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Com o aumento do número de empresas abertas no País, investidores voltam os olhos para negócios nascentes e franquias ganham mais uma fonte para crescer POR CAMILA MENDON A A estabilidade da economia transformou o Brasil em berço para pequenos empreendedores. Hoje, o País já tem 6,9 milhões de mícro e pequenos negócios e 2,3 milhões de empreendedores in- dividuais. E a expectativa é de cres- cimento, com a formalização de 2,8 milhões de micro e pequenos empre- endedores e 1.6 milhão de empreen- dedores individuais até 2015. O cenário favorável para o cresci- mento rápido e contínuo dos peque- nos negócios tem atraído investidores que, até então, tinham os olhos vol- tados para as grandes empresas. Des- sa forma, fundos e pessoas físicas, conhecidas como investidores-anjos, passaram a se organizar em torno de negócios nascentes. "Em 2006 e 2007 o mercado come- çou a crescer de forma espetacular. E se surgem os empreendedores, surgem mais investidores'; afirma o diretor de busca, seleção e serviços a empreende- dores do Instituto Empreender Endea- vor Brasil, Marcos Simões. '',1 economia brasileira atingiu um patamar em que a possibilidade de re- Marcos Simões, Instituto Empreender Endeavor Brasil, 66 Franquia & Negócios I ABF í:i!2 JUN/JUl2012 I wwwfranquiaenegocios.com.br torno é altafrente a um I'"iSCO cada vez mais baixo. E o prõprio perfil do bra- sileiro está mais arrojado para fazer negócio. Ele é criativo e tem capacida- de de se adaptar a diferentes cenários econômicos, por isso o interesse dos investidores cresce", completa o dire- tor do Centro de Estudos de Liderança Empreendedora e vice-presidente do Institute of Performance and Leader- ship (IPL), Fernando Blanco. A evolução dos investidores-anjos não é possível de ser medida, pois, como pessoas físicas, não precisam de registro. Contudo, segundo o criador da Anjos do Brasil, Cassio Spina, esse número vem crescendo nos últimos dois anos. A Anjos é uma associação criada em 2011 que reúne 140 inves- tidores interessados em incentivar o crescimento de pequenos negócios. Spina explica que, assim como os fundos, os anjos interessam-se por empreendimentos nascentes que têm grande potencial de crescimento, in- dependentemente da área. Normal- mente, diz, os negócios que recebem mais atenção dos investidores têm a tecnologia como base, como novos aplicativos, softwares ou e-commer- ce. Tamanho interesse deve-se ao fato de que nessa área os retornos são mais rápidos. »

investidores voltam os - Anjos do Brasil · de rápido crescimento. Segundo os especialistas. os investidores querem escala e projetos que sejam replicáveis. Por isso, no raio--x

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Page 1: investidores voltam os - Anjos do Brasil · de rápido crescimento. Segundo os especialistas. os investidores querem escala e projetos que sejam replicáveis. Por isso, no raio--x

Com o aumento donúmero de empresasabertas no País,investidores voltam osolhos para negóciosnascentes e franquiasganham mais uma fontepara crescer

POR CAMILA MENDON A

A estabilidade da economiatransformou o Brasil em berçopara pequenos empreendedores.Hoje, o País já tem 6,9 milhões demícro e pequenos negócios e 2,3milhões de empreendedores in-dividuais. E a expectativa é de cres-cimento, com a formalização de 2,8milhões de micro e pequenos empre-endedores e 1.6 milhão de empreen-dedores individuais até 2015.

O cenário favorável para o cresci-mento rápido e contínuo dos peque-nos negócios tem atraído investidoresque, até então, tinham os olhos vol-tados para as grandes empresas. Des-sa forma, fundos e pessoas físicas,conhecidas como investidores-anjos,passaram a se organizar em torno denegócios nascentes.

"Em2006 e 2007 o mercado come-çou a crescer de forma espetacular. Ese surgem os empreendedores, surgemmais investidores'; afirma o diretor debusca, seleção e serviços a empreende-dores do Instituto Empreender Endea-vor Brasil, Marcos Simões.

'',1 economia brasileira atingiu umpatamar em que a possibilidade de re-

Marcos Simões, InstitutoEmpreender Endeavor Brasil,

66 Franquia & Negócios I ABF í:i!2 JUN/JUl2012 I wwwfranquiaenegocios.com.br

torno é alta frente a um I'"iSCO cada vezmais baixo. E o prõprio perfil do bra-sileiro está mais arrojado para fazernegócio. Ele é criativo e tem capacida-de de se adaptar a diferentes cenárioseconômicos, por isso o interesse dosinvestidores cresce", completa o dire-tor do Centro de Estudos de LiderançaEmpreendedora e vice-presidente doInstitute of Performance and Leader-ship (IPL), Fernando Blanco.

A evolução dos investidores-anjosnão é possível de ser medida, pois,como pessoas físicas, não precisam deregistro. Contudo, segundo o criadorda Anjos do Brasil, Cassio Spina, essenúmero vem crescendo nos últimosdois anos. A Anjos é uma associaçãocriada em 2011 que reúne 140 inves-tidores interessados em incentivar ocrescimento de pequenos negócios.

Spina explica que, assim como osfundos, os anjos interessam-se porempreendimentos nascentes que têmgrande potencial de crescimento, in-dependentemente da área. Normal-mente, diz, os negócios que recebemmais atenção dos investidores têm atecnologia como base, como novosaplicativos, softwares ou e-commer-ce. Tamanho interesse deve-se aofato de que nessa área os retornossão mais rápidos. »

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"Normalmente são empresas em mercados aque-cidos, que tenham modelos instalâueis e empreende-dores que conheçam o negócio, tenham comprome-timento de longo prazo e sejam inovadores", explicaFred Arruda. gesto r da Confrapar, empresa de fundoienture capital que investe em empresas de tecno-logia e comunicação.

Essas características, explica, garantem uma pri-meira boa impressão: "essa primeira variável é maissuperficial, mas a gente aprofundq a análise para verse essa percepção faz sent ido ou não". "-

Nessa hora, dizem os especialistas, é melhorarrumar a casa, porque todas as bases do negócioserão analisadas. Em muitos casos, o comprometi-mento do dono da empresa pode definir quem vaificar com o aporte.

''O que o investidor quer é o empreendedor nato,com o brilho 110 olbo. A concorrência é se/vagem, en-tão épreciso ser muito persistente para suportar todosos problemas em um ambiente hostil'; avalia o coor-denador do Comitê de Empreendedorismo, Inovaçãe Capital Semente ela ABVCAP (Associação Brasileirade Privare Equary & Venture Capitaj), Robert Binder.

E nesse mercado competitivo, inovação, com-petitividade e comprometimento podem não bas-

tar. Mercados de nicho. por exemplo, dificilmente entram nalista dos investidores, por terem maior risco e maior dificuldadede rápido crescimento. Segundo os especialistas. os investidoresquerem escala e projetos que sejam replicáveis. Por isso, no raio--x da companhia deve entrar uma análise de mercado detalhada:concorrência. perfil do consumidor, potencial de venda, o dife-rencial do produto e serviço.

'Normalmente. o inoestidor faz muitas perguntas para ter certezade que o empreendedor conhece muito bem o negócio que tem ', afir-ma Simões. ela Endeavor,

"Tecnologia tem apelo gra nde porque eruoloe I11U ita inoia-

ção, mas jâ recebemos projetos para criaçào de redes de fran-quias, por exemplo. Não há restrição", afirma Spina.

Ainda não é comum, mas negócios que já nascemtendo o modelo de franquias como fator de expansãotambém são visados.

"O projeto franqueâoe! permite que com menos capitalse faça mais negócio. O modelo de franquia é um gran-de acelerador de expansão. Se o investidor identifica que aempresa pode crescer por meio defranqu ias é o melhor dosmundos'; avalia Blanco, do 1PL.

Em 2010, a Associação Brasileira de Franchising (ABF).em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro ePequenas Empresas (Sebrae), realizou projeto-piloto comempresas incubadas que tinham potencial para crescer nomodelo de franquia. Segundo o Sebrae, existem cerca de500 negócios incubados com esse potencial. A ideia eraselecionar duas empresas para receberem investimentos eajudá-Ias a crescer. Uma delas foi a Wellness Movement. deSão José do Rio Preto, clínica de estética que integra traba-lho de fisioterapia e educadores físicos.

Após ser identificada, a empresa recebeu consultoriapara estrutural' e padronizar o negócio. Ao todo, o inves-timento foi de R$ 70 mil. Hoje, a marca tem uma unidadee está em busca de novos investidores, segundo a sócia eproprietária da rede, Renata Favaron.

'A ideia é acelerarmos o processo de vendas e expansâo,explica. Ela conta que, com o aperte, a empresa que no seuformato nascente faturava cerca de RS 50 mil por mês. hojefatura o dobro. cerca de RS 100 mil.

Captando recursos

Não é preciso esperar parcerias para que os investi-dores cheguem até o negócio, como no caso da \,\lell-ness. Especialistas afirmam que é possível captar os re-cursos necessários para que a marca cresça. Para isso. é

«Normalmente sãoempresas em mercadosaquecidos, que tenhammodelos instaláveis,empreendedores queconheçam o negócio etenham comprometimentode longo prazo e quesejam inovadores",

Robert Binder, da ABVCAP (Associação Brasileira dePrivate Equaty & Venture Capitãl).

preciso avaliar se o empreendimento tem o perfilque os investidores procuram.

Fred Arruda, gestor daConfrapar

Segundo os especialistas consultados, os empreendedores tam-bém devem estar preparados para meses de negociação. O Nascentí,que investe em empresas do Rio de Janeiro, é um dos dois fundos»

68 Franquia & Negócios I ABF -. JUNIJUl2012 I U'lI'wfrcmquiaellegocios.col1l.br

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regionais da Confrapar e, de janeiro de 2011 até agora, os investidoresavaliaram mais de 250 projetos e apenas dois conseguiram investimento.

Ao submeter o projeto aos investidores, o empreendedor costuma serquestionado quanto ao modelo de negócio.

"É preciso estar bem estruturado", reforça Arruda, gestor do fundo.Esse processo, conta, leva em média três meses. Nessa fase, o negócioé esmiuçado. Se tudo estiver certo, ele é avaliado por um Comitê - quedecide se investirá ou não. Depois mais questões são levantadas e asinformações passadas são checadas. Da apresentação à aprovação doinvestimento levam-se cerca de seis meses.

A inovação buscada pelos investidores não se restringe a novos pro-dutos e serviços.

''A inovação é no modelo de negócio, na forma de conduzi-to, nãoapenas no produto", enfatiza Spina, da Anjos do Brasil. Outro pontoque, geralmente, é muito questionado pelos investidores é o tamanho eo destino dos investimentos.

"Épreciso colocar nopapel qual é a necessidade da empresa e de quan-to ela precisa", diz o coordenador de graduação da Trevisan Escola deNegócios, Dalton Viesti. Saber de quanto precisa, para quê e de quantoserá o retomo é sinal de que o empreendedor conhece bem o negócio.

"Não é necessário um modelo de receitas pronto, mas é preciso mos-trar como ele vai ganhar. O investidor quer ter certeza de que os recursosvão alavancar o negócio", afirma Simões.

((Oinvestidor querter certeza deque os recursosvão alavancar onegócio"Marcos Simões, InstitutoEmpreender Endeavor Brasil,

Definindo objetivos

Com o negócio estruturado é hora de ir ao encontro dos investi-dores. Ao estabelecer quanto o negócio precisa e os objetivos dele, oempreendedor deve determinar o que é melhor para ele: fundos ouanjos. De maneira geral, os fundostêm mais recursos por unirem pes-soas físicas e empresas em um únicogrupo. Normalmente, investem emnegócios que requerem mais de R$1 milhão. Já os investidores-anjos,como são pessoas físicas, dispõem

meter erros simples ao apresentaro projeto.

"O problema do empreendedoré que ele subestima muito o desafioque é empreender'; avalia Spina. Di-zer que o negócio é único e não temconcorrente é um dos erros mais co-muns, diz.

"Qualquer negócio tem concorrente epor menor que ele seja, deve serde montantes menores.

"O empreendedor tem que estarvisível. Vá afóruns sobre empreende-dorismo e demonstre que o seu negó-cio tem alto potencial de crescimen-to'; recomenda Blanco.

Os especialistas também reco-mendam que os empreendedorescirculem por lugares onde estãopotenciais investidores-anjos enão desprezem o networking, poisele pode ser ponte para futuros in-vestidores.

Mas a caminhada não terminaquando o empreendedor encontrao investidor. Segundo os especia-listas, muitos perdem a rota por co-

analisado", afirma.Segundo os especialistas, informações não devem ser escondidas

e desentendimentos entre os sócios do empreendimento devem serresolvidos antes da conversa com o investidor. Além disso, tambémnão é bem visto superestimar o próprio negócio.

"O investidor vai circular dentro da empresa e pedir os números eestratégias. O empresário tem de mostrar de forma clara eprofissional",diz Blanco. "O negociador brasileiro é agressivo e estica demais a cordana hora da negociação e tenta vender a empresa de uma forma exagera-da. Oproblema é que não se costuma demonstrar a maravilha deformaconcreta, sem relatórios. E isso cria um abismo entre o discurso e o ladoconcreto na negociação", completa.

Segundo ele, procurar o investidor apenas em momentos de crise,seja da empresa ou do mercado em que ela atua, também entra na listados erros a serem evitados, afirma Blanco. 1:1.

7 O Franquia & Negócios I ABF ~ JUN/JUL 2012 I unouifranqutaenegocios.com.br