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WWW.DARKSIDEBOOKS.COM KEEP WALKING DEAD 9 770666 066016 01 ISSN 0666-0665 ANO 1 | #01 | MAIO/JUN./JUL. 2013

Revista ZumbiGo! #01

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Primeira revista brasileira totalmente dedicada ao universo Zumbi. Trimestral e gratuita, ZumbiGo! trata de cinema, literatura, arte, games e consumo.First brazilian mag fully dedicated to the Zombie universe. Quarterly and free, ZumbiGo! mag covers cinema, literature, arts, games and related products.http://darksidebooks.com

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www.darksidebooks.com

keep walking dead

9 770666 066016

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ISSN 0666-0665

ano 1 | #01 | maio/jun./jul. 2013

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#1 Editorial “De onde vieram os zumbis? Para onde vamos?”

ZombiEplay Jason Chan, pequenos zumbis e muita fantasia maKE-Upz Gregory Nicotero, gente que faz zumbis pErfilz Rob Zombie, Zumbi Transmídia mEstrEz George Romero: ”Não vou parar morto!”

EspEcialz Zombie Walk RJ 012, mortos pra todo lado moviEz Zumbis têm <3

brazil Cine Zumbr com Rodrigo Aragão

zumbilândia Brains soup, o que há de zumbis por aí

GalEriaz As celebs zumbis de Frederik Peeters obscuro A imaginação insana de Kouji Tajima

outromUndo Edward Gorey, brincando com a morte

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ExpEdiEntE

ConsElho EditorialChucky Meyers, Tio Chico, Primo It, Vandinha, Mãozinha e Carrie, a Estranha

Editor-ChEfE Chucky Meyers

EditorEs AssistEntEs Primo It e Vandinha

dirEtor dE MArkEting Tio Chico

iConogrAfiA E PEsquisA dE iMAgEM Mãozinha e Carrie, a Estranha

ProjEto gráfiCo Retina78

Tio Chico é Chico de Assis e Chuck Meyers é Christiano Menezes, designers, sócio-diretores e idealizadores da DarkSide® Books. Pode-se dizer que por trás das aparências fofa do Tio ou inocente do boneco escondem-se mentes insanas com a incrível capacidade de deixar os medos ainda mais fascinantes.

Primo It e Vandinha, expoentes da tradicional família Addams, apostaram desde o início no escuro com a DarkSide®. Traduziram o conto “O Hóspede de Drácula”, de Bram Stoker, para o freebook de mesmo nome e ocupam o cargo de editores assistentes. Primo It é Bruno Dorigatti, jornalista, editor e tradutor. Vandinha é Maria Clara Carneiro, pesquisadora, editora e tradutora.

Mãozinha é Guilherme Costa, designer de mão cheia. Carrie é Juliane Pimenta, designer ansiosa com a nova versão cinematográfica de sua biografia.

A ZumbiGo! é uma publicação trimestral gratuita on-line da DarkSide® Entretenimento Ltda. As visões e opiniões expressas pelos entrevistados nesta revista não são necessariamente as opiniões dos editores. Todos os esforços foram envidados para localizar os detentores dos direitos autorais de tais imagens; todas as omissões serão corrigidas nas futuras edições.

O horror, a fantasia, o suspense, o mágico. A Editora DarkSide® apresenta o que há de mais interessante e instigante no universo sombrio da literatura, de ontem e de hoje.

Ano 1 | #01 maio/jun./jul. 2013

Todos os direitos reservados© DarkSide® Entretenimento Ltda.

[email protected]/darksidebookstwitter.com/darksidebooksdarksidebooks.tumblr.comyoutube.com/darksidebooks

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EDITORIAL

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“De onDe vieram os zumbis? Para onDe vamos?”“Massa plebeia dos filmes de terror”, “ralé dos mons-tros”, “vilão de segunda categoria”... Os zumbis an-davam com a moral muito em baixa, até que uma avalanche de filmes, séries, livros, jogos etc. tomou o planeta, num apogeu premonitório do Apocalipse que, dizem, ainda vem por aí.

Considerados por muitos a mais perfeita analogia da sociedade contemporânea, os zumbis ganharam sentidos diversos ao longo do século XX, que viu a inserção deste monstro no rol de figuras consagra-das no século anterior, tais como os vampiros, lo-bisomens e Frankenstein, o Prometeu moderno de Mary Shelley.

Alguns identificam o zumbi como sendo mais contemporâneo que seus pares. Talvez, neste senti-do, ele poderia ser entendido como o alcance máxi-mo da monstruosidade humana. Pois é lá no século XIX que o horror encontra espaço na transformação do homem em algo que ele mesmo não domina. Mas enquanto o homem-morcego, o homem-lobo, ou o homem-colcha-de-retalhos de Shelley ainda seriam dotados de uma “consciência”, o zumbi iria na onda, na massa, no automático.

De onDe vêm os zumbis?Assim como os outros monstros encontram sua origem em diferentes mitos e lendas, o termo e as características do zumbi vêm das lendas caribenhas que não encontrariam eco em nenhuma história ou-vida antes por europeus.

Provavelmente o zumbi encontrará suas origens na África negra, a mesma que exportou as bases do candomblé e da umbanda para o continente ameri-cano, incluindo aí a crença em espíritos que voltam. Mas foi só os norte-americanos interessados em aventuras aportarem no Haiti para que a crença no vodu e em outros aspectos culturais da ilha ganhas-se diferentes sentidos.

Zumbi, em primeiro lugar, poderia ser qualquer aparição inexplicável. Depois, os zumbis foram to-mando o sentido destes tais corpos-cadáveres, ho-mens e mulheres que morrem e voltam à vida. Estu-dos posteriores chegaram a confirmar o uso de uma espécie de droga de efeito letárgico, que transforma-ria pessoas em autômatos, excelentes para trabalhar como escravos.

Há inclusive relatos de aventureiros norte-americanos que, tomando posse de terras na ilha para exploração da cana e produção de açúcar no início do século XX, admitiam apenas zumbis em seu staff. Mão-de-obra mais barata que os recém-libertos escravos brasileiros! E não deixa de ser irônico que o Haiti foi o primeiro país a abolir a escravidão por conta de uma revolta dos escravos, ainda em 1794.

Mas uma história sobre exploração de negros numa ilha do Caribe não interessaria tanto quanto homens saindo de suas covas. E foi essa lenda que prevaleceu e chegou a Hollywood, ainda na primeira metade do século XX. Podemos enxergar aí uma me-táfora do capitalismo que se expandia ferozmente, algo similar à analogia de Chaplin e o homem que se transforma em autômato, mais uma peça da engre-nagem em Tempos Modernos (1936).

Além disso, os zumbis trouxeram para o cinema e a cultura o medo do Outro, do estrangeiro selva-gem – ou do nem tão estrangeiro assim, a popula-ção negra pré-direitos civis, que já começava a exigir igualdade, bem antes de Martin Luther King nos anos 1950 –, misturado ao medo do branco de “virar máquina”: o Crack da Bolsa de Nova York em 1929, a maior crise ecônomica do século passado estava fresquinho na memória e nas vidas de todos.

O primeiro filme protagonizado por mortos--vivos, Zumbi Branco (White Zombie, 1932), seria o melhor exemplo dessa ideia. E esse pensamento do morto que volta da tumba e vem da floresta miste-riosa seria reproduzido constantemente até ganhar

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novos significados. É o que Jaime Russell, autor de uma pesquisa profunda sobre o zumbi na cultura ocidental, comenta na introdução de seu livro Zumbis: O Livro dos Mortos. [Leia um trecho ao lado]

Neste início de século, a massa plebeia e esfomeada por miolos toma o poder. Para se ter ideia de sua abrangência, podemos mencionar o fenômeno da história em quadrinhos The Walking Dead, cuja edição número 100 já é considerada o best-seller do século, sucesso em mais de 120 países. Tudo bem, o século acaba de começar, mas não deixa de ser espantoso como esse ser tão ignorado e menosprezado outrora hoje ocupa o horário nobre da TV e leva multi-dões às ruas vestidas como... zumbis.

Parece no mínimo curioso que a mes-ma geração acusada pelas anteriores como apática e amorfa reverta o insulto e se transforme nesses seres nojentos, mutila-dos, mas só aparentemente incapazes, alie-nados e desinteressados. Pois é essa nova juventude, conhecida como “Geração Z”, ligeira no domínio das mais diversas lin-guagens cibernéticas, que chega agora a seus 20 e poucos anos, e mostra que é bem mais esperta do que pensavam seus ante-cessores. Por trás de sua paixão por zum-bis, podemos perceber uma fina ironia: a ideia de um mal irreversível, inescapável, que assombra o mundo das mais diferentes formas, ao longo do tempo, não necessita-ria de heróis para contorná-lo.

Não há mais heróis possíveis – se é que um dia eles foram mesmo possíveis. Me-lhor do que combater o mal, é fundir-se a ele e integrar a massa de mortos ambulan-tes que consumirão o planeta, enfim.

É esse universo que a ZumbiGo! se pro-põe a explorar, mas não só. Nesta edição de estreia, você encontra entrevistas ex-clusivas com o desenvolvedor do jogo Zombie Playground, Jason Cha; o herói do zumbimorfismo no cinema nacional, Ro-drigo Aragão; o escultor digital e criador de incríveis modelos em 3D, Kouji Tajima, o Especial Zombie Walk RJ 012 com fotos exclusivas e requintadas, e tudo o que há de interessante no mundo zumbimaníaco.

Bom apetite!

Os monstros que dominam qualquer cultura ou perí-odo particular oferecem um vislumbre pouco usual dos medos e tensões que caracterizam o momento histórico. Como a teórica do terror Judith Halberstam defende, “monstros são máquinas de significados” cuja existência nos dá um vislumbre das inquietações na cultura que os produziu. Afinal de contas, o próprio termo “monstro” tem raízes etimológicas no termo latino monstrare, que significa “mostrar, apresentar, demonstrar”.

Sendo um acréscimo tão recente ao panteão de bi-chos-papão do mundo ocidental, o zumbi é um mons-tro cuja significância cultural não é resguardada por séculos de popularidade. Ao entrar na cultura popular norte-americana – e então europeia – no final dos anos 1920, no ápice do interesse geopolítico dos Estados Unidos pelo Haiti, o zumbi foi apropriado pela cultura afro-caribenha para uma grande variedade de fins.

No fim das contas, o zumbi é um símbolo da inquie-tação mais primitiva da humanidade: o medo da mor-te. Pleno da sensação mórbida das limitações e fragi-lidades do corpo, o mito do zumbi está intimamente ligado à relação turbulenta que temos com nosso pró-prio corpo. [...] Para simplificar, o zumbi é um cadáver reanimado por algum tipo de magia, ou ciência malu-ca, que volta à “vida” sem recobrar nada de sua antiga personalidade.

Nas diversas maneiras como foi utilizado na cultura popular ocidental, contudo, o zumbi foi gradualmen-te passando por transformações. Veio a significar algo muito mais complexo que o mero medo da morte.

Nascido em meio a uma grande variedade de ten-sões culturais – do imperialismo norte-americano aos conflitos raciais no país, dos temores de desemprego na Depressão à paranoia de lavagens cerebrais da Guerra Fria, do ataque aos direitos civis e políticos pós-1960 ao terror corpóreo da era da aids – o zumbi tornou-se um potente símbolo do apocalipse. É um monstro cuja aparição sempre ameaça desafiar a fé da humanidade num universo ordenado.

Sempre em cima do muro ocidental de antagonismos preto/branco, civilizado/selvagem, vida/morte, o zumbi é um arauto da perdição. Sua mera existência eviden-cia a possibilidade de um mundo que não se esgota nos limites da compreensão humana, um mundo onde esses opostos binários não são mais fixos. Passando por cima de nossas mais queridas e fundamentadas certezas, o zumbi é, acima de tudo, um símbolo de nosso universo ordenado virado de cabeça para baixo, quando a morte torna-se vida e a vida torna-se morte.

Jaime Russel

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EntrEvista Exclusiva >>> por Primo It

ZOMBIEPLAY

PEQUENOS ZUMBIS EMUITA FANTASIA

JASON CHAN

Para toda criança, o mundo é seu playground. E o mesmo vale para crianças zumbis. A ideia de fazer um jogo sobre mortos-vivos nojentos e criancinhas fofinhas parece paradoxal, mas convenceu cerca de 4 mil pessoas que, juntas, foram além dos 160 mil dólares pedidos para financiar o projeto de jogo com esse tema.

Desenvolvido pela Massive Black, empresa de ilus-tração e arte já com diversos clientes na área de ga-mes, Zombie Playground tem um visual fofo, como um desenho animado, e o jogador é uma criança fugindo do Apocalipse Zumbi, usando brinquedos

e a imaginação infantil para combater os mons-trengos, também crianças.

“Queremos que ele seja assustador e violento, mas de uma maneira engraçada, e não perturbadora e inapropriada”, diz Jason Chan, um dos artistas por trás do conceito de Zombie Playground e que conce-deu essa entrevista exclusiva a ZumbiGo! por e-mail.

O projeto, financiado via crowdfunding no Ki-ckstarter, estará em breve disponível para venda, e foi feito de fãs para fãs, como conta Chan, “um fã relativamente moderno de zumbis”. Na entre-vista a seguir, ele também fala de como foi, para a pequena equipe, trabalhar nessa ideia, da paixão ao orçamento apertado, do feedback dos financia-dores e do cuidado relativo a ideia de “crianças em jogo de mortos-vivos”.

“Quando você tem tantas pessoas dispostas a in-vestir tantas horas livres em um projeto, sabe que a paixão pelo projeto é forte.”

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O jogo foi financiado via crowdfunding. Como a resposta e o feedback do público influenciaram na concepção do jogo?

É interessante mostrar às pessoas algumas de nossas ideias ainda no começo do processo todo. Descobrimos que muitas pessoas estavam bastante entusiasmadas com a ideia e queria apresentar a suas próprias ideias também. O que foi bom de ouvir foi que um monte de ideias que estavam nos sugerindo eram as mesmas que nós conversávamos entre a gente. Por conta disto, sentimos que estávamos chegando perto do que as pessoas queriam e (esperamos) que eles vão gostar do que vamos entregar a eles. Também vimos e ouvimos um monte de boas ideias que não tínhamos imaginado, e estamos mais do que felizes em tentar e incorporá-las ao projeto.

Como surgiu a ideia para criar o jogo Zombie Playground?

Jason Chan. Eu tinha origi-nalmente criado uma ilustra-ção entitulada “Zombie Play-ground” alguns anos antes. Eu sempre gostei do conceito, mas não pensava nele como um videogame na época. Al-guns anos depois, alguns dos meu colegas na Massive Black [estúdio que trabalha com ilustração, animação, games e design] sugeriram que trans-formássemos a ideia em um game. Era uma configuração ideal para um game e nós rapidamente vimos que pode-ríamos ir longe com ele.

Meu colegas na Massive Black, sugeriram que transformássemos a ideia em um game.

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JASON CHAN–acima e ao lado, concepts do jogo

ZOMBIEFUNDING–a empolgação foi tanta que o apoio quase veio em dobro

É interessante mostrar às pessoas algumas de nossas ideias ainda no começo do processo todo.

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Quais os cuidados ao levar o univer-so zumbi para o mundo infantil?Fazer um game violento com zumbis com um olho nas crianças é, definitivamente, um problema deli-cado a ser solucionado. Nós não aceitamos ou cele-bramos a violência e especialmente a violência en-volvendo crianças. Estamos nos esforçando muito para capturar o clima de como é jogar como uma criança e imaginar que você está em um universo zumbi. Queremos que ele seja assustador e violento, mas de uma maneira engraçada, e não perturbadora e inapropriada. Por causa disso, tivemos que tomar cuidado em se certificar que o visual e a impressão do jogo fosse um pouco estilizada para evitar que ficasse excessivamente realista.

O que lhe inspirou na criação do jogo?A gente já vem trabalhando na indústria de games por um tempo, inclusive em vários projetos para ou-tras companhias e clientes. Os games são uma gran-de paixão para muitos de nós e queríamos fazer algo nosso também. Este jogo é algo que muitos de nós sentíamos que seria muito divertido e incomparável, e algo que apenas queríamos levar adiante. Antes de lançarmos o projeto no Kickstarter para assegurar o financiamento, todo o trabalho que vinha sendo fei-to no projeto era apenas de pessoas cedendo o seu tempo livre. Quando você tem tantas pessoas dispos-tas a investir tantas horas livres em um projeto, sabe que a paixão pelo projeto é forte.

Qual a sua relação com universo zumbi? Quais são as grandes obras e os grandes mestres para você?Eu sou um fã relativamente moderno de zumbis. Adorei Madrugada dos Mortos (2004, dirigido por Zack Snyder), remake do clássico Despertar dos Mor-tos (1978), de George Romero, as comédias Todo Mundo Quase Morto (Shawn of the Dead, 2004) e Zumbilândia (Zombieland, 2009) e gosto também da série Walking Dead (2010- ) e do filme Fido – O Mascote (Fido, 2006). Nos games, eu curto Zombies Ate My Neighbors (1993), uma grande inspiração, as franquias Resident Evil (1996- ), Silent Hill (1999- ) e Left 4 Dead (2008- ), e provavelmente alguns mais que estou esquecendo. Nós também temos alguns fãs clássicos no escritório que são devotos dos filmes de zumbi de George Romero.

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Quais as dificuldades que encontrou no desenvolvimento do game?Nós somos uma equipe pequena trabalhando com um orçamento pequeno, então a nossa principal preo-cupação é tentar realizar o máximo que pudermos com os nossos recursos limitados. Até agora está indo muito bem, mas tem sido um trabalho duro e longas noites para muitos da equipe. No entanto, toda vez que resolvemos um problema, sabemos que estamos muito mais perto de nosso objetivo e estamos empol-gados para ver até onde podemos chegar. Site do jogo: www.zombieplaygroundgame.com

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JASON CHAN

CONHEÇA TAMBÉM OUTROS

TRABALHOS DE

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O primeiro trabalho com direito a créditos de Gregory Nicotero foi como assistente de ninguém menos que Tom Savini, mais conhecido como The Godfather of Gore, ou o Poderoso Chefão da Sanguinolência. Começou ao lado do mestre da maquiagem de mortos-vivos, em O Dia dos Mortos (1985), filme de outro mestre, George Romero. A partir daí, continuou se especializando em maquiagens com sangue, muito sangue, apesar de ter ganho o Oscar com seu trabalho no filme de fantasia As Crônicas de Nárnia (2005), além de diversos Emmys por conta do seu trabalho em séries de TV, entre outros prêmios.

Três anos depois, Nicotero deixou de trabalhar para outros e fundou sua própria empresa com os amigos Howard Berger e Robert Kurtzman, a KNB Efx Group Inc. Kurtzman é mais conhecido como “o cara que deu o primeiro trocado a Tarantino por um roteiro”, o que explica a longa parceria da KNB com o diretor de Django Livre (2012) e Bastardos Inglórios (2009), um dos filmes em que Nicotero faz uma ponta como um major da Gestapo.

o começoTudo começou com Steven Spielberg. Foi o filme Tubarão (1975) que despertou em Gregory o dese-jo de trabalhar com efeitos especiais, a vontade de saber “como” aquilo era feito. Ele guarda com cari-nho inclusive até hoje uma miniatura do barquinho devorado pelo peixe assassino em sua casa. E deve ter ficado muito feliz com o convite para realizar a réplica do feroz animal, por conta da celebração dos 30 anos do filme, em 2005. A cabeça do tubarão está lá, no antigo cenário de locações.

Hoje, se alguém pensa em sangue, pensa em Ni-cotero, que já trabalhou em filmes como Uma Noi-te Alucinante 2 (1987), A Hora do Pesadelo 5 (1989),

GREGORY NICOTEROGENTE QUE FAZ ZUMBIS

mAKE-uPZ>>> por Vandinha

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Pulp Fiction (1994), Pânico (1996), Kill Bill (2003-2004), O Albergue (2005), O Massa-cre da Serra Elétrica: O Início (2006) e mui-tos, muitos outros.

Em seus quase 30 anos de carreira, Ni-cotero foi assistente de direção em alguns filmes e chegou a atuar em tantos outros, com o destaque para a curiosa atuação como a mão possuída pelo demônio de Ash, personagem de Bruce Campbell em Uma Noite Alucinante 2.

The Walking DeaDDado esse histórico, os produtores da sé-rie The Walking Dead – que desde 2010 adapta a história em quadrinhos criada em 2003 – acertaram em cheio ao con-vidar o expert em zumbis para cuidar da caracterização dos mortos ambulantes da série que se transformou em um dos prin-cipais fenômenos da cultura pop – e não apenas do universo zumbi – neste início de século. E muito desse impactante su-cesso se deve ao cuidadoso e impressio-nante trabalho de arte gráfica desenvol-vido pelo artista. Ele é ainda coprodutor--executivo de The Walking Dead e assina, como “Greg Nicotero”, a direção de três episódios da série. É tanto trabalho que por vezes ele nem tem tempo de tomar uma ducha antes de pegar o avião, o que o deixa sempre ansioso ao passar pela po-lícia do aeroporto com os sapatos ainda sujos de sangue falso... Por ora, não teve problemas maiores, a não ser quase per-der o voo por ter que ficar dando autógra-fos para as autoridades que eventualmen-te o reconhecem.

THE WALKING DEAD–na página ao lado, acima, os zumbis da aclamada série e nicotero no set

NÃO ABRA!–na página ao lado, abaixo, nicotero e john murdy fazendo gracinha na época das filmagens da série

UMA NOITE ALUCINANTE 2–nesta página, ash (Bruce Campbell) gravando a cena com Henrietta e um jovem nicotero

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Ele nasceu Robert Bartleh Cummin-gs, mas todos o conhecem como Rob Zombie. Fundador da banda White Zombie, que inovou ao levar o groove para o metal, o industrial e o noise rock, o músico não se res-tringe apenas a compor e cantar.

Além de atuar na produção de outras bandas que bebem no mesmo gênero musical, ele tem se des-tacado nos últimos anos como escritor e diretor de filmes de terror. Estreou com A Casa dos 1.000 Corpos (2003) e dirigiu sua continuação, Rejeitados pelo Diabo (2005) [1, veja os pôsteres na próxima pá-gina], ambos com uma temática que inclui rituais satânicos e canibalismo. Em seguida, foi o responsá-vel pela direção de dois remakes do clássico de John Carpenter, Halloween (1978), lançados em 2007 [2] e 2009 [3]. Zombie também dirigiu o divertido trai-ler fake exibido em Grindhouse (2007) – projeto de

Tarantino e Robert Rodriguez que homenageia os filmes B – Werewolf Women of the SS (As Mulheres Lobisomem da SS, em tradução literal), que saca-neia os nazistas e imagina uma distopia onde eles teriam criado estes seres para lutar pela Alemanha, homenagem aos bizarros filmes B de Nazi Exploi-tation feitos nos anos 1970; destaque para Nicolas Cage como Fu Manchu e a mulher de Zombie, Sheri Moon, e Sybil Danning como as irmãs e oficiais da SS Eva and Gretchen Krupp.

Agora, as expectativas se voltam para o lançamen-to do aguardado The Lords of Salem [4], o novo fil-me de Zombie estreou agora em abril nos Estados Unidos (ainda sem previsão para o Brasil); o livro, escrito em parceria com B.K. Evenson, sai um pouco antes, em março, e complementa e aprofunda a his-tória. O sexto longa do diretor inspira-se no clássico caso das bruxas de Salem, pequena cidade do leste norte-americano que no século XVII levou para a fo-gueira mulheres acusadas de bruxaria. A protagonis-ta Heidi Hawthorne (interpretada por Sheri Moon) é uma DJ de rádio em Salem e ex-viciada em drogas

ROB ZOMBIEZUMBI TRANSMÍDIA

PErFiLZ>>> por Primo It

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que começa a ter visões depois de escutar uma gravação que recebe mis-teriosamente de alguém que se intitula “The Lords”.

“Quando éramos crianças, nos levavam em reencenações dos julga-mentos da bruxas de Salem, como se fossem passeios escolares”, disse o diretor, que nasceu próximo ao local, à Enterteinment Weekly. “A minha premissa é que havia um outro grupo de mulheres condenadas à morte [durante o julgamento das bruxas] que eram as verdadeiras bruxas. Elas prometeram voltar e se vingar da cidade e fazem isso através dessa mú-sica bizarra. Heidi tem alguma ligação com o julgamento delas – mas ela também esta se recuperando do abuso de drogas. Não fica claro no filme se ela tem uma recaída, se está enlouquecendo ou se aquilo está mesmo acontececendo com ela”, explica o diretor.

WhitE ZoMbiE E CArrEirA soloO nome da banda homenageia o primeiro clássico dedicado aos zumbis, o filme homônimo White Zombie, lançado em 1932 e estrelado por Bela Lu-gosi. Ela surgiu em meados dos anos 1980 e lançou de forma independen-te ou por pequenos selos quatros EPs e dois discos, Soul Crucher (1988), o primeiro a incluir colagens de diálogos e narrações de filmes em suas músicas, e Make Them Die Slowly (1989).

O sucesso veio com o álbum seguinte, o clássico La Sexorcisto: Devil Music Vol.1 (1992), lançado pela Geffen, seguido de uma turnê de dois anos e meio, quando começou o culto à banda. Admirada por nomes como Kurt Cobain, do Nirvana, e o então casal Thurtston Moore e Kim Gor-don, do Sonic Youth, a banda despontou e saiu do restrito universo dos adoradores do metal para o público mais amplo do rock alternativo, que crescia rapidamente com o aparecimento do grunge. Em 1993, começou a aparecer com frequência no desenho da MTV Beavis and Butthead, o que aumentou a popularidade e semeou a sua macumba zumbi aliada a uma vigorosa barulheira metal rock por todo o planeta.

O som da banda inovou e se destacou entre a mesmice metaleira ao acrescentar groove e riffs de guitarra ao trash metal, com letras inspira-das e retiradas de filmes de terror, do imaginário satânico que versavam sobre histórias de horror surreais e todas inventadas. Em 1995, lançaram Astro Creep: 2000, que tinha o hit “More Human than Human”, e no ano seguinte a coletânea de remixes Supersexy Swingin’ Sounds, dois anos an-tes de a banda acabar.

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>>> Zumbi Transmídia | Ele tem banda, produz discos, dirige filmes, é boneco, camiseta, lancheira, meia e agora tambem escreve: junto com B.K. Evenson, acaba de publicar o livro que deu origem ao seu filme The Lords of Salem (2013), estrelado por sua mulher, Sheri Moon Zombie. Acompanhe tudo sobre o seu trabalho em www.robzombie.com

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1992 1995 1996 1999

Rob Zombie seguiu com sua carreira solo e o seu álbum de estreia, Hellbilly Deluxe (1998) foi aclamado pela crítica e o público, vendeu mais de 3 milhões de cópias e levou três músicas ao topo das paradas, influenciado, assim como a sua antiga banda, por clássicos do terror e com colagens de trechos dos seus filmes favoritos. No ano seguinte, saiu o álbum de remixes Ame-rican Made Music to Strip By e, em 2001, o The Sinister Urge, com sucesso similar ao anterior. Desde então, saíram a coletânea Past, Present & Future (2003), e o terceiro e quarto álbuns de estúdio, Educated Horses (2006) e Hellbilly Deluxe 2 (2010). Seu aguardado quinto disco solo, Venomous Rat Regeneration Vendor também acaba de ser lançado neste prolífico ano de 2013.

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1998 2001 2003 2013

A julgar pelo primeiro single, “Dead City Radio And The New Gods of Supertown”, a macumba zumbi rock ’n’ roll continua poderosa. Sonzeira que o fã brasileiro vai poder conferir ao vivo depois de 17 anos de espera. Na ocasião, em 1996, o White Zombie se tocou no Hollywood Rock, em uma das melhores apresentações da noite, que contou ainda com Smashing Pumpkins e The Cure, entre outros. Agora, Rob Zombie e sua banda retornam ao país em setembro deste ano, para mais uma edição do Rock in Rio. Oportunidade rara para ver e pogar com Rob Zombie.

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MERCHANZOMBIE–o músico e cineasta se desdobra em lancheiras, bonecos vodu, meias 3/4, café orgânico e caixões customizados

SéTIMA ARTE–na página ao lado, imagens dos filmes dirigidos por Zombie

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A Noite dos Mortos-Vivos, de 1968, nasceu clássico não apenas como uma obra-prima dos filmes de zumbis e do horror, com sua aura cult, mas também formou toda estética do diretor norte-americano George Andrew Romero.

Na verdade, nem Romero sabia que estava inaugu-rando algo novo: quando escreveu seu primeiro lon-ga, nem pensou que seus monstros seriam zumbis. Pensava em “comedores de carne”, e foi o público e a crítica que começou a denominá-los zumbis após as primeiras exibições do filme. Outra “invenção” romeriana foi o modo de acabar com as infelizes criaturas: destruindo seu cérebro. Somente em 1978 é que Romero teria “se rendido” à zumbimania, se-gundo o que ele mesmo afirma, e o termo então apa-rece em seu O Despertar dos Mortos.

Seus filmes reúnem sempre muito sangue e questões contemporâneas, seja a turbulência dos anos 1960 – que culminaram no movimento hippie, na libertação das mulheres com o advento da pílula anticoncepcional e na contracultura, todas a questionar a Guerra do Vietnã –, o consumismo exacerbado que acelerava velozmente então, ou ainda o conflito de classes. Um dos elementos que demonstram como os filmes de Romero insistem em uma certa crítica social é que, por muitas vezes, seus protagonistas são interpretados por atores negros e contam com papéis femininos fortes. Por exemplo, em 1968, é o ator negro Duane Jones quem interpreta o herói de A Noite dos Mortos Vivos, em um ano turbulento e decisivo em relação às questões raciais, que culminou a morte do ativista Martin Luther King.

Como Romero afirmou, “sempre pensei nos zumbis como uma revolução, uma geração devorando a outra”.

O humor também é uma das inovações trazidas pelos zumbis de Romero. Uma das cenas mais me-

GEORGE ROMERO“SOU COMO MEUS ZUMBIS. NãO vOU PARAR MORTO!”

mEstrEZ>>> por Vandinha

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MESTRE ZUMBI–na página ao lado, Romero também ganhou sua versão morto-vivo, no traço do canadense Rob Sacchetto

DIGA “AAAHHH!”–momentos de catarse nos filmes do diretor

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moráveis com os mortos-vivos acontece em Des-pertar dos Mortos (1978), quando zumbis voltam ao lugar onde, quando ainda vivos, se sentiam mais à vontade: o shopping center. Antecipação certeira e por vezes triste de uma sociedade descartável e de consumo que nos devora a todos, com uma veloci-dade cada vez mais impressionante. E há também o humor puro e simples, com os mortos agindo como verdadeiros patetas. Afinal, como ele comentou certa vez, “não é só por estar mostrando alguém sendo estripado que tenho que pegar pesado e em-balar tudo com uma mensagem”.

George A. Romero nasceu em 4 de fevereiro de 1940, em Nova York, de mãe lituana e pai cubano. Descobriu que seria cineasta ao assistir a adaptação da ópera de Jacques Offenbach, The Tales of Hoff-mann (1951), onde a beleza e o poder da música eram tão impactantes quanto a apresentação visual, como definiu Cecil B. DeMille, outro cineasta. Romero o definiu em 2002 como seu “filme favorito de todos os tempos; o filme que me fez querer fazer filmes”. Segundo o diretor, “foi o modo como o filme foi fei-to, a fantasia. E havia algumas coisas assustadoras e bizarras nele. Foi tudo isso. Era um filme de verdade para mim, e me antecipou uma noção do poder vi-sual do cinema – o fato de você poder experimentar com tudo ali. Ele fazia todos os seus truques na câ-

mera, e eles eram até bem óbvios. Isso me deu a no-ção de que, caramba, eu posso descobrir como isso funciona. Era transparente, mas funcionou”.

Aos 20 anos, começou então a filmar seus pró-prios curtas e comerciais, e foi um curioso vídeo so-bre extração de amígdalas que lhe trouxe inspiração e a ideia de fazer seu primeiro filme de terror.

Romero colaborou com diversos outros mestres do horror, como o maquiador Tom Savini, o escri-tor Stephen King, o cineasta italiano Dario Argen-to, entre outros. Dirigiu cerca de 20 filmes (se bem que A Noite dos Mortos-Vivos teve tantas edições com e sem cortes, do diretor, outra do diretor sem cortes, remake etc. que poderia contar como mais uns cinco filmes).

O cineasta é reverenciado como mestre de fil-mes de zumbis pelas gerações seguintes, acumu-lando muitos e muitos “agradecimentos especiais” e dedicatórias em créditos de longas. Há inclusive um documentário de curta-metragem, To Romero With Love (Para Romero, Com Amor, 2011), que ho-menageia o mestre e fala sobre dois casais unidos pela paixão aos mortos-vivos. Ele não faz a me-nor ideia como e por que o fascínio com os zum-bis chegou a esse ponto, mas sabe de uma coisa: “Nunca vou enjoar de zumbis”. Não será o único, pode apostar.

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43Evil Dead e O Massacre da Serra Elétrica em edições limitadas em capa dura.Todos os detalhes dos filmes, incluindo entrevistas e fotos de produção. Coleção Dissecando. Pra quem é fã, um filé mignon.

FILMES B. CARNE DE PRIMEIRA.

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“Shows temos aos montes. Eventos de anime. Micaretas. Carnavais fora de época. Raves. Paradas. Passeatas. Boates.Zombie walk é só uma.E ela é curta. E vem uma vez ao ano.E é muito, muito importante pra mim.”

Rodrigo Cali, participante e antigo

organizador da Zombie Walk RJ

Zumbis são personagens extremamente repugnan-tes e, ao mesmo tempo, encarnam a ironia de nosso tempo. Nada mais alegórico que a clássica cena de Despertar dos Mortos (1978), de George Romero, em que zumbis invadem um shopping center e continu-am agindo como se fizessem compras, empurrando até carrinhos de supermercado. Dos haitianos zum-bimorfizados para trabalharem como escravos aos

operários de fábricas, chegando aos dependentes de drogas como o crack, o termo zumbi define bem o estado de inconsciência coletiva, de trabalho au-tomatizado e sem paixão alguma. E eles assustam, justamente, porque não importa quem você seja, movidos pelo instinto de se alimentar, qualquer um pode ser atacado e se tornar um deles. Basta apenas um momento de desatenção, independentemente da velocidade com a qual eles se movem.

Não seria, então, por acaso, que os participan-tes da Zombie Walk do Rio de Janeiro refiram-se a seus filmes de zumbis favoritos como “engraçados”. Fome Animal, [REC], Planeta Terror, A Volta dos Mor-tos Vivos, Todo Mundo Quase Morto e Zumbilândia às vezes espirram sangue pela tela, cabeças rolam, mas não deixam de ser “engraçados”. E ainda leem os quadrinhos The Walking Dead ou Dylan Dog e jo-gam Resident Evil ou o “fofo” Plantas vs. Zumbis. Qual a graça desses zumbis? E qual a graça de se vestir como eles e caminhar entre estranhos igualmente paramentados neste jeito bizarro de ser, a beira-

ZOMBIE WALKMORTOS PRA TODO LADORJ 2012

EsPEciALZ>>> por Vandinha >>> fotos Leandro Pagliaro

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-mar, no dia anualmente nublado dos Mortos, o 2 de novembro?

E não é rir de nervoso, medo, ou constrangimento. Os zumbis são tão engraçados quanto “palhaços as-sassinos”: enganam pela aparente aura de inocência, agindo mecanicamente como se o mundo não esti-vesse acabando, desumanizados e demasiadamente humanos ao mesmo tempo, igualados pela morte, como uma imensa massa de condenados a uma exis-tência monótona em que nada se cria e tudo se des-trói a sua volta. E, como já afirmou o filósofo Henri Bergson, “não há comicidade fora do que é propria-mente humano”. Os zumbis, o mais humano dos monstros – não há a passagem para “outra forma”, nada de lobos-homens ou homens-morcegos, mas o alcance do homem completo, aquele que está acaba-do, pronto para apodrecer –, são ao mesmo tempo assustadores por confrontar-nos com o nosso pró-prio apodrecimento e patéticos por serem homens e mulheres como qualquer um.

E, exatamente por serem qualquer um, os zum-bis são, de certa forma, anárquicos, sem líderes, nem chefes ou discriminação de qualque tipo. A “ralé” dos monstros, diriam amantes dos aristocrá-ticos vampiros.

“Zumbis trazem à tona tudo o que há de anima-lesco no ser humano, fome e desejo que reprimimos diariamente por conta da nossa condição ‘civilizada’. O zumbiismo não é elitista, nele não há segredos e organização, também não há temor ao perigo”, res-ponde Caesar Ashbar, um dos organizadores do mo-vimento dos Mortos-Vivos no Rio de Janeiro.

Ou, como diz Névia Le Fou, a noiva zumbi que foi destaque em diversas mídias após o último evento do grupo Zombie Walk rio de janeiro, “os zumbis são criaturas fascinantes, pessoas comuns como qualquer um de nós, desprovidas de humanidade, vida e consciência, movidas apenas pelo instinto de se alimentar. Qualquer pessoa, dentro de um

apocalipse zumbi, poderia se tornar um deles, nin-guém estaria seguro. Eles se espalham facilmente, são numerosos e estão quase sempre em bando. Não importa o quanto demore até que eles infectem a todos, os zumbis têm todo o tempo do mundo, eles podem esperar e, mais cedo ou mais tarde, todos nós seríamos como eles”.

E, ainda, como afirma Rodrigo Cali, “talvez o que eu mais goste em filmes de zumbi é que, em todos os filmes de terror, não é ver o vilão que assusta: o lobisomem que pode aparecer a qualquer hora e ser qualquer um, o assassino que pode sair das sombra a qualquer momento e ficar alguns segundos na tela, sem nem aparecer inteiro.... Zumbis, não. Eles es-tão lá, de cara, inteiros, completos, desvelados des-de os primeiros momentos do filme. Às vezes são as primeiras coisas a aparecer. E, ainda assim, causam medo. E falam tanto sobre a gente, sobre o que faz da gente.... gente”.

Nascida no Canadá em 2003, a Zombie Walk – caminhada de zumbis –, espalhou-se “como um vírus zumbi”, ou, melhor dizendo, de internet, da mesma forma que diversos outros flash mobs (“Abraços Grátis” e a “Caminhada das Vadias” fo-ram outros que aportaram também no Brasil via redes sociais). Mas nada se compara em número e disseminação quanto à Parada Zumbi. Em 2012, no mesmo 2 de novembro, dezenas de cidades brasi-leiras realizaram sua própria Zombie Walk, sendo 72 as contabilizadas pelo Wikipedia, aglomerando zumbis em diferentes datas do ano. De Aracaju a Volta Redonda, com a primeira brasileira em Be-lém, em 2006, são diversos garotos e garotas que se reúnem por todo o território nacional com a o rosto empalidecido e sangue falso feito de glicose de milho pelo corpo, caminhando pelas ruas e as-sustando os incautos.

No Rio de Janeiro, os zumbis se reuniram ao lado do Copacabana Palace e desfilaram até o Arpoador.

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1. ARACAJU (SE)

2. ASSIS (SP)

3. ANÁPOLIS (GO)

4. ARARAQUARA (SP)

5. GOIâNIA (GO)

6. BAGÉ (RS)

7. BARRETOS (SP)

8. BAURU (SP)

9. BELÉM (PA)

10. BELO HORIZONTE (MG)

11. BLUMENAU (SC)

12. BOITUVA (SP)

13. BRASíLIA (DF)

14. CAICó (RN)

15. CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ)

16. CAMPINAS (SP)

17. CAMPO GRANDE (MS)

18. CARUARU (PE)

19. CRICIúMA (SC)

20. CASCAVEL (PR)

21. CUIABÁ (MT)

22. CAXIAS DO SUL (RS)

23. CURITIBA (PR)

24. DELMIRO GOUVEIA (AL)

25. DIVINóPOLIS (MG)

26. FEIRA DE SANTANA (BA)

27. FLORIANóPOLIS (SC)

28. FORTALEZA (CE)

29. GOVERNADOR VALADARES (MG)

30. GRAVATAí (RS)

31. GUARAPUAVA (PR)

32. INDAIATUBA (SP)

33. JACAREí (SP)

34. JOãO PESSOA (PB)

35. JOINVILLE (SC)

36. JUIZ DE FORA (MG)

37. JUNDIAí (SP)

38. LAGES (SC)

39. LINS (SP)

40. LONDRINA (PR)

41. MACEIó (AL)

42. MANAUS (AM)

43. MARíLIA (SP)

44. MARINGÁ (PR)

45. MONTES CLAROS (MG)

46. NATAL (RN)

47. PATOS DE MINAS (MG)

48. PELOTAS (RS)

49. PIRACICABA (SP)

50. POçOS DE CALDAS (MG)

51. PONTA GROSSA (PR)

52. PORTO ALEGRE (RS)

53. PORTO VELHO (RO)

54. RECIFE (PE)

55. RIBEIRãO PRETO (SP)

56. RIO DE JANEIRO (RJ)

57. RIO GRANDE (RS)

58. SALVADOR (BA)

59. SANTA MARIA (RS)

60. SANTANA DO LIVRAMENTO (RS)

61. SANTOS (SP)

62. SãO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

63. SãO LUíS (MA)

64. TAUBATÉ (SP)

65. TERESINA (PI)

66. SãO PAULO (SP)

67. SOROCABA (SP)

68. UBATUBA (MG)

69. UBERABA (MG)

70. UBERLâNDIA (MG)

71. VITóRIA (ES)

72. VOLTA REDONDA (RJ)

Lista compLeta dE cidAdEs brAsiLEirAs sEgundo o WiKiPEdiA

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Então, imagine você, turista em Copacabana, andando naqueles jipes que prometem um safári nas favelas, ser atacado por adolescentes gritando “Brains!” Foi o que aconteceu durante a primeira edição da Zombie Walk rj, em 2009, como conta Gabriel Alves, um dos organizadores. A reação dos transeuntes, lembra Cali, era, no mínimo, “engra-çada”, um desconforto, o não saber como reagir. “Uma vez me pararam para perguntar o motivo da ‘passeata’ e eu não resisti em dizer que era pela ‘melhoria das condições de vida nos cemitérios’.”

Na Zombie Walk rj 2012, senhoras se aproxi-mavam dos zumbis e tiravam fotos para postar em seus perfis no “Face”. Mães caminhavam ao lado de filhos zumbificados: “Ele precisa aprender desde cedo a não ter medo de nada”, contava uma con-tente mãe zumbi. Preocupados com o aumento do público que vem transformando o evento em um Carnaval fora de época, os organizadores lembram a importância do evento, que envolve planejamento bem antecipado e com seriedade, idas à prefeitura do Rio para pedidos de autorização, e a divulgação de regras de comportamento meses antes do even-to, que envolvem vestimentária (nada de zumbis se-xys e definição do que é ser um zumbi, embora há quem tenha conhecido seu par na Zombie Walk), código de conduta antiviolência, atenção ao pa-trimônio público. O controle é feito por todos os participantes: trata-se de um movimento debatido entre pessoas de diferentes lugares, são artesãos, estudantes, colegiais, professores, designers, escri-tores, atores, donas de casa, vindos de toda a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Tanto na comunidade on-line do grupo no Face-book (migrado recentemente do Orkut para a nova mania nacional), participantes e organizadores lem-bram dos excessos: com o aumento da popularidade dos personagens na TV, muitos novatos confundem o grupo com algo banal, enquanto há um objetivo co-mum entre os amantes do gênero: ser zumbi é con-fundir-se com a massa, metamorfosear-se, “a chance de ser, por um dia, um dos seres mais assustadores da ficção”, diz uma das ex-integrantes da organização, Giselle Brito. Uma brincadeira de fantasiar-se que re-presenta, também, uma forma de manifesto: é o dia de se “quebrar regras, não precisar pentear o cabelo, transgredir as amarras das vestimentas socialmente

aceitáveis, pintar o corpo, distinguir minha aparên-cia. Parece bem ridículo mas amo sair fantasiado na rua”, diz Ashbar. Seria, de fato, o oposto do carnaval em que a fantasia pretende seduzir. E ainda mais es-tando-se na sensual Copacabana, a Zombie Walk cria uma situação de contraste entre o belo e o repugnan-te, no mínimo... irônica.

“A Zombie Walk é a chance que nós, fãs de zum-bis, temos para nos reunir e interpretar essas criatu-ras que tanto amamos, é também um modo de com-partilhar essa paixão por mortos-vivos com o resto do mundo. É uma caminhada muito especial, pois é diferente de tudo, nela deixamos de ser nós mesmos e nos tornamos zumbis, do início ao fim do percur-so”, diz Névia Le Fou, que lembra que “toda a prepa-ração antes da caminhada também é inesquecível, desde o momento em que você tem a ideia do que vai fazer, a preparação da roupa e a caracterização, até que finalmente chega o dia de colocar tudo em prática. Apenas aqueles que realmente amam essas criaturas, que se sujam com sangue cenográfico, fa-zem feridas falsas e caminham lado a lado, arrastan-do os pés e interpretando zumbis, do início ao fim, vão entender esse sentimento”.

Em 2 de novembro de 2012, nós da darkside®books acompanhamos a preparação da caminhada de dois quilômetros pela orla de Copacabana até o Arpoa-dor. Diversos zumbis ou humanos em processo de transformação encontravam-se ao lado do mais célebre hotel brasileiro. O cartão-postal era preen-chido por uma massa de humanos cadavéricos, mas felizes em encontrar seus iguais. Ao dar início a ca-minhada, os zumbis transformavam-se, de fato, em seus personagens queridos.

Das maquiagens mais simples às mais elaboradas, atraíam os olhares de todos. Quase mil jovens (não há dados oficiais da Polícia Civil, embora diversos jornais e programas de TV tenham vindo acompa-nhar a passeata) se espalharam pela orla, unidos pelo fascínio ao horror e à ironia da morte que transfor-ma todos em iguais.

E a darkside® orgulhosamente apresenta agora, nesta primeira ZumbiGo!, alguns dos melhores zum-bis que estiveram na Zombie Walk rio 2012!

Delicie-se com alguns dos mais belos e repugnan-tes zumbis que você jamais viu!

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R (Nicholas Hoult) não lembra do seu próprio nome, e se sente mal por isso, tão mal que nem percebe que sua humanidade e o que sobrou de sua memória está esmorecendo. Tem extremo apego à coisas do passado, como vinis, conversas olho no olho e não digere a apatia dos tempos modernos. Até que encontra a bela Julie (Teresa Palmer), e algo que parecia desligado para sempre volta a bater em seu peito: seu coração.

Seria mais um filme romântico, se R não fosse um zumbi e Julie uma hunter. Seria mais romântico ainda se ele não tivesse devorado o cérebro do na-morado de Julie, mas foi exatamente isso que lhe

devolveu um pouco de humanidade, compaixão e amor, uma espécie de contaminação ao contrário. Movidos por este improvável encantamento – ou paixão, talvez – os dois começam a se envolver e ele se torna praticamente um humano infiltrado entre zumbis. Vai ser difícil para Julie convencer seu pai, general à frente do ataque aos mortos-vivos (John Malkovich) de aceitar o romance. A dúvida é que, ao humanizar um zumbi, podemos mesmo ainda considerá-lo um morto-vivo?

O filme, uma adaptação do livro Sangue Quente (LeYa, 2011), de Isaac Marion não é a primeira in-cursão de zumbis no universo romântico: a trama Namorado Gelado, Coração Quente, de 1993, já ha-via abordado a difícil relação entre uma viva e um morto-vivo. No caso, o rapaz estava tão apaixonado pela garota que nem percebeu que morreu, até que seu corpo em decomposição o compele a um regime de carne humana.

Em 2005, outro filme apresentou o jovem Nathan (David Leon), desiludido e suicida, que volta à vida

moViEZ>>> por Vandinha

ZUMBIS TÊM <3MEU NAMORADO É UM ZUMBI

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quando a sua mamãe desc um livro de vodu. Nathan continua apaixonado, mas passa a gostar da menina menos pelo seu físico que pelo seu intelecto, saca? Brains... Boys Eats Girl (“Garoto Come Garota”), primeiro filme não pornográfico a ser censurado na Irlanda, onde foi produzido por apresentar um suicídio, parodia desde o nome o gênero romântico conhecido como “garoto conhece garota” e os dramas adolescentes.

Não podemos esquecer o “antológico” Macumba Love, de 1959, em que um “escritor” vem ao Brasil inves-tigar o vodu (!) e tem que lidar com a namoradinha em transe, bem zumbi old school, com direito a todos os estereótipos do gênero.

Mas, tirando todo o conflito existencial entre um zumbi e uma menina, afinal, conflito existencial é para vivos, Rotting Hill, curta-metragem produzido por estudantes da Nova Zelândia, mostra que, de fato, zumbis também podem se amar, e amar sem pensar no amanhã apocalíptico e sem se estressar com os histéricos humanos. O título é uma paródia com o romanticíssimo Um Lugar Chamado Notting Hill (1999), só que a cena de Julia Roberts e Hugh Grants tranquilos no parque homônimo do filme são substituídos por dois jovens zumbis, apodrecendo, como quer dizer “to rot” em inglês.

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assisTaMacuMba lovE

(1959)direção

Douglas Fowley Com Walter Reed,

Ziva Rodann, William Wellman Jr.

naMorado GElado, coração QuEntE

(1993)My Boyfriend is Back

direção Bob Balaban

Com Andrew Lowery e Traci Lind

rottinG Hill (2012)

media design School’s advanced 3d productions

mediadesignschool.com(curta-metragem disponível on-line)

MEu naMorado é uM ZuMbi

(2013)Warm Bodies

direção Jonathan Levine

Com Nicholas Hoult, Teresa Palmer,

John Malkovich, Analeigh Tipton

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O horror parece ter despertado de um longo inverno. Notícia recente da Folha de S. Paulo dá conta de algumas produções em andamento, de diretores conhecidos, como Andrucha Waddington, Walter Lima Jr. e Kleber Mendonça Filho – este último autor de um dos filmes mais comentados do ano, Som ao Redor.

Mas é interessante notar que, quando lemos algo na assim chamada grande imprensa, poucos se voltam para quem se dedica ao gênero há bastante tempo. Há exceções, caso do repórter e crítico de cinema do jornal O Globo Rodrigo Fonseca e foi ele quem destacou, no começo de fevereiro, o trabalho do ci-neasta Rodrigo Aragão.

Produzindo seus filmes há quase dez anos em uma vila de pescadores no litoral do Espírito Santo, Aragão lança no começo de maio o seu terceiro lon-

ga, Mar Negro, que encerra a trilogia de terror que teve início com Mangue Negro (2008), seguido de A Noite dos Chupacabras (2011).

Premiado e convidado para festivais mundo afo-ra, Aragão enfrenta o antigo problema da falta de reconhecimento dentro de seu país. “Não encontra-mos distribuidoras que queiram trabalhar o filme, não entramos nas leis de incentivo etc. Não sou feliz em ser maldito, e espero que não seja sempre assim”, Aragão comenta em entrevista exclusiva à Zumbigo!, sem qualquer mágoa, apenas fazendo uma constatação.

A seguir, o cineasta relembra a sua trajetória, fala das influências e inspirações, comenta as dificulda-des e o preconceito com o gênero, a repercussão no exterior e o fato de usar o terror como um meio de criticar a sociedade: “O teor crítico dos filmes é fun-damental para mim. Ao lado do humor debochado e dessa coisa do filme B, tenho que falar da minha re-alidade. Não tem como fugir disso”, afirma Aragão, que acredita que o nosso folclore, muito assustador, ainda é subestimado pelos realizadores do gênero no país. Futuros cineastas, prestem atenção!

brAZiL>>> por Primo It

CINEZUMBRCINEMA NACIONAL COM RODRIGO ARAGãO

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O cOmeçOrodrigo Aragão. A fantasia sempre me despertou a curiosidade. Culpo meus pais por despertar este interesse, sobretudo meu pai, que era mágico e foi dono de um cinema. Sempre teve isso em casa, rolos de filmes, dedos falsos que ele usava nas mágicas. Sou fruto dos anos 1980, filmes como a série Guer-ra nas Estrelas (1977- ) foram muito marcantes para mim. Uma época quando os efeitos especiais ainda eram todos artesanais, como em A Volta dos Mortos--Vivos (1985), A Noite dos Arrepios (1986), Hellraiser – Renascido do Inferno (1987), filmes todos muito divertidos.

Comecei usando coisas que tinha em casa, como tinta guache, massa de bolo, para assustar os vizi-nhos e fazer os meus primeiros filmes caseiros. Sur-giu daí a vontade de me especializar em efeitos espe-ciais e fui estudar pintura, escultura. E foi frustrante não conseguir trabalhar na área, não conseguir viver de efeitos especiais no Brasil. Em 2004, comecei a produtora para tocar meus próprios projetos muito por conta dessa frustração.

casa de TerrOrAntes disso, em 2000, havíamos criado o Mauso-leum, que era uma Casa de Terror. Na verdade, um teatro itinerante, com uma peça louca e interativa, para sete pessoas de cada vez, com um labirinto no final. O projeto durou alguns anos, rodamos o Espí-rito Santo, Minas Gerais e fomos até Salvador, onde a peça ficou por mais tempo em cartaz. De sete em sete, nestes anos todos, a peça foi assistida por 30 mil pessoas. E nos ajudou a formar essa equipe que me acompanha até hoje, a Kika, que atuava e hoje é produtora, o Ricardo Araújo, entre tantos outros.

escOla dOs amigOsEsse grupo vem dessa escola, e como foi bonito isso! Foi o que nos preparou para os filmes, pois tivemos que trabalhar com engenheiro mecânico, entender como funciona e como se constrói um cenário, essas coisas mais técnicas. Mas sobretudo aprendi como assustar as pessoas. Como disse, foram 30 mil pesso-as que passaram por ela, e aprendi muito a entender o que funciona e o que não. Com a peça, vi reações incríveis, de todas as maneiras, algumas que você não imagina!

Voltando à equipe, alguns vieram depois, como o Walderrama, que é músico e virou ator, e juntar os

amigos foi a melhor coisa a ser feita. Continuo tra-balhando com as mesmas pessoas e sempre chamo mais profissionais, tento colocar mais pessoas nas produções. Não tivemos formação oficial, aprende-mos na prática, fazendo. A nossa escola foi essa.

Fizemos o curta Chupa Cabras (2004) em dois dias, com R$ 300, e ele foi importante pois comecei a circular pelos festivais do gênero no país, o que me abriu as portas e começou a tornar o meu tra-balho conhecido.

lOnga-meTragensO primeiro longa, Mangue Negro (2008), foi literal-mente feito no fundo do quintal, ergui um barraco com tábua velha, na verdade apenas uma parede. Filmamos e montamos 15 minutos do filme durante sete meses. Aí mostrei para o Hermann Pidner, em-presário mineiro, que bancou a produção.

A produção foi uma verdadeira escola com os amigos. Levamos três anos filmando e foi legal que ele alcançou um status de filme cult, conseguiu dis-tribuição internacional, ganhou prêmios. Com ele, consegui me dedicar mais aos filmes e depois fomos fazer A Noite do Chupacabras (2011), pois tinha tesão em fazer um monstro diferente. Mar Negro (2013) tem sido o mais difícil deles, que tem exigido mais de mim e da equipe.

dificuldades e precOnceiTOO terror é um gênero muito difícil, tem que ter uma técnica correta, senão não funciona. É algo que mexe com a emoção, tem que ser muito verdadeiro, pois ou a pessoa pula ou não pula da cadeira. Não é fácil conseguir fazer isso. Grandes nomes do ci-nema hoje, como Steven Spielberg, Peter Jackson e Sam Raimi começaram no terror e é possível ver o quanto aprenderam com ele.

Por outro lado, o Brasil tem um público cativo que consome os filmes produzidos nos Estados

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O terror é um gênero muito difícil, tem que ter uma técnica correta, senão não funciona. É algo que mexe com a emoção, tem que ser muito verdadeiro

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MAR NEGRO–a zumbizada em ação e a equipe reunida durante as filmagens do filme novo

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Unidos, mas ainda não respeita nem estimula a sua própria produção. Temos um folclore muito assus-tador, com sacis, mulas sem cabeça, curupiras, que talvez, por conta da infantilização produzida por Monteiro Lobato, tenha perdido essa característi-ca para as novas gerações, mas é só conversar com pessoas mais velhas do interior do Brasil que você entende e percebe essa verve assustadora dele. Te-mos essa tradição de realismo fantástico subapro-veitada no cinema. Se o Brasil soubesse aproveitar isso melhor...

maldiçãOSou um herdeiro do José Mojica [o Zé do Caixão], no que diz respeito em ser um cineasta maldito. Sou aceito e consigo distribuir meu filme fora do país, ganho prêmios, mas aqui é muito triste. Não encon-tramos distribuidoras que queiram trabalhar o filme, não entramos nas leis de incentivo etc. Não sou feliz em ser maldito, e espero que não seja sempre assim.

nOva geraçãOEu levei dez anos para conseguir assistir a Zumbi 2 – A Volta dos Mortos (1972), do Lucio Fulci, não tí-nhamos acesso a isso como temos hoje. Interessante pensar que a meninada de hoje que curte esses fil-mes e tem acesso imediato a quase tudo, muitas ve-zes não tem as referências, acha que tudo começou com The Walking Dead. É importante saber quem foi George Romero, que o Gregory Nicotero, maquia-dor da série, começou trabalhando com Tom Savini.

Mas, de 2008 para cá, tem ocorrido uma explosão de curtas de terror, com estéticas diferentes, produ-zidos por essa nova geração digital. Ninguém mais quer apenas imitar os monstros gringos, estão pro-duzindo coisa novas diferentes, com uma estética muito própria.

Espero inspirar essa turma e que isso ajude a mu-dar o sistema e o atual mercado do cinema brasilei-ro. É preciso que nos levem mais a sério, pois somos uma fatia importante do mercado.

Realizo o Cine Terror na Praia, em Guarapari (ES) e fizemos uma Sessão Zumbi com curtas muito di-ferentes. Essa troca de experiência é fundamental, dividir o conhecimento, sem mesquinhez é supe-rimportante. Mangue Negro correu os festivais de cinema fantástico de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Goiânia e esse intercâmbio e contato com outros di-

retores é uma das melhores coisas que pode haver.Mar Negro é uma festa de realizadores. Convidei –

e todos vieram por conta própria – o pessoal da Ca-nibal Filmes, do Peter Baiestorf, de Santa Catarina, o pessoal da Recurso Zero Produções, de São Paulo, um diretor mexicano, outro da Costa Rica, e todos toparam participar. Ao final das gravações, doei as fantasias para o Peter Baiestorf usar em Zombio 2.

influências, inspirações e referênciasA tecnologia digital tem sido fundamental para isso, simplificou e barateou muito todas as etapas de produção, mas evito usar computação gráfica, 3D. Os anos 1980 são uma referência muito importan-te pra mim por conta disso. As produções eram ex-tremamente criativas. A Noite dos Mortos-Vivos, por exemplo, extrapola a realidade e é divertido ao mes-mo tempo. Vi o trailer de World War Z [estrelado por Brad Pitt e com estreia prevista para junho de 2013] dia desses, e aquilo é outra coisa, mas não são zumbis.

O sabor da coisa real, para mim, é mais legal, por isso prefiro fazer sem efeitos especiais produ-zidos no computador, como eram feitos nos anos 1980. Na Alemanha, Mangue Negro levou o título de Brain Dead Zombies. Eles que deram o título, uma referência ao clássico de Peter Jackson, Brain Dead [Fome Animal, no Brasil, 1992]. Ser incluí-do nessa escola de Peter Jackson e Sam Raimi é o maior orgulho da minha vida. Para mim, são clás-sicos, pérolas, esses filmes que eles fizeram. E esse começo deles é muito parecido com o que a gente faz. Claro, eles tiveram um pouco mais de dinhei-ro, mas foram filmes feitos com restrições, junto com as amigos. E foram filmes B que inspiraram uma geração.

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O sabor da coisa real, para mim, é mais legal, por isso prefiro fazer sem efeitos especiais produzidos no computador, como eram feitos nos anos 1980.

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TerrOr cOmO críTicaO teor crítico dos filmes é fundamental para mim. Ao lado do humor debochado e dessa coisa do fil-me B, tenho que falar da minha realidade. Nasci na região do Perocão, aldeia de pescadores situada na praia de Guarapari (ES), cercada pela montanha, o mangue e o mar. Os meus filmes são sobre isso aí. O Perocão vem sendo sistematicamente destruído. Quando criança, eu via cavalo marinho, nadava no mangue. Minha filha, de 15 anos, nunca viu um ca-valo marinho e é impossível hoje entrar no mangue. Não tem como fugir disso.

Arte, para mim, é olhar criticamente para o mun-do. A intenção é falar da realidade, mas extrapolan-do-a. Nos filmes, tem o policial corrupto, o bandido, mas o meu interesse é extrapolar aquilo que a pes-soa já vê no noticiário, trazer problemas diferentes da vida dela, ainda que calcados na realidade.Mar Negro fecha essa trilogia. A contaminação se dá com uma mancha negra que vem do mar. Os mons-tros surgem desse contato dos animais com a man-cha, e quem come os peixes também acaba se con-taminando. São zumbis diferentes, marinhos, com cabeça de arraia, essas coisas.

repercussãO nO exTeriOrMangue Negro foi quem abriu as portas no exterior. Fomos convidados para diversos festivais e ganha-mos prêmios importantes, incluindo o de Melhor Filme eleito pelo Júri Popular no Festival Rojo San-gre, em 2008, de Buenos Aires, o mais antigo da América Latina.

Depois dele, os filmes já são convidados para os festivais antes de ficarem prontos. O sucesso que os filmes fazem lá fora é pelo fato de ser regional. A originalidade vem do fato de usarmos música re-gional, tipos regionais, dar importância para a nossa geografia. É como diz o ditado: “Cante a sua aldeia e encantará o mundo”. Isso é um fator chave.

O terror brasileiro encanta lá fora por conta disso. É fundamental fazer filmes daqui, isso que reflete lá fora. Eu tinha uma frustração quando criança, ao ver que tudo acontecia em Nova York, e nada no Brasil. Faço os filmes que queria ver na infância e não era possível, pois não existiam. Por isso tem que ser sempre o mais brasileiro possível.

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WE LOVE HORROR BOOKS

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Zombie shtuff http://zombieshtuff.com/ Loja on-line que vende diversos produtos relacio-nados aos adoráveis comedores de cérebro, como roupas de cama, biquínis sensuais com estampa zumbi, pantufas com dedos nojentos de zumbi, touca com desenho de cérebro, bonequinhos com velcro para você desmembrá-los, moldes para cup-cakes no formato de cérebros, entre outros coisas.

Map of the dead http://www.mapofthedead.com/ Você está mesmo preparado para o Apocalipse Zumbi? Na dúvida, não custa consultar este Guia de Sobrevivência, que, a partir do Google Maps, indica tudo o que você precisar saber onde fica ou tem para se garantir na batalha final pela sobre-vivência da espécie humana: lojas de armas, con-veniências, aeroportos, áreas militares, hospitais, farmácias, postos de gasolina, igrejas, cemitérios e por aí em diante. Essencial.

universo Zumbi http://www.universozumbi.com.br/ De nome autoexplicativo, o site brasileiro reú-ne todo o buzz nacional e internacional sobre o tema. Há inclusive notícias de ataques zumbis registrados pelo mundo. Ou você acha que zum-bis não existem?

CroWdfundingZuMbi VotA EM ZuMbi!

Já que a onda é ser solidário e apoiar o seu time, quer dizer, projeto de coração, ajude também a dar vida a projetos zumbis! Assim como o jogo Zombie Playground atingiu sua meta e foi viabi-lizado com o apoio financeiro de gente de tudo quanto é canto do mundo, há diversas outras va-quinhas on-line disponíveis para você contribuir na produção de filmes estrangeiros e nacionais sobre o tema.

zumbiLÂNDIA>>> por Primo It e Vandinha

BRAINSSOUPO QUE HÁ DE ZUMBIS POR AÍ

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Nerd of the Dead – websérie nerd of the dead http://www.universozumbi.com.br/ Tanto nerd se preparando para o Apocalipse Zumbi, será que vão conseguir colocar tudo em prática? Esse é o mote para a websérie brasileira, que já tem três episódios no ar. E ela pre-cisa de você, é, você para continuar existindo. Vai que...

Zombie nation – livro de arte sobre zumbis http://www.kickstarter.com/projects/1280207017/ zombie--nation-limited-edition-art-book?ref=tag Elaborado pelo artista plástico californiano Ezra Li Eismont, o livro de arte sobre zumbis recria a pop arte trazendo o mons-tro mais pop dos últimos tempos para brindar com Andy Wa-rhol cia. O projeto ultrapassou os 6 mil dólares pedidos ape-nas 137 apoiadores para os 200 exemplares únicos, em edição luxuosa limitadíssima, estão sendo aguardados para junho. Mais sobre o artista: http://ezrali.wordpress.com/

Jogos zumbis – diversoshttp://www.kickstarter.com/projects/search?term=zombie Baralho, jogo de tabuleiro, videogame... há projetos de todos os tipos no Kickstarter. Escolha o seu!

CROWDFUNDING–os zumbis querem ser financiados por você!

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Wants Your brainsAlan Sailer era um obscuro fotó-grafo, que trabalhava em sua gara-gem atirando em objetos como san-duíches, mãos de cerâmicas, cabeças de Ken (o namorado da Barbie), giz de cera e abacates com seu rifle de bolinha de chumbo e fotogrando o exato momento em que o projé-til os atingia com um sistema de microflash construído em casa. Até que em 2009, alguém compartilhou o seu trabalho nas redes sociais e, como ele diz, “tornou-se um fotó-grafo um pouco menos obscuro”.

Um dos mais incríveis entre estes trabalhos de precisão assustadora, é esta Barbie customizada (abaixo), que ele renomeu de Zombie Barbie Wants Your Brains. O cérebro de couve-flor explodindo evoca um big bang ou a explosão de uma estrela, enquanto a pobre Barbie zumbifica-da chora sangue e ri de sua sorte. “Este foi o último dos cerca de dez tiros, na procura pelo melhor ângulo e iluminação”, diz o fotógrafo a res-peito deste seu instante decisivo.

barbie z

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direto da fonte

artefatos incomuns e tipografiaUm estimado e querido tio que atuava como mágico despertou o seu interesse em efeitos especiais, sobretudo maquiagem e escultura. Além disso, Jamie Durrant sempre se considerou um geek desde a mais tenra idade e esse fascínio por computadores e arte de uma maneira em geral o levou para a Norwich School of Art & Design, onde aprendeu “os benefícios de se sentar por horas em um quarto escuro para escrever ensaios sobre os mestres do passado”, em suas próprias palavras.

Formado no começo dos anos 1990, mudou-se para Londres, onde trabalhou em vários estúdios e ocupações diferentes. Por fim, mudou-se para arborizada e tranquila cidade de Guilford, onde trabalhou no Lionhead Studios, adquirido pela Microsoft em 2006. Em 2009, largou o trabalho na firma de Bill Gates para dedicar-se a trabalhos como freelanc-er, além de abrir, em parceria com Wayne Scott Coley, a sua própria empresa de “artefatos incomuns e inusitados”, The Strange Case Company, que vende esculturas com crânios de animais, pôsteres em edição limitada e outros produtos inspirados na atual populari-dade da realeza como uma marca e no fascínio pelo passado de curiosidades vitorianas.

Ele também desenhou curiosas famílias tipográficas, feitas de cérebro, carne e outra que homenageia um dos clássicos personagens de terror do século XX, Frankenstein. Para saciar a larica de qualquer zumbi faminto!

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www.groovytoyshop.com.br

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brAins Food COMIDAS NOJENTAS

UrGH!

Miss Cakehead e Eat Your Heart Out http://misscakehead.wordpress.com/ http://evilcakehead.com/

O Eat Your Heart Out é um coletivo de artistas que fazem o seu trabalho com comida, procurando criar bolos e doces que mais se parecem com obras de arte. Meio nojentos, é verdade, é preciso mais que um estômago forte para devorar docinhos com larvas e olhos, bolos de cérebro e de pulmões, chocolates no formato de crânio de gatinho, trufas de próstatas com câncer e vaginas com corrimento. Os preços da doceria in-glesa vão de duas libras e meia para os cupcakes até 300 libras para um bolo enorme de cabeça humana sem a pele. O coletivo é encabeçado pela Senhorita Cakehead, diretora criativa freelancer e o cérebro por trás do sombrio e assus-tador açougue humano Wesker & Son [weskerandson.co.uk/], criado para lan-çar do game Resident Evil 6 na Grã-Bre-tanha, em 2012. Sem a menor habilidade para assar um bolo, ela se especializou em criar estes doces inspirados na anatomia humana e suas degenerações para aquela que já foi definida como “a doceria mais repulsiva do mundo”. Além da comida, a Eat Your Heart Out realiza eventos como coquetéis e palestras que vão desde câncer no intestino a crimes sexuais. Temática variada, como se vê.

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Estou morto dE VontAdE PArA tEr

beat black http://www.beatblack.com/

Sarah Norton é quem faz estas joias artesanais, colares, brincos, anéis, broches, abotoaduras, marcadores de livros, todas com fofas inspira-ções no esqueleto e em órgãos humanos, como o intestino (delgado e grosso), pulmões, caixa torácica, fêmures, coração e, claro, cérebros, muitos deles, vermelho, verde, rosa, cinza e roxo. A artista trabalha com diversos materiais, sobretudo argila, polímero e acrílico.

baby brainshttp://betrayedme.deviantart.com/art/Baby-brains-175796646

Sangue falso, papel de seda, maquiagem de Halloween, unhas e um bom tempo dispo-nível. Foi o que a jovem artista de 18 anos intitulada BetrayedMe precisou para fazer esse assustador Baby Brains.

Zombie for him/herhttp://www.demeterfragrance.com/757765/products/Zombie-for-Him.html

http://www.demeterfragrance.com/757766/products/Zombie-for-Her.html

A empresa de fragâncias Demeter resolveu en-garrafar – e vender – o cheirinho de um zumbi. Segundo sua loja online, o perfume tem uma combinação de “folhas secas, cogumelos, mofo, musgo e terra”. E, como eles dizem, “Apocalipse Zumbi não significa que você não pode cheirar bem”. Em versão para homem e para mulher zumbis, integra a vasta coleção de fragâncias da Demeter, que vai desde “alfazema” a “chicote de dominatrix”. Custa apenas 20 dólares o vidri-nho e, segundo as resenhas de “Rob, the Zom-bie” e “DeadGuy”, o perfume é perfeito.

sHopz

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www.idealshop.com.br

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O quadrinista suíço Frederik Peeters, premiado pelo seu livro Pilules Bleues (Atrabile, 2001) e autor de Castelo de Areia (Tordesilhas, 2011), em parceria com Pierre Oscar Lévy, resolveu um dia abrir um blog apresentando personalidades mortas-vivas. Em dois anos de existência (2008-2009), o blog colecionou cerca de 200 desenhos, com os (ainda) vivos Marylin Manson, Catherine Deneuve, Steven Spielberg, (o então vivo) Hugo Chávez, os mortos Lady Di, Aldous Huxley, Bob Marley. Confira!http://portraitsaslivingdeads.blogspot.com.br/

FREDERIK PEETERSZUMBI PARA TODO LADOIT’S ALIvE

GALERIAz>>> por Vandinha

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STARS–nesta página, em sentido horário, karl lagerfeld, pamela anderson, Serena williams e Victoria Beckham

CELEBS–ao lado, Hillary Clinton, jacques Chirac, lewis Hamilton, madonna, Felipe de Bourbon, maradona, Cali, gerard depardieu, Bento XVi, allan moore e paul auster

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DemônioRender - 1 horaModelagem - 4 dias Textura & Sombra - 3 dias

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Um trabalho impressionante, é o que vem a mente quando nos deparamos com as esculturas digitais e modelagem em 3D do japonês Kouji Tajima. O jovem artista de 23 anos, começou a se dedicar às técnicas há apenas quatro anos e produz monstros, caveiras, demônios, lobisomens e outros seres bizarros e assustadores com um nível de detalhes e uma verossimilhança que beiram a perfeição.

Partindo de trabalhos prévios, como as esculturas de verdade do artista grego Aris Kolokontes, ou buscando inspiração na “imaginação escondida lá no fundo do meu cérebro”, como ele mesmo afirma, Tajima trabalha sobretudo para o mercado de games e filmes, e no ano passado chegou a criar ilustrações para os cards do Pokemon, um dos seus personagens favoritos na infância.

A Zumbigo! fez uma entrevista exclusiva com Kouji Takima por e-mail, que você confere abaixo, e onde o artista comenta, entre outras coisas, so-bre o seu trabalho, as técnicas que utiliza, influên-cias e inspirações.

como começou a criar a sua arTe?kouji tajima. Não me lembro muito bem de quan-do comecei a criar a minha arte. Creio que quan-do tinha 5 anos ou menos. Eu costumava pintar os meus personagens favoritos do Pokemon até onde consigo me lembrar.

o que o levou a esTuDar e Trabalhar com concept design, creature design, moDelagem em 3D e esculTura DigiTal?Sempre tive muitas ideias na cabeça, uma imagina-ção incessante, e queria mostrar esse meu mundo particular para todos, não importa qual o programa ou o material que uso. A única razão para eu usar 3D e escultura digital é porque é realmente divertido e fica fácil para mim me expressar dessa maneira. Com estes recursos, consigo transmitir exatamente o que se passa aqui dentro.

KOUJI TAJIMAIMAGINAÇãO INSANA

OBScuro>>> por Primo It

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DemônioRender - 1 horaModelagem - 4 dias Textura & Sombra - 3 dias

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e em que esTas Técnicas se Diferem?Com a escultura em 3D, consigo um resultado vi-sual incrível de uma maneira bem rápida e relati-vamente fácil. Não gosto muito dessas coisas de computador, como topologia de polígono e erro de programa... essas merdas bloqueiam a minha moti-vação para criar arte.

PoDeria falar sobre as suas influências e insPiração Para o seu Trabalho?Gosto de games como Resident Evil (1996- ), De-vil May Cry (2001- )... Mas acredito que tudo que existe no mundo pode ser estimulante para o seu trabalho. Procuro prestar atenção em um monte de coisa, gosto tanto dos filmes da Disney como de anime, as animações japonesas, e não apenas de coisas assustadoras, hahaha.

De onDe vêm os seus monsTros?Eu costumava assistir a filmes de heróis quando era criança e sempre torcia para os vilões, hahaha. Pois achava que eles pareciam muito mais incríveis que os caras que faziam os heróis, ao menos para mim. Gosto especialmente dos vilões de Masked Rider ZO (1993) – um filme de tokusatsu (cheio de efeitos especiais) – e da suas aparências orgânicas e assustadoras.

como o meDo e o laDo sombrio lhe insPiram?Eles me dão uma inspiração insana! Libertam a imaginação escondida lá no fundo do meu cérebro. Então quando me sinto triste ou com raiva expres-so isso no meu trabalho artístico.

quais as DificulDaDes Para Desenvolver um Trabalho arTísTico como o seu?O mais difícil é criar exatamente a mesma coisa que está dentro da minha cabeça. É muito difícil se livrar dos estereótipos.

você já criou algo relacionaDo ao univer-so Dos zumbis?Ainda não fiz, mas quero de verdade fazer algo as-sim um dia!

seu Trabalho é feiTo ToDo DigiTalmenTe, ou Desenvolve as iDeias Primeiro no PaPel? se sim, quais as Diferenças enTres os Dois méToDos e como eles se comPlemenTam?Costumo fazer um esboço antes de criar digitalmen-te. Mas agora estou começando a fazer direto no digital, como começar a rascunhar no Photoshop. Pois agora se parece muito como pintar no papel! Assim eu não preciso desperdiçar mais papel, ha!

já ilusTrou caPas De livros, revisTas e Publicações imPressas?Ainda não. Se vocês precisarem de algum artista para os livros da DarkSide®, por favor, é só me es-crever a qualquer hora. :)

enTre os seus Trabalhos, quais os que mais lhe agraDam e Por quê? Nunca ficou satisfeito com as minhas obras. Claro que gosto delas, mas não sei quais são as melhores...

o que significa Para você a oPorTuniDaDe De criar as ilusTrações Para o Pokemon?Um dia, um cara do estúdio do Pokemon me con-tatou e perguntou se eu queria fazer um trabalho artístico com o Pokemon. Como você deve saber, eu fiquei tipo “Pokemon!? Por que eu!?”, hahaha. Mas eu costumava colecionar os cards do Pokemon e jo-gar com os meus amigos. Eles me proporcionaram muitos sonhos e alegrias. Então pensei: “Agora é a minha vez de proporcionar sonhos para as crianças”.

que ouTro ícone você gosTaria De Desenhar um Dia?Queria arriscar um estilo que reunisse beleza e bru-talidade, pois nunca tentei fazer algo assim antes.

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Procuro prestar atenção em um monte de coisa, gosto tanto dos filmes da Disney como de anime, as animações japonesas, e não apenas de coisas assustadoras, hahaha.

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KOUJI TAJIMA–o jovem artista recebe um de seus primeiros prêmios pelo seu trabalho insano

ANTES E DEPOIS – MODELAGEM E RENDERa transformação da escultura 3d em imagens realistas

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Uma pepita acaba de chegar às li-vrarias, na forma de um pequeno livro no formato horizontal, 64 pá-ginas e capa verde-oliva, onde um jacaré, de costas em uma bicicleta, equilibra como uma malabarista de-zenas de sapatos e duas bolinhas. Dentro dos sapatos amarelos, con-seguimos ler, ao lado esquerdo, A bicicleta epiplética, e no direito, Edward Gorey.

Reside aí, nestes dois nomes ainda pouco conheci-dos do leitor brasileiro, a alegria em ver que final-mente o autor de mais de uma centena de obras que sempre procuraram unir texto e desenho – onde o primeiro foi diminuindo cada vez mais, para abrir espaço para o traço, geralmente preto em fundo

branco, bastante hachurado e fino –, mas sobre-tudo, tratar da estranheza e de situações mórbidas como um incrível desapego, humor negro, ironia, cinismo e nonsense.

A morte, afinal, está logo ali e o que Gorey nun-ca teve foi uma postura de ignorá-la ou diminuí-la. Pelo contrário, sendo uma das poucas certezas que temos, ela é tão urgente que deve ser vista, satiri-zada, pensada, debochada, temida e questionada de todas as maneiras possíveis. Foi o que ele tentou com sua obra, adicionando leveza (quando possí-vel), ao mesmo tempo que buscava apenas contar boas histórias. E tudo isso ambientado em um universo vitoriano e eduardiano, que remete à In-glaterra no período da Rainha Vitória (1837-1901), seguida pela era do Rei Eduardo (1901-1910) sua pompa e afetação, figurino e arquitetura, móveis, utensílios, tapetes e papéis de parede.

Agora que enfim ele chega ao país – em mais uma edição muito bem cuidada da Cosac Naify, que pretende publicar mais trabalhos do norte-

>>> por Primo It

EDWARD GOREY BRINCANDO COM A MORTE

outroMUNDO

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-americano nascido em Chicago, EUA, em 1925 – vem sempre acompanhado da expressão de al-guém “que influenciou Tim Burton”. Sim, fica cla-ríssimo, ao vermos ambos os trabalhos, o quanto de Gorey há em Burton (e não é pouco e isso não o desmerece, muito pelo contrário). Gorey também exerceu forte influência em outros nomes impor-tantes da cultura pop, como o escritor e quadri-nista Neil Gaiman, que queria que ele ilustrasse Coraline. Mas, segundo o autor de Sandman, o ilustrador morreu no mesmo dia em que ele colo-cou o ponto final da história.

Antes de falecer em 2000, aos 75 anos, porém, Go-rey deixou uma obra soberba, variada, multifaceta-da e que vem alcançando mais e mais fãs desde que se foi. Como dito, foram mais de cem livros de sua própria autoria – dos quais 40 estão disponíveis e há quatro excelentes coletâneas publicadas nos EUA pela Perigee, Amphigorey (1980), Amphigorey Too (1980), Amphigorey Also (1993), Amphigorey Again (2007) –, dezenas de capas ilustradas para a editora Anchor, ilustração para ao menos 60 livros de ou-tros escritores, como Samuel Beckett, e periódicos como The New York Review of Books e The New Yorker. Criou cenários e figurinos para uma montagem de Drácula (1977) na Broadway, ilustrou a sequência de abertura da série Mystery!, exibida pelo canal de TV pública norte-americano PBS, fez desenhos para o New York City Ballet e o Metropolitan Opera.

Mas o grande tesouro é mesmo a sua obra, que teve início em 1953 com a publicação de The Uns-trung Harp (A arpa sem cordas, em tradução lite-ral), onde acompanha os anseios, atribulações e hesitações de um escritor enquanto produz um novo romance. A obra tinha parágrafos inteiros, que evocam detalhes da ilustração e passam des-percebidos em um primeiro olhar (aliás, esta é ou-tra característica de sua obra: sempre parece que deixamos passar algo que só vamos perceber em uma segunda, terceira, quarta leitura). The Listing Attic (A lista do porão, 1954) já apresenta pequenos versos rimados que ilustram os trágicos desenhos, cada um trazendo uma história completa de assas-sinatos e outras pequenas tragédias. Mas é com The

Doubtful Guest (O convidado duvidoso, 1957), uma de suas joias raras, que identificamos o típico hu-mor negro, algum nonsense e cinismo e as rimas que tanto o caracterizariam. Nele, um pinguim de cachecol e sapatos brancos aparece e um mansão vitoriana para atazanar a família, comer pratos, rasgar livros e roubar as toalhas do banheiro.

As criações se multiplicaram ao longo da segun-da metade do século passado, e Gorey tinha espe-cial predileção por criar séries seguindo a lógica do alfabeto. Sempre com 26 desenhos, onde a ordem das letras determinava o nome dos personagens ou uma qualidade inerente a eles e assim por diante. Um dos mais intrigantes da série é, sem dúvida, The Gashlycrumb Tinies (Os pequeninos cortadinhos e esmigalhados, 1963), onde Gorey enumera a mor-te, por vezes trágica, de 26 crianças, de Amy (“A é para Amy, que caiu da escada”) a Z (“Z é para Zillah que bebeu gim demais”), onde veremos, em seu pe-culiar traço, em preto em branco (embora também tenha feito trabalhos em cores), os pequenos serem comidos por urso, atacados por sanguessugas, en-forcados, afogados, congelados, consumidos pelo fogo, devorados por ratos, ou ainda morrerem com um machado no peito, ao comer tachinhas, ao cair da banqueta e simplesmente de tédio.

O humor negro acrescido de um doce nonsense podem ter sido fundamentais para o hoje definido como “mestre do macabro vulgar” – epíteto que, aliás, não gostava –, e o que ele sempre dizia é que não passava disso mesmo. Não havia ali, segundo o autor, a intenção de fazer alegorias, tratar de outros temas por associação. Aquilo se bastava. “Quando as pessoas ficam encontrando significados nas coisas – tenha cuidado”, afirmou o artista. Mas a manei-ra com que ele conseguiu nos fazer procurar pelos detalhes e voltar à sua obra em busca de um senti-do é, sim, elucidativa de uma carência nossa. Já que as principais questões sobre nossa pobre, singela e efêmera existência ficarão sempre pairando por aí, talvez queiramos ao menos saber porque aqueles personagens tão peculiares, singulares e atípicos acabaram daquela maneira. E ficamos intrigados ao ficar, uma vez mais, sem resposta.

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