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Número 3 Março/Abril 2006 Na ponta do lápis Almanaque do Programa Escrevendo o Futuro

Língua Portuguesa - Almanaque03

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Page 1: Língua Portuguesa - Almanaque03

Número 3Março/Abril2006

Na ponta do lápisAlmanaque do Programa Escrevendo o Futuro

Na ponta do lápisAlmanaque do Programa Escrevendo o Futuro

Page 2: Língua Portuguesa - Almanaque03

ENTREVISTA

Marisa Lajolo2

RECADO DO LEITOR4

QUESTÃO DE GÊNERO

“Ofício de poeta”5

PÁGINA LITERÁRIA“O poeta como deseducador”,

texto de Ferreira Gullar6

ESPECIAL

“Atendimento personalizado”8

ONDE ESTÁ O FUTURO“Crianças contam e cantam o Brasil

em versos”10

DE OLHO NA PRÁTICA

12

IniciativaFundação Itaú Social

RealizaçãoCentro de Estudos e Pesquisas em Educação,

Cultura e Ação Comunitária – CENPEC

CoordenaçãoSônia Madi

Equipe de EdiçãoLuiz Henrique Gurgel (edição de texto e consultoria)

Maria Aparecida LaginestraRegina Andrade Clara

Leitura Crítica Anna Helena Altenfelder Maria Estela Bergamin Marta Wolak Grosbaum

RevisãoSandra Miguel

Edição de ArteEva Paraguassú de Arruda Câmara

José Ramos NétoCamilo de Arruda Câmara Ramos

IlustraçõesSuppa

Criss de Paulo

Equipe de ApoioEdileuza Alves Santana, Elisângela Alencar deAlmeida, Ivani Alencar, Maria Antonieta Rizzotti

Oliveira, Marina Brant de Carvalho Martins, TathyaneFernandes Tudda.

FotosPáginas 10/11: Antonio José dos Santos(AM/PA),Glauco Spíndola (BA/RN), Almir Salgado (SC/RS),Didier Pinheiro(MS/GO), Christina Rufato (ES/MG).

Fontes ConsultadasPoetas da escola – Ana Helena Altenfelder – 2004

Literatura: Leitores&Leitura – Marisa Lajolo –Editora Moderna – 2001

A poesia pede passagem – Elias José – Editora PaulusVaqueiros e cantadores – Luís da Câmara Cascudo –

Editora Globo – 1939Os cem melhores poemas brasileiros do século –

Ítalo Moriconi – Editora Objetiva – 2000http://www.bibivirt.futuro.usp.br/especiais/cordel

http:/www.museudofolclore.com.br

AgradecimentosAlice Ruiz

Ângela Leite de SousaElias José

José Francisco BorgesJosé Paulo Paes (in memorian)

Mônica FethOtávio Roth

Contato com a redaçãoRua Dante Carraro, 68

05422-060 – São Paulo – SPTelefone: 0800-7719310

E-mail: [email protected]

REPORTAGEM

“Poesia esparramada”14

TIRANDO DE LETRA16

O QUE VEM POR AÍ

18

TEXTO VENCEDOR

“Minha terra, minha gente”

19

COISAS DE ALMANAQUE

20

HISTÓRIA DE ALMANAQUE

“Como se inventaram os almanaques”

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SUMÁRIO

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EEEEEd id id id id itttttor ior ior ior ior iaaaaalllll

À procura da poesia eda qualidade

Na primeira edição de Na Ponta do Lápis,publicamos trecho de um dos mais belos poe-mas de Carlos Drummond de Andrade sobre ofazer poético. O autor sugere: “Penetra surda-mente no reino das palavras. Lá estão os poe-mas que esperam ser escritos. Estão paralisados,mas não há desespero, há calma e frescura nasuperfície intata”. A recomendação do poetabem que pode ter inspirado mais de 3 mil pro-fessores do Brasil a motivar seus alunos na cria-ção de poesias. Nesta edição trazemos umamostra do que produziram as crianças. Traze-mos também um texto inédito de outro dos mai-ores poetas brasileiros, escrito especialmentepara nosso almanaque. Trata-se de Ferreira Gullarfalando do ofício do poeta. Segundo Gullar, opoeta está próximo da criança que “vê o mundocom olhos virgens e que, por quase nada saber,está aberta ao mistério das coisas”.

Também conversamos com a professora Ma-risa Lajolo, que fala da melhor forma de o pro-fessor aproximar seus alunos da poesia.

E aproveitamos para dizer que, depois de trêsedições, ficou a certeza de termos atingido o ob-jetivo de abrir um canal de comunicação privi-legiado com os professores, levando informaçõesrelevantes e experiências que podem ser multi-plicadas. Nossa publicação transformou-se emespaço para que educadores relatem suas açõese expectativas de forma divertida e ao mesmotempo consistente. E tudo isso teria sido inútil senão fosse a certeza do diálogo. Não foi à toaque recebemos cerca de 4 mil mensagens, en-tre cartas-resposta, cartas comuns, e-mails e te-lefonemas com sugestões, comentários, solicita-ções e relatos de como professores utilizaramNa Ponta do Lápis em sala de aula. Até criançasescreveram contando situações em que se di-vertiram e o que aprenderam com a leitura darevista feita pelo professor.

São por notícias como essas que a equipedo Programa Escrevendo o Futuro, seus idealiza-dores e realizadores – a Fundação Itaú Social e oCenpec – já estão com as baterias ligadas e pre-parados para o próximo ano, quando teremos oPrêmio Escrevendo o Futuro 2006. Sabemos queiremos ampliar a parceria com professores e ges-tores de todo o Brasil para continuar aprimoran-do a qualidade do nosso ensino público.

A todos uma boa leitura e um bom trabalho!

Mensagem do CenpecEm 2005, o Cenpec completa 18 anos. Des-

de o começo voltado para a ação na educaçãobásica pública, tem trabalhado na escola, pensan-do currículos, produzindo materiais voltados à ace-leração da aprendizagem, intensificando progra-mas de formação de professores e gestores emeducação. Educação não pode estar dissociada daspolíticas sociais relacionadas à cultura, à assistên-cia social e ao desenvolvimento local sustentável.

Foi comungando com esses princípios que aFundação Itaú Social trouxe a idéia do Escrevendoo Futuro. Um projeto que vai muito além do prê-mio. Dentro de suas características, é um autênti-co programa de formação em que todas essas ques-tões estão envolvidas e articuladas. O que nosmotiva ainda mais é saber que ele continua cres-cendo, ampliando a cada edição o número de pro-fessores e alunos participantes, atuando junto comas comunidades na busca da qualidade.

Em 2006 nossa ação continua. Queremos atin-gir metas que garantam melhores condições deaprendizagem e solidifiquem novos padrões de qua-lidade no ensino público brasileiro.

Maria do Carmo Brant de CarvalhoCoordenadora-geral do Cenpec – Centro de Estudos ePesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

Mensagem do Canal FuturaFoi na escola que descobri – eu e grande par-

te da humanidade – a poesia.

No meu tempo as garotas mantinham cader-nos onde as amigas escreviam poesias, de própriaautoria ou que achavam em revistas. Até porqueali o que mais importava não era o verso e sim aamizade a que o poema era dedicado.

No entanto, nada foi mais decisivo na minhaformação do que a poesia em particular e a litera-tura em geral. Poderia ter sido na escola mas foiprincipalmente através da escola, de uma queridaamiga de colégio, que enveredei pelo mundo dasleituras para nunca mais ser a mesma.

Quem é professor e participa do prêmio Escre-vendo o Futuro (como nós que fazemos o Futura)está em posição privilegiada para libertar e expan-dir a poesia da grade curricular para convertê-laem insumo de transformação. Porque a escola éum imenso território afetivo onde não só cumpri-mos a trajetória da aprendizagem e da escolarida-de mas onde podemos selar destinos.

O gosto pela leitura (das poesias e das prosas) seinstala menos por razões explicadas na pedagogia emais por aquilo que é intangível, por aquilo que nostoca, por “sua capacidade encantatória”, como adescreve o poeta Ferreira Gullar. Se, no mundo dehoje, a beleza (de parâmetros tão discutíveis) é fun-damental para tantos, para nós que fazemos educa-ção, não há o que discutir: poesia é essencial. Por-que é matéria prima de nossa própria humanidade.

Lúcia AraújoGerente geral do Canal Futura

Page 4: Língua Portuguesa - Almanaque03

LEIA MUITOS POEMAS COM E PARA A CLASSE.

ENTREVISTA

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

MARISA LAJOLO

Marisa Lajolo é professora titular no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp.Costuma apresentar-se como alguém que, depois de inúmeras pesquisas, teses, artigos e

livros escritos sobre livros dos outros, resolveu escrever e publicar seu romance:“Gostei tanto da experiência que a vontade é deixar os livros alheios em paz e fazer os

meus próprios”. Das conversas com a equipe do Na Ponta do Lápis e de questõesenviadas a ela por e-mail, resultou esta entrevista na qual Marisa fala da importância do

trabalho com poesia para crianças e da publicação dessas obras infantis.Destaca o papel do professor para os pequenos leitores: “Na vida de cada leitor existiu,

quando criança, um adulto que o introduziu no mundo dos livros. Provavelmente oprofessor será –e precisa mesmo ser – essa pessoa a iniciar as crianças no maravilhosomundo da leitura. E tratando de poesia, o melhor é o professor poder começar pelo

resgate de sua história de leitor/ouvinte de poesia”.

Qual sua opinião sobre o fascículo “Poetas daEscola” do Kit Itaú de Criação de Texto?

O fascículo “Poetas da Escola” é importante porvárias razões. Mas duas são – de meu ponto de vista– as mais importantes. A primeira delas é que elematerializa o resultado do trabalho do professor. Aoutra é que ele documenta textos infantis, constituin-do assim um material muito útil para professores epesquisadores. E é importante “materializar” o traba-lho do professor. Acho que no trabalho escolar com aleitura e com a escrita, fica sempre no horizonte aquestão das materialidades dessas práticas. Um livro– e um fascículo é um livro, apenas um pouco maismagrinho – é uma das formas assumidas por essa ma-terialidade, talvez a mais valorizada socialmente. Daía importância de um projeto que culmina com a pro-dução de um livro. Meio que eleva a auto-estima detodos os envolvidos.

Lição para professor: contar aosalunos como conheceu a poesia

Que importância você vê na publicação de textosinfantis?

Creio que textos produzidos por crianças são umaporta de acesso para as hipóteses que ela – a criança– constrói sobre o funcionamento da linguagem. Nocaso de poesia, os textos que foram produzidos nobojo do projeto são preciosos pelo que mostram dashipóteses que as crianças constroem sobre o que é ecomo se faz poesia. Tanto professores quanto pesqui-sadores podem aprender muito com esse material.Os poemas dos finalistas e semifinalistas do Escreven-

do o Futuro em 2004 mostram que as crianças têmuma noção clara da especificidade da poesia. Ten-tam, por exemplo, garantir a sonoridade do texto atra-vés de rimas e de repetições de palavras e se inspi-ram nos temas tradicionais da poesia.

Marisa Lajolo

Como o professor pode começar o trabalho compoesia?

Acho que o trabalho com poesia pode ser muitodivertido e agradável. Desde, é claro, que o professorgoste de poesia. Acho que o professor pode começar– antes de iniciar o projeto de trabalhar poesia na salade aula – pelo resgate de sua história de leitor/ouvintede poesia. Qual foi o primeiro poema do qual se re-corda?

Os textos que foramproduzidos são preciosos pelo

que mostram das hipóteses queas crianças constroem sobre o

que é e como se faz poesia.

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ira

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LEIA REFORÇANDO A SONORIDADE, VARIANDO O QUE QUER SUBLINHAR DO POEMA.

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

No seu caso, qual foi esse poema?

Foi um poema que constava do livro de leiturado quarto ano, e nunca me esqueci dele. É assim:Bárbara be-la/ Do Norte estrela/ Que meu destino/Sabes guiar/ De ti ausente,/ Triste, somente/ As horaspasso/ a suspirar/ (...).

Eu não entendia bem todas as palavras, mas oritmo – hoje sei que se chama assim – me envolvia.Acabei decorando o poema e só mais tarde, quan-do tinha um repertório maior de textos, e com aajuda de uma professora – Dona Margarida –, con-segui lidar bem com as inversões “do Norte estrela”ou “de ti ausente”. Hoje sei que o poema é de Alva-renga Peixoto, um dos poetas da Conjuração Minei-ra, que o dedicou à mulher, Bárbara Heliodora, umadas primeiras poetas brasileiras.

Mas esse poema ainda hoje é adequado para ascrianças lerem?

Pode ser adequado ou inadequado. Dependedo professor. Acho que ele “funcionou” comigo tal-vez exatamente pelo que eu não compreendia dele.Analisando hoje a situação, creio que me fascinouum texto de alta musicalidade e de baixa comuni-cabilidade. Até hoje aposto num certo mistério quetorna alguns poemas irresistíveis. Como se a poesiafosse uma linguagem meio cifrada.

www.secrel.com.br/jpoesia/mlajolo.htmlwww.unicamp.br/iel/memoria

ela gostou de tal poema? Na vida de cada leitor exis-tiu, quando criança, um adulto que o introduziu nomundo dos livros. Provavelmente o professor será – eprecisa mesmo ser – essa pessoa a iniciar as criançasno maravilhoso mundo da leitura.

Publicações deMarisa Lajolo

Mas você falava das lembranças do professor...

Pois é. Creio que se o professor pensar no quefuncionou e no que não funcionou com ele, vai con-seguir fazer um trabalho interessante. Desde, comojá disse, que goste de poesia, e queira iniciar seusalunos na leitura e na produção de poemas. Será queos alunos não vão gostar de saber qual foi o primeiropoema que a professora leu na vida? E saber por que

Um trabalho como esse forma poetas?

Para mim, a escrita de poemas na escola não tema finalidade de formar poetas, embora, é claro, possaperfeitamente também despertar em alguns alunos avontade de escrever poemas. Tem a finalidade de fa-miliarizar os alunos com um tipo de escrita, e torná-los mais sensíveis para a leitura de poemas. De bons,de ótimos poemas.

Poesia é um texto para se ouvir ou para se ler?

A poesia nasceu oral. Nasceu em situações coleti-vas, com alguém usando uma linguagem cheia de rit-mo – e muitas vezes acompanhada de música. O re-gistro escrito da poesia é bem posterior. Acredito quea escola pode reproduzir este caminho da oralidadepara a escrita, da audição para a leitura.

Que indicações você daria para o desenvolvimentodo trabalho na sala de aula?

Acho que a maior sugestão é que o professor leiamuitos poemas com e para a classe. Leia bem os po-emas e leia de forma variada. Reforçando a sonorida-de, variando o que quer sublinhar do poema. Outraidéia é o professor incentivar os alunos a montar umálbum de seus poemas preferidos. Isto dará uma ra-zão para os alunos irem buscar poemas para ler, dis-cutir as preferências de cada um. Ou seja, creio quevale a pena tentar simular na classe os percursos quea literatura percorre fora da escola.

O professor pode começar –antes de iniciar o projeto de

trabalhar poesia na sala de aula– pelo resgate de sua história de

leitor/ouvinte de poesia.

Acho que o trabalhocom poesia pode ser muito

divertido e agradável.Desde, é claro, que o professor

goste de poesia.

Page 6: Língua Portuguesa - Almanaque03

E A SUA CARTA, QUANDO VAI CHEGAR?

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

RESPOSTA NA PÁGINA 21

RECADO DO LEITOR

Alunos reclamamda Carta SocialEstamos trabalhando com o Projeto “Car-tas trocadas, literatura partilhada” e en-viamos aos nossos colegas cartas, con-vidando-os a participar do projeto. Aotodo foram 37 cartas, que não chegaramao seu destino.Ficamos chocados com o que aconteceu,pois estávamos ansiosos com a chegada dasmesmas. Foi uma decepção para todos.Entramos em contato com a ECT e o re-torno foi que este tipo de carta não temgarantia de chegada. Se não há garantias,pensamos: Qual o motivo de sua existência?

Alunos do 2o ciclo da E.M. Francisco deSales Barbosa – Betim (MG)

RespostaA CARTA SOCIAL não chega ao destina-tário se não atende às características es-pecíficas desta correspondência, divulga-das no primeiro número do Na Ponta doLápis... Quando isso ocorre, ela é devol-vida ao remetente com um anexo explican-do por que a mesma não está de acordopara esse serviço.Encaminharemos um funcionário do Cor-reio, da cidade de Betim, à E.M. Franciscode Sales Barbosa, para conversar com osalunos e esclarecer as possíveis dúvidas.

Osmar Piedade, da Agência de CorreiosFranqueadas (ACF)

Jardim Paulistano (SP)

Elo entre geraçõesO tema “memórias” veio em um bom mo-mento, pois estou trabalhando a questão damigração e, através da seção, surgiu a idéiade solicitar às crianças uma entrevista comos familiares sobre sua origem, possibili-tando desta forma o resgate da históriada família, estabelecendo assim um elomaior entre as gerações.

Tânia Medrado de Souza, Taboão da Serra (SP)

Relembrando antigosprofessoresFiquei encantada com a história “Uma de-finitiva presença” e viajei no tempo relem-brando meus antigos professores, analisan-do o que cada um deixou em mim. Alguns,saudades, afeto; outros, receio. Mas dissotudo posso aproveitar os exemplos, poishoje sou eu que estou fazendo a minha his-tória com a dos meus alunos. Que lembran-ças deixarei?

Emília Elizabet de Carvalho Rocha,São José dos Pinhais (PR)

Carta do EscritorRecebi o almanaque Na Ponta do Lápis.Ele é bonito e tem uma linguagem colo-quial, capaz de criar uma relação afetuosacom os leitores. Seu conteúdo é substanci-al e necessário, sem se distanciar dos lei-tores. É uma publicação que vai fazer osprofessores mais amarem seu trabalho.Muito obrigado pelo carinho com meu tex-to. Fiquei feliz em estar com vocês.

Bartolomeu Campos Queirós,Belo Horizonte (MG)

Novo ânimoO Na Ponta do Lápis serviu como uma in-jeção de ânimo, estimulou a escrita da mi-nha classe, porque os textos são produzi-dos por crianças da mesma faixa etária.Meus alunos ficaram encantados com aPágina Literária e imediatamente pediram-me para escrever sobre o relaci-onamento que eles tiveram comoutros professores. Foi ótimo!

José Carlos do NascimentoSantos, Salgado (SE)

Referencial teóricoAlém da entrevista, destaco a Pá-gina Literária, uma verdadeirapoesia, uma lição de como a pos-tura do professor é importantepara o “despertar” do prazer daleitura. Maravilhoso também otexto da Profa Conceição Cabri-ni, bem como o relato das crian-ças e professoras. O almanaquetem unidade e coerência, o quemostra o referencial teórico dequem o elaborou.

Beatriz de Castro da Cruz,Curitiba (PR)

Boas e novas idéiasNa E. M. Prof. Guitil Federmann, estamosdesenvolvendo um projeto de resgate cul-tural, descendências e saberes dos avós dosnossos alunos, chamado “Novos tempos,eternos saberes”. Continuem com essaspropostas de atividades tão criativas e prá-ticas. Adorei o almanaque inteirinho!

Marie Desirré Ribeiro,Ponta Grossa (PR)

Seguindo o exemploNo segundo número do Na Ponta do Lápis,gostei muito da Página Literária. Fiqueiemocionada, pensativa... Até desejandoexercer a mesma influência em algum alu-no meu, assim como a professora persona-gem do texto exerceu sobre o escritor.

Julieta de Souza,Divinópolis (MG)

4

“O que não escrevi calou-me.O que não fiz partiu-me”

Affonso Romano de Sant’Anna

– R+ T

– a+ i

t+ m 7 – te+ u

senhorem inglês + io ae

– co – Á+ e

– p o

senhorem inglês + io Q – r

+ t

t+ m ( )– a+ i

– cô

– cô

Carta Enigmática

ESCREVA PARA NÓSRua Dante Carraro, 68

05422-060 – SÃO PAULO – SP

Page 7: Língua Portuguesa - Almanaque03

O POETA ESCREVE PARA BRINCAR, EMOCIONAR, CONVENCER.

Questão de Gênero

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

Ofício de poetaAnna Helena Altenfelder*

Não me importo com as rimas. Raras vezes Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra. Penso e escrevo como as flores têm cor.

Alberto Caeiro

Cada palavra tem sua história...Poesia, poíesis em grego, significa criação, fabricação, confecção.

Poeta, do grego poietés, significa autor. Era o indivíduo que compunha letra de dramas dasepopéias e dos outros cantos sentimentais.

Poema em latim significa composição em verso; companhia de atores, comédia, peça teatral,e do grego poíema “o que se faz, obra, manual; criação do espírito, invenção”.

Na Grécia Antiga, os poemas eram sempre declamados em público. Os próprios versos erammusicais, com ritmos diferentes em cada tipo de poema e apropriados para cada ocasião,

intimamente ligados à dor ou à alegria do poeta.

O ofício do poeta é mostrar ao leitor um olharpróprio, inovador, uma visão diferente das coisas,que surpreende, inspira e desperta emoções naque-les que lêem seus versos. O poeta escreve para brin-car, emocionar, divertir, convencer, fazer pensar omundo de um jeito novo.

Para conseguir encantar seus leitores, transmitirsuas idéias, experiências e emoções de forma origi-nal, o poeta usa a linguagem de maneira diferenteda que usamos habitualmente. Para conseguir fa-zer isso, utiliza-se de recursos poéticos. Ao comporum poema, pode, por exemplo, explorar a musica-lidade das palavras, criar imagens com elas, brincarcom os sons, ou dispor as palavras no papel de for-ma inusitada.

Algumas vezes os poetas jogam com a sonori-dade das palavras, buscando sons similares, riman-do as palavras no final dos versos, ou repetindo sonsparecidos ou iguais em várias palavras, fazendo comque elas ecoem ao longo do poema. O interessan-te é que brinca com os sons sem deixar de transmi-tir ao leitor uma idéia, sentimento ou sensação.

Os poetas preocupam-se também com o ritmo,ou seja, com que o poema tenha umacadência como um tamborbatendo em intervalosregulares, o quefaz com queo leitor percebao texto poéticopelo ouvido.É por isso quetão gostosoquanto ler poemasé ouvi-los sendodeclamados.

Além de ser percebido pelo ouvido, um poemapode ser identificado pelo olhar, pelo modo comoo texto é disposto na folha de papel. Alguns poetasdispõem os versos nas páginas de forma tão especi-al que criam uma imagem concreta, dando ao lei-tor a idéia do que vai ler, antes mesmo de ler aspalavras.

Mas poesia não é só aquilo que rima, tem síla-bas contadas, musicalidade, ou um esquema defi-nido de composição. Não é só a forma que impor-ta, mas principalmente a maneira de ver as coisas,como nos revela Alberto Caeiro (heterônimo de Fer-nando Pessoa) no poema que usamos na epígrafe.Um modo diferente do comum, como se o mundofosse visto pela primeira vez.

O poeta, para exprimir seu olhar próprio e ori-ginal, muitas vezes usa comparações. Pode ir aléme transmitir a impressão que algo lhe causou, crian-do imagens. Quando faz isso, usa o recurso da me-táfora, dando às palavras um sentido mais rico, comose elas quisessem dizer alguma coisa a mais.

Concluindo, não é fácil o ofício de poeta, é preci-so muito trabalho. Para comporem seus poemas,

os poetas, mesmo aqueles já consagra-dos, ficam muito tempo arruman-

do, organizando, mexendocom as palavras, experi-

mentando vários jei-tos de deixar o lugar-

comum, romper clichêse encantar o leitor comsua maneira própriade ver o mundo.*Mestre em Educação,

autora do fascículo Poetas da

Escola do Kit Itaú de Textos.

p o e s i a p o e t a p o e m a p o e s i a p o e t a p o e m a p o e s i a p o e t a p o e m ao me es oi pa ap io se et oa p o e s i a p o e t a p o e m a p o e s i a p o e t a p o e m a p o e s i a p o e t a p o e m

Page 8: Língua Portuguesa - Almanaque03

A POESIA É A MANEIRA QUE O POETA TEM DE INVENTAR-SE COMO SER HUMANO

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

Página LITERÁRIA

O poeta como deseducador

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Ferreira Gullar

É mais fácil o poeta se per-guntar para que serve a poe-sia do que o leitor. O poeta àsvezes se pergunta por que temque entregar-se a ela e aí énatural indagar se vale a penauma tal opção de vida. Masse ele é mesmo poeta, a talindagação é retórica, porqueele já sabe de antemão a res-posta: pergunta para reafir-mar-lhe a necessidade. Defato, para o poeta, a poesia éa maneira que tem de inven-tar-se como ser humano.

A verdade é que todos nóssomos uma invenção de nósmesmos. Ninguém nasce pron-to, nem com um destino pre-determinado. É verdade queaquele que se tornar poeta oupintor ou jogador de futebol játraz consigo, ao nascer, as qua-lidades que lhe possibilitarãotornar-se uma coisa ououtra. Mas é precisoque ele descubra isso edecida dedicar a vida aum tal destino. Portan-to, quando o menino –ou a menina – se des-cobre poeta, terá queentregar-se à poesia,terá que ler os poetas,mergulhar em seumundo imaginário e,assim, enriquecer o seuconhecimento da poe-sia. É a partir da leiturados outros poetas – dosbons poetas e especial-mente dos grandes po-etas – que ele vai inven-tar a sua própria poe-sia, porque ninguémparte de zero.

O mesmo acontece comas outras pessoas: para quese inventem, necessitam as-similar o que já foi inventadoe, então, transformá-lo. Todosnós, ao nascermos, já encon-tramos a sociedade criada pe-las gerações anteriores, comseus valores e normas – ummundo mais cultural que na-tural, que é o habitat huma-no. Somos mais seres cultu-rais que naturais. E é dentrodeste universo cultural quevamos nos inventar como in-divíduos e entes sociais. Porisso mesmo, deve-se concluirque é nos demais integrantesda sociedade que encontra-mos o sentido de nossa exis-tência. O homem é um serpara o outro. Tanto mais umpoeta que, se escreve antesde mais nada para expressar-

se, sabe que o ato de escre-ver só se completa na leitura,quando o outro lê o que eleescreveu.

Esse leitor tanto pode serum adulto como uma crian-ça, e o resultado da leitura,feita por um ou por outro, de-pende de muitos fatores. Mas,no fundamental, é a capaci-dade encantatória da poesiaque conta, uma vez que opoeta visa sobretudo tornarmais rica a vida, mais presen-te o mistério e o encanto daexistência. Neste sentido, po-der-se-ia dizer que o poeta éum deseducador, se se enten-de que educar é transferir parao aluno o conhecimento já as-similado pela sociedade. Opoeta, ao contrário do educa-dor, questiona o estabelecido,põe à mostra o inusitado, o

novo, e assim reinven-ta o real.

Nisto, contraditoria-mente, o poeta seaproxima da criança,que vê o mundo comolhos virgens e que,por quase nada saber,está aberta ao misté-rio das coisas. Para acriança – como para opoeta –, viver é umaincessante descobertada vida. Esta identifica-ção entre o poeta e acriança constitui umparadoxo da existên-cia, que se alimentatanto do conhecimen-to estabelecido quan-to de seu questiona-mento.Biblioteca de Ferreira Gullar

Page 9: Língua Portuguesa - Almanaque03

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

PARA O POETA, VIVER É UMA INCESSANTE DESCOBERTA DA VIDA.

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Poemas deFerreira Gullar

Fo

to:

Clá

ud

ia A

him

sa

Ferreira Gullar é poeta e recebeu vários prêmios como Machadode Assis, maior homenagem da Academia Brasileira de Letras,

Jabuti, Molière e Príncipe Claus.

Traduzir-seUma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

Traduzir uma parte

na outra parte

– que é uma questão

de vida ou morte –

será arte?

Gullar e sua imagem emminiatura

“A POESIA ESTÁ NA JANELA”O maranhense Ferreira Gullar é freqüentemente

instigado a falar de poesia e do poeta. Selecionamostrechos de entrevistas e declarações concedidas porele nos últimos anos, com sua visão sobre o ofício.

“O homem não faz poesia para sair da vida, ele faz poesiapara ter coragem de viver.”

“(...) a poesia está na janela, na paisagem, na música,em qualquer coisa. Poesia é um sentimento, uma emoção.

Conhece-se poesia através da música, do teatro, dapintura, do cinema. Em tudo isso há poesia. Agora, o

gênero literário chamado poesia, que existe no poema,somente se expressa através do poema.”

“O poema é escrito por ser necessário.O nascimento de um poema será sempre um

acontecimento inusitado. Será sempre uma espécie deexplosão que salta da boca. A poesia sempre estará

presente na vida das pessoas. Porque as pessoas sentemnecessidade de valorizar a própria vida.”

“O poeta vive a ‘dialética do prosaico com o poético’,explicando que o poema é o lugar onde a prosa vira

poesia, porque a prosa é o nosso falar, o falar de todosnós, da boca de todos.”

“O poeta é alguém que está sempre em busca dealgo que não sabe o que é, porque, para ele, ‘o poema é a

invenção de alguma coisa que ainda não existe’.Nisso, ‘não há fatalidade alguma, mas uma aventura’,explica o poeta, para quem ‘escrever poesia é inventar

poesia, sempre’, como a vida que, segundo ele, também‘é inventada’, e não, uma fatalidade.“

Page 10: Língua Portuguesa - Almanaque03

VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DO EDUCADOR E TAMBÉM DO ALUNO.

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

Participantes do ProgramaEscrevendo o Futuro em

Minas e Pernambucoficaram agradavelmente

surpresos com as análisesfeitas por especialistas

da UFMG e UFPEsobre os textos elaborados

por seus alunos.

Luiz Henrique Gurgel

ESPECIAL

Equipe da professsora Maria da Graça da CostaVal reunida para análise dos textos de Minas.

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Há 15 anos no magistério, trabalhandocom crianças do ensino fundamental, MariaTadéia Rafael Batista, professora na cidade deTabira (PE), ficou surpresa quando recebeu cartado Programa Escrevendo o Futuro com a avalia-ção do texto escrito por seu aluno José AntônioMelo de Gois, de 12 anos.

Além de comentários, a carta continha su-gestões de atividades e encaminhamentos aotrabalho que ela desenvolve com os alunos. “Jáparticipei de muitos concursos, mas nunca tiveretorno nenhum, foi a primeira vez”, disseMaria. A surpresa da professora tem se repeti-do em várias cidades de Minas Gerais e Per-nambuco. Um projeto piloto criado pelo Pro-grama Escrevendo o Futuro, com especialistasdas Universidades Federais de Minas Gerais ede Pernambuco, está possibilitando a quase1.300 professores dos dois estados receberemavaliações pessoais sobre o trabalho com tex-tos desenvolvidos com seus alunos.

Poucas vezes especialistas e pesquisadoresda área de Educação puderam estabelecer umintercâmbio tão direto com professores do en-sino básico na área de leitura e escrita.

Estratégia inéditaEm Minas o trabalho é coordenado pela pro-

fessora doutora Maria da Graça da Costa Val,do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita(Ceale) da UFMG. Em Pernambuco, pela pro-fessora doutora Elizabeth Marcuschi, coorde-nadora do Núcleo de Avaliação e Pesquisa Edu-cacional da UFPE. As equipes das duas pesqui-sadoras receberam textos dos alunos semifina-listas de 2004 em seus respectivos estados efizeram as avaliações.

Segundo Maria da Graça, “a análise dos tex-tos dos alunos é detalhada”. A preocupação équalitativa, “pensamos no retorno que pode-mos dar ao professor, abordando vários aspec-

tos do texto, algo que pudesse contribuir coma prática dele”. Em Minas Gerais são quase milprofessores que receberão a correspondência.Cada membro da equipe de Maria da Graçaescreveu 100 cartas. “À medida que esse pro-fessor comenta com o colega o retorno queteve, passa informações e isso multiplica”, elaexplica.

Marcuschi chama a atenção para a novida-de do projeto: “É uma estratégia inédita, des-conheço propostas de formação em que se dêum retorno individual ao professor. No caso des-se trabalho, dentro do Escrevendo o Futuro, éum retorno à pessoa do professor”. Ela ressaltaa valorização do trabalho do educador e do alu-no também, já que é importante mostrar que otexto do aluno teve leitores. “Na rotina escolar,em geral, fica uma incógnita para o aluno: ‘paraquem eu estou escrevendo?’. Nesse retorno, aprofessora vê que aquele texto teve leitor e,além de darmos indicações de uma prática pe-dagógica, de como superar as dificuldades iden-tificadas no texto do aluno, estabelecemos umdiálogo, pois se a escrita não tiver interlocuto-res, não faz sentido.”

E foi isso que chamou a atenção da profes-sora Maria José de Oliveira Camilo, da E. M.Prof. Dalmir Santos Maia, em Ouro Preto (MG).

Atendimentopersonalizado

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Page 11: Língua Portuguesa - Almanaque03

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O retorno ao professorAs cartas enviadas aos professores queparticiparam do Programa Escrevendo o

Futuro contêm comentários citando ospróprios textos dos alunos. Veja abaixotrecho da que foi enviada à professora

Maria Tadéia Rafael Batista,de Tabira (PE), com a análise do poema

criado por seu aluno José Antônio.

(...)“O resultado da análise que fizemos do poema‘Tabira’ revela que José Antônio compreende bemalguns aspectos do universo poético, em especialaspectos relativos à forma de apresentação desse

gênero textual, já que atribuiu um título ao poema,organizou-o em versos, divididos em estrofes, e

utilizou bem o recurso da rima.Além disso, atendeu à proposta, produzindo o

texto sobre o lugar em que vive.

Outro aspecto positivo da produção textual deJosé Antônio é o uso apropriado da comparação,que o jovem poeta conseguiu associar ao recurso da

rima.Um bom exemplo está na primeira estrofe:

Tabira minha cidadeQue eu amo de coração

Moro aqui desde novinhoMas hoje sou grandão

Todo ano eu cresço um poucoTabira cresce de montão

(...) A última estrofe de um poema deve indicarque mais nada se tem a dizer sobre o assuntoabordado. Para isso, é importante que não se

acrescentem idéias inteiramente novas na conclusão.Observe a última estrofe do poema de José

Antônio. As informações inteiramente novascriam um expectativa de que ‘falta alguma coisa’

para o encerramento do texto:

Tem igreja matrizTem escola em todo ladoTem clínica, tem hospital

Tem um comércio equipadoTem grande feira de frutaA maior feira de gado

Você pode sugerir a seu aluno que ele retome osdois primeiros versos da primeira estrofe e crie mais

um ou dois versos, reforçando a declaração deamor pela cidade em que vive. Assim, ele aproveitae amplia o poema, que tem apenas três estrofes.”(...)

“É uma estratégia inédita,desconheço propostas de

formação em que se dê umretorno individual ao professor.”

Professora Elizabeth Marcuschi

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

LOGO QUE RECEBI A CARTA, FUI CONVERSAR COM OUTRA PROFESSORA PARA PLANEJAR O PRÓXIMO ANO.

Segundo ela, “é gratificante para o aluno saberque o trabalho dele foi visto”. Já Leci Maria deSouza, professora na Escola Imaculada Concei-ção, em Arcoverde (PE), afirma que esse tipode comunicação desfaz a sensação de isolamen-to: “A gente trabalha no coletivo e logo que re-cebi a carta fui conversar com outra professorapara planejar o próximo ano”. Lucia Maria Mar-tins, professora em Recife (PE), diz que ficou“orgulhosa com a carta e o reconhecimento, jáque eu tive pouco tempo para trabalhar”.

Fonte de pesquisaAs pesquisadoras também destacam o fato

de os textos dos alunos serem uma importan-te fonte de pesquisa para quem lida com oensino da escrita e a formação de professores.“É uma fonte de dados fantástica. Os textos dosalunos nos ajudam a entender quais são e comosão trabalhados os gêneros, quais são as difi-culdades. Por eles você chega à prática do pro-fessor”, afirma Marcuschi. A equipe do Ceale,em Minas, já estuda possibilidades de pesquisaproporcionadas pelos textos dos estudantes.“Essa discussão sobre gêneros discursivos éuma discussão acadêmica muito atual e quenão acontece só no Brasil”, explicouMaria da Graça. Ela também destacaa importância disso para a formação:“A idéia é sempre valorizar o profes-sor, dizer o quanto é importante eleparticipar, pois esse programa ultra-passa a dimensão de um concurso,para intervir na formação do professor.Foi isso que me fez abraçá-lo”.

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Page 12: Língua Portuguesa - Almanaque03

ONDE ESTÁ O FUTURO

Mãos à obra!Você costuma ler poemas para sua turma?

Seus alunos gostam de poesia? Sabem

algum poema de memória?

O que fazer para enriquecer o repertório

poético das crianças?

Sabemos que o poema quando nasce vem

carregado por todos os poemas lidos, ouvidos,

recitados.

Por isso, convidamos você a ler as sugestões

de oficinas e os textos indicados no fascíc

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Poetas da Escola, do Kit Itaú Criação de

Texto – 2004, que pode contribuir no seu

trabalho.

Deixe os poemas invadirem sua sala de aula!

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.”

Luís de Camões

OLHANDO EM VOLTA, AS CRIANÇAS DESCOBRIRAM QUE TUDO PODE SER MOTIVO DE POESIA.

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

Crianças contam e Mapa na mão olho no mapa mão no olho vamos tentar encontrar a cidade

(Nicolas Behr, Veia Poética)

Olhando em volta, as crian-ças descobriram que tudo podeser motivo de poesia: a históriada cidade, a instabilidade do cli-ma, a vegetação, o sabor das fru-tas, as peculiaridades da paisa-gem do lugar onde vivem.

Lendo, recitando e conviven-do com textos poéticos, os alu-nos aprenderam a brincar comas palavras e com o ritmo; expe-rimentar arranjos com rima e semrima; reinventar versos, combinara melodia das palavras sem per-der de vista a construção do sen-tido em seus poemas. A inspira-ção e o exemplo vieram de umaquadrinha conhecida, do poemade um autor famoso, de uma le-tra de moda de viola ou de umrap. E, assim, deram conta de re-tratar de forma poética cada can-to do Brasil.

Retrato de damaem preto e branco

“A minha cidade é lindaUm grande cartão-postalAlegria pra quem chegaNo portal do pantanal

O forte aqui é o gadoOrgulho pras regiõesAbastece o Brasil inteiroE também outras nações.”Tiago Osvane Nascimento Santana,10 anos – Três Lagoas – MS

Chão de terra, berço meu

“Açaí, charque, feijãoMenino de pé no chãoMãe gritando no portão:Moleque, sossega e pára,tome seu banho jáPra igreja é hora de irO culto já vai começarAntes da chuva das quatro cair.”

Aritha do Socorro Souza, 12 anos– Benevides – PA

Manaus cabocla

“Cupuaçu, buriti e açaíNão são frutas conhecidasMas delas se faz bebidasQue marcam quem vem aqui

Amo nossas frutasCom elas também se faz licorAlgumas parecem feias,Outras têm forte sabor.”

Brenda Kerolem da Silva e Silva,11 anos – Manaus – AM

Page 13: Língua Portuguesa - Almanaque03

DERAM CONTA DE RETRATAR DE FORMA POÉTICA CADA CANTO DO BRASIL.

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

cantam o Brasil em versos

Vida rurbana

“O clima é variado,às vezes amanhece quente,outras vezes está nublado.Sem falar na geada constante,é um frio cortante.Quando chove muito,a preocupação não tem fim.Pois acontecem enchentes,algo muito ruim.”Ewerton Luiz Silva dos Reis, 10 anos– Campina Grande do Sul – PR

Princesa da serra

“Minha cidade é tão belaA princesa da serraOnde o vento canta nos camposBeijando a Terra

Em 1766 Lajes era povoadoBugres, Bandeirantes e TropeirosChegaram aqui primeiroFicaram pela terra encantados.”Scheila D. A. Ramos, 11 anos – Lages – SC

Entre lagoas eflorestas

“Linhares, minha cidadeParaíso sem igual.Tem a lagoa JuparanãVerdadeiro cartão-postal

Tem ainda maravilhosasReservas florestais.Vale do rio doce, goitacazes,Verdadeiros paraísos deplantas e animais.”Lucas Augusto Buzato,10 anos – Linhares – ES

Meu lugar paraalém das palmeiras

“Minha terra tem traíraE também a curimatãTem pé de laranjeiraE também a jaçanã

Minha terra tem juremaE também a faveleiraTem o pé de xique-xiqueE também a catingueira.”Railton Xavier de França,13 anos – Jucurutu – RN

Que lugar é esse?

“O clima é semi-áridoE demora de chover.Quando a seca é retada,É coisa de entristecer.No polígono da seca,Muitos bichos vão morrer.”Bruna Moura Oliveira, 10 anos –Teofilândia – BA

Canto aos meus lugares

“Em Minas Gerais, meu estado,Cidades históricas é o que há,como São João Del Rey,Ouro Preto e também Sabará.

Da culinária mineiranão posso me esquecer.Vou falar do pão de queijo, uai!Que gostoso de comer.”Bruna Dias do Carmo Costa,10 anos – Belo Horizonte – MG

Page 14: Língua Portuguesa - Almanaque03

Quando chega a hora da leitura, revisão e reescrita do poema, a atuação do

professor é fundamental. Por isso, oriente sua turma a verificar se:

� o título do poema é pertinente, original, sugestivo, instigante para o leitor;

� o tamanho do verso está adequado ou compromete o ritmo da estrofe;

� as sensações, emoções e sentimentos sobre o lugar onde vive estão expressos

nos versos e estrofes;

� há necessidade de acrescentar palavras, suprimir outras, para garantir a

regularidade do ritmo, a unidade melódica e a qualidade do verso;

� na exploração do tema proposto, “ O lugar onde vivo”, percebe-se que

ressaltam um aspecto interessante do lugar, uma paisagem bonita, um jeito de

ser do povo, um acontecimento curioso...;

� há no poema características, marcas peculiares, que revelam a identidade do

lugar onde o aluno mora;

� o poema contém recursos como: quadra, aliteração, comparação, lirismo.

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

No título o autorexpressa seu desejo:a reivindicação por

igualdade.

Com quantos textos Acompanhe passo a passo

O autor não revela emseus textos as

peculiaridades dolugar onde vive, mas

tem muito a dizersobre a história dosmigrantes, que não

conseguem criarraízes.

A idéia da produçãoinicial se mantém,

assim como a voz doautor, que se identificajá na primeira estrofe.

Da primeira produção até chegar ao texto final, há muito o que fazer. Como o professor podeajudar seu aluno a voltar ao texto, dialogar com ele e encontrar novas possibilidades para melhorar

aspectos de sua produção? Nesse momento, são muitos os questionamentos:

EU QUERIA SER IGUAL

Sou um meninoinquieto e preocupado,sou pequeno e sinto faltado meu pai, do lado.

Ganhei o nome de LalauEu gosto desse nome,acho que é legalParece nome de homem.

Imagino que LalauÉ porque não paro, eu e minhamãe vivendo de bolacha de sal.

Lalau não é nome tão feio,mas morar ali e logo láe assim que o nome veionão pude fazer nadaé coisa do destinoeu creio.

Queria ser normalMorar num bairroigual ao que todomundo mora.Colocar roupa no varal.

Quando me perguntamdo lugar onde vivofico enroladoe indeciso.

Queria tanto mostraro crescimento, as lembrançaseu não vejo lembrançaspois estou esperando, o diaque eu não voumais precisar de estar mudando.

Eu vivo neste lugar,que é meu Paranáe sei que outros vãome esperar.

Será que é sina?não acho que sejahoje moro em Apucaranae amanhã possomudar para Sertaneja.

Eu quero um cantinhopara que a minha famíliairemos juntos ficarpor muitos anos ali fixaresquecendo a palavra “mudar”.

CONHEÇO MUITOS LUGARES E SEI QUE OUTROS ESTÃO A ME ESPERAR.

O tema “O lugar onde vivo”mobiliza o aluno a escrever. Emprosa, ele retrata as agruras de sua

vida itinerante.

O LUGAR ONDE VIVO

Hoje eu moro ali na Rua Rio Negro,na Vila Regina. Moro lá há quase trêsmeses. É muito tempo para quem vivemudando!

Isso porque eu e minha família nãoparamos muito tempo em nenhumlugar. Já perdi a conta das vezes quemudei.

Na minha casa, eu moro com minhafamília, e a principal estrela é a mi-nha mãezinha: não tenho pai. E é elaquem sustenta a casa.

São menos de duzentos reais parapagar todas as despesas.

Se a minha estrela lá de casa não bri-lhar, eu e meus irmãos passamosfome.

Apesar das dificuldades, agradeço aDeus pela minha estrela. Amo muitomeus irmãos e espero ter boa chan-ce na vida.

De Olhona Prática

Um dedo de prosa

Page 15: Língua Portuguesa - Almanaque03

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUENA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

Para além dessas versões há muito empenho e dedicaçãopor parte de professor e aluno. Foram muitas leituras,planejamentos, produções, intervenções, revisões, acertos,decisões, até chegar à última escrita. Trabalho pronto,convidamos você a ler e se emocionar com o expressivopoema “Igual a todo mundo”.

O título maisincisivo instiga o leitor

para a leitura.

IGUAL A TODO MUNDO

Sou um meninoinquieto e preocupadojá desde pequeno,sei o que é sentir faltade um pai do meu lado.

Ganhei o apelido de Lalauaté gosto desse nome.acho que é muito legal,parece mesmo nome de homem.

Imagino que Lalaué porque não tenho paradeiro,eu e minha pobre mãezinha,igual a muitos brasileiros,vivendo de bolacha, água e sal.

Lalau não é nome tão feio,Mas morar ali e logo lá,Ali, lá, ali, lá, lá, lá...É assim que este nome veio.Nunca pude fazer nada,É coisa do destino, eu creio.

Queria ser normal.Morar num bairro igualAo que todo mundo mora.Estender roupa no varal.

Quando me perguntamdo lugar onde vivo,fico todo enroladomuitas vezes indeciso.

Queria tanto retrataro crescimento, as mudanças.Não consigo ter lembranças,Pois vivo a esperarO dia em que não vouMais precisar mudar.

O lugar onde vivoÉ esse Paraná.Conheço muitos lugaresE sei que outrosEstão a me esperar.

Será que isso é sina?Não acredito que seja.Hoje estou em Apucarana,mas e amanhã?Posso estar em Sertaneja!

Eu queria um cantinhoonde eu e minha famíliapoderíamos juntos morar.Por muitos e muitos anosali ficar, esquecendo para sempreA palavra “mudar”.

se faz um texto de qualidade? a construção do poema “Igual a todo mundo”

IGUAL A TODO MUNDOSou um meninoInquieto e preocupado.Já desde pequeno,Sei o que é sentir faltaDe um pai do meu lado.

Ganhei o apelido de LalauAté que gosto desse nome.Acho que é muito legal,é mesmo nome de homem.

Imagino que Lalaué porque não tenho paradeiro,eu e minha pobre mãezinha,igual a muitos brasileiros,vivendo de bolacha água e sal.

Lalau não é um nome tão feio.Mas morar ali e logo lá,ali, lá, ali, lá, lá...É assim que esse nome veio.Nunca pude fazer nada,é coisa do destino, eu creio.

Queria tanto ser normal,morar num bairro igualao que todo mundo mora.Estender roupa no varal.

Quando me perguntamdo lugar onde vivo,fico todo enrolado,muitas vezes, indeciso.

Queria tanto retrataro crescimento, as mudanças.Não consigo ter lembranças,pois vivo a esperaro dia em que não voumais precisar mudar.

O lugar onde eu vivoé esse Paraná.Conheço muitos lugarese sei que outrosestão a me esperar.

Será que isso é sina?Não acredito que seja.Hoje estou em Apucarana.Mas e amanhã?Posso estar em Sertaneja!

Eu queria um cantinhoonde eu e minha famíliapudéssemos juntos morar.Por muitos e muitos anosdeixando para trása tristeza de “mudar”.

Aluno: Fernando Henrique de Lima,12 anos, 4a série, Apucarana – PR

o que é preciso acrescentar, retirar, reorganizar e reescrever? Para ajudá-lo a encontrar boassaídas no trabalho de aprimoramento dos textos, selecionamos algumas das muitas

escritas do aluno Fernando Henrique de Lima, finalista em 2004, para leitura e análise.

Com a substituição dealgumas palavras opoema ganha maisritmo e fortalece osentido do texto.

O uso apropriadodo recurso da rima

sensibiliza o leitor pelolamento velado, que

perpassa amusicalidadedos versos.

O ajuste da pontuaçãoimprime maior

expressividade aopoema.

DEIXANDO PARA TRÁS A TRISTEZA DE “MUDAR”.

Page 16: Língua Portuguesa - Almanaque03

AS CRIANÇAS APRENDEM A DAR MUSICALIDADE AO TEXTO.

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

REPORTAGEM

Poesia foi o gênero de texto com o maiornúmero de inscrições no Programa Escrevendo oFuturo em 2004. Foram 3.773 poemas, escritospor estudantes de quarta e quinta séries em es-colas públicas do Brasil. Os próprios alunos, coma orientação dos professores participantes, es-colhiam o gênero a ser trabalhado.

As oficinas realizadas renderam frutos, am-pliaram os horizontes, os leitores e os ouvintesdos pequenos autores. Escolas organizaram sa-raus e editaram coletâneas com os poemas dosalunos; um poema virou rap, chamando a aten-ção de um DJ famoso; houve aluna que gostoutanto da experiência de escrever que, participan-do de outro concurso, foi premiada e vai conhe-cer a Dinamarca.

Da poesia ao conto, deMinas à Dinamarca

Em Belo Horizonte,Bruna Dias do CarmoCosta, de 11 anos, es-tuda numa escola comnome de poeta: Viní-cius de Morais. Foi láque começou sua par-ticipação no ProgramaEscrevendo o Futuro.Orientada por sua pro-fessora Juliana Bitten-court Andrade, a garo-ta trabalhou com o gê-nero poesia dentro dasoficinas de criação detexto e escreveu “Can-to aos meus lugares”,poema em que fala das

cidades e dos horizontes das Minas Gerais. Foisemifinalista do estado.

Bruna conta que aprendeu a trabalhar commais liberdade e “a colocar as coisas de uma for-ma poética”. O aprendizado a entusiasmou e elacontinua a escrever: “Escrevo histórias e poemaspara mim mesma”. E foi assim que Bruna ganhou,

Poesia esparramadaCom experiências e resultados surpreendentes, poemas escritos por alunospara o Programa Escrevendo o Futuro extrapolaram os muros da escola.

Levaram crianças a outros lugares e foram ouvidos e lidos pela comunidade emsaraus, livros e rádios comunitárias.

Luiz Henrique Gurgel

em agosto deste ano, o concurso UPF-Hans Chris-tian Andersen, promovido pela Universidade dePasso Fundo (RS) e pela Embaixada da Dinamar-ca. Ela escreveu o conto A bailarina encantada,baseando-se em A pequena sereia e A pequenavendedora de fósforos, histórias infantis do céle-bre escritor dinamarquês. Como prêmio, Brunae sua professora Juliana viajam na primeira se-mana de outubro para a Dinamarca, onde irãoconhecer as cidades de Copenhague, capital dopaís, e Odense, cidade natal de Andersen.

Para a professora Juliana, que também faz usoda poesia em outras disciplinas, “as oficinas doprograma ajudaram demais, as crianças apren-dem a dar musicalidade ao texto sem precisarestar rimando sempre”. Este ano, lecionando His-tória e falando da escravidão para alunos da quin-ta série, trabalhou com o livro A cor da pele, dopoeta mineiro Adão Ventura. Juliana também uti-liza poemas de Elias José, Sérgio Caparelli e AnaMaria Machado.

Ritmo e poesiaTambém inspirado no lugar onde vive, o cari-

oca Bruno Márcio Moura, de 11 anos, escreveuo poema “Paz no meu lugar”. A realidade nemsempre agradável dos bairros pobres do Rio deJaneiro e a esperança denovos e bons tempospara a cidade foram te-mas de Bruno. Depoisque a sua classe resol-veu participar do pro-grama no gênero poe-sia, Bruno levou livrospara casa e começoua ler, escrever e bus-car rimas. “Fiz um ca-derno só de rimas”,conta. O garoto foi se-mifinalista e partici-pou, com outros es-tudantes, de oficinasrealizadas num hoteldo Rio de Janeiro.

Bruna Dias doCarmo Costa,

semifinalista em 2004

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Bruno Márcio Moura,semifinalista em 2004

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Page 17: Língua Portuguesa - Almanaque03

PORTAS ABERTAS PARA A POESIA.

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NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

delas foi valorizado”, explicaEmília, que aprecia a poesia deJosé Paulo Paes e de Almir Cor-reia. Ela também destaca os fru-tos do trabalho: “Agora, os alu-nos ficam me pedindo mais po-esias para eu levar para eles”.

Aprendendojunto

Na cidade de Caicó (RN), aprofessora Maria da ConceiçãoSaraiva de Andrade lançou mão

de uma idéia original para trabalhar a poesia comseus alunos. Além de realizar as oficinas propos-tas pelo programa, em toda festividade da escolaela organizou saraus, convidando poetas da ci-dade e contadores de histórias. Nos encontroscom as crianças, os autores eram entrevistados,falavam e liam seus poemas, contavam histórias.O projeto de Conceição foi adiante e a direçãoda escola resolveu lançar o livreto “Portas aber-tas para a poesia” com os poemas dos alunos eilustrado por eles mesmos. “Fizemos um sarau ànoite com os pais, direção, supervisão, onde osalunos foram apresentados e declamaram seuspoemas”, conta a professora.

Conceição explica que aprendeu ainda maiscom o trabalho: “As oficinas requerem muita lei-tura, planejamento, debate e pesquisa, mas com-pensam, porque aprendem juntos, educador eeducando”.

Crianças de Caicó (RN) lêem seus poemas.

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Alunos de diversos cantos do país publicam suas poesias.

Foi lá que descobriu o ritmo que havia em seupoema. “Surgiu do nada, sem eu esperar. Comdois colegas que eu conheci na oficina, comeceia cantar o poema. Nem imaginava que podiavirar letra de rap”, explica. Na premiação regio-nal, Bruno cantou seu rap acompanhado pelogrupo Meninas do Conto – “todo mundo can-tou, foi mágico”.

Jorge dos Santos, pai de Bruno, entusiasma-do com a criação, levou o garoto para gravar umCD “caseiro” e divulgar o rap em rádios comuni-tárias dos bairros do Realengo e de Bangu. “Vá-rios DJs e MCs começaram a convidar o Brunopara cantar em festas e encontros na rua”, contaJorge. Mas foi o grupo Malha Funk que resolveuir além. Convidaram Bruno para editar e gravarsua música no Lynk Estúdio, do DJ Marlboro. Ago-ra, enquanto aguarda a produção do CD, Brunocontinua a escrever: “Estou fazen-do mais músicas e a experiênciaestá sendo muito legal”.

Livros e sarausEm outros pontos do Brasil, pro-

fessores e escolas organizaram eeditaram livretos reunindo os poe-mas produzidos pelos alunos parao Escrevendo o Futuro. Em São Josédos Pinhais, cidade próxima a Cu-ritiba (PR), a professora Emília deCarvalho Rocha lançou “Vamosbrincar de poesia?”. A sugestão foida orientadora da escola e Emíliafoi pedir ajuda na própria comuni-dade para a impressão da coletâ-nea. “Fiquei surpresa com a reaçãodas pessoas que leram os poemas.Um professor de Literatura aposen-tado me enviou até uma análise dolivro”, conta a professora que há 23anos trabalha na escola, no bairrorural da Contenda. O lançamentoteve festa com sarau para os pais ea comunidade. “Foi importante, ascrianças sentiram que o trabalho

Page 18: Língua Portuguesa - Almanaque03

1a oficina

RECONHECENDO POESIA

“Vocês conhecem poesia? Gostam de poesia?”

Dividi os alunos em equipes e pedi que

escrevessem poemas para afixar no mural.

Depois propus que cada um escrevesse um

poema com o tema “O lugar onde vivo”.

Expliquei que as produções seriam guardadas

para as compararmos com os textos finais.

Não foi fácil: apareceram narrações, trava-

línguas e quadras que sabiam de memória;

outros fugiram do tema.

Professora cearense conta a experiência de como sensibilizou seus alunos comversos. Registrou o trabalho etapa por etapa, revelando as dificuldades, os acertose o desempenho da turma, revendo e refletindo sobre a prática em sala de aula.

Lúcia Maria S. Ribeiro*

TIRANDO DE LETRA

2a oficina

SABENDO MAIS SOBRE POESIA

Provoquei conversa sobre poemas. Os alunos

disseram que um texto poético é mais bonito e

desperta mais emoção que notícia de jornal,

receita ou conto. Também observaram a estrutura

e o jogo de palavras presentes nos poemas.

Registrei as idéias em uma folha e deixei exposta

na sala. Os alunos começaram a identificar as

peculiaridades dos poemas.

7a oficina

POESIA POPULAR

“Vocês conhecem poesiapopular, de cordel?”Como poucos conheciam,solicitei que fizessemuma pesquisa sobre esseestilo. Descobriram quea poesia de cordel écomum no Nordeste.Declamei um trecho dopoema Emigração e as

conseqüências dePatativa do Assaré efalei sobre o escritor.

8a oficinaIDENTIFICANDO EMOÇÕESE SENTIMENTOSRecitei o poema com emoção, poisqueria envolver os alunos. “O quevocês sentiram ao ouvir o poema?”Solicitei que representassem seussentimentos em uma folha. Deixei-os à vontade; saíram trabalhosbelíssimos. Criamos versos e pusna lousa, esclarecendo o que eraum poema lírico.

9a oficina

VENDO O MUNDO DE UM

MODO POÉTICO

Iniciei a aula lendo o poema

O leão, de Vinícius de Morais.

“Por que o poeta compara o

rugido do leão a um trovão?”

Responderam que o rugido do

leão é tão sonoro quanto um

trovão. Fiz outras perguntas e

em seguida pedi que procuras-

sem no mural poemas que

apresentassem metáforas.

Encerrei lendo o poema Milagre

no Corcovado, de Ângela Leite

de Sousa.

11a oficina

TECENDO POEMAS

Para o texto final, retomamoso trabalho das oficinas e ospoemas publicados no mural.Conversamos muito sobre otema “o lugar onde vivo” esobre as peculiaridades denossa cidade. Lembrei queeles deveriam tomar algumasdecisões ao escreverem opoema: título sugestivo,organização dos versos eestrofes, rimas, repetiçõesde palavras, ritmo dalinguagem, metáforas etc.

Oficinas de poesia

Milagre no Corcovado(...) Para a cidadeDe ponta a ponta maravilhosaA gente sente um arrepio:O milagre é o próprio Rio!

Cidadezinha

Mário Quintana

Cidadezinha

cheia de graça...

Tão pequenina

que até causa dó!

Patativa doAssaré

(1909-2002)Um dosmaiores poetaspopulares doBrasil, retratistada caatinganordestina cujaobra foiregistrada emfolhetos decordel.

10a oficina

DIFERENTES OLHARES

SOBRE O MESMO TEMA

Pedi aos alunos que falassem sobre sua

infância. Dividi a turma em grupos e dei os

poemas Doze anos, Infância e Colégio para

leitura. Conversamos sobre o tema e os

grupos dramatizaram os poemas. Transcrevi

os textos, fizemos uma análise dos recursos

poéticos presentes e identificamos as

comparações existentes em cada um deles.

Em seguida disse: “Pensem em coisas que

gostam e coisas que não gostam do lugar

onde vivem. Façam comparações e

registrem no caderno”.

TIRANDO DE LETRA

16

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

ORGANIZEI UM SARAU COM OS POEMAS COLHIDOS PELA TURMA.

Page 19: Língua Portuguesa - Almanaque03

3a oficinaCATADORES DEPOEMASLi O catador depensamentos (MônicaFeth), com uma entonaçãocaprichada para despertara emoção dos alunos.Aproveitando o entusiasmo,propus: “Vamos sercatadores de poemas?”.Todos ajudaram: familiares,moradores e poetas danossa cidade.

4a oficinaOUVINDO E LENDOPOESIAEssa oficina foi espetacular,afinal os alunos gostam deuma aula diferente: organizeium sarau com os poemascolhidos pela turma e outrosque selecionei. Fizemos umvaral poético. Os alunosescolheram poemas no varale leram para os colegas.Coloquei música instrumentalpara tornar o ambiente maisaconchegante.

5a oficina

BRINCANDO COM EMOÇÕES E

PALAVRAS

Iniciei a oficina com a pergunta: “O que

é uma coisinha à-toa que deixa vocês

felizes?”. Afixei as respostas no mural.

Em seguida li o texto: Duas dúzias de

coisinhas à-toa que deixam a gente feliz

(Otávio Roth). Conversamos sobre as

idéias do autor e as rimas que criou.

Desafiei a turma: vamos escrever o

nosso “Duas dúzias de coisinhas-à-toa

que deixam a gente feliz”?

6a oficina

BRINCANDO COM

RIMAS, REPETIÇÕES E

ALITERAÇÕES

“Vocês sabem o que é

acróstico?” A maioria disse

que não. Fiz um acróstico

com meu nome para explicar.

Depois pedi que cada aluno

fizesse um com o próprio

nome. Também ensinei o que

é aliteração, usando uma

estrofe do poema Bolha de

Cecília Meireles.

(...)Pensamentosde todosos tipos:alegres,tristes,inteligentes,bobos,bonitos (...)

“Passarinho na janela,pijama de flanela,brigadeiro na panela.”

(Otávio Roth)

Acróstico: poesia em que

as letras de cada verso

formam, em sentido vertical,

um ou mais nomes ou um

conceito, máxima etc.

12a oficina

TOQUE FINAL

Fim do trabalho; hora de rever os

textos e fazer a autocorreção.Coloquei no quadro itens queauxiliariam na revisão. Foram feitas

modificações. Pedi que passassem

o texto a limpo. Escolhemos três

finalistas e os enviamos para acomissão escolher o melhor.Foi um trabalho árduo, masalcançamos o objetivo proposto.

* Professora na EEIEF VereadorRaimundo Nonato de Sena,

Quixeré – CE.

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

RECITEI O POEMA COM EMOÇÃO, POIS QUERIA ENVOLVER OS ALUNOS.

Quixeré, que faço agora?

Quixeré, que faço agora?

Tu és tão pequenina

Como te defenderei

Dessa gente, ó menina?

Todos querem se apossar

De tua serra que é linda.

A chapada do Apodi

Entre todas a mais bela

Terra rica e frutífera

Todos olham para ela

Suspirando e desejando

Ah! Se eu fosse o dono dela!

Muita gente de fora

Aqui já se instalou

E com suas grandes firmas

O povo escravizou

Hoje quem era patrão

chamam-no de senhor.

Sei que muitos benefícios

Essas firmas nos trouxeram

Mas a exploração

É demais e sou sincero

Prefiro ver Quixeré

Virar um cemitério.

Não é com egoísmo

Que falo desses abusos

É porque a escravidão

Já passou, e é absurdo

Ver meu povo escravizado

Como se fosse surdo-mudo

Antes, nossa cidadezinha

Era uma tribo bem singela

Mas os índios que a habitavam

Tinham carinho por ela

Lutavam com entusiasmo

Ninguém se apossava dela

Hoje o nosso povo

Não a defende com ardor

É triste ver o estrangeiro

Ser chamado de senhor

E também ver nossas riquezas

Serem levadas sem pudor.

Quixeré, que faço agora?

O meu grito eu já dei

Porém ele é bem pequeno

E na verdade eu não sei

Se ele vai ecoar

Ou vai se calar de vez.

Maria Eliane Mercês da Silva,

12 anos – 5a série

semifinalista, em 2004

17

Page 20: Língua Portuguesa - Almanaque03

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

No fio da meada

O VENTO VARRE A CAMPINA

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el.

A seca do Ceará Leandro Gomes Barros

Seca as terras as folhas caem,Morre o gado sai o povo,O vento varre a campina,Rebenta a seca de novo;Cinco, seis mil emigrantesFlagelados retirantesVagam mendigando o pãoAcabam-se os animaisFicando limpo os curraisOnde houve a criação

O cordel teve influência

dos povos espanhóis,

franceses e principal-

mente, os portugueses

que se fixaram na região

nordeste na época da

colonização. Na Espa-

nha, França e em Portu-

gal o cordel é escrito em

prosa, no Brasil a carac-

terística marcante é do

cordel em verso, no esti-

lo dos repentistas. Em

cada folheto, o poeta

popular, numa rica varia-

ção de versos, conta fa-

tos do cotidiano, grace-

jos, desafios, romance,

história de encantamen-

to, de valentia e de per-

sonalidades importantes

da cultura popular.

18

O que Vem por Aí

O Escrevendo o Futuro, em parceria com o canal Futura, produziu oprograma Mão e Giz - uma série de animação sobre o ensino deleitura e escrita por meio de gêneros textuais. São três episódios queabordam o trabalho com Texto de Opinião, Memórias, Poema. Asescolas inscritas no Prêmio em 2006 receberão o vídeo pelo correio.Fiquem atentos!

Prêmio Escrevendo o Futuro

No dia 13 de março aconteceu, em São Paulo, o lançamento nacio-nal da 3a edição do Prêmio Escrevendo o Futuro. Confira abaixo, asdatas dos lançamentos nos pólos regionais.

Belém: 17 de marçoBelo Horizonte: 21 de março

Fortaleza: 24 de marçoGoiânia: 31 de março

Rio de Janeiro: 3 de abrilCuritiba: 6 de abril

Inscrições à vista

Professor, participe do Prêmio! As inscrições podem ser fei-tas pela internet através do site da Fundação Itaú Social(www.fundacaoitausocial.org.br), do Cenpec (www.cenpec.org.br) oudo Programa Escrevendo o Futuro (www.escrevendoofuturo.org.br).As fichas de inscrição também estão disponíveis em todas as agên-cias do Banco Itaú. Estamos enviando junto com este número do Naponta do lápis, uma ficha para facilitar a inscrição de nossos leitores.

Pra valerA comunidade na internet do Escrevendo o Futurowww.escrevendoofuturo.org.br está no ar desde setembro e é pontode encontro de professores. Além de notícias relativas ao programa,entrevistas, informações sobre cursos e eventos,e dicas de linksinteressantes,a comunidade possibilita que professores de todo oBrasil possam conversar, trocar idéias e experiências em tempo real.Basta acessar a página e se cadastrar.

Mão e Giz

Page 21: Língua Portuguesa - Almanaque03

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

19

Texto Vencedor

Conheça umpouco mais omenino poetaMinha casaA minha casa não é um luxo, mascarinho tem muito. Lá moram,quatro pessoas: eu, meu pai, minhairmã. Não tenho bichos, mas umdia terei e darei muito amor a eles.

Meus amigosSão muito legais. É com eles quecompartilho os meus segredos,vitórias e derrotas. E para mim,com eles a vida é uma festa.

Um sonho que tenhoO meu sonho é muito grande.Às vezes penso que não vouconseguir. Sei que tenho queestudar muito para ocupar umacadeira na Academia de Letras eser grande poeta, o melhor domundo.

Escrevendo o futuroQuero que no futuro a guerra seacabe, a seca no sertão, a fome e apobreza do mundo. Que o mundoviva uma grande e profunda paz,amor e que todo mundo viva semmortes e sangue derramado.

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Minha terra, minha gente

Na noite dorme a cidade:no alto chia o vento,acordadas, só ficam as estrelaso frio para o pobre é o lamento

Manhã vem chegando,roncos de trovãoA mãe prepara a marmitaenquanto chega caminhão

Se cai chuva, não tem trabalho;o chão molhadodesfaz a marmitaé hora de ajeitar o telhado.

Se não fosse pelo dinheiroa alegria seria completa;a família reunida;Só com pão se faz a festa.

Quando vem a estiagemestende-se o agasalho;é hora de secar a roupapra mais um dia de trabalho.

A bênção é sagradaPra quem sobe no trator,As mãos ficam de farpas;O corpo sente a fadiga e a dor.

Durante a colheitaCantos de alegria,devotos ensaiam o gritopara o filho de Maria.

E quando chega o Natal,a enxada fica esquecida;Na mão calejada do meu avôVai uma sanfona aquecida.

A bandeira vai na frente,o embaixador canta o hino,avisa de casa em casa,o nascimento do menino.

A vida de quem mora lá em cima,não sei se é diferente,sei que sou muito felizem viver com minha gente.

ACORDADAS, SÓ FICAM AS ESTRELAS

Euler Júnior Machado,10 anos, 4a série, E. M. José

Henrique Avelar (Santo Antôniodo Amparo – MG)

Ch

ristin

a R

ufa

to

Page 22: Língua Portuguesa - Almanaque03

COISAS DE ALMANAQUE

1- Quem é o autor dos seguintes versos?“De tudo, ao meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento”

a) Camões

b) Paulo Leminski

c) Gonçalves Dias

d) Vinícius de Morais

2 - Dos versos relacionados abaixo, qual é de autoria de JoséPaulo Paes?a) Um passarinho me contou b) Passarinho na janela,

que a ostra é muito fechada, pijama de flanela,que a cobra é muito enrolada, brigadeiro na panela.,que a arara é uma cabeça oca, Gato andando no telhadoe que o leão-marinho e a foca... Cheirinho de mato molhadoXô, passarinho! Chega de fofoca! disco antigo sem chiado

c) (...) Lá no fundo do quintal d) Não basta abrir a janelaTem um tacho de melado Para ver os campos e riosQuem não sabe cantar verso Não é bastante não ser cegoÉ melhor ficar... Para ver as árvores e as flores

3 - É de Carlos Drummond de Andrade o famoso poema“José”. Qual dos trechos relacionados abaixo faz partedesse poema?a) “Hoje é seu dia, José b) ”O rei da brincadeira

de subir na construção” É, José”c) “E agora, José? d) ”Olhe o que foi meu bom José

A festa acabou” Se apaixonar pela donzela”

4 - Na letra da canção Lua de São Jorge, quando CaetanoVeloso escreveu os versos: “Lua de São Jorge, lua sobera-na, nobre porcelana, sobre a seda azul“, ele fez uso deum recurso poético:a) de cordelb) de metáforac) de trava-línguad) de acróstico

5 - ”Toda gente homenageia Januária na janela.” Nesseverso da letra da canção Januária, Chico Buarque usao recurso chamado:a) ritmob) lirismoc) melodiad) aliteração

6 - Cora Coralina, assim como outros poetas, também sededicou à literatura infantil. Qual dos títulos abaixo é deum livro infantil de poesia de sua autoria?a) Ou isto ou aquilob) Olha o bichoc) Os meninos verdesd) A arca de Noé

O que você sabe da artede compor ou escrever

versos?

Forma de poesia japonesasurgida no século XVI e ain-da hoje em voga, compostade três versos, o primeiro decinco, o segundo de sete eo terceiro de cinco sílabas,que geralmente tem comotema a natureza ou as esta-ções do ano.

Foi introduzido no Brasilem 1936 por Guilherme deAlmeida:

Um gosto de amoraComida com sol. A vidaChama-se: “Agora”

Em época mais recente,Paulo Leminski explora no-vamente o hai-kai, adaptan-do-o, seguindo a tendênciado poema moderno, ou seja,sem a rima.

Como fazer hai-kaide acordo com Paulo

Leminski

- Você tem a fórmula doconteúdo, que é ao queos poetas contemporâ-neos obedecem, ao invésda contagem de sílabas.

- Escolha temas simples:natureza, estações, tem-po, aves, etc.

- O primeiro verso expressaalgo permanente, eterno.

- O segundo introduz umanovidade, um fenômeno.

- O terceiro e último, é a sín-tese.

Hai-kai

20

NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE

LUA SOBERANA, NOBRE PORCELANA, SOBRE A SEDA AZUL.

Quantas coisas

um sonho quer dizer

e não diz?

AlAlA lA lA liiiiiccccce Re Re Re Re Ruizuizuizuizuiz

Page 23: Língua Portuguesa - Almanaque03

HISTÓRIA DE ALMANAQUE

Sabem que o Tempo é, desde que nasceu, um ve-lho de barbas brancas. Entretanto, uma coisa é barba,outra é coração. As barbas podem ser velhas e os cora-ções novos; e vice-versa: há corações velhos como bar-bas recentes. Não é regra, mas dá-se. Deu-se com oTempo. Um dia o Tempo viu uma menina de quinzeanos, bela como a tarde, risonha como a manhã, sosse-gada como a noite, um composto de graças raras e fi-nas, e sentiu que alguma coisa lhe batia do lado esquer-do.

– Que é isso? Murmurou o velho.

Sentiu que era amor: mas olhou para o oceano, vastoespelho, e achou-se velho. Amaria aquela menina a umvarão tão idoso?

– Como te chamas, linda criatura?

– Esperança é meu nome.

– Queres amar-me?

– Tu estás carregado de anos – respondeu ela –; euestou na flor deles. O casamento é impossível. Como techamas?

– Não te importe o meu nome; basta saber que teposso dar todas as pérolas de Golconda...

– Adeus!

– Os diamantes de Ofir...

– Adeus! adeus!

Esperança fugiu. O Tempo ficou a olhar, calado, atéque a perdeu de todo. Abriu a boca para amaldiçoá-la,mas as palavras que lhe saíam eram todas de bênção.

Foi por essa ocasião que lhe acudiu a idéia do al-manaque. Não se usavam almanaques. Vivia-se sem eles;negociava-se, adoecia-se, morria-se sem consultar taislivros.

– Se eu achar um modo de trazer presente aos olhosos dias e os meses, e o reproduzir todos esses anos,para que ela veja palpavelmente ir-se-lhe a mocidade...

Raciocínio de velho, mas tudo se perdoa ao amor,ainda quando ele brota de ruínas. Assim toda a Terrapossui, no mesmo instante, os primeiros almanaques.

– Agora, sim! – disse Esperança pegando no folhetoque achou na horta –, agora já me engano nos dias dasamigas. Irei jantar ou passar a noite com elas, marcandoaqui nas folhas, com sinais de cor dias escolhidos.

Ano findo, outro almanaque; assim foram eles vin-do, até que esperança contou vinte e cinco anos, ou,como então se dizia, vinte e cinco almanaques. Nessemesmo instante apareceu-lhe o Tempo.

– Aqui estou,não deixes que te chegue à velhice...Ama-me...

RESPOSTAS: CARTA ENIGMÁTICA (p.4): “Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia é o mistério que todas as coisas têm.” (García Lorca)

TESTE (p.20): 1- d 2- a 3- c 4- b 5- d 6- c

Esperança respondeu-lhe com duas gaifonas, e dei-xou-se estar solteira. Há de vir o noivo, pensou ela.

Um dia, Tempo desceu a ver a bela Esperança,achou-a anciã, mas forte, com um perpétuo sorriso noslábios.

– Ainda assim, te amo, e te peço... – disse ele.

Esperança abanou a cabeça; mas, logo depois, es-tendeu-lhe a mão.

– Vá lá – disse ela –; ambos velhos, não será longoconsórcio.

– Pode ser indefinido.

O velho Tempo pegou da noiva e foi com ela paraum espaço azul e sem termos, onde a alma de um deuà alma de outro o beijo da eternidade. Toda a criaçãoestremeceu deliciosamente. A verdura dos corações fi-cou ainda mais verde.

Esperança, daí em diante, colaborou com os alma-naques, cada ano, em cada almanaque, atava Esperan-ça uma fita verde. Então a tristeza dos almanaques eraassim alegrada por ela; e nunca o Tempo dobrou umasemana que a esposa não pusesse um mistério na se-mana seguinte. Deste modo todas elas foram passando,vazias ou cheias, mas sempre acenando com algumacoisa que enchia a alma dos homens de paciência e devida.

Assim as semanas, assim os meses, assim os anos. Echoviam almanaques, muitos deles entremeados e ador-nados de figuras, de versos, de contos, de anedotas, demil coisas recreativas. E choviam. E chovem. E hão dechover almanaques. O Tempo os imprime, Esperançaos edita; é toda a oficina da vida.

(Condensado e adaptado deAlmanaques dos Fluminenses.

Rio de Janeiro, H. Lombaerts & Cia., 1890,pp.8,12,15,18,21,24)

os almanaquesComo se inventaram

Dois horizontesDois horizontes fecham nossa vida:Um horizonte, – a saudadeDo que não há de voltar;Outro horizonte, – a esperançaDos tempos que hão de chegar;No presente, – sempre escuro, –Vive a alma ambiciosaNa ilusão voluptuosaDo passado e do futuro. (...)

Page 24: Língua Portuguesa - Almanaque03

Iniciativa Apoio Parceria Realização

Conselho Nacional deSecretários de Educação

Ministério da Educação

Prêmio Escrevendo o Futuro 2006

Iniciativa Apoio Parceria Realização

Conselho Nacional deSecretários de Educação

Ministério da Educação

Prêmio Escrevendo o Futuro 2006

Queremos ver seu nome neste mapa.Você e seus alunos podem ser os próximos vencedores

do Prêmio Escrevendo o Futuro.

As inscrições estão abertas de 14 de março a 8 de maio de 2006.

Comece agora. Espalhe a notícia. Seus alunos vão aprender muito!

Para maiores informações, visite os sites doCenpec (www.escrevendoaofuturo.org.br) e da

Fundação Itaú Social (www.fudacaoitau.org.br) ouligue: 0800 – 7719310.

(*) professores finalistas em 2004