12
MARCO ZERO Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter Ano I Número 8 Curitiba, novembro de 2010 NÃO ALIMENTE OS POMBOS! O Coronel Nascimento, do Bope, interpretado pelo ator Wagner Moura no filme Tro- pa de Elite 2 (foto), materializa na telona o desejo de muitos brasileiros. p. 10 Um herói do século 21? Trânsito no centro é lento e estressante Motoristas queixam-se da lentidão do tráfego no centro de Curitiba, principal- mente nos horários de volta para a casa, entre as 18h e 19h. A avenida Guarapuava é uma das avenidas mais congestinadas congestionadas da cidade. p. 5 Divulgação Eliaquim Junior

Jornal Marco Zero 8

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal Marco Zero 8

Citation preview

Curitiba, novembro de 2010 MARCO ZERO

MARCO ZEROJornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 8 • Curitiba, novembro de 2010

NÃO ALIMENTE OS POMBOS!

O Coronel Nascimento, do Bope, interpretado pelo ator Wagner Moura no filme Tro-pa de Elite 2 (foto), materializa na telona o desejo de muitos brasileiros. p. 10

Um herói do século 21?

Trânsito no centro é lento e estressanteMotoristas queixam-se da lentidão do tráfego no centro de Curitiba, principal-mente nos horários de volta para a casa, entre as 18h e 19h. A avenida Guarapuava é uma das avenidas mais congestinadas congestionadas da cidade. p. 5

Div

ulga

ção

Elia

quim

Juni

or

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20102

EDITORIAL

Ao leitor Nesta edição, conheça um esporte que vem ganhando muitos adeptos no país recentemente: o rugby. A prática da modalidade tem ajudado bastante no desempenho escolar dos jogadores. Leia também a história dos irmãos que têm em comum a mesma paixão: a cozinha. Os irmãos Canabrava falam para o Marco Zero sobre essa paixão e o sucesso na gastronomia curitibana. Você acha que ingerir bastantes frutas e verduras é o caminho para uma vida saudável? Errado. O excesso no consumo desses alimentos também pode trazer alguns males à saúde. Saiba mais sobre os riscos na alimentação nesta edição que traz ainda uma matéria especial sobre uma das pragas da cidade grande que marca presença maciçamente nas praças do centro de Curitiba: os pombos. Apesar de dóceis, eles são bem mais perigosos do que se pode imaginar. Conheça os riscos que esse animal pode trazer ao ser humano. Estes assuntos e muitos outros aguardam você, leitor, nas próximas páginas.

Boa leitura!

Expediente

“Não, e dá pra perceber isso prin-cipalmente na Praça Tiradentes, por causa da circulação de tantos estudantes. Não respeitam a faixa de trânsito, muito menos o sinal vermelho.”Joana Zimmermann,20 anos, estudante de Pedagogia

“Não, eles não respeitam o pedestre de maneira alguma, nos tratam como se nem estivéssemos ali. Só que eles se esquecem de que quando não es-tão de carro também são pedestres.”Eduardo L. Pires,25 anos, vendedor

“Não, o motorista curitibano precisa passar por uma reeducação de trânsi-to, pois me parece que eles saem for-mados sem saber o que é sinal ver-melho e o que é faixa de pedestre”.Laudelina Ronconi,27 anos, secretária

“Não, principalmente em horários de pico, porque eles se estressam dentro de seus carros e deixam de respeitar o pedestre, que também tem horários a cumprir.”João G. Martinez,22 anos, auxíliar de escritório

“Não, e enquanto a prefeitura não tomar nenhuma providência eficaz que realmente puna esse tipo de mo-torista imprudente, o nosso trânsito irá continuar caótico.”Barbara Martins,24 anos, estudante de Psicologia

“Não. O motorista curitibano é muito estressado com a lentidão do trânsito e por isso acaba por descontar essa frustração no pedestre. Digo isso porque sempre quando estou dirigin-do eu me descontrolo um pouco.”Marcel A.Fortkanph,23 anos, estudante de Direito

Ou o dólar sobe, ou teremos o “bolsa Disney World”

Paraíso de investimento de-vido às altas taxas de juros, o Brasil tem recebido a cada dia mais dóla-res, vindos de investidores das mais diversas partes do mundo, que, em linhas gerais, procuram o país para aplicar em investimentos produtivos e em capital especulativo. Fruto disso é valorização da moeda nacional frente ao dólar, que vem sofrendo des-valorização cambial no mundo inteiro, devido à crescente circulação, já que os Esta-dos Unidos têm se especializado em exportar papel moeda. Afinal, valorizar o real ante o dólar não é bom? Depende. Se for para visitar o Paraguai para com-prar eletrônicos, talvez seja. Agora, se for para ser um país em desen-volvimento que vislumbra garantir exportação para escoar sua produ-ção interna, manter sua indústria e garantir emprego de milhões de brasileiros, daí não. Como medida para diminuir a invasão dos dólares, o governo brasileiro aumentou o Imposto sobre Opera-ção Financeira (IOF), o que demonstrou ser uma medida correta, porém, insuficiente para conter a entrada de capital estrangeiro. E a medida dos EUA? O Fe-deral Reserve (FED) decidiu injetar nada mais nada menos que US$ 600 bilhões para incentivar a econo-mia interna norte-americana e tentar sair da crise. No entanto, tantos os bancos quanto os estadunidenses estão com a “pulga atrás da orelha” na hora de fazer uso desse crédito, tento em vis-ta os recentes problemas envolvendo

créditos imobiliários. E o que pode-ria ser o início de uma recuperação econômica pode acabar sendo um tiro no pé, caso os US$ 600 bilhões caiam em mãos de especuladores que investem fora do país.

Uma das saídas possíveis seria utilizar tal valor disponibilizado pelo FED em programas internos ou de assistên-cia. Ficam o Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC) e as políti-cas de assistência como

o Bolsa Família como exemplos. In-jetar dinheiro no mercado interno e garantir distribuição de renda estimu-lam o consumo. Seria dar chance ao país de sair da crise. Para o Brasil, resta, em prin-cípio, aumentar mais ainda o IOF, já que os 6% atuais, aparentemente, não fizeram nem cócegas nos inves-timentos que o país tem recebido. Se tal medida não for ainda suficiente, vale a pena apelar para o controle de

capitais ou a diminuição da taxa de juros, o que seria bom também para os brasileiros. Ou alguém ainda acha que um país que quer crescer deve ter moeda forte? Se há in-dústria nacional de um

determinado produto, qual a lógica em importar esse produto com va-lor maior que o que se pagaria no próprio país? O jeito é bloquear a entrada do dólar e fazer com que o real se desvalorize, para que o Brasil conti-nue vendendo e investindo no mer-cado interno. Caso contrário, o go-verno terá que criar o “bolsa Disney World”. Ou seja, distribuir dólar para os brasileiros viajarem à terra do Tio San e darem um abraço no Mickey.

Você acha que o motorista curitibano respeita o pedestre?

ARTIGO

O jornal Marco Zero é umapublicação feita pelos alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador do Cursode Comunicação Social:Gustavo Lopes

Professores Responsáveis:Roberto NicolatoTomás Barreiros

Diagramação:André Halmata (6º período)

Facinter: Rua do Rosário, 147CEP 80010-110 • Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

Suzayne Machado

Alexsandro Ribeiro

Como medida para diminuir a invasão

dos dólares, o governo brasileiro

aumentou o Imposto Sobre Operações

Financeiras

Afinal, valorizar o real ante o dólar não

é bom? Depende. Se for para visitar o Paraguai para

comprar eletrônicos, talvez seja

Curitiba, novembro de 2010 MARCO ZEROGASTRONOMIA

3

Waléria Pereira

Cabe no Bolso

Quem é que não gosta de comer bem, e ainda mais por um preço acessível? No centro de Curitiba, há muitas opções de lanchonetes e diversos tipos de comida que agradam o con-sumidor, o que torna essa deli-ciosa prática ainda mais sabo-rosa no dia a dia de quem passa pelas ruas da capital. Afinal, “a alimentação em si, por atender a uma das necessidades básicas do homem – a de sobrevivência –, sempre foi objeto de preocupa-ção individual e coletiva”, como já dizia Donald Sloan. Entre doces e salgados, quem transita pelo centro pode encontrar o que estiver ao alcan-ce da vontade. Há muitas opções quando “bate” aquela fome du-rante o passeio pelo centro. A lanchonete Pão de Queijo é um dos lugares conhecidos pelo de-licioso alimento mineiro vendido a R$ 1,00 a porção de seis uni-dades. Além da cozinha mineira, a lanchonete oferece salgados, sucos e a famosa “cueca virada” por um preço muito acessível. Outra lanchonete conhe-cida por seus produtos de pre-ços reduzidos é a Território Pão de Queijo, que também atende uma parte da cozinha mineira e apetece a qualquer tipo de pala-dar com seu pãozinho por apenas R$ 0,50 a unidade. E ainda ofe-rece muitas opções de lanches e combinados, como: um peda-ço de torta com um café por um precinho que com certeza cabe em qualquer bolso. Fica na rua Francisco Torres, 36, pertinho da Marechal Deodoro.

Laiz Marina

De um lado, o engenheiro agrônomo Paulo Roberto Canabra-va; do outro, o desenhista industrial Délio Canabrava. Além de irmãos, o que une os dois é uma paixão muito peculiar: a cozinha. Délio está à fren-te do restaurante Cantina do Délio, do café e confeitaria Bella Banoffi e do bar CanaBenta. Já Paulo coor-dena o PicanhaBrava, especializado em carnes grelhadas, e é sócio do restaurante Maria Polenta, que alia a tradição da polenta a pratos inova-dores. Eles participam da preparação dos pratos e até os criam, mostrando que seu trabalho não é apenas a ad-ministração dos estabelecimentos. Vindos de uma família mi-neira, em que a refeição é um mo-mento de fortalecer os laços fami-liares, os irmãos contam que sempre foram apresentados a novos sabores e buscavam entender o processo de preparação da comida. Ainda ado-lescentes, os irmãos moravam sozi-nhos e cozinhavam os ingredientes que vinham da fazenda em Parana-vaí, local onde os pais moravam. Paulo conta que o importante é trabalhar apaixonadamente. “Sem paixão, não tem quem persista no ramo, afinal, poucos são tão opera-

cionais e complexos quanto a gastro-nomia”, explica. Depois de passar três anos em Londres fazendo mestrado em Design e trabalhando em cozinhas “gringas”, Délio se mudou para Lima, no Peru, onde trabalhou como web-designer. Lá, aproveitou para conhecer os restaurantes e a culiná-ria local. Na volta, trabalhou algum tempo em outros restaurantes e, em 2004, ajudou o irmão Paulo no Pica-nhaBrava. Em seguida, vieram a fá-brica de sobremesas Bella Banoffi, a Cantina do Délio, que serve comida caseira italiana, e o bar CanaBenta. Paulo ainda é sócio do restaurante Maria Polenta. E eles não querem parar por aí. Délio já planeja a abertura de mais um restaurante na Itupava, rua que é considerada o novo pólo de bares e restaurantes da cidade. “A minha visão é sempre da criação, gosto de criar conceitos. Crio jardim, cardá-pio, ponto, layout, estilo de atendi-mento, decoração”, conta Délio. O trabalho nos restaurantes se renova a cada viagem. De fora, eles trazem as tendências dos paí-ses que conhecem. “Conhecemos e aprendemos muito com a culi-

nária de outros países e regiões; é um constante reposicionamento no mercado”, afirma Paulo. Os dois concordam que o maior retorno é satisfazer ao cliente. “Isso verdadeiramente nos dá a sen-sação de missão cumprida. É óbvio que temos que atingir lucratividade e satisfação da equipe, mas criar no-vos empreendimentos é o que nos faz realizados”, comenta Paulo. E Délio completa: “Ver um cliente trazer sua família ou seus melhores amigos e mostrar o restaurante com orgulho e satisfação não tem preço”. Os mestres na cozinha tam-bém conhecem a receita do sucesso. Paulo elenca tenacidade, conheci-mento, coragem, informação e muito trabalho. Segundo ele, o trabalho com a gastronomia é muito desafiador e demanda atenção contínua. Além dis-so, na visão de Délio, é preciso estar atento, ser sensível e dar muito valor ao cliente. “Temos muitos funcioná-rios, e nosso negócio está na mão de-les. Trabalhar com gastronomia é fan-tástico, mas muito delicado, pois tudo é perecível, e os clientes têm emoção. Costumo dizer que o segredo é tratar cada um de uma forma diferente do outro”, ensina Délio.

Os donos da cozinhaIrmãos, empresários e bem sucedidos na gastronomia curitibana

Os irmãos Paulo Roberto Canabrava e Délio Canabrava

Div

ulga

ção

Laiz

Mar

ina

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20104

ESPORTES

A união que faz a diferençaAlunos de escolas municipais de Curitiba aprendem o rugby, que ganha cada vez mais adeptos no país

O projeto Vivendo o Rugby (VOR) teve início em Curitiba em 2008, por iniciativa do Unibrasil Curitiba Rugby Clube (CRC), time já conceituado na cidade. Hoje, cin-co escolas da rede pública de ensi-no e cerca de 300 alunos, meninos e meninas de 11 a 17 anos ou que estejam no terceiro ano do Ensino Médio, participam do projeto. O es-porte relativamente novo no estado tem conseguido destaque pelos ti-mes de base, e os pequenos atletas estão evoluindo e ganhando cada vez mais incentivos para o estudo. Os treinos acontecem no contratur-no do horário da escola. Um ônibus leva os alunos até o treino e os dei-xa novamente em suas casas, acom-panhados dos pais ou responsáveis. Para o desenvolvimento do projeto, o VOR conta com o apoio da Prefei-tura de Curitiba, da Paraná Espor-te e do patrocínio da Clinique des Grangettes e Ferrero. O time é orientado pelo ca-pitão do Unibrasil CRC, especia-lista na iniciação ao rugby e coa-ching Leonardo Frota, que explica a importância do esporte para es-ses adolescentes: “Para os meninos e meninas do VOR, creio que seja uma oportunidade de conhecer um novo esporte, que tem como va-lores principais união, amizade, companheirismo, dedicação, supe-ração, lealdade. Valores esses que são fundamentais para a formação

de um ser humano do bem”. A motivação pode ser percebida por um dos alunos beneficiados pelo es-porte, Lucas Seabras Machado Mar-condes Ribas, mas conhecido como Carneiro. Ele cursa a sétima série e relata que seu desempenho na escola não ia muito bem até conhecer o es-porte e começar a praticá-lo. “Antes, eu tirava notas abaixo da média, mas no bimestre passado tive apenas uma nota vermelha”, comemora o adoles-cente, que inclusive incentivou ami-gos a participarem do projeto. Mas a rotina de um atleta é rigorosa e deve ser seguida à risca para que se possa conciliar os estu-dos e a paixão pelo rugby. “Levanto cedo para ir ao colégio, almoço em casa e volto correndo para a esco-la. Depois, pego o ônibus e vou até a Paraná Esporte, onde me dedico bastante nos treinos”, conta Carnei-ro. Além da prática do esporte, os alunos recebem como benefício uma ajuda de custo para lanches e uni-formes assistência de psicólogos e nutricionistas, tudo oferecido pelos patrocinadores.

O Rugby O rugby, para quem ainda não conhece, é um esporte de ori-gem inglesa semelhante ao futebol americano. Uma partida pode ter até 15 jogadores em campo de cada lado, não existindo um goleiro. Uma vez iniciada a partida, a bola oval é o

principal atrativo do jogo, já que seu peculiar formato surpreende jogado-res e espectadores com um percurso imprevisível. A bola não é passada para frente, como no caso do futebol, mas para trás, com as mãos, de joga-dor a jogador. Ela pode também ser chutada para a frente, dependendo da estratégia do time. O mais importan-te é que todos saibam trabalhar mui-to bem em equipe, pois se não existir um entrosamento entre o time o jogo não vai para a frente. “A união é a principal característica do esporte”, reforça o capitão do time. De acordo com a Confede-ração Brasileira de Rugby, a práti-ca desse esporte no Brasil cresceu 43% de 2004 a 2009. A seleção brasileira de rugby feminino é he-xacampeã sul-americana e ficou em 10° no campeonato mundial de 2009. Já o time masculino é a 4ª força na América do Sul e está no 28º lugar no ranking mundial. O rugby já foi um esporte olímpi-co e voltará para as Olimpíadas em 2016, quando a sede será no Brasil. Em Curitiba, o time em destaque é o UniBrasil Curitiba Rugby Clube, tetracampeão paranaense.

Rugby e atividade física Por se tratar de um esporte com grande diversidade de jogadas, ele exige movimentos complexos, que trabalham a coordenação moto-ra e desenvolvem a musculatura, es-

pecialmente dos ombros, das costas e das pernas, assim como a capaci-dade aeróbica. O preparador físico do Uni-Brasil Curitiba Rugby Clube, Már-cio Cunha Lengler, explica que a perda de calorias no rugby chega a 510Kcal por 40 minutos de jogo, sendo que no futebol o jogador per-de 340Kcal durante o mesmo tempo. “Todo tipo físico de jogador é bem aproveitado, na posição onde melhor possa se desempenhar”, explica. Por isso, o rugby é recomendado para to-das as idades. Apesar da fama de violento, o que caracteriza o rugby é o per-fil competitivo, que requer força de vontade, flexibilidade e disposição. O jogador e treinador do time juvenil do CRC, Leonardo Frota, diz que, se praticado de acordo com as regras e com as técnicas corretas, o risco de lesão é pequeno. “Quando ocorrem, as lesões mais comuns são nos joe-lhos e nos ombros”, conta. Por isso, para os que estão começando, é ne-cessário o uso de proteção para ore-lha, boca e ombros.

ServiçoCuritiba RugbyLocal: Campus Avançado da Para-ná Esportes - Centro de Capacitação Esportiva do TarumãEndereço: Rua Pastor Manuel Virgi-lio de Souza, 1.310http://www.curitibarugby.comA prática do rugby tem ajudado muitos alunos a melhorar o desempenho na escola

Leonardo Frota e os jogadores: o esporte requer força de vontade, flexibilidade e disposição

Waléria Pereira

Wál

eria

Per

eira

Wál

eria

Per

eira

Curitiba, novembro de 2010 MARCO ZERO 5

TRÃNSITO

Um caminho bem demoradoO trânsito na região central, no horário da saída do expediente de trabalho, fica lento e estressante

Chega as 18h, horário de os trabalhadores voltarem para suas casas para descansar. Certo? Não totalmente. As principais ruas que dão acesso do centro da cidade à periferia ficam en-garrafadas, e o caminho para casa pode demorar mais do que o esperado. A rua Visconde de Guarapua-va, uma das principais conectoras entre a região central e o lado Oeste da cida-de, é exemplo de que nos horários de maior movimento de volta para a casa, das 18h às 19h, o trânsito mal anda. Cruzamentos ficam bloquea-dos pelos mais apressados. Ultrapassa-gens são feitas de forma arriscada. As buzinam gritam. Hermes Venâncio Trindade é um dos que sofrem com isso. Ele trabalha na região central de Curitiba e reclama da demora para chegar em casa. Ele afirma que após um dia de trabalho “é complicado enfrentar o trânsito da Visconde”. O movimen-to de carros faz com que o motorista tenha até vontade de deixar o carro em casa. Diz que a situação é compli-cada porque “o sinal fica vermelho e trancam os cruzamentos. Quando o sinal abre, ninguém acelera”. Ainda de acordo com ele, quando chove, a situ-ação fica pior. Dados do Detran apontam que em setembro a frota de carros em Curitiba era de 1.182.804 veículos. Se comparados a informações da Prefei-tura Municipal de Curitiba de que hoje há em Curitiba 1,8 milhão de pessoas, significa dizer que circulam pelas ruas quase um carro por habitante.

Um ferido e outro detido A população da região central presenciou no mês de novembro uma briga entre dois motoristas na rua Ma-rechal Deodoro, uma das mais movi-mentadas da região central. Cristiano Willian Correa con-duzia um Tempra e foi para a faixa da esquerda sem dar sinal. Ele parou o carro e começaram as buzinas. Atrás dele, vinha Luiz Henrique Pinto Dias, dirigindo um Uno. Os dois discutiram, Correa foi até seu carro e pegou uma barra de ferro. Ele acertou a cabeça de Luiz Henrique. O agressor foi contido por um pedestre a pedidos da esposa do agredido. Luiz Henrique foi encaminha-do ao hospital e não corre perigo. Cor-rea foi encaminhado ao 1° Distrito de Polícia, assinou um termo circunstan-ciado e foi liberado.

Pintado de verde O EstaR mostra que a neces-sidade de estacionamento na região central está acima da oferta do sistema. Para estacionar na região central de Curitiba, assim com em outros bairros, em menor medida, é necessário utilizar o cartão EstaR. Atualmente, 100 ruas da cidade são regulamentadas pelo sistema. Curitiba foi a segunda cidade brasileira a adotar os cartões, em 1980. Estacionar sem o cartão é considerado infração de trânsito e pode gerar multa de até R$ 53,20. Quando o agente de trânsito en-contra alguma irregularidade no estacio-namento de veículos, emite uma notifica-ção, e o motorista tem até cinco dias para pagar uma taxa e não ser multado.

Bicicleta, uma alternativa

Henrique Rigo

Pode parecer repetitivo falar da bicicleta como alternativa ao trânsito caótico de Curitiba. Mas se pensarmos sobre as vantagens e desvantagens dos outros meios de transporte alterna-tivos na cidade, ela acaba sendo a me-lhor opção. Só para exemplificar, vamos falar dos dois tipos de transporte mais utilizados na capital paranaense. No transporte coletivo, os ôni-bus estão cada vez mais lotados, as filas cada dia maiores, e a violência está tomando conta desse meio de transporte. Apesar de ainda ser con-siderado modelo, o sistema de ônibus de Curitiba já está no seu limite de capacidade e ficando ultrapassado. Só no mes de outubro e na primeira quinzena de novembro de 2010, ocor-reram diversos episódios violentos envolvendo coletivos de Curitiba e re-gião. Alguns bastante divulgados pela imprensa: acidente com biarticulado na região central em pleno horário comercial, motorista de ônibus assas-sinado em São José dos Pinhais e ar-rastão com bandidos armados dentro de um biarticulado (linha Santa Cân-dida-Capão Raso) às duas da tarde de uma quinta feira. É uma situação preocupante se considerarmos que o ônibus é meio de transporte essencial para a maioria da população. Outra alternativa são as moto-cicletas, que infestaram a cidade com apelos como rapidez e fuga dos con-gestionamentos. Mas o que se obser-va diariamente são brigas constantes entre motoristas e motociclistas e mor-tes diárias de motociclistas no trânsito. Devido à estrutura ultrapassada das ruas da capital paranaense e à quanti-dade de carros que saem todos os dias das concessionárias, nem as motos estão escapando dos transtornos do trânsito. Isso faz com que motoristas e motociclistas cometam irregularidades e contrariem a lei como alternativa ao caos instalado. Na contramão de tudo isso, vem a bicicleta. É cada dia maior o nú-mero de adeptos desse tipo de trans-porte, e engana-se quem pensa que são só ativistas e ecologistas que usam esse meio de transporte no dia a dia. Muitas pessoas estão pedalando para evitar o estresse do trânsito e o custo que o carro traz. O uso de bicicleta re-solve a falta de vagas nas ruas, o alto valor de diárias de estacionamentos,

Alexandre Gasparini o preço do combustível e serve para economizar a passagem de ônibus. Algumas empresas já traba-lham com “cicloboys” para entregas de documentos e produtos na região central. Jeferson Dias trabalha há cin-co anos entregando talões de cheques no bairro Alto da XV, em Curitiba. Ele conta que a empresa disponibiliza aos funcionários bicicletas para o serviço, mas não os obriga a trabalhar com elas. Mesmo optando por trabalhar de bicicleta, os funcionários recebem os valores referentes ao transporte cole-tivo necessário para o trabalho diário. Jeferson diz que economiza no mínimo duas passagens de ôni-bus por dia usando a bicicleta, e isso complementa o salário de R$ 650,00 com mais R$ 100,00 mensais em média. Além disso, o que mais con-ta para ele é a agilidade: “Eu faço o cronograma de entregas de uma semana em três dias, porque chego bem mais rápido do que de ônibus e economizo muito tempo que gastaria esperando no ponto”. Outras atividades também comprovam que atualmente a bicicleta é um meio de transporte que apresen-ta mais vantagens. O “Desafio Inter-modal”, que acontece anualmente no segundo semestre e é organizado por entidades ligadas ao meio ambiente, teve o mesmo resultado nos últimos quatro anos: a bicicleta ganhou. No desafio, os participantes percorrem um trajeto definido no cen-tro da cidade em diversas modalidades de transporte, como: bicicleta, cami-nhada, cadeira de rodas, carro e mo-tocicleta, sempre levando em conta as leis de trânsito para cada modalidade. O ciclista chegou primeiro em todas as edições do desafio, com segundo lu-gar para a motocicleta, penúltimo para o cadeirante e último lugar para o defi-ciente visual. O desafio ilustra bem a reali-dade do transporte e da mobilidade em Curitiba. Estudos do governo federal para o Plano de Aceleração do Cresci-mento (PAC) da Copa de 2014 também comprovam que a bicicleta atualmente é o meio de transporte mais eficiente. Esse estudo propõe aos municípios a construção de estruturas para as bi-cicletas, como estacionamentos e um sistema de aluguel de bicicletas. Mas, por enquanto, está tudo apenas nos planos, e os incentivos estruturais são apenas para os carros.

Visconde de Guarapuava e o grande engarrafamento no início da noite

Ale

xand

re G

aspa

rin

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20106

Dóceis, frágeis e perigosos!Aldo Dantas, na Praça Rui Barbosa, não sabia que é desaconselhável alimentar os pombos

Considerados uma das grandes pragas das metrópoles, os pombos causam danos materiais e estéticos, além de riscos à saúde humana

- O senhor está alimentan-do os pombos? - Estou. Dou cinco pães de manhã e cinco à tarde. - O senhor sabia que não é aconselhável alimentá-los? - Pode não? - Não. O senhor não sabia? - Não. Será que devo parar? Cercado de pombos, o apo-sentado Aldo Dantas, de 92 anos, estava maravilhado vendo as aves comendo o pão trazido por ele. Era perceptível em seu rosto o quanto ele gostava de alimentá-los; estava sensibilizado pelo aspecto dócil e frágil dos bichos e talvez estives-se pensando também que eles não teriam capacidade de buscar ali-mentos sozinhos. Quando tomou conhecimento de que não deveria

potencializando os riscos de doen-ças e aumentando os prejuízos cau-sados pelas aves. O fato de as pessoas acha-rem a ave “bonitinha” e de ela ser símbolo da paz apenas dificulta a conscientização a respeito das do-enças que esse animal pode trazer aos seres humanos. Segundo a bi-óloga Dayana Kososki, que atua no Centro de Zoonoses e Vetores da Secretaria Municpal da Saúde, os danos que os pombos podem causar são de ordem econômica, estética e de saúde. “Em relação aos danos estéticos, eles acabam defecando nos lugares públicos e nas praças. Fica um aspecto feio, e as fezes, muito ácidas, acabam destruindo o patrimônio público e privado. E quando eles entram em

algum lugar para fazer ninho, como nos forros e telhados, acabam des-truindo a estrutura, porque usam esses lugares para se abrigar. Esses são os danos econômicos”, expli-ca. Dayana é chefe de serviço do Setor de Faunas Filantrópicas no Centro de Zoonoses e Vetores, órgão que faz monitoramento das zoonoses, doenças transmitidas ao homem pelos animais, como a leptospirose (transmitida pelo rato) e a raiva (pelos cães). Quanto ao pombo, a bióloga declara que ele não transmite diretamente nenhu-ma zoonose, mas pode veicular doenças por meio das fezes ou das penas, ácaros e piolhos, o que pode trazer alergias às pessoas. Além de alergias, essas aves podem transmi-

ESPECIAL

dar comida aos pombos, ficou sem reação. Realmente, disso ele não sa-bia. Dantas recebeu então um folheto elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde a respeito dos pombos, para se informar melhor e tomar maiores cuidados. Apesar de já ter quase 100 anos, o homem não aparenta fragilidade e se gaba de ter saúde perfeita. “Nunca fumei e nem bebi. Um dia desses, fiz exa-me, e o médico me disse que minha saúde está ótima”, revela o baiano, que ficou bastante pensativo quan-to ao ato que estava fazendo, ima-ginando que aquela simples ação, que já se transformara em hábito, talvez pudesse contribuir, ainda que sem querer, para o aumento da população dos pombos na cidade,

Elia

quim

Juni

or

Curitiba, novembro de 2010 MARCO ZERO 7

tir doenças como a salmonelose, a histoplasmose e a criptococose (transmitidas por fungos presentes nas fezes envelhecidas). Para evitar qualquer tipo de problemas com os pombos, a tarefa é simples. Basta eliminar os quatro “as”: água, acesso, alimento e abrigo. “Para o animal sobreviver na cidade, ele precisa de abrigo, ali-mento, água e acesso a esses luga-res. Tendo os quatro “as”, ele vai se instalar. Então, de alguma for-ma, nós, humanos, contribuímos para a sobrevivência desse animal, porque a gente acaba disponibili-zando alimento no lixo, jogando comida para os pombos. O acesso aos abrigos se dá muitas vezes por-que uma telha está fora do lugar, em edificações mal conservadas, e é esse acesso de que o pombo pre-cisa para se instalar. Água é mais fá-cil de conseguir, pois não há como evitar”, esclarece Dayana. Se dependesse da vende-dora Rúbia Caroline, ela eliminaria todos esses “as”, porém, existe ou-tro tipo de “a” que ela não pode-rá evitar, que é o som alongado da vogal toda vez que ela se deparar com um pombo. “Não gosto de pombos. São nojentos. Vivo me desviando deles, me dão sustos. Parece até que eles sabem que não gosto deles”, afirma a moça entre risadas. O pipoqueiro Dair dos San-tos, que vende seus produtos num carrinho, ao contrário da vendedo-ra, não se aborrece nem um pou-co com os pombos. “Eles vêm, comem os milhos do chão e vão embora. Não incomodam”, alega. Com certeza, Dair não está no re-latório que descreve as centenas de chamadas ao número 156 do Siste-

Dayana Kososki: para evitar problemas com os pombos, é preciso eliminar os quatro “as”

Chamadas atendidas pelo 156 em 2009

2276

39

117

162

261

Pombos

Lagartas

Morcegos

Baratas

Pulgas

Aranhas

Fonte: Centro de Zoonoses e Vetores de Curitiba (relatório até 31/12/2009)

ma Integrado de Atendimento ao Cidadão. Em 2009, foram mais de 250 ligações (veja tabela) de pesso-as que sofrem com a presença dos pombos e que precisam de orienta-ções sobre como proceder no con-trole da proliferação dos animais. Os problemas são vários. Segun-do o relatório, há pessoas sofren-do com os piolhos trazidos pelos pombos. Há também famílias do-entes devido a esses animais. Existe maté residências cujos forros estão dominados pelas aves. “O campeão de chamadas é o pombo”, revela Dayana. Neste ano, as chamadas de pessoas querendo auxílio contra problemas causados pelos pombos já passam de 150. Numa loja de tecidos situa-da na região central, as aves já cau-saram diversos danos ao local e aos tecidos. A funcionária Maria Suely afirma que vários pombos ficam no telhado e no forro e por isso já caíram fezes nos tecidos da loja. Segundo ela, apareceram pombos dentro da loja, e outros morreram no sótão, causando um cheiro de-sagradável no lugar. A bióloga Dayana Kososki cita alguns cuidados com a saúde necessários no momento da lim-peza de um forro, como molhar as fezes secas e velhas antes da limpe-za, lavar as mãos caso haja contato direto com as fezes e proteger com máscaras, lenços ou panos úmidos as vias respiratórias. “Quando o pombo já está instalado em alguma residência, fazemos visitas técnicas, auxiliando as pessoas a colocarem estruturas que dificultem a perma-nência dele no local. Se o pombo está pousando no telhado, aconse-lhamos a colocar materiais como telas, fios de nylon ou arames, que

• Em São José do Rio Preto, São Paulo, quem for flagrado dando comida às aves nas vias públicas poderá ser multado.

• Na cidade de Helsinque, Finlândia, a grande quantidade de placas de aviso es-palhadas pela cidade desencoraja qual-quer turista a dar comida aos pombos.

• Em Veneza, Itália, é proibido jogar arroz nos noivos em festas de casa-mento, principalmente se o casamento for na famosa Praça de São Marco. Por que será?

• Na cidade de Londres, as estátuas ganham proteção. O pombo que encos-tar na estátua de Winston Churchill leva choque. O monumento é eletrificado.

• Essas aves foram vulgarmente cha-madas de “ratos com asas”, expressão criada pelo ex-prefeito londrino Ken Li-vingstone.

• Se você tem problemas com os pombos, não pode matá-los. É crime ambiental, de acordo com a Lei Federal n° 9605, de 1998.

Curiosidades sobre os pombos

dificultam o pouso”. É difícil colocar na mente das pessoas que aquelas aves apa-rentemente tão dóceis – e símbo-los da paz – possam trazer danos à saúde dos seres humanos. Essa proliferação deriva de uma questão cultural que faz com que os homens sejam culpados pela propagação acelerada desses animais, conside-rados pragas das grandes cidades. Assim como somos responsáveis pelo rato que invade nossas casas, quando colocamos comida em lu-gares inadequados, ou juntamos

entulhos nos quintais. “A maior responsabilidade é das próprias pessoas, não do animal. Ele está na natureza e se tiver condições vai se reproduzir”, argumenta Dayana. “Acho que vou parar de ali-mentar os pombos”, disse triste-mente Aldo Dantas, o senhor do início da matéria. Talvez ele não tenha parado de levar pães duas vezes ao dia para os pombos “bo-nitinhos”, como ele os define, mas ao menos já sabe dos riscos que as aves podem trazer e refletiu sobre o assunto.

• Nos anos 70, época da Guerra Fria, a CIA criou pombos com máquinas fo-tográficas presas ao peito do animal para espionar o campo inimigo. Porém, o peso das máquinas era tanto que os pombos voltavam a pé para o quartel.

• Os pombos são aves monogâmicas. São tão monogâmicas que alguns não aguentam a solidão e morrem após a perda da companheira.

• O macho ajuda nas tarefas e na cria-ção dos filhotes.

• Os pombos brancos são usados es-pecialmente para atividades comerciais, como revoadas em eventos, casamen-tos e rituais de candomblé, entre outros.

• Recentemente, a banda Kings of Leon interrompeu um show porque um pombo teria defecado no baixista. De-pois de receber críticas negativas no Twitter, o baterista disparou: “Vocês po-dem gostar que pombos defequem em vocês, mas nós não.”

Fonte: Revista Superinteressante

Elia

quim

Juni

or

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20108

SEMANA DE COMUNICAÇÃO

O rádio não é uma mídia mortaFórum realizado na I Semana de Comunicação da Facinter reuniu profissionais que discutiram a realidade e os rumos da rádio web

“A rádio web é um mercado real, e as difi-culdades para entrar nesse ramo são como em qual-quer outro. Esse meio de comunicação abre mui-tas portas, mas é preciso ser persistente”, afirmou o coordenador artístico da rádio 91 Rock, Mauro Muller, durante a I Semana de Comunicação da Fa-cinter, realizada de 8 a 12 de novembro no auditó-rio do Campus Tiradentes, em Curitiba. Muller participou do Fórum “Rumos do Rádio no Paraná e no Brasil”, juntamente com o jornalista José de Mello. Ele disse que a rádio só não migrou com mais força para a internet por falta de apoio de patrocinadores, que ainda não acredi-tam em seu potencial, mesmo com os 25% de cres-cimento. “Tenho que convencê-los de que temos um público fiel, em melhor situação econômica e que consome mais”, ressaltou. Tanto Muller quanto José de Melo, que apre-senta um programa de jazz na rádio Lumen, concor-dam que há uma mudança no rádio e agregam essas modificações ao uso da internet como uma ferra-menta que auxilia na divulgação dos programas e da programação. “Os mercados são muito diferentes. As rádios web estão esperando para serem viabiliza-das. Eu trabalho para o Padre Reginaldo Manzotti, que tem mais de 700 canais espalhados pelo Brasil. Quando o ouvinte vai para a internet, ele quer ir atrás do seu interesse, e então ele procura sites para satis-fazer o seu gosto. Isso também acontece com a rádio web do Padre”, contou Melo. Ele reforçou que as rádios pela internet ain-da não deram certo somente devido a problemas fi-nanceiros e completa afirmando que os sites desses meios ainda são amadores nas questões visual e de comunicação e linguagem.

Artigos e mostrassão destaques Durante os cinco dias da I Semana de Comuni-cação da Facinter, também foram apresentados Trabalhos de Conclusão de Curso de alunos de Publicidade e Propa-ganda e de Produção Editorial, além de artigos dos alunos (incluindo os do curso de Jornalismo) que participaram do Intercom Sul, em Novo Hamburgo (RS) e do Intercom Bra-sil, realizado em Caxias do Sul (RS). O aluno de Produção Editorial Willian Wolf apre-sentou seu TCC sobre a música na internet, download e pirataria. No clima de Trabalho de Conclusão de Curso, Leila Manzur, formada em Publicidade, mostrou sua análi-se sobre a procura por roupas apropriadas para consumi-dores de baixa estatura. A estudante de Jornalismo Larissa Glass falou sobre o jornal Marco Zero, trabalho que também foi apre-sentado no Intercom Sul 2010. E “Design de interação em websites da HouseCricket” foi o tema abordado pela gra-duada em Publicidade e Propaganda Márcia Cecchi. O aluno de Jornalismo Matias Peruyera mostrou sua pesquisa sobre a infografia jornalística no jornal Ga-zeta do Povo em época de Copa do Mundo, e Monique Tscha, formada em Publicidade e Propaganda, apresentou seu TCC sobre as relações rádio 98 FM com a internet e a mídia eletrônica, concluindo que não há exploração ade-quada do site no campo publicitário. As estudantes de jornalismo Eliane Muiniki e Ana Paula Ferreira da Silva falaram sobre o projeto que apre-sentaram no Intercom deste ano: “Assessoria de Imprensa para a Associação Paranaense do Diabético Juvenil (Apad)”, trabalho vencedor da Expocom Sul na sua categoria. Em seguida, o estudante de Jornalismo Alexandre Gaspari-ni tratou de sua participação no Projeto Rodon e mostrou as fotografias premiadas com a 1° colocação na categoria “fotojornalismo” do último Prêmio Sangue Novo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Por último, Thiago Bodruk, estudante de Publici-dade e Propaganda, apresentou seu trabalho do Intercom 2010, que se baseou em uma profunda pesquisa teórica sobre os tipos de cultura e os meios de comunicação de massa para entender a televisão na era da internet e das redes sociais.

Mostra de Curtas No primeiro dia da Mostra de Curtas, foram exi-bidos quatro curtametragens produzidos na disciplina de Cinema durante o semestre passado. O primeiro foi o documentário “Os olhos da Rua”, que aborda a visibilida-de dos moradores de rua, seguido do curta “Alcova”, um trash-drama-policial que conta a história de duas amigas prostitutas apaixonadas pelo militar Souza. “Irene Riscala por ela mesma”, foi a terceira obra exibida. O mockdocumentary trata de uma atriz de TV em decadência, que durante a juventude foi miss Osasco e hoje tenta se reerguer. Suspense e drama encerraram a mostra, com “Ana”, um curta sobre dois amigos, um deles casado, que desconfia do envolvimento do amigo com sua esposa. No segundo dia da mostra, os alunos puderam conferir mais quatro curtas, a começar com o drama “Blue Sky”, produzido com duas câmeras digitais amadoras e que abordou os problemas do uso irresponsável da inter-net. O segundo, o filme de terror “Dopping”, narrou as alu-cinações de um rapaz viciado em heroína. Em seguida, foi exibido “Vótum”, obra policial que mostra uma equipe de policiais em que um dos membros está envolvido indire-tamente com um crime. O documentário “O Estrangeiro”, que trata da exclusão social sofrida por deficientes auditi-vos, encerrou a noite.

Diego Gianni, Henrique Rigo e Letícia Mueller Muller comentou a publicidade na web rá-dio, afirmando que é um mercado com muito po-tencial para os anunciantes. “Em questão de publici-dade, quem manda ainda é o ouvinte. Então, cabe à agência estudar os usuários. Há um aquecimento no mercado, e novos caminhos estão surgindo, o que é bom para todos nós”. Já José de Melo disse que deve haver um in-chaço nesse ramo até 2014. “Com a Copa do Mundo em 2014, haverá uma saturação de programas tratan-do de futebol, e nosso mercado se repete muito, o que não é bom”. Mauro Muller, que é um dos cria-dores das transmissões da Transamérica e atualmen-te é cronista da 91 Rock, também concordou com esse pensamento. “Eu inventei a rádio esportiva com humor no Brasil. Depois, várias rádios e programas televisivos fizeram o mesmo, e virou tendência”. Os palestrantes falaram também sobre as ban-das novas de Curitiba. Muller aproveitou para criticar Luis Claudio de Oliveira, que escreveu em sua coluna do Caderno G que as rádios curitibanas insistem em não tocar música local e citou o próprio José de Melo, que em seu programa na Lumen faz esse tipo de trabalho. “Se a música é boa e tiver qualidade, ela vai tocar, com certeza, mas nunca será por favor. Não sou obrigado a falar bem de ninguém. A banda será contratada pela competência e não por beleza ou simpatia”, afirmou. Ele encerrou deixando uma dica para os alu-nos da Facinter: “Faça o que você quiser fazer e vá atrás daqueles que você gosta e que te inspiram. Não importa se essa pessoa está em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Chuí ou no Oiapoque, vá atrás e con-verse com ela”. Melo concordou e também deixou seu recado. “Seja persistente e corra atrás, porque tem mercado. Você só precisa se qualificar, fazer um bom mailing e estar preparado para as oportunidades que com certeza vão surgir”.

A mesa foi composta pelo professor Otacílio Vaz (mediador à esquerda) e pelos palestrantes Mauro Muller (centro) e José de Melo

Curitiba, novembro de 2010 MARCO ZERO 9

Um campo de incógnitasMesa-redonda com professores e publicitário, sobre o tema “Internet e redes sociais”, debateu temas polêmicos e o futuro incerto da era da cibercultura

“As redes já fazem parte da sociedade e, mais do que apenas só mais uma modinha, vieram para ficar. Por isso, os novos profissionais de co-municação devem estar ligados e en-tender de navegabilidade, usabilidade e perfil de usuários”. A afirmação é do publicitário diretor da House Criket, Fabiano Cruz, durante a I Semana de Comuicação da Facinter, ressaltando que as redes sociais são a coqueluche do momento. A professora de tecnologia da comunicação da Universidade Fede-ral do Paraná (UFPR) Glaucia Brito e a professora Hanelise Wagner Rauth, que leciona na França, também par-ticiparam da mesa-redonda e concor-daram com Cruz. “Há um vazio na área de pesquisa de uso da internet e da comunicação. Agências pensam muito em comunicação integrada de-vido aos novos ritmos, e os três pro-fissionais de comunicação são requi-sitados”, afirmou Glaucia, dando um recorte mais acadêmico ao assunto. Hanelise, como ela mesmo afirmou, acabou sendo a “advoga-da do diabo”, pois estava no meio dos outros dois comunicadores. A professora francesa disse que, para ser uma rede efetiva, há a necessida-de de relacionamento mútuo. “Em uma rede, deve haver esperança re-cíproca, favores em troca de favores, como em O Poderoso Chefão. Há a transitividade da confiança, ou seja, o indivíduo precisa provar que pos-sui um perfil que se enquadre em de-terminado grupo”.

Potencialidades Os três palestrantes concorda-ram em um ponto: o futuro da inter-net e das redes sociais é incerto, pois o fenômeno está em plena fase de de-senvolvimento. “As redes são concei-tos muito antigos e que antes existiam como cooperativas, patotas e na Ma-çonaria e apenas foram potencializa-das pela internet”, lembrou Hanelise. Glaucia comparou a inter-net com a televisão, lembrando que, quando esta foi lançada, todos acha-ram que as crianças não sairiam mais

A grandefesta do último dia

Depois da apresentação de palestras e trabalhos acadêmicos realizados pelos alunos, além da exibição de vídeos, a I Semana de Comunicação da Facinter terminou com uma grande festa no dia 12 de novembro. Após a aguardada pre-miação da equipe vencedora da concorrência para a divulgação da I Semana da Comunicação da Facinter e dos grandes vencedo-res do game Pacman no blog do evento, começaram as tão es-peradas apresentações culturais dos professores. Tomás Barreiros, como não pôde estar presente, enviou um CD em que interpretava um per-sonagem de um conto do escritor Luís Fernando Veríssimo, e a pro-fessora Evary Leal mostrou seu “lado b” com uma apresentação de fotos de sua autoria. Roberto Nicolato declamou poemas de Baudelaire e Fernando Pessoa e, em seguida, as profes-soras Nivea Bona, Adriana Baggio, Diana Macedo e Maira Nunes dan-çaram ao som de “All the Single Ladies”, de Beyonce. A professora Adriana ainda interpretou, em francês, a música “Michelle”, dos Beatles, acompanha-da no violão e na voz pelo professor Otacílio Vaz. O coordenador Gustavo Lopes também aproveitou o dia para mostrar seus talentos vocais, cantando “Have you ever seen the rain?”, da banda Creedence Clea-rwater Revival, e “A dois passos do paraíso”, da banda Blitz. Otacílio Vaz, que também é músico e produtor musical, fez uma apresentação solo cantando e tocando uma música do conjunto The Cure. A última noite da Semana de Comunicação foi encerrada com o radialista Mauro Muller, o palestran-te do Fórum de Rádio, subindo ao palco e cantando as músicas “Ca-mila”, da banda Nenhum de Nós e “Pais e Filhos”, do Legião Urbana.

de casa e a vida mudaria completa-mente, mas não foi o que aconteceu. “O futuro é hoje, e não há como sa-ber o que vai acontecer”. Sobre a era da cibercultura que estamos vivenciando, Cruz lem-brou a movimentação das operadoras de celulares, que cada vez mais estão se preocupando em criar planos de dados móveis. “Você não está mais sozinho, ao mesmo tempo em que está sozinho, porque o contato físi-co não existe em certas maneiras de comunicação e está ficando cada vez mais escasso”. O professor Jheison Holthau-sen, que coordenou o encontro, citou como exemplo o ensino à distância que já existe há muitos anos na Facin-ter. “É o conceito do solitário intera-tivo”, definiu. Hanelise citou Pierre Lévy, afirmando: “As relações sociais evoluem. O virtual potencializa o real e não o exclui”. Glaucia Brito lembrou que es-tamos no ciberespaço e que há emer-gência de vozes e discursos reprimi-dos, portanto, não há um excesso de informação, como muitos costumam afirmar. Ela citou o caso da advogada Mayara Petruso, processada pela OAB por discriminação. “A advogada fez um comentário racista sobre os nor-destinos no Twitter e foi processada. Isso nos faz pensar se estamos real-mente preparados para trabalhar na/com as redes sociais, porque nenhu-

Diego Gianni, Henrique Rigo e Letícia Mueller

ma instituição de ensino será capaz de nos dar esse tipo de conhecimento”. Fabiano Cruz lembrou a im-portância das redes sociais na vida empresarial e profissional. “Empre-sas que proíbem redes sociais dentro do local de trabalho acabam excluí-das, e o pior, não têm como se de-fender de possíveis reclamações dos usuários. É importante saber cuidar da presença digital da marca e, por isso, pessoas já estão sendo contra-tadas para fazer apenas isso”. O pu-blicitário comentou ainda a questão das contratações via redes sociais, fa-zendo um alerta: “Cuidado com seus profiles e sua imagem, pois as redes viraram verdadeiras vitrines”. Glaucia Brito concordou e disse que o que a pessoa coloca na rede, não tem como apagar. Hanelise completou a ideia afirmando que todo cuidado nunca é demais, pois não há meios de controlar a opinião das pes-soas e saber se a mensagem foi inter-pretada da maneira correta. O assunto que encerrou a noi-te foi a exclusão digital, e a opinião foi unânime: ainda há muitas pessoas sem acesso às novas tecnologias e, conse-quentemente, sem acesso a informa-ções importantes. “Comunicar não é só vender. É preciso pensar no lado social para não perder o foco. Do contrário, está se aceitando o capita-lismo de boca fechada”, arrematou a professora Gláucia.

SEMANA DE COMUNICAÇÃO

Da esquerda para a direita, a professora Josiany Vieira (Facinter), o publicitário Fabiano Cruze os professores Glaucia Brito (UFPR), Hanelise Rauth (França), e Jheison Holthaus (Facinter)

Arq

uivo

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 2010

Tropa de Elite 2 é um fenômeno. Ninguém estava esperando o sucesso estrondoso do filme,

nem o diretor José Padilha. A pelí-cula ficou sete semanas na liderança dos filmes mais vistos no Brasil e, se os bruxinhos de J. K. Rowling não aportassem nos cinemas na terceira semana de novembro, ainda permane-ceria por mais algumas. O blockbuster brasileiro estrelado por Wagner Mou-ra está quase superando o filme Dona Flor e seus dois maridos, que levou 10,7 milhões de pessoas às salas de cine-mas no longínquo ano de 1976. Até agora, o público do filme de Padilha é de 10,1 milhões de espectadores. É o filme mais visto do ano no país. Nem a pirataria pode interferir na carreira do filme nos cinemas que, certamente, deve ultrapassar Dona Flor. Tudo bem, Tropa de Elite 2 é um sucesso. Em termos narrativos e técnicos, é superior ao primeiro. Mas a que se deve todo esse êxito? O que está atraindo o público às salas escuras? Segundo a revista Veja, grande parte dessa aclamação do público vem de um desejo comum dos brasileiros de poder caminhar pelas ruas das cida-des sem sofrer algum tipo de violência e que essa garantia seja gerida por uma polícia honesta, incorruptível. Assim, coronel Nascimento é tido como um tipo de justiceiro ideal, aqueles que to-dos querem ver atuando em sua co-munidade. Um herói nacional. “Como o Estado falha na segurança, nós, que somos vítimas, temos a tendência de buscar soluções personalizadas, indi-viduais. Nascimento dá vazão a essa ânsia por soluções imediatas. Ele é um justiceiro do século 21 brasileiro”, dis-se Padilha à revista. Para o estudante de Psicologia César Goes, de 26 anos, o sucesso do filme deve-se a que o público vê na fi-gura de Nascimento um herói que não existe na realidade. “É ele versus o sis-tema”, afirma. “No primeiro filme, Nascimento não é vilão nem herói. No segundo, ele já é visto como herói, porque não temos no Brasil um herói que represente o país, como existe o Capitão América, ou o Superman nos

Estados Unidos”, argumenta. A universitária Denise dos Reis discorda dessa atribuição de “herói” ao protagonista do longa. Ela, que cursa Relações Públicas na UFPR, diz que Nascimento é um idiota. Ela justifica: “Ele já matou tanta gente e nunca pensou por um segundo porque ele estava matan-do? Não acredito naquela idéia de que o ser humano é ruim por natu-reza, acho que as pessoas se trans-formam de acordo com o ambiente em quem vivem. No primeiro filme, ele era apenas mais um que matava as pessoas, agora é um idiota cons-ciente, porque sabe por que matava as pessoas do morro”, diz Denise achou o filme interessante porque mostrou um lado da realidade pouco conhecida pela maioria das pessoas. “Não foi um filme violento como o primeiro, que mostrava que ban-dido tinha que morrer. No segundo filme, foi apresentado um lado mais social”, conclui. “Gostei do filme, provoca uma reflexão sobre a nossa condi-ção política, mas o final é fictício”, opina César. “Ninguém vai ao Con-gresso denunciar os corruptos, criar

uma CPI. Isso não acontece”, com-plementa o universitário, referindo-se à cena em que Nascimento vai ao Congresso Nacional e denuncia diretamente os deputados corruptos presentes ali, causando o maior alvo-roço no local, enquanto os acusados “berram” desesperadamente, alegan-do serem falácias as acusações do coronel. Certamente essa cena pode parecer utópica na vida real, mas é um episódio que, graças ao diretor, materializou o desejo de muitos bra-sileiros de verem algum dia tal cena em um telejornal. Desviando um pouco do per-sonagem principal, Tropa aborda um tema polêmico e delicado: a segurança como mercadoria. Para o estudante de Psicologia, o filme evidencia como a insegurança tem impacto na saúde pública, além de oferecer espaço para o surgimento de aproveitadores da si-tuação, como os policiais corruptos mostrados na produção. E, claro, ainda alimenta uma poderosa indústria que sobrevive dessa insegurança, como as empresas de alarmes e as construto-ras responsáveis pelos condomínios fechados, entre outras. É um assunto importante lembrado por César Goes,

mas que parece passar quase desper-cebido pela maioria dos espectadores, talvez pelas múltiplas narrativas ou pelo ritmo ágil do filme, pois as pesso-as acabavam prestando mais atenção em Nascimento e em suas ações que em qualquer outra coisa. O surpreendente sucesso do filme talvez possa ser justificado por duas razões. Em primeiro lugar, por-que o público brasileiro pode ter ido às salas pensando que iria ver mais pancadaria, outra fita de entreteni-mento, sem absorver a mensagem transmitida. Em segundo, porque os mais de dez milhões de pagantes querem deixar um aviso de que há uma vontade do brasileiro de conhe-cer mais a fundo a realidade política da nação onde vive, além, obvia-mente, da possibilidade – ainda que fictícia – de ver um policial honesto lutando sozinho contra um sistema falho e fazedor de corruptos. Os uni-versitários Denise e Goes têm opini-ões contrárias sobre a absorção – ou não – das questões sociais abordadas no filme pelo espectador. A primei-ra diz que sim, já que a mensagem é dada ao espectador de forma bem mastigada, propositadamente, para as pessoas perceberem do que se está falando na tela. O segundo diz que não, pois, na sua opinião, a maioria dos espectadores não compreende a mensagem que o filme transmite, concentra-se apenas na parte super-ficial, sai do cinema e logo esquece o que foi visto e ouvido. Para José Padilha, diretor das duas películas, o fato de o segundo filme ter passado dos dez milhões de espectadores indica que o públi-co está interessado em pensar a re-alidade através do cinema político, e que esse tipo de cinema pode, sim, ser popular. “Para mim, essa é uma fonte de motivação. Me estimula a pensar em novos filmes e a continuar o trabalho de roteirista e diretor que sempre quis fazer”, afirmou o diretor à revista Exame. Se Padilha pensar em fechar uma trilogia para a saga do coronel Nascimento, já teremos o nosso pró-prio (anti)herói nacional, o “Bourne” à brasileira, ou nosso “Dirty Harry” bra-zuca, ainda que apenas nas telonas.

Um herói nacional do século 21?CULTURA10

Coronel Nascimento, de Tropa de Elite 2, materializa na telona o desejo de muitos brasileiros

Eliaquim Júnior

Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura

Div

ulga

ção

Curitiba, novembro de 2010 MARCO ZERO

Daqui a pouco, vou cruzar aque-le corredor. Meus passos serão densos, nem muito lentos, nem muito rápidos. Vou me arrastar, acredito que essa seja a melhor palavra. Caminharei até o casal que está na sala de espera. Vou olhar nos olhos deles e contar o que aconteceu. Dói olhar diretamente para os olhos, porque logo em seguida vem aquela expressão de dor. Nunca vou me habituar. Lido com todas as dores do mundo, menos com esta. Contra ela, não há nada o que se possa fazer a não ser esperar. Mas esperar pelo quê? Sofro, sim. Ainda sofro. Olhar nos olhos é uma questão de respeito. Já devia ter me acostumado, não devia? Agora mesmo, há alguns instan-tes... Minha equipe estava a minha volta, e estávamos satisfeitos com os resultados. Tudo parecia bem, mas algo além do nosso controle parecia estar presente na sala. Não estou falando de anjos, não acredito em nada disso. Já vi a vida escor-rer pelos meus dedos dezenas de vezes. Em outras ocasiões, que fazem minha vida va-ler a pena, consegui reverter à situação. Não há nada que provoque mais orgasmos do que salvar a vida de alguém. O oposto disso, naturalmente, é a comple-ta impotência perante o fato de que tudo que é vivo morre. Maldito corredor. Sei que são apenas tijolos, e poderia muito bem ser o corredor de qualquer outra coisa. E mui-tas vezes é, depende do contexto. Quantas vezes já não atravessei este espaço de cem metros para dar as melhores notícias do mundo? O tumor foi completamente re-movido. Seufilhoéumbebêsaudável. Sua mãe descansou. E agora, nesta distância de al-guns passos, vou entregar para aquele casal o maior pesadelo que poderiam ter. Eles, que ainda não sabem. Eles, que ain-da rezam para que a filha fique bem etenha uma vida normal.

Afasto de minha mente uma fra-se sem nexo: “o anjo deles morreu”. A garota não era um anjo, an-jos não existem. A garota também não existe mais. É surreal saber que algo tão complexo quanto um ser humano, num estalar de dedos, deixa de existir. Pessoas como eu, na verdade, são as que mais temem a morte. Ela só tinha 12 anos e acabou de morrer na minha mesa de cirurgia. E aqui estou, sem coragem para dar alguns passos e contar para os pais. Lavo minhas mãos pela terceira vez, enxugo um lenço na testa, esfrego os olhos em frente ao espelho. Tento me enco-rajar. Penso na minha mulher, que está grávida. Penso nos planos que já estamos fazendo para o futuro dessa criança que ainda nem nasceu. Penso em coisas que me dão força nos momentos difíceis e digo em pensamento: “Ei! Coragem! Faz parte do seu trabalho”. Não. Não faz parte do meu trabalho tirar a alegria de viver dos pais da meni-na. Eu poderia muito bem mandar outra pessoa da minha equipe dar a notícia. Al-guém com mais tato, mais sensibilidade. Alguém que demonstre que se importa e sente muito. É claro que eu sofro, mas cada um tem sua maneira de demonstrar tris-teza. E ninguém aqui se importa mais do que eu com essa menina, porque ela era a minha paciente. E eu sinto muito, de verdade. Luto por ela, luto comigo mesmo. Coragem, coragem, é o seu traba-lho. Pare de pensar nela como uma meni-na, uma garota ou a droga de um anjo! Ela era uma paciente! Paciente! Paciente! Entronocorredor.Lánofinal,ansiosos, os pais da minha paciente an-dam de um lado para o outro. Elesmevêemdelongeeficames-táticos, com os olhos marejados e cheios de esperança voltados para mim.

CONTO11

PassosESTANTE PARANAENSE

Paquistão, Viagem à Terra dos Puros (2010)Fernando Scheller

Enquanto estava morando na Alemanha, o jor-nalista paranaense Fernando Scheller esteve em contato com imigrantes turcos, paquistane-ses e indianos residentes em cidades alemãs. Foi a sua amizade com um paquistanês que originou este livro, “Paquistão, Viagem à Terra dos Puros”. A obra narra a convivência do autor com uma família muçulmana. Scheller também descreve a cultura local e os conflitos terroristas que aconteceram enquanto permanecia vivendo no país, mais especificamente na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. O autor faz ainda uma observação do cotidiano das pessoas que residem ali, lançando um olhar particular, pesso-al, sobre o dia a dia de uma família muçulmana.

Um Erro Emocional (2010)Cristóvão Tezza

Depois do premiado “O Filho Eterno”, Tezza lan-ça “Um Erro Emocional”. Neste livro, é contada a relação entre um escritor e sua leitora. Enquanto o escritor pensa ter encontrado finamente a mu-lher certa, a leitora tem diante de si o autor que aprendeu a amar através dos livros. Segundo o jornalista Felipe Pena, Tezza continua com sua principal característica: a história bem contada. “É o universo dramático que enreda a trama, le-vando o leitor a se tornar testemunha privilegia-da dos acontecimentos. E isso é feito através de uma elaborada carpintaria literária”, diz Pena em sua resenha sobre a obra. O jornalista também ressalta a originalidade do autor na construção narrativa ao mostrar os diálogos interiores dos personagens que aparentemen-te não dialogam de modo direto. Uma boa opção para quem deseja conhecer a tal “carpintaria literária” de um dos escritores mais premiados da atualidade.

As Melhores Entrevistas do Rascunho (2010)Luis Henrique Pellanda

Organizada pelo escritor e jornalista Luís Hen-rique Pellanda, esta coletânea inclui 15 de-poimentos de renomados autores brasileiros, como Cristovão Tezza e Milton Hatoum, e de novos nomes da literatura, como Altair Martins. A obra inclui ainda entrevistas com Wilson Mar-tins, Elvira Vigna, Fausto Wolff e João Gilberto Noll, entre outros. A coletânea foi publicada para celebrar os surpreendentes dez anos de exis-tência do jornal literário Rascunho. Segundo a editora do livro, ao contrário de todas as previ-sões, o Rascunho teve a audácia de sobreviver e se transformou em uma aventura editorial que teimosamente já dura uma década.

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Diego Gianni

Eliaquim Júnior

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 201012

ENSAIO FOTOGRÁFICOTe

xtos

e fo

tos d

eW

alér

ia P

erei

ra

Empório Soho

A região ao redor da Praça Espanha, no bairro Batel, em Curitiba, carinhosamente batizada de Batel Soho, tornou-se um dos destinos turísticos

da capital paranaense, o que tem levado benefícios para os moradores e visitantes e para o comércio da região. Nos dias 5 e 6 de novembro, a Praça Espanha foi sede da terceira edição do Empório Soho - Gastronomia e Cultura em um só lugar. A já tradicional feira de gastronomia na praça contou com a participação da Virada da Corrente Cultural, que levou ao palco oito bandas regionais com o melhor da música brasileira.