforo em Ostracoda ainda não existe na literatura. Porém, as informações aqui discutidas ajudam

a mostrar que os ostrácodas são ricos em nitrogênio, o que já seria um indício de uma alta N:P na

sua biomassa. De fato, a razão N:P de Ostracoda é maior do que o cladócero rico em fósforo. As

razões N:P dos ostrácodas do nosso estudo variaram de 11,6 à 45,3 (tabela 24), com um valor médio

em torno de 25. Portanto, os valores dos ostrácodas são maiores do que Daphnia, que é o

“crustáceo-referência” de baixas razões N:P, e estão indicando, realmente, que as proporções de

nitrogênio em relação ao fósforo sejam maiores nos ostrácodas.

Entretanto, como já mencionado anteriormente, a estequiometria C:N:P dos consumidores

pode estar ligada a outros fatores que não somente a composição bioquímica como as taxas de

crescimento, a ontogenia e a qualidade do recurso alimentar (Elser et al., 1996; Sterner & Elser,

2002). Caso os ostrácodas tenham altas taxas de crescimento, eles podem ser ricos em fósforo e

terem uma baixa razão N:P segundo a hipótese da taxa do crescimento (Elser et al., 1996, Elser et

al., 2000b). Segundo esta hipótese, o fósforo é importante porque ele estimula a síntese da molécula

de RNAr, responsável pela síntese de proteínas, que é um dos processos que sustentam o

crescimento (Raven & Johnson, 2002; Nelson & Cox, 2004). Para potencializar este crescimento, os

consumidores invertebrados teriam que obter o suprimento extra de fósforo a partir do seu alimento.

Main et al. (1997), por exemplo, encontrou uma correlação negativa entre a razão N:P do alimento

e as taxas de crescimento de Daphnia. Portanto, uma menor N:P no alimento estimularia o

crescimento dos invertebrados que possuíssem altas taxas de crescimento, levando à baixas N:P na

biomassa. Verificar as taxas crescimento dos ostrácodas e relacioná-las às razões N:P do perifíton

estava fora dos nosssos objetivos, mas cabe aqui uma discussão que também ajuda a explicar os

valores das razões N:P encontradas para os ostrácodas. Os organismos de crecimento rápido

possuem baixas razões N:P relacionadas à isto e têm ciclos de vida curto, sendo o cladócero

Daphnia um ótimo exemplo desta estratégia de vida. Como mencionado, estes crustáceos têm uma

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razão N:P que varia de 7:1 à 15:1, um valor baixo em comparação aos crustáceos copépodos que

chegam a uma N:P de 50:1 (Elser et al., 1996), ou aos nossos ostrácodas que apresentaram uma N:P

média de 25:1. Além disso, verificamos a partir da literatura que os ostrácodas podem ter uma razão

C:N baixa, entre 4.2 e 6.6 (Kaeriyama & Ikeda, 2004), o que nos dá suporte para a especulação de

que os ostrácodas são realmente ricos em nitrogênio e que, portanto, teriam mesmo razões N:P

elevadas e maiores do que o cladócero Daphnia. Desta forma, tendo razões N:P mais altas do que

Daphnia e mais próximas dos copépodos – referência de crustáceos de crescimento mais lento,

ciclo de vida mais longo e com maiores N:P (Andersen & Hessen, 1991; Elser et al., 1996; Sternner

& Elser, 2002) – podemos supor que os ostrácodas tenham uma estratégia de vida similar aos

copépodas, logo uma maior razão N:P porque não são tão dependentes de fósforo para sustentar

sínteses maciças de RNAr. Um fator que corrobora esta suposição, é o ciclo de vida dos ostrácodas

que realmente é longo, com 8 estágios distintos de vida (Dole-Olivier et al., 2000; Delorme, 2001).

Além disso, os ostrácodas investem mais energia na resistência às condições adversas do que numa

reprodução maciça (Dole-Olivier et al., 2000), logo não teriam taxas de crescimento tão elevadas

quanto Daphnia, por exemplo, e não seriam tão dependentes do fósforo. Portanto, podemos chegar

à uma conclusão mais segura sobre a estequiometria dos ostrácodas e afirmar que eles são ricos em

nitrogênio com uma razão N:P alta devido à sua composição bioquímica (ricos em proteína e

quitina) e estratégia de vida - por terem um ciclo de vida longo, mais similar aos copépodos,

possuindo uma menor dependência de fósforo para o RNAr. Já a grande variabilidade da razão N:P

encontrada para os ostrácodas do nosso estudo (tabela 23) poderia ser explicada por uma possível

variação estequiométrica interespecífica ou ontogenética, uma vez que, não separamos os

organismos em espécies ou nos diferentes estágios de vida. Variações estequiométricas

ontogenéticas são típicas dos copépodes (Elser et al., 1996; Sterner & Elser, 2002) e poderiam

existir também para os ostrácodas.

Com relação à qualidade nutricional do perifíton como determinante das razões N:P dos

ostrácodas serão feitas algumas considerações daqui em diante. A adição dos nutrientes nitrogênio e

fósforo para o perifíton afetou as suas razões N:P. No tratamento +N, a adição de nitrogênio causou

um efeito marginalmente significativo sobre a razão N:P tornando-a maior do que nos tratamentos

+P e +N+P (tabela 4, figura 9c). Ao mesmo tempo, a adição de fósforo exerceu efeito significativo

e tornou a razão N:P menor no tratamento +P em relação ao controle e tratamento +N (tabela 4,

figura 9c). As razões N:P também foram menores no tratamento +N+P em relação ao controle e

tratamento +N (figura 9c), mas não houve efeito significativo da interação +N+P e esta diminuição

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na N:P foi mediada somente pelo fósforo. Entretanto, este aporte de fósforo no perifíton não se

refletiu na estequiometria N:P dos ostrácodas que não sofreu efeito significativo do fósforo (tabela

7). Nos tratamentos +P e +N+P onde a razão N:P do perifíton foi muito mais baixa em relação ao

controle, as razões N:P dos ostrácodas não se tornaram baixas. No tratamento +P a razão

N:P não foi significativamente diferente dos tratamentos controle e +N e foi

siginificativamente maior no tratamento +N+P (tabela 7, figura 12). Isto significa que, mesmo se

alimentando de um perifíton rico em fósforo, os ostrácodas não assimilaram mais deste nutriente. A

regressão linear também tornou evidente que a estequiometria dos ostrácodas não estava

diretamente relacionada à do perifítion. À medida que a razão N:P do perifíton aumentou a dos

ostrácodas diminuiu (figura 13), e isto significa que uma variação na estequiometria do recurso

alimentar não leva a uma variação similar na estequiometria dos ostrácodas. Pelo contrário, isto

estaria indicando a existência de algum controle homeostático existente no ostrácodas e

demonstrando até uma certa capacidade de estocar o fósforo quando ele passa a ser limitante no

alimento. Um indício de que os ostrácodas estocam o fósforo já foi apontando neste texto, quando

mencionado que as suas excretas podem ter uma maior razão N:P (ver discussão estequiometria do

perifíton).

Para a razão N:P dos ostrácodas, a interação entre os nutrientes (tratamento +N+P) exerceu

efeito significativo e ao se alimentarem de um perifíton enriquecido com os dois nutrientes a N:P

dos ostrácodas foi significativamente maior do que no controle e nos demais tratamentos. O que

explicaria este resultado? Uma explicação plausível para este padrão encontrado estaria no estimulo

à sintese de RNAr via o aporte de fósforo, e o RNAr sintetizaria as proteinas que teriam sua

produção garantida via o aporte de nitrogênio. Logo, o fósforo estimularia a síntese de RNAr e o

nitrogênio serviria para formar a estrutura dos aminoácidos das proteínas sintetizadas pelo RNAr.

Isto elevaria a N:P dos ostracodas que, como discutido anteriormente, parecem ter uma grande

proporção de proteínas e, talvez, até uma razão proteínas:RNA alta – o que merece uma

investigação futura. Porém, estas questões levantadas devem ser interpretadas com cuidado porque

as concentrações de nitrogênio e fósforo total no perifition do tratamento +N+P não foram as mais

altas (figura 8b e 8c). A concentração de nitrogênio total do perifíton no tratamento +N+P, por

exemplo, foi muito similar ao controle (figura 8b) e a concentração de fósforo total no tratamento

+N+P foi bem menor do que no tratamento +P e significativamente similar aos tratamentos controle

e +N (figura 8c). Além disso, a razão N:P do perifíton no tratamento +N+P não foi

significativamente diferente do tratamento +P (figura 9c). Estes resultados indicam que não houve

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um aporte mais alto de nitrogênio e fósforo para o tratamento +N+P em relação aos demais

tratamentos. Realmente, parece que outros fatores que não a qualidade nutriconal ou a composição

elementar do perifiton regularam a estequiometia dos ostrácodas, e a maior N:P registrada no

tratamento +N+P seria decorrente apenas de uma variação maior desta razão neste tratamento,

relacionada a fatores que fugiram ao nosso controle. Talvez, mais estágios de vida distintos podem

ter sido encontrados, ou mais de uma espécie de Ostracoda existiria neste tratamento em relação aos

demais. Estes dois fatores teriam contribuído para uma maior variação interespecifica e

ontogenética no tratamento +N+P e ocasionado um valor médio maior da razão N:P (tabela 23).

Para ilustrar esta discussão, podemos citar que foi apenas no tratamento +N+P que obtivemos dois

valores para a razão N:P dos ostrácodas muito acima do normal, ou seja, razões N:P de 48 e de 85.

Quando a média de todas as razões N:P foi calculada sem estes dois outliers chegou à 26, um valor

mais realista, levando em consideração todos os valores das razões N:P e os valores médios da N:P

dos ostrácodas dos demais tratamentos (tabela 23). Outros autores também chegaram à conclusão de

que uma grande variação na estequiometria de invertebrados bentônicos pode ser resultante de se

trabalhar com uma baixa resolução taxonômica ou com uma espécie na qual todos os estágios de

vida estejam presentes no experimento sem fazer alguma segregação. Segundo Fink et al. (2006), a

variação encontrada na composição elementar dos invertebrados analisados no seu estudo foi maior

para grandes grupos taxonômicos e diminuiu quando as razões C:N:P foram calculadas em níveis

taxonômicos mais refinados como gênero e espécie. Demott et al. (1998) concluíram que trabalhar

com a estequiometria de uma espécie de Daphnia sem discriminar entre as classes etárias,

misturando adultos e jovens, pode levar a mais variabilidade na estequiometria C:N:P,

principalmente porque os adultos são menos sensíveis a uma limitação por fósforo.

Nossos resultados demonstraram que os ostrácodas não têm a sua razão N:P variando

diretamente com as razões N:P do perifíton. Isto ficou claro a partir das diferenças entre as razões

N:P perifíticas e dos ostrácodas (ver também tabelas 22 e 23), e através da regressão linear entre as

razões N:P do perifíton e destes consumidores. A regressão linear evidenciou uma relação negativa

entre estas variáveis (tabela 8, figura 13), mostrando que as razões N:P dos ostrácodas não

acompanharam as do perifíton. Entretanto, a regressão foi significativa e mostrou que as duas

variàveis (razão N:P dos ostrácodas e razão N:P do perifíton) apresentaram uma correlação, ou seja,

uma interdependência. O fato de serem inversamente proporcionais não afasta a possibilidade da

ausência de influência da estequiometria do perifíton sobre a estequiometria dos ostrácodas e, na

verdade, realça uma maior capacidade homeostática dos ostrácodas de responderem às variações na

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estequiometria do perifíton estocando o elemento limitante, que nesse caso foi o fósforo. A

regressão deixou claro que ao se aumentar a razão N:P do perifíton (diminuir a quantidade de

fósforo), a razão N:P dos ostrácodas diminuiu (aumentando a quantidade de fósforo na sua

biomassa). De fato, o valor do intercepto de 1,68 (tabela 8) é compatível com o modelo de

consumidores mais homeostáticos – intercepto > 0 (Sterner & Elser, 2002). Outra questão que deve

ser levada em consideração é que a regressão linear explicou uma pequena parcela da variação

encontrada (r2 = 0,33; tabela 8). Portanto, também é possível que outros fatores além da qualidade

nutricional do perifíton possam ter regulado a estequiometria dos ostrácodas. A partir de todas estas

observações realizadas, concluímos que as variações nas razões N:P dos ostrácodas podem estar

relacionadas às variações encontradas no perifíton (contudo, de forma inversa) e que estes

consumidores tem uma boa capacidade homeostática. A partir deste cenário pode-se aceitar

parcialmente a hipótese 2, uma vez que, os ostrácodas apresentam uma certa plasticidade da sua

estequiometria em função de variações na estequiometria do perifíton, porém com uma tendência

em conservar o elemento limitante (fósforo) - possui capacidade homeostática bem desenvolvida.

Então, pode-se considerar os ostrácodas consumidores homeostáticos, mas não homeostáticos

estritos, porque não apresentam uma estequiometria constante quando lidam com variações na

estequiometria do alimento. O padrão de uma homeostase mais estrita já foi encontrado para outros

invertebrados consumidores de perifíton. Stelzer & lamberti (2002), verificaram que um gastrópode

manteve suas razões C:P e N:P constantes mesmo ao se alimentar de um perifíton rico em fósforo

com C:P e N:P menores. Evans-White et al. (2005), ao trabalhar com diversos invertebrados

bentônicos como insetos, crustáceos e moluscos verificou que a composição elementar do perifíton

nunca esteve correlacionada à composição elementar destes invertebrados. Concluíram que a

estequiometria do perifíton estaria dizendo muito a respeito da composição nutricional do recurso

alimentar, mas não refletindo o que os consumidores invertebrados comem e assimilam de fato.

Para Evans-White et al. (2005), a estequiometria destes invertebrados estaria mais relacionada à sua

composição química que é determinada filogeneticamente – o que também pode estar ocorrendo

para os ostrácodas. Fink et al. (2006), também verificaram que a variação nas razões N:P do

perifíton foi muito maior em relação às razões N:P de consumidores invertebrados como crustáceos

e insetos, não encontraram correlações entre a N:P perifítica e dos consumidores, e concluíram que

a composição elementar do perifíton não se refletiu na dos consumidores.

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Biomphalaria tenagophila

Nossos dados mostraram indícios de que a estequiometria do Biomphalaria tenagophila está

relacionada à estequiometria do perifíton. A regressão linear realizada entre a razão C:N do

perifíton e a C:N do gastrópoda mostrou um aumento significativo na C:N deste em função da C:N

perifítica (figura 25a; tabela 19). Além disso, o valor de r2 de 0,97 deixa claro que a razão C:N do

perifíton é a responsável pela maior parte da variação da C:N de B. tenagophila. Já os resultados

das regressões envolvendo as razões C:P e N:P não foram significativos e, com relação a estas

razões estequiométricas, não podemos afirmar com certeza que esta interrelação estequiométrica

gastropoda vs. perifíton também seja um padrão. Com relação aos valores das inclinações das retas

(todos mais próximos a 1) e dos interceptos (todos em torno de zero) (tabela 19), podemos verificar

que são compatíves com o modelo de consumidores pouco homeostáticos (Sterner & Elser, 2002).

Estes resultados estão indicando que a estequiometria do gastrópoda sofre influência da

estequiometria do perifíton. Um exame mais minucioso dos nossos dados reforça este padrão, ou

seja, de uma homeostase menos estrita e de consumidores com uma estequiometria mais variável.

Ao se observar os gráficos das concentrações de fósforo total e das razões C:N, C:P e N:P do

perifíton e do B. tenagophila pode-se perceber alguma semelhança entre os gráficos do perifíton e

do gastrópoda. As concentrações de fósforo total do perifíton são similares nos tratamentos

controle, +N e +P, e maiores no tratamento +N+P (figura 18c). Este mesmo padrão também ocorre

para o fósforo total do gastrópoda (figura 24c), o que pode se perceber até mesmo pela grande

semelhança entre os dois gráficos. Para a razão C:N, esta similaridade perifíton vs. gástropoda se

repete e observando-se as figuras 18a e 24a e as tabelas 22 e 23, percebe-se, no gastropóda,

exatamente o mesmo padrão dos resultados obtidos para o perifíton: razão C:N maior no tratamento

+N, seguida dos tratamentos +P, +N+P e controle. As razões C:P e N:P do gastropóda diminuíram

mais nos tratamentos +P e +N+P (figuras 24b e 24c), assim como ocorreu com o perifíton (figura

18b e 18c), mostrando novamente uma variação muito similar entre a estequiometria do recurso

alimentar e do consumidor. Existem, portanto, indícios suficientes nos nossos dados para

afirmarmos que os gastrópodas são menos homeostáticos do que os ostrácodas e que, portanto, suas

razões C:N:P variam em função da C:N:P do perifíton. Então, para os gastrópodas aceita-se a

hipótese 2, logo não são considerados consumidores com uma homeostase estrita. Neste caso, o

balanço entre o carbono, nitrogênio e o fósforo em Biompahalaria tenagophila está sujeito às

variações destes elementos no seu recurso alimentar, o perifíton.

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Muitos estudos vêm revelando este padrão de ausência de homeostase estrita em

consumidores invertebrados. Um estudo realizado numa lagoa costeira brasileira verifcou a

ausência de homeostase num gastrópoda. Figueiredo-Barros et al. (2006), descobriram que o

Heleobia australis não é homeostático ao verificarem que suas razões C:N:P variam em função da

C:N:P dos detritos de que se alimentam. Estes autores coletaram H. australis no sedimento em dois

pontos diferentes da lagoa Imboassica (Macaé-RJ), um ponto com menor influência de poluentes

orgânicos e maiores razões C:P e N:P e outro sujeito à poluição orgânica e menores razões C:P e

N:P. Figueiredo-Barros et al. (2006) viram que no sítio mais próximo ao aporte de esgoto

doméstico o sedimento apresentou maiores concentrações de N e P e menores razões C:P e N:P.

Isto se refletiu em menores razões C:P e N:P no gastropoda. Segundo Perkins et al. (2004), uma

espécie de lagarta teve de 42 a 48 % mais fósforo no corpo quando alimentados com uma dieta rica

em fósforo, demonstrando mais um caso de ausência de homeostase estrita. Liess & Hillebrand

(2005), realizaram um estudo com a estequometria de diversas espécies de invertebrados bentônicos

e concluíram que as razões C:N, C:P e N:P variaram sazonalmente. Segundo estes autores, isto

indica ausência de homoestase estrita porque a variação nas razões C:N:P dos invertebrados estava

relacionada a uma variação sazonal na concentração de nutrientes da água e da C:N:P do perifíton.

Estes autores verificaram que as variações na estequiometria do recurso alimentar (perifíton) foram

bem maiores do que na estequiometria dos consumidores, sendo que as razões C:N e C:P variaram

muito mais no perifíton. Já as variações na N:P foram bem similares entre o perifíton e os

consumidores. Vale ressaltar que este padrão não foi observado para Biomphalaria tenagophila,

que teve uma plasticidade da estequiometria tão grande quanto a do seu alimento (perifíton) mesmo

para as razões C:N e C:P. Liess & Hillebrand (2005) propuseram, então, o conceito de reostase

descrito por Villar-Argaiz et al. (2002) para explicar a variação estequiométrica encontrada nos

invertebrados. Segundo este conceito, os mecanismos de regulação homeostática de um organismo

podem se ajustar a um ambiente que varia ao longo do tempo ou espaço. Isto permitiria ao

organismo lidar com um ambiente com muita variação na qualidade do recurso alimentar, e

sobreviver com alimentos pobres em nutrientes e com altas C:N:P (Liess & Hillebrand, 2005).

Então, a capacidade de um organismo de estocar nutrientes ou de mudar sua estequiometria de

acordo com o ambiente deve ser avaliada com mais cautela para se elucidar se realmente trata-se de

uma questão de pouca homeostase ou de um mecanismo pouco estudado, a reostase de Villar-

Argaiz et al. (2002). Além destes estudos, alguns trabalhos com invertebrados zooplanctônicos

também mostraram uma fraca homeostase (“ou a reostase”) nestes consumidores. Demott et al.

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(1998) viram que os cladóceros do gênero Daphnia que tiveram uma dieta rica em fósforo

alcançaram uma maior quantidade deste elemento na biomassa. Becker & Boersma (2005) também

trabalharam com este gênero de Cladocera e observaram a mesma coisa, ou seja, os organismos que

se alimentaram de um alimento com altas razões C:P diminuíram a quantidade de fósforo na sua

biomassa. Estes resultados de Demott et al. (1998) e Becker & Boersma (2005) seriam uma

indicação de fraca regulação homeostática? Ou seriam um indíco da reostase? Demott et al. (1998)

demonstraram que Daphnia tem uma maior eficiência de asimilação para o fósforo do que para o

carbono, e que aumentam as taxas de respiração e de excreção de carbono quando submetidos a

uma dieta com alta C:P no alimento. Becker & Boersma (2005) também mencionaram a

capacidade de estocagem de fósforo existente em Daphnia. Então, na verdade, estas estratégias de

Daphnia poderiam se tratar da reostase explicada anteriormente, uma vez que, estes dois artigos

revelam a capacidade de Daphnia estocar nutrientes.

A questão de uma fraca homeostase em invertebrados também aparece no trabalho de Cross

et al. (2003). Este artigo também nos permite discutir as implicações de uma dieta rica em carbono

e pobre em nutrientes, ou seja, discutir o desbalanço estequiométrico entre o organismo e seu

alimento. Também dá suporte para entender como os invertebrados podem “driblar” estes

desbalanços, e até estarem nesta condição em consequência de uma história evolutiva que lhes

permitiu sobreviver no “limite da limitação”. Cross et al. (2003) verificaram que o folhiço de um

dos pontos num rio enriquecido com nutrientes apresentou maior % de P e menores razões C:P e

N:P. Isto se refletiu nos insetos consumidores, que tiveram mais fósforo e menores razões C:P e

N:P neste sítio com o folhiço enriquecido com fósforo. Os valores das razões C:P não foram muito

similares entre os consumidores e o folhiço. A C:P no folhiço na condição natural ficou em torno de

5000, e por volta de 2500 na condição enriquecida. Nos insetos submetidos a uma dieta com o

folhiço das condições naturais a C:P variou de 800 a 400, e nos insetos que se alimentaram do

folhiço rico em fósforo a C:P foi menor do que 400. Já a razão N:P do folhiço na condição natural

variou entre 70 e 100 e foi ~ 50 ou menor na condição eutrofizada. A N:P dos insetos acompanhou

exatamente este padrão. Então, mesmo que a razão C:P tenha diminuído nos insetos submetidos a

uma dieta rica em fósforo, a C:P nos insetos sempre foi bem menor do que no folhiço e com uma

variação de menor amplitude. Isto está indicando uma menor plasticidade na razão C:P dos insetos

em relação ao seu alimento. Portanto, algum grau de homeostase para a razão C:P existe, o que

permite que estes consumidores sobrevivam a este grande desequilíbrio estequiométrico (Sterner &

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Elser, 2002). Tendo em vista que para a razão N:P a amplitude de variação nos insetos foi a mesma

do que no alimento, pode-se supor que estes organismos tenham um mecanismo de homeostase

mais desenvolvido para lidar com o balanço entre o excesso de carbono e o fósforo, mantendo uma

C:P dentro de limiares mais estreitos que permitam a sobrevivência. De fato, no estudo de Woods et

al. (2002), foi observado que as larvas de um lepidóptero são capazes de estocar mais fósforo

quando lidam com uma dieta muito pobre neste nutriente. Esta “preferência” por manter uma menor

plasticidade para a razão C:P, em detrimento da N:P, não foram observadas no nosso trabalho. As

semelhanças entre as razões C:P dos gastrópodas e do perifíton foram bem maiores do que entre as

razões C:P do folhiço e dos insetos do trabalho de Cross et al. (2003). Ou seja, a razão C:P do

Biomphalaria tenagophila acompanhou de perto a razão C:P do perifíton. Neste caso, esta espécie

seria capaz de ter um bom rendimento mesmo ingerindo alimentos ricos em carbono. De qualquer

forma, para a N:P encontramos um padrão similar à Cross et al. (2003) e Liess & Hillebrand (2005),

isto é, as razões N:P de B. tenagophila tiveram exatamente o mesmo padrão da N:P do alimento

(perifíton) (ver tabelas 22 e 23). Além disso, nossos resultados indicam que o B. tenagophila é

menos homeostático que os insetos (Diptera, Ephemeroptera, Odonata, Plecoptera e Trichoptera) do

estudo de Cross et al. (2003), e do que os crustáceos ostrácodas do experimento 1. Esta questão

pode ser sustentada pelo trabalho de Fink et al. (2006). Neste estudo se verificou uma variação na

razão C:P de crustáceos entre 6 e 8 %, e numa espécie de tricóptera em torno de 9,6 % da variação

encontrada para a C:P perifítica. Já para uma espécie de gastrópoda, foi encontrada uma variação de

30,9 %, ou seja, bem maior do que nos outros grupos taxonômicos mostrando esta maior

plasticidade dos gastrópodas. É possível que esta maior plasticidade da estequiometria dos

gastrópodas, incluido-se aí o B. tenagophila, seja resultante de uma história evolutiva que, através

da seleção natural, permitiu a estes organismos sobreviverem em ambientes extremamente limitados

por fósforo e ricos em carbono, como é o caso da laga Cabiúnas (Faria & Esteves, 2000; Farjalla et

al., 2004). Fink et al. (2006) acreditam que uma grande variabilidade na estequiometria do corpo

encontrada para o gastrópoda seja até uma vantagem competitiva caso seja comun altas razões

C:N:P no perifíton, uma vez que, as espécies de crescimento rápido e ricas em fósforo não terão

chance num ambiente pobre neste elemento. Já Sterner & Hessen (1994), mencionam que existem

diversos mecanismos para lidar com uma dieta rica em carbono, como transformar o excesso de

carbono ingerido em compostos ricos neste elemento (carboidratos e lipídios), ou liberar o excesso

na respiração. Enquanto Frost et al. (2002a), discutiram que uma menor assimilação de carbono

como estratégia para evitar limitações por fósforo pode garantir um crescimento menos limitado por

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este nutriente em tricópteros. Pode ser que B. tenagophila tenha algum destes mecanismos para

lidar com o excesso de carbono do alimento, e as informações de Sterner & Hessen (1994) e Frost

et al. (2002a), mais a opinião de Fink et al. (2006), complementam a nossa idéia de uma adpatação

bem sucedida de B. tenagophila a um ambiente pobre em fósforo. Também é válido citar aqui,

novamente, o conceito de reostase, que pode ser a definição mais correta de um mecanismo de

regulação homeostática que ainda não foi devidamente estudado e é confundido com a falta de

homeostase. Todos estes mecanismos para lidar com o excesso de carbono na dieta (maior síntese

de carboidratos e lipídios; aumentar as taxas de respiração; diminuir a assimilação de carbono)

poderiam ser relacionados à capacidade reostática de um organismo mudar sua estequiometria em

função do meio de forma a ajustar sua homeostase a uma nova condição do ambiente. De qualquer

maneira, não existem informações suficientes para entender se reostase é uma forma de homeostase,

ou se a reostase é, na realidade, apenas um mecanismo mais fraco de se manter a homeostase.

Apesar de não serem homeostáticos estritos, Biomphalaria tenagophila parece possuir

alguns mecanismos para lidar com uma dieta pobre em nutrientes como a estocagem de nutrientes,

através de uma excreção diferenciada e a compensação alimentar ativa (já discutida para os

ostrácodas). Observando-se os gráficos da figura 20, pôde-se perceber que B. tenagophila parece

excretar mais nitrogênio do que fósforo. O teste t realizado entre as razões C:N perifíticas dos

tratamentos Con e controle mostrou que a C:N do tratamento controle foi significativamente menor

do que no tratamento Con (tabela 15; figura 20a). O teste t também mostrou que a razão N:P do

tratamento controle foi significativamente maior do que no tratamento Con (tabela 15; figura 20c),

mas não detectou diferenças significativas entre as razões C:P destes tratamentos (tabela 15; figura

20b). Além disso, ainda que seja uma diferença não significativa (p = 0,36), analisando-se a figura

21 nota-se uma maior concentração de íon amônio no controle do que no tratamento Con. Como no

tratamento Con não haviam gastrópodas, podemos acreditar que esta diminuição da C:N e aumento

da N:P do perifíton no controle esteja relacionada a excreção de íon amônio (NH4+) dos

gastrópodas. Ainda, a ausência de diferenças significativas para as razões C:P é outra evidência de

que B. tenagophila realmente excreta mais nitrogênio (na forma de amônio) e retém o fósforo.

Outros mecanismos como a decomposição bacteriana também liberam íon amônio para a água

(Wetzel, 2001). Entretanto, tendo em vista que o amônio (NH4+) é a principal forma iônica

excretada pelos gastrópodas (Brown, 2001), mais os resultados dos nossos dados, permitem-nos

concluir que os gastrópodas excretam mais nitrogênio do que fósforo, o que seria mais marcante em

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situações de limitação por fósforo. Ao excretarem mais nitrogênio, retém o fósforo, o que

acentuaria a limitação por este nuriente no perifíton, mas assim poderiam enfrentar uma limitação

por este elemento no seu alimento. Ter esta estratégia de retenção do fósforo na biomassa se

justifica porque, de acordo com os nossos dados, fica evidente a existência de alguma limitação por

fósforo em B. tenagophila. A adição de fósforo exerceu efeito significativo na razão C:P deste

gastrópoda, diminuindo-a nos tratamentos que receberam este nutriente (+P e +N+P) em relação ao

controle e tratamento +N (tabela 17, tabela 23, figura 24b). Para a N:P o padrão não é tão evidente,

mas ainda assim percebe-se uma menor N:P nos tratamentos +P e +N+P em relação ao controle que

não recebeu qualquer nutriente (tabela 23; figura 24c). É possível que B. tenagophila tenha uma

demanda maior por P e, para um desenvolvimento ótimo, ele necessite de baixas razões C:P e N:P.

Para atingir uma razão C:P e N:P o mais próxima do seu ótimo, B. tenagophila empregaria uma

estratégia de reter na biomassa o elemento limitante (fósforo), liberando mais nitrogênio. Esta

estratégia já foi encontrada em outros trabalhos com invertebrados consumidores de perifíton e em

zooplâncton. Evans-White & Lamberti (2005), demonstraram que um consumidor rico em fósforo,

o crustáceo Orconectes propinquus, excretou mais nitrogênio na forma de NH4+ e reteve o fósforo

na biomassa. Segundo Liess & Hillebrand (2006) e Mulholland et al. (1991), moluscos gastrópodas

ricos em fósforo retiveram este elemento no corpo, elevando a N:P das excretas e as razões C:P e

N:P do perifíton. Segundo Elser et al. (1988), se a razão N:P do zooplâncton for pequena, menor do

que a do seu alimento (seston e fitoplâncton), o zooplâncton terá uma tendência em reciclar mais

fósforo do que nitrogênio. Esta estratégia também já foi demonstrada, em específico, para os

crustáceos zooplanctônicos do gênero Daphnia. Em diversos trabalhos com este organismo se

observou que, ao se alimentarem de um fitoplâncton pobre em fósforo, aumentaram a assimilação

deste nutriente, liberando menos fósforo e mais nitrogênio nas suas excretas, tornando o

fitoplâncton mais limitado fósforo (Elser & Hasset, 1994; Urabe et al., 1995; Elser et al., 1996;

Hasset et al., 1997; Frost et al., 2008; He Xiong-Wang, 2007). Todas estas considerações da

acentuação de uma limitação através de uma excreção diferenciada dos consumiores já foram bem

discutidas e exploradas para os dois experimentos nas seções de estequiometria do perifíton. O que

vale ressaltar aqui é que o fato dos consumidores apresentarem menor conteúdo de fósforo na

biomassa, maior razão C:P e baixa excreção de fósforo (exatamente o caso de B. tenagophila no

tratamento controle) não estará indicando uma quantidade pequena deste elemento na biomassa,

mas sim que estão com o desenvolvimento limitado por este elemento. Para compensar este

problema, vão apresentar uma maior eficiência de retenção de fósforo, liberando menos deste

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nutriente para o perifíton (Hillebrand et al., 2007). Esta estratégia de retenção do elemento limitante

seria uma resposta adaptativa dos consumidores que vivem em ambientes oligotróficos pobres em

fósforo (Sterner & Elser, 2002).

Os valores das razões N:P das egestas também foram muito similares às razões N:P do

perifíton. Tendo em vista que as egestas são a porção do que foi ingerido e não foi assimilado pelo

animal, representando, portanto, a porção do alimento que não foi metabolizada no organismo

(Begon et al., 2006), era de se esperar que a estequiometria da egesta de B. tenagophila fosse

mesmo muito similar à estequiometria do perifíton. Isso pôde se observar claramente ao se analisar

os gráficos da figura 18c e 26a – a razão N:P da egesta reflete exatamente o mesmo padrão da N:P

do perifíton. Inclusive os valores médios para os tratamentos são bem parecidos: controle (N:P do

perifíton = 27,26 e N:P da egesta = 29,4); +N (N:P do perifíton = 16,52 e N:P da egesta = 21,1); +P

(N:P do perifíton = 10,38 e N:P da egesta = 11,6); +N+P (N:P do perifíton = 7,4 e N:P da egesta =

9,7). Isto tem uma implicação interessante. Como a razão N:P da egesta é praticamente igual a do

perifíton, parece que nenhum mecanismo de reabsorção deste elemento existe em B. tenagophila,

como os discutidos em Frost et al. (2005a), mostrando que qualquer mecanismo que exista em B.

tenagophila para lidar com um desbalanço elementar seria pós-assimilativo – só passaria a atuar

após a assimilação do alimento. Então, através das excretas o B. tenagophila pode reciclar mais

nitrogênio e através das egestas pode reciclar o fósforo também, principalmente se este estiver em

grandes concentrações no perifíton. Desta forma, a acentuação de uma limitação existente por

fósforo no perifíton não seria tão marcante já que o B. tenagophila pode liberar o fósforo não

assimilado através das egestas na mesma proporção que ele existia no alimento. Esta diferença na

forma como o nitrogênio (excretas) e o fósforo (egestas) são reciclados também foi reportada por

Liess & Haglund (2007), que chegaram exatamente às mesmas conclusões que as nossas. Estas

autoras buscaram avaliar o efeito das excretas e egestas de Theodoxus fluviatilis (Gastropoda) na

razão N:P do perifíton. No seu experimento, foram estabelecidos 3 tratamentos: perifíton com a

presença de T. fluviatilis mais as egestas; perifíton só com as egestas; somente perifíton. Segundo

Liess & Haglund (2007), no tratamento com o gastropoda, após 16 dias em relação ao início do

experimento, os níves de nitrogênio inorgânico dissolvido foram 5 vezes maiores e os níveis de

fósforo solúvel reativo estavam abaixo dos limites de detecção. Após os 16 dias, no tratamento com

as egestas, foi verificado que o conteúdo de fósforo aumentou e a razão N:P do perifíton diminuiu,

sendo menor do que nos demais tratamentos. Chegaram à conclusão de que o nitrogênio era

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liberado em maior proporção nas excretas, enquanto o fósforo era liberado em maior proporção nas

egestas e, de acordo com o nutriente mais limitante para o perifíton num dado instante, um destes

mecanismos de liberação de nutrientes será mais relevante. É claro que a disponibilização do

nutriente pelas egestas seria mais lento uma vez que exige remineralização, enquanto a liberação via

excretas é mais direta (Vanni, 2002). Neste caso, esta diferença entre a forma como o nitrogênio e o

fósforo são reciclados pode levar a um aumento nas concentrações de nitrogênio dissolvido na

coluna d’água, enquanto as fezes ricas em fósforo afundam e se acumulam no sedimento, sendo

disponibilizadas para o perifíton após a remineralização. Outra implicação disto é que se o ambiente

estiver eutrofizado e rico em fósforo, um gastrópoda como B. tenagophila vai se alimentar deste

perifíton e liberar as fezes ricas em fósforo que vão se acumular no sedimento. Como a água de um

ambiente eutrofizado já estaria rica em fósforo, o fósforo das egestas remineralizadas seria menos

consumido e acabaria por se acumular no sedimento. Isto seria negativo, porque aumentaria ainda

mais a eutrofização do ecossistema.

Além da liberação de nutrientes via excretas e egestas, a intensidade de herbivoria e o

crescimento podem estar ligados à composição elementar do alimento (Sterne & Elser, 2002). As

taxas de egestão permitem se avaliar aonde a herbivoria foi mais intensa (King-Lotufo et al., 2002).

Estas taxas calculadas para Biomphalaria tenagophila não foram significativamente diferentes entre

os tratamentos. De qualquer forma, as taxas de egestão foram maiores nos tratamentos controle e

+N (figura 26b). Isto significa que o gastrópoda teve uma herbivoria mais intensa nestes

tratamentos e comeu menos nos tratamentos aonde havia mais fósforo no perifíton (+P e +N+P).

Estes resultados estão indicando que B. tenagophila pode vir a aumentar a herbioria quando está

submetido a uma dieta pobre no elemento limitante, o fósforo. Então, estariam realizando a

compensação alimentar ativa assim como os ostrácodas. Fink & Von Elert (2006) reportaram esta

estratégia para o gastrópoda Radix ovata como mencinado no experimento 1 com ostrácodas. Para o

crescimento de B. tenagophila, seja em tamanho ou biomassa, a adição de nitrogênio e fósforo não

exerceu qualquer efeito (tabela 16). O tamanho e a biomassa se mantiveram constantes durante todo

o experimento, em torno de 10 mm e 100 mg, respectivamente, e foram praticamente iguais para

todos os tratamentos (figura 22). Portanto, os nutrientes não estimularam o crescimento de B.

tenagophila como mostrado em outros estudos. Uma maior oferta de fósforo, em particular, devido

ao estímulo que representa à síntese de RNAr, necessária para se elevar as taxas de crescimento,

pode aumentar o crescimento de crustáceos zooplanctônicos (Main et al., 1997; Acharya et al.,

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2004, 2006; Vrede et al., 2004), insetos (Elser et al., 2000a, 2006; Frost & Elser, 2002b; Perkins et

al., 2004; Watts et al., 2006) ou gastrópodas (Fink & Von Elert, 2006). Acreditávamos que este

padrão poderia se repetir no nosso estudo, o que não ocorreu. Esta ausência de resposta do

crescimento de B. tenagophila ao fósforo pode ter sido devido ao período curto do experimento.

Nosso experimento durou 20 dias e começamos o experimento com organismos de 10 mm de

diâmetro. De acordo com Barbosa & Barbosa (1994), planorbídeos da espécie Biomphalaria

glabrata apresentam duas fases principais de crescimento: a primeira se estende do momento da

eclosão dos ovos e vai até aproximadamente o 40º dia de vida, aonde os indivíduos atingem em

torno de 3 mm de comprimento; e a segunda fase que se inicia a partir daí e coincide com o período

aonde se atinge a maturidade sexual. Nesta segunda fase do crescimento, os organismos passam de

3 mm para 8 mm de diâmetro e o crescimento é mais lento (~ 175 dias). Supondo que este padrão

de B. glabrata seja similar para o congenérico Biomphalaria tenagophila, podemos fazer algumas

considerações. Tendo em vista que, trabalhamos com indivíduos maiores do que 8 mm, isto é, de 10

mm de diâmetro, percebe-se que estávamos com indivíduos da segunda fase de crescimento descrita

e, portanto, a mais lenta. Então, se os indivíduos estavam durante uma fase de crescimento mais

lenta, pode ser que em 20 dias não iriam responder ao incremento de fósforo no alimento. Portanto,

não dá para saber se o crescimento de B. tenagophila responde ou não um enriquecimento com

fósforo. Como esta não era a pergunta de nosso trabalho, nos limitamos a fazer estas observações

para ter uma idéia a cerca disto e, assim, nortear pesquisas futuras. Somente um experimento

específico para esta questão pode vir a respondê-la.

Podemos concluir que Biomphalaria tenagophila não é um consumidor com homeostase

estrita e tem sua estequiometria variando em função do perifíton (aceita-se a hipótese 2). Para lidar

com um perifíton rico em carbono e pobre no elemento limitante, o fósforo, B. tenagophila pode

empregar duas estratégias: (1) excretar mais nitrogênio e conservar o fósforo; (2) aumentar a

ingestão do perifíton pobre em fósforo para compensar o déficit deste nutriente. Ao conservar o

fósforo e excretar mais nitrogênio, B. tenagophila pode aumentar a oferta de nitrogênio para o

perifíton e aumentar a limitação por fósforo no seu recurso alimentar. Entretanto, como libera o

fósforo nas egestas na mesma proporção do que no perifíton de que se alimenta, também pode

liberar este nutriente para o perifíton e atenuar uma possível limitação.

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4.5. Comparação entre a estequiometria dos ostrácodas e Biomphalaria tenagophila

Foi encontrado uma grande similaridade entre as razões N:P dos ostrácodas e Biomphalaria

tenagophila. Os ostrácodas tiveram uma N:P média de 24,3 e os gastrópodas de 17,9 (tabelas 23 e

24). As razões N:P dos ostrácodas foram significativamente maiores do que a do Biomphalaria

tenagophila. Diferenças na estequiometria entre táxons distintos já foram mostradas em outros

trabalhos (tabela 24) e têm sido atribuídas ao conteúdo elementar distinto relacionado às diferentes

proporções das biomoléculas existentes em cada organismo (Sterner & Elser, 2002).

Observando-se a tabela 24 verifica-se que, no geral, as razões N:P dos crustáceos

zooplanctônicos são maiores do que às dos gastrópodas, mas ao se analisar as razões N:P dos

crustáceos bentônicos ocorre o contrário. As razões N:P dos ostrácodas se assemelham mais às dos

crustáceos bentônicos do que zooplanctônicos. Dentre o zooplâncton, os cladóceros Diaphanosoma

e Holopedium com uma N:P de 20:1 são os que mais se aproximam dos ostrácodas. Dentre os

crustáceos bentônicos, Isopoda e Gammarus roeseli são os que têm a N:P mais parecida com os

ostrácodas. Entretanto, estas comparações são meramente descritivas, uma vez que, os ostrácodas e

os demais crustáceos da tabela 24 são filogeneticamente distantes (Brusca & Brusca, 2003).

Portanto, não se pode saber se as diferenças e semelhanças da razão N:P são devido à composição

bioquímica determinada evolutivamente.

Em geral, as maiores razões N:P foram observadas para os insetos, possivelmente por

terem um exoesqueleto rico em quitina que tem na sua composição química algumas proteínas

(Brusca & Brusca, 2003), o que justificaria uma maior demanda por nitrogênio em relação aos

gastrópodas, por exemplo. Entretanto, quando Liess & Hillebrand (2005) analisaram a

estequiometria dos moluscos da classe Gastropoda, observaram uma N:P de 105:1, bastante elevada

em comparação às demais. É interessante se notar que quando as razões N:P das espécies de

gastrópodas foram analisadas em separado os valores foram bem menores, compatíveis com os

demais valores das razões N:P. Isto demonstra que ao se realizar o cálculo da estequiometria para

grandes grupos taxonômincos pode se embutir uma grande variabilidade e mascarar a real

estequiometria das espécies de cada um destes grupos. Isto já foi mostrado por Fink et al. (2006), e

discutido para o experimento 1 com os ostrácodas.

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Os valores obtidos no experimento 2 para as razões C:N e C:P do Biomphalaria tenagophila

foram muito mais elevados que os encontrados para outros gastrópodas (tabela 24). Quando

calculada a média entre as razões C:N e C:P apenas para as espécies de gastrópoda, excluindo-se os

valores para a classe obtidos em Liess & Hillebrand (2005), obteve-se os valores de 6,25 e 172,5,

respectivamente. Nos nossos resultados obteve-se, como média para os 4 tratamentos, uma razão

C:N de 141 e uma C:P de 1799 (tabela 24). Mesmo os valores mais baixos da razão C:N (89,51 no

controle) e da C:P (1038 no tratamento +P) (tabela 23) ficaram muito aquém dos valores mostrados

para as espécies de gastropoda de outros estudos (tabela 24). Contudo, observando-se os gráficos

para as razões C:P do trabalho de Liess & Hillebrand (2005), pôde-se notar que os gastrópodas,

quando analisados por inteiro (concha mais tecido mole – da mesma forma que B. tenagophila foi

analisado no presente estudo), alcançaram valores da razão C:P entre 800 e 1000. Quando

analisados sem a concha, os gastrópodas obtiveram razões C:P menores, chegando no máximo a

300. Apesar dessas diferenças encontradas para as razões C:P dos gastrópodas quando analisados

com a concha ou só com o tecido mole, Liess & Hillebrand (2005) não encontraram diferenças

significativas para a razão C:P. De qualquer forma, os valores obtidos para a razão C:P dos

gastrópodas analisados com a concha são elevados e próximos aos encontrados no presente estudo.

A razão C:N também foi menor nos gastrópodas analisados sem a concha, mas novamente uma

diferença não significativa (Liess & Hillebrand, 2005). Além disso, mesmo os valores da razão C:N

dos gastrópodas analisados com a concha (~ 5 a ~ 9) em Liess & Hillebrand (2005) ainda ficaram

muito abaixo dos obtidos neste estudo com B. tenagophila (tabela 24). Da mesma maneira que para

as razões C:P e C:N, a razão N:P foi maior quando Liess & Hillebrand (2005) analisaram os

gastrópodas com a concha, sendo que, neste caso, a diferença foi significativa. A razão N:P chegou

a ~ 140 quando os gastrópodas foram analisados com a concha e ficou entre 40 e 60 quando

analisados sem a concha. No caso da razão N:P, portanto, os valores encontrados por Liess &

Hillebrand foram maiores em relação aos obtidos para B. tenagophila (tabela 23). Nos outros

estudos com gastrópodas apresentados na tabela 24, com exceção de Figueiredo-Barros et al.

(2006), apenas as partes moles dos organismos foram consideradas para as análises do conteúdo de

C, N e P e, portanto, as razões C:N:P não foram determinadas considerando a concha. Para

pesquisas futuras, também seria interessante verificar se existem diferenças marcantes entre as

razões C:N:P de B. tenagophila relacionadas à concha analisando-se esta separada do tecido mole.

É óbvio que o organismo é a unidade concha-tecido mole, mas se determinar a razão C:N:P da

concha e do tecido-mole pode ajudar a compreender como é a alocação dos elementos para cada

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uma das principais partes que compõem B. tenagophila, e de que forma um desbalanço elementar

pode vir a afetar a síntese de cada uma destas partes.

Para a razão N:P, os valores deste estudo (tabela 23) ficaram muito mais próximos aos dos

gastrópodas da tabela 24. Obtivemos um valor médio da razão N:P para os 4 tratamentos de 17,9,

enquanto a média geral da razão N:P obtida para as espécies de gastrópodas dos outros estudos foi

de 29 (tabela 24). Entretanto, devido à grande variação nas razões N:P do Biomphalaria

tenagophila (tabela 23) fica difícil saber qual um valor mais comum para esta espécie. Talvez tal

valor padrão não exista devido à grande platicidade estequiométrica desta espécie.

Comparando a estequiometria do Biomphalaria tenagophila (tabela 23) com a dos demais

gastrópodas (tabela 24), deu para notar que nesta espécie existe uma enorme variabilidade das

razões C:N e C:P, enquanto a razão N:P varia de forma mais sutil. Poderia ser que o balanço entre o

carbono e o nitrogênio e entre o carbono e o fósforo estariam muito mais sujeitos a grandes

variações. A partir da razão N:P, se esperaria que o balanço entre o nitrogênio e o fósforo fosse

mais estável. Mas, como mostramos, B. tenagophila não tem uma homeostase estrita e estas

variações são apenas um reflexo das variações da estequiometria do perifíton. Realmente,

observando-se a estequiometria do perifíton (tabela 22), nota-se que a razão N:P perifítica também

variou muito menos. Talvez, as espécies de gastrópoda mostradas na tabela 24 sejam mais

homeostáticas e regulem de maneira mais eficiente o balanço entre o carbono e os nutrientes,

mantendo razões C:N e C:P mais baixas e evitanto o excesso de carbono à todo custo. Já

Biomphalaria tenagophila não gastaria tanta energia em manter razões C:N e C:P tão abaixo do seu

recurso alimentar (perifíton), conservando energia. Isto seria um reflexo de uma história evolutiva

que permitiu à linhagem ancestral de B.tenagophila se adaptar e sobreviver com uma dieta com alta

razão C:nutrientes. De certa forma, isto lhe traria alguma vantagem competitiva em relação às

espécies com menor plasticidade estequiométrica (Fink et al., 2006), que poderiam sucumbir frente

à um recusro alimentar de estequiometria tão variável.

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111

Tabela 24: Razões estequiométricas C:N, C:P e N:P para diversos taxa de invertebrados. Entre

parênteses está a classe (moluscos e crustáceos), a ordem (insetos e crustáceos) ou subordem

(insetos) de cada táxon.

Grupo taxonômico C:N C:P N:P Referência

Zooplâncton

Crustacea

Acanthodiaptomus (Copepoda) - 200:1 40:1

Bosmina (Cladocera) - 150:1 30:1

Daphnia (Cladocera) - 90:1 15:1

Diaphanosoma (Cladocera) - 100:1 20:1 Sterner & Hessen (1994)

Heterocope (Copepoda) - 180:1 40:1

Holopedium (Cladocera) - 120:1 20:1

Leptora (Cladocera) - 230:1 40:1

Polyphemus (Cladocera) - 250:1 40:1

Daphnia (Cladocera) 5.8:1 - - Matthews & Mazumder (2005)

Bentos

Annelida

Oligochaeta 5.3:1 140:1 25:1 Fink et al. (2006)

Hirudinea 4.8:1 168:1 35.5:1 Frost et al. (2003)

Mollusca

Gastropoda 6.5:1 600:1 105:1 Liess & Hillebrand (2005)

Biomphalaria tenagophila (Gastropoda) 141:1 1799:1 17,9:1 Presente estudo

Bithynia tentaculata (Gastropoda) 7.5:1 190:1 23.7:1 Fink et al. (2006)

Elimia livescens (Gastropoda) - - 28:1 Evans-White & Lamberti (2005)

Heleobia australis (Gastropoda) 5:1 146:1 29:1 Figueiredo-Barros et al. (2006)

Radix ovata (Gastropoda) 8:1 190:1 - Fink & Von Elert (2006)

Theodoxus fluviatilis (Gastropoda) 4.5:1 164:1 36:1 Liess & Haglund (2007)

Crustacea

Ostracoda - - 24,3:1 Presente estudo

Amphipoda 5.8:1 93.8:1 16:1 Frost et al. (2003)

Isopoda 5.4:1 150:1 25:1 Liess & Hillebrand (2005)

Asellus aquaticus (Isopoda) 5:1 120:1 20:1 Fink et al. (2006)

A. militaris (Isopoda) 5:1 100:1 18:1 Evans-White et al. (2005)

Caecidotea (Isopoda) 5.8:1 90:1 18:1 Evans-White et al. (2005)

Gammarus roeseli (Amphipoda) 5.5:1 125:1 25:1 Fink et al. (2006)

G. pseduolimnaeus (Amphipoda) 5.8:1 100:1 20:1 Evans-White et al. (2005)

Orconectes (Decapoda) 6:1 100:1 20:1 Evans-White et al. (2005)

O. propinquus (Decapoda) - - 18:1 Evans-White & Lamberti (2005)

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5. Conclusões Gerais

. O perifiton respondeu significativamente à adição de fósforo em ambos os experimentos,

demonstrando que o perifiton da lagoa Cabiúnas é limitado por este nutriente. Isto ficou nítido com

a diminuição das suas razões C:P e N:P nos tratamentos +P e +N+P (hipótese 1 parcialmente

aceita). Essa redução foi mais forte no experimento com ostrácodas, provavelmente devido a menor

proporção de detritos no perifiton deste experimento, que foi evidenciado através das menores

razões C:Clor a. A razão C:N do perifíton não respondeu significativamente à adição de nitrogênio

em nenhum dos dois experimentos. Portanto, o perifíton não estava limitado por este elemento.

Tabela 24: continuação.

Grupo taxonômico C:N C:P N:P Referência

Insecta

Anisoptera 5.1:1 131:1 25.7:1

Coleoptera 5.4:1 254:1 46.7:1

Diptera 5.8:1 151:1 25.9:1 Frost et al. (2003)

Ephemeroptera 5.6:1 133:1 23.7:1

Hemiptera 5:1 142:1 28:1

Trichoptera 6.9:1 157:1 24:1

Odonata (Zygoptera) 5.1:1 162:1 31.8:1

Coleoptera 5.7:1 250:1 45:1

Diptera 5.8:1 180:1 30:1 Liess & Hillebrand (2005)

Ephemeroptera 5.5:1 190:1 30:1

Chironomidae 6:1 180:1 30:1

Ephemeroptera 5.1:1 150:1 25:1 Fink et al. (2006)

Trichoptera 6.7:1 160:1 22:1

Tinodes waeneri (Trichoptera) 6.3:1 185:1 30:1

Calopteryx maculata (Odonata) 5:1 190:1 38:1

Helicopsyche borealis (Trichoptera) 7:1 206:1 43:1

Hydropsyche (Trichoptera) 5.8:1 200:1 40:1 Evans-White et al. (2005)

Psephenus herricki (Coleoptera) 6:1 250:1 51:1

Pteronarcys (Plecoptera) 6:1 220:1 40:1

Stenacron interpunctatum

(Ephemeroptera)

6:1 200:1 41:1

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. Os ostrácodas são consumidores mais homeostáticos do que Biomphalaria tenagophila. Isto

porque apesar das razões N:P dos ostrácodas variarem em função da N:P do perifiton, esta relação é

inversa, mostrando que ao se alimentarem de um perifíton pobre em fósforo (maior N:P), os

ostrácodas apresentam uma tendência em estocar mais este elemento diminuindo suas razões N:P.

Além disso, é possível que estes consumidores excretem mais N e conservem P, e empreguem uma

compensação alimentar ativa para compensar o déficit de P num perifíton pobre neste nutriente.

Tudo isto indica que os ostrácodas apresentam uma variação na sua estequiometria relacionada à

estequiometria do perifíton, porém possuem uma capacidade homeostática que lhes permite

conservar o elemento limitante (fósforo) (hipótese 2 parcialmente aceita para o experimento 1).

. O gastrópoda Biomphalaria tenagophila não tem homeostase estrita e sua estequiometria

varia em função da estequiometria do perifiton (hipótese 2 aceita para o experimento 2). Apesar da

regressão linear só deixar isto claro para a razão C:N, muitas evidências a partir dos nossos dados

permitem acreditar que este seja o padrão para as razões C:P e N:P. As razões C:P e N:P do

gastrópoda foram muito similares às do perifiton.

. A estratégia dos ostrácodas de excretarem mais N do que P e de conservarem fósforo na

biomassa também foi observada para B. tenagophila. Esta estratégia tem sido observada para outros

organismos que vivem em ambientes pobres em P, como é o caso da lagoa Cabiúnas.

. Biomphalaria tenagophila pode vir a liberar nitrogênio e fósforo de maneira diferenciada. O

nitrogênio seria liberado nas excretas em maior proporção, ficando disponível mais rapidamente

para o perifíton. O fósforo teria maior liberação nas egestas, as quais acompanham a razão N:P do

perifíton ingerido. Dessa maneira, ocorreria uma retroalimentação entre o balanço de nitrogênio e

fósforo na interação consumidor-perifíton.

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. Uma eutrofização artificial pode alterar a estequiometria C:P e N:P do perifiton da lagoa

Cabiúnas e afetar diretamente os consumidores menos homeostáticos como B. tenagophila. Desta

forma, a composição química e o balanço entre o carbono, nitrogênio e fósforo se alteraria na

relação consumidor vs. perifíton. Isto também poderia afetar o restante da teia trófica, que também

deve conter outros organismos pouco homeostáticos.

. Apesar do Biomphalaria tenagophila incorporar em sua biomassa o excesso de fósforo que

entraria no ecossistema a partir de uma eutrofização artificial, parte deste elemento se perderia nas

egestas. Assim, o gastrópoda não diminuiria o efeito da eutrofização ao consumir mais perifíton e as

egestas ricas em fósforo poderiam se acumular no sedimento, aumentando o estoque deste nutriente

no ecossistema. Em longo prazo, isto seria negativo contribuindo para uma eutrofização ainda

maior do ecossistema.

. A estequiometria ecológica da interação perifíton vs. Biomphalaria tenagophila revelou que

estes membros da comunidade bentônica da lagoa Cabiúnas podem responder ao aumento das

concentrações de fósforo do sistema. Nas condições naturais, isto se daria por uma entrada de

esgoto doméstico ou de fertilizantes vindos da bacia de drenagem. Ao se analisarem as razões C:P e

N:P do perifíton e do gastrópoda, seria possível identificar a entrada de um excesso de fósforo no

sistema. Tanto o perifíton como o gastrópoda Biomphalaria tenagophila, portanto, podem ser

usados como bioindicadores para se avaliar o estado trófico da lagoa Cabiúnas.

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