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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Departamento de Ciência dos Alimentos Curso de Bacharelado em Química de Alimentos Disciplina de Seminários em Alimentos Alimentos transgênicos Marcela Bromberger Soquetta

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Departamento de Ciência dos Alimentos

Curso de Bacharelado em Química de Alimentos

Disciplina de Seminários em Alimentos

Alimentos transgênicos

Marcela Bromberger Soquetta

Pelotas, 2009

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MARCELA BROMBERGER SOQUETTA

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

Trabalho acadêmico apresentado ao

Curso de Bacharelado em Química de

Alimentos da Universidade Federal de

Pelotas como requisito parcial da

Disciplina de Seminários em alimentos.

Orientador: Profa. Dra. Rosane da Silva Rodrigues

Pelotas, 2009

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Agradecimentos

Agradeço a minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Rosane da Silva Rodrigues, pela

orientação e atenção para o desenvolvimento deste trabalho. Meus pais e minha

irmã, que estão sempre me auxiliando e incentivando.

Aos amigos, colegas, em especial a Isadora Rubin e Priscila Ferreira por ter

me fornecido materiais sobre o assunto, e aos professores.

Muito Obrigada.

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Alguns homens lutam um dia e são bons;

Outros lutam um ano e são melhores;

Os que lutam vários anos são ótimos;

Mas os que lutam a vida toda...

Esses são imprescindíveis.

(Bertolt Brecht)

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SOQUETTA, M.B. Alimentos transgênicos. 2009. 39f. Seminário (Disciplina de

Seminários em Alimentos) – Departamento de Ciência dos Alimentos, Curso de

Bacharelado em Química de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

Resumo

Com o desenvolvimento da biotecnologia, a melhoria genética passou a ser feita de

forma científica, em laboratório, através de técnicas de identificação, manipulação e

multiplicação de genes dos organismos vivos, surgindo os organismos

geneticamente modificados (OGMs) ou transgênicos, cujo princípio é a transferência

de genes geralmente de bactérias, vírus ou animais para as espécies desejadas. Em

relação aos produtos agrícolas, têm sido observados acentuados aumentos no

cultivo e na comercialização de produtos geneticamente modificados, e também nas

discussões científicas, éticas, econômicas e políticas a respeito dos potenciais riscos

e benefícios decorrentes dessa moderna tecnologia. Os favoráveis garantem a

comprovação científica da segurança dos transgênicos, desenvolvimento de

organismos mais nutritivos, resistentes a agrotóxicos, pragas e doenças, sementes

com maior durabilidade no mercado, melhora das características físicas e químicas.

Os contrários à transgenia afirmam que os OGMs podem causar impactos no meio

ambiente e na saúde de pessoas e animais: como alergias, toxicidade, intolerância,

poluição genética, efeitos prejudiciais a organismos não-alvo, criação de super

pragas. A legislação e a rotulagem desses alimentos ainda vêm sendo discutidas no

fórum internacional organizado pelo Codex Alimentarium da FAO. No Brasil a

Comissão técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), exige a informação no

rótulo, de alimentos e ingredientes que contenham mais de 1% de componentes

transgênicos. Este estudo teve como objetivo revisar a literatura sobre alimentos

transgênicos, buscando esclarecer alguns pontos favoráveis e desfavoráveis, para

que as pessoas decidam conscientemente o que querem defender e acrescentar em

sua alimentação.

Palavras chave: Engenharia genética, Alimentos transgênicos, organismos

geneticamente modificados.

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Lista de Figuras

Figura 1: Área global de lavouras geneticamente modificadas..................................11

Figura 2: Área das lavouras geneticamente

modificadas...........................................12

Figura 3: Obtenção de plantas transgênicas..............................................................15

Figura 4: Obtenção de plantas transgênicas pelo método Agrobacterium

tumefaciens................................................................................................................17

Figura 5: Esquema de um aparelho de biobalística sob alta pressão com suas partes

constituintes................................................................................................................18

Figura 6: Tomate geneticamente modificado denominado FLAVR SAVR.................23

Figura 7: Símbolo escolhido para identificar presença de OMGs nos alimentos.......35

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Sumário

1. Introdução..........................................................................................................7

2. Histórico...........................................................................................................19

3. Alimentos Transgênicos..................................................................................13

3.1. Conceitos básicos..........................................................................................13

3.2. Engenharia genética......................................................................................14

4. Aplicações da manipulação genética nos alimentos.......................................21

4.1. Soja................................................................................................................21

4.2. Tomate...........................................................................................................22

4.2.1. Tomate FLAVR SAVR.................................................................................22

4.2.2. Tomate cereja.............................................................................................23

4.3. Milho...............................................................................................................24

4.4. Arroz...............................................................................................................25

4.5. Leite...............................................................................................................25

5. Alimentos geneticamente modificados que vêm sendo pesquisados.............26

6. Estudos favoráveis e desfavoráveis aos alimentos transgênicos....................27

6.1. Estudos favoráveis.........................................................................................27

6.2. Estudos desfavoráveis...................................................................................28

7. Legislação........................................................................................................30

7.1. Legislação Nacional.......................................................................................30

7.2. Legislação Internacional................................................................................31

8. Rotulagem.......................................................................................................33

9. Conclusão........................................................................................................36

10. Referências Bibliográficas..............................................................................37

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1. Introdução

Há séculos a humanidade vem fazendo cruzamento de plantas e animais com

a finalidade de melhorar sua utilização para o consumo. Tratavam-se na verdade de

experiências genéticas realizadas de maneira rudimentar e natural. Com o

desenvolvimento da biotecnologia a melhoria genética passou a ser feita de forma

científica, em laboratório, através da engenharia genética, que compreende o

conjunto de técnicas que permite a identificação, manipulação e multiplicação de

genes dos organismos vivos (LEITE, 2003).

Em todo o mundo têm sido observados acentuados aumentos no cultivo e na

comercialização de produtos agrícolas geneticamente modificados, ou seja,

alimentos transgênicos. No entanto, devido ao fato desses produtos possuírem

materiais genéticos introduzidos, de forma artificial, a partir de outros organismos

vivos, ampliaram-se também as discussões científicas, éticas, econômicas e

políticas revestindo-se de interesses e conflitos a respeito dos potenciais riscos e

benefícios decorrentes dessa moderna tecnologia empregada na agricultura

(MACHADO, 2000).

Essas técnicas da engenharia genética permitem que esses genes quebrem a

seqüência de DNA – que contém as características básicas de um ser vivo – do

organismo receptor, que sofre uma espécie de reprogramação, a partir de genes de

outras espécies, geralmente vírus ou bactérias, visando à obtenção de atributos

favoráveis às necessidades de diferentes segmentos da cadeia agroalimentar:

indústrias, agricultores, distribuidores e consumidores. O objetivo dessa engenharia

genética é o desenvolvimento de organismos mais nutritivos, resistentes a

agrotóxicos, pragas, doenças, sementes de maior durabilidade no mercado, melhora

das características físicas e químicas, entre outras (LAVÍNIA; JOHN, 2003).

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Porém os efeitos sobre a vida, o patrimônio genético e o meio ambiente,

advindos dos experimentos desta nova ciência, ainda não são totalmente

conhecidos, segundo os pesquisadores desfavoráveis dos alimentos transgênicos,

os riscos à saúde humana incluem aqueles inesperados como alergias, toxicidade e

intolerância. No ambiente, as conseqüências são a transferência lateral de genes, a

poluição genética e os efeitos prejudiciais a organismos não-alvo (NODARI;

GUERRA, 2003). Esses riscos acarretam uma compreensível insegurança e

consequentemente, uma necessidade de conscientização ética e legal de seus

operadores para a sua manipulação e utilização (LEITE, 2003).

As discussões se estendem para a rotulagem dos alimentos transgênicos,

como o posicionamento dos consumidores tende a resistência à adoção deste tipo

de alimento, há uma maior necessidade de instrumentos legais e mecanismos que

garantam autenticidade das informações contidas nos rótulos (SANTOS, 2000).

Internacionalmente ainda existem quatro posições, os que defendem

ausência de qualquer tipo de rotulagem, os que defendem a rotulagem simplificada,

outros a rotulagem exaustiva, e os que defendem a não obrigatoriedade de

rotulagem (PEREIRA, 1999). No Brasil, desde 2003 foi aceita a lei n° 4.680, pelo

órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (CTNBio), que exige a informação no

rótulo de alimentos e ingredientes que contenham mais de 1% de componentes

transgênicos (VASCONCELOS, 2006).

Devido as controvérsias que ainda envolvem este assunto, o presente

estudo teve como objetivo de revisar a literatura sobre os Organismos

Geneticamente Modificados (OMGs), buscando esclarecer alguns conceitos básicos

e aplicações da transgenia, mostrar os estudos favoráveis e desfavoráveis a esses

alimentos, contribuindo para que as pessoas decidam conscientemente o que

querem defender e acrescentar em sua alimentação.

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2. Histórico

O cientista que deu início a genética foi Mendel ao fazer experimentos com

ervilhas. Seus estudos ficaram abandonados por 35 anos após a publicação de um

artigo em 1865, na Sociedade de História Natural de Brün, só sendo retomados em

4 de maio de 1900 por Willian Bateson, que os encontrou por acaso na ocasião em

que ia apresentar as suas próprias pesquisas, coincidentes com as de Mendel.

Somente em 28 de fevereiro de 1953 é que foi descoberta a estrutura do DNA, por

Francis Crick e James Watson que publicaram em 25 de abril do mesmo ano, na

Revista inglesa Nature, um artigo no qual foi evidenciada uma possível forma de

duplicação do material genético ao concluírem que a estrutura era uma dupla hélice

e que os degraus dessa espiral poderiam ser conectados. A partir daí, palavras e

expressões como engenharia genética, transgenia, teste de DNA, se tornaram

habituais no dia-a-dia (NOGUEIRA, 2004/2005).

Em 1972, o bioquímico Paul Berg realizou um experimento que mudou a sua

história: juntou duas moléculas de DNA em laboratório. Com isso estava aberto o

caminho para a criação dos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).

O processo era o seguinte: inserindo um trecho do DNA do vírus SV40

causador de tumores no da Escherichia coli, uma bactéria bastante usada em

pesquisas, criou o primeiro transgênico de que se tem notícia. Esta experiência deu

a Paul Berg o Prêmio Nobel de Química em 1980. Mas, em 1973, Herbert Boyer e

Stanley N. Chen  já haviam dado início à era do DNA recombinante que dava

margem à produção de OGMs. Em 1974, Berg, preocupado, publicou na revista

"Science" uma solicitação para a suspensão dessas experiências até que fossem

criadas diretrizes para essas pesquisas. Cientistas, advogados, oficiais dos

governos de todo o mundo se reuniram, em 1975, na Conferência de Asilomar, nos

Estados Unidos, com a finalidade de debater o assunto (NOGUEIRA, 2004/2005).

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Como consequência, foram criadas em 1976 diretrizes para experiências com

recombinantes. Nesse mesmo ano, Robert Swanson e Herbert Boyer concluíram

que a técnica poderia ser usada para produzir compostos em escala industrial e

fundaram a Genentch (BEI, 2005).

Os primeiros experimentos de campo foram desenvolvidos em 1986 nos

Estados Unidos e na França (FAO, 2000). Em 1987, a empresa norteamericana

Monsanto apresentou a primeira planta transgênica alimentícia, a soja Roundup

Ready, resistente ao herbicida Roundup. Em 1994, surgiu o primeiro produto

alimentício transgênico no comércio mundial, o denominado tomate Flavr Savr, da

empresa Calgene, que apresenta um processo de maturação mais lento, tornando-o

mais vermelho. Cerca de 72% de todos os experimentos foram realizados nos EUA

e Canadá, seguidos em ordem decrescente pela Europa, América Latina e Ásia,

com poucos na África, limitados à África do Sul. As culturas mais frequentemente

testadas foram: soja, milho, tomate, canola, batata e algodão e as características

mais freqüentes: tolerância a herbicida, resistência a insetos, qualidade do produto e

resistência a vírus (JAMES, 2003).

O Brasil começou a discutir a temática envolvendo os alimentos

transgênicos em 1995, quando entrou em vigor a Lei de Biossegurança, sancionada

pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Naquela oportunidade, o então

presidente vetou os artigos da Lei que previam a criação de um órgão responsável

pela avaliação dos transgênicos e pôr emitir pareceres recomendando ou não sua

liberação no país. Um ano depois, entretanto, através de um decreto, criou no

Ministério da Ciência e Tecnologia a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança

(OLIVEIRA, 2003).

Em julgamento ocorrido em primeira instância, em 1998, as Organizações

Não Governamentais (ONGs) contrárias à liberação, obtiveram sucesso com a

exigência do juiz de que qualquer liberação de transgênicos no Brasil seja precedida

de estudo prévio de impacto ambiental, avaliação de riscos à saúde humana e

rotulagem plena dos produtos contendo transgênicos e derivados, de acordo com o

Código de Defesa do Consumidor (OLIVEIRA, 2003).

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Em 2006 no Brasil já estava autorizado o plantio de dois tipos de

transgênicos, ambos desenvolvidos pela empresa norteamericana Monsanto: a soja

tolerante ao herbicida Roundup Ready (soja RR) e o Algodão Bollgard Evento 531,

resistente a insetos. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)

estimava que a área total de cultivo no país aumentasse de 840 mil hectares, na

safra 2005/2006, para 970 mil hectares, em 2006/2007 - mas não puderam estimar a

parcela dessa produção obtida de sementes geneticamente modificadas

(VASCONCELOS, 2006).

O cultivo de produtos agropecuários geneticamente modificados já é uma

realidade irreversível no planeta. A área ocupada por plantações com sementes

alteradas aumentou mais de cinqüenta vezes em uma década. Saltou de 1, 7 milhão

de hectares em seis países, em 1996, para 90 milhões de hectares em 21 países,

em 2005 (Fig. 1) (VASCONCELOS,2006).

Figura 1: Área global de lavouras de organismos geneticamente modificados.

Fonte: Revista Desafios do desenvolvimento de Janeiro, 2006.

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Figura 2: Área das lavouras geneticamente modificadas.

Fonte: Revista Desafios do desenvolvimento de Janeiro (Lia Vasconcelos, 2006).

A Fig 2. mostra o Brasil como terceiro maior produtor de alimentos transgênicos

do planeta - perdendo apenas dos Estados Unidos e da Argentina. A área de plantio

de soja geneticamente modificada aumentou 88%. Foram cultivados cerca de 22

milhões de hectares que resultaram na colheita de 53,4 milhões de toneladas de

grãos. As estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

indicam que a taxa de grãos geneticamente modificados gire em torno dos 17% no

país. E trata-se, aí, da soja, o grão transgênico mais disseminado no planeta. A soja

tolerante aos herbicidas ocupa 60% da área plantada no mundo. Catorze dos 21

países produtores, entre eles Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá, China,

Paraguai, Índia, África do Sul, Uruguai, México e Espanha, são os maiores

produtores: cultivaram 50 mil hectares ou mais em 2005, de acordo com o Serviço

Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla

em inglês), instituição formada por centros de monitoramento e avaliação do uso da

biotecnologia para a promoção do desenvolvimento da agricultura. Outra informação

do Serviço: o valor das colheitas transgênicas deve atingir 5,5 bilhões de dólares em

2006 (VASCONCELOS, 2006).

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3. Alimentos Transgênicos

3.1. Conceitos Básicos

Todos os seres vivos do planeta são constituídos de órgãos, tecidos e células

formados pelos mesmos tipos de moléculas, combinadas por meia dúzia de

elementos comuns: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. O

código genético do ser humano, dos animais, das plantas e dos microrganismos é o

mesmo. Esse código universal permite que os genes que comandam a síntese

química sejam transferidos e se expressem em outras espécies totalmente

diferentes.

Célula é a unidade fundamental de tudo o que é vivente em nível molecular, e

se constitui de membrana, citoplasma e núcleo. Uma das descobertas científicas

mais surpreendentes do século XX é exatamente o que torna possível a engenharia

genética (TASCA, 2001).

O núcleo da célula contém os cromossomos que são constituídos do DNA

(acido desoxirribonucléico), precedido do RNA (acido ribonucléico). Essas

biomoléculas são estruturas químicas que contêm as instruções genéticas que

coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns

vírus. A pelicular estrutura do DNA confere a molécula duas propriedades realmente

extraordinárias: a capacidade de copiar-se, reproduzir-se e a capacidade de

armazenar e transmitir a informação genética.

Um segmento de DNA que contém as informações para fabricar uma proteína

é o gene. As proteínas formam uma classe importante de moléculas, porque são

constituíntes fundamentais da matéria viva e desempenham todo o tipo de funções

no organismo, podem ser estruturais, reguladoras, catalíticas, transportadoras ou

defensivas (NOGUEIRA; SANTOS, 2004/2005).

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As proteínas são compostos orgânicos de estrutura complexa e massa

molecular elevada (de 5.000 a 1.000.000 ou mais unidades de massa atômica) e

sintetizadas pelos organismos vivos através da condensação de um grande número

de moléculas de alfa-aminoácidos, através de ligações denominadas ligações

peptídicas. Uma proteína é um conjunto de no mínimo 100 aminoácidos, mas

sabemos que uma proteína possui muito mais que essa quantidade, sendo os

conjuntos menores denominados polipeptídeos. A proteína que catalisa as reações

nos organismos vivos é chamada de enzima (RIECHMANN, 2002).

O conjunto de todo o material genético de um organismo é chamado genoma.

Este comanda a construção, manutenção, reprodução, adaptação e sobrevivência

de todos os seres vivos.

Biotecnologia é a técnica que usa organismos vivos ou parte destes para

produzir ou modificar produtos, melhorar geneticamente as plantas ou animais ou

desenvolver microrganismos para fins específicos. Essas técnicas servem-se da

engenharia genética, biologia molecular e outras (RIECHMANN, 2002).

3.2. Engenharia genética

Engenharia genética refere-se ao conjunto de técnicas e métodos para

modificação do genótipo através da manipulação de seus genes e construção de

moléculas de DNA recombinante (sequência nova de DNA, criada no laboratório

mediante a união de segmentos de DNA de diferentes origens) introduzindo-as

depois nas células receptoras (TASCA, 2001).

A identificação e a localização de genes para características importantes na

agricultura geralmente é o passo de maior limitação na obtenção de transgênicos.

Ainda se conhece pouco sobre os genes que são requeridos para melhorar as

características de uma planta com o objetivo de torná-la resistente ao estresse ou a

algum pesticida ou ainda melhorar suas características nutricionais.

Para a obtenção de plantas transgênicas deve-se extrair o DNA do

organismo que possui o gene de interesse. A seguir o gene de interesse é isolado e

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inserido em bactérias para a obtenção de várias cópias deste gene. O gene de

interesse, antes de ser inserido no genoma da célula vegetal, sofre transformação,

com a associação de um promotor, de uma seqüência terminadora e ainda de um

gene marcado com seu respectivo promotor, originando o transgene.

O transgene (gene modificado) é então inserido em massas de células

indiferenciadas, o tecido caloso da planta, visto que é impossível a inserção do

transgene em cada uma das células da planta. Essas massas apresentam a

propriedade de originar diferentes órgãos de uma planta, como raiz, caule e folha,

gerando uma planta completa e fértil. A fig. 3 mostra o principio básico da obtenção

de plantas transgênicas (TUTIDA; FOGAÇA, 2009).

Figura 3: Obtenção de plantas transgênicas.

Fonte: Artigo como funcionam os Alimentos Transgênicos (TUTIDA; FOGAÇA,

2009).

Existem vários métodos para a inserção do transgene na célula, os mais

utilizados são: sistema agrobacterium tumefaciens, bombardeamento com

micropartículas revestidas de DNA, transferência por electroporação de protoplastos

e  microinjeção de DNA. Citados abaixo:

Sistema Agrobacterium tumefaciens - método biológico, pelo qual é

inserido um gene de característica desejada, no genótipo de uma bactéria de solo,

que ao se associar a uma planta retransmite a mesma característica.

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A Agrobacterium tumefaciens é responsável pela formação de tumores (galls)

num largo número de dicotiledóneas. Esta doença toma o nome de crown gall.

Durante a infecção a bactéria transfere parte do seu DNA para a planta, DNA este

que é integrado no genoma da hospedeira, causando a produção de tumores e

mudanças associadas ao metabolismo da planta. O modo peculiar de atuação desta

bactéria permite que esta seja usada como forma de construção de plantas (plant

breeding).

Qualquer gene desejado, como por exemplo: genes inseticidas, ou genes que

causam resistência a herbicidas, podem ser colocados no DNA bacteriano e, através

deste, inseridos no genoma da planta. O uso desta técnica não só encurta o

convencional processo de plant breeding, como também permite a incorporação de

genes completamente novos nas culturas (HANDEL; MILACH, 2009)

A A. Tumefaciens é uma bactéria gram negativa, que não produz esporos,

dotada de mobilidade, estreitamente relacionada com a Rhizobium (a qual forma

nódulos fixadores de azoto nas leguminosas). Encontra-se geralmente nas e à volta

das superfícies das raízes numa região chamada de rizosfera – onde sobrevive

usando nutrientes que escapam dos tecidos radiculares. Porém, ela infecta as

plantas apenas em locais onde estas estejam lesionadas (NOGUEIRA, 2004/2005).

A figura abaixo mostra o processo pelo método Agrobacterium tumefaciens (Fig. 4).

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Figura 4: Obtenção de plantas transgênicas pelo método Agrobacterium

tumefaciens. 

Fonte: Artigo como funcionam os Alimentos Transgênicos (TUTIDA; FOGAÇA,

2009).

Bombardeamento com micropartículas revestidas de DNA :

método físico, conhecido como biolística ou biobalística, nesse sistema o DNA é

revestido em micro esferas de tungstênio, sob altas pressões de gás hélio, e

transferido para dentro do tecido da planta.  Ou seja, o gene é como um fio que

pode ser quimicamente enrolado nas micropartículas e que, com pressão de gás

hélio, é bombardeado para dentro da célula e o novo gene é incorporado (Fig 5).

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Figura 5: Esquema de um aparelho de biobalística sob alta pressão com suas partes

constituintes.

Fonte: Artigo como funcionam os Alimentos Transgênicos (TUTIDA; FOGAÇA, 2009).

Transferência por electroporação de protoplastos - introdução de

DNA em células expostas a um campo elétrico. Nesta técnica, retira-se a parede

celular das células vegetais, tornando-as mais permeáveis (estas células,

desprovidas de parede celular, são designadas de protoplastos). Posteriormente, os

protoplastos são incubados em soluções que contêm os genes que irão ser

transferidos e, em seguida, um choque elétrico de alta voltagem é aplicado por

curtíssimo tempo. O choque causa uma alteração da membrana celular,

promovendo a abertura temporária de poros o que permite a penetração e eventual

integração dos genes de interesse no genoma do protoplasto. O mesmo princípio

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também pode ser aplicado para células vegetais, porém, a taxa de transformação é

mais baixa (NOGUEIRA, 2004/2005).

Microinjeção de DNA - consiste numa injeção de DNA na célula em

questão através de uma micropipeta (NOGUEIRA, 2004/2005).

Cada um desses métodos objetiva introduzir o transgene no núcleo da célula,

local onde se encontra o material genético, sem lesionar a célula. A planta, então, se

desenvolve e suas células apresentarão o transgene de interesse podendo transmiti-

lo à sua descendência. O método de inserção preferivelmente utilizado é o sistema

Agrobacterium tumefaciens.

Seguindo o processo de inserção do(s) gene (s) de interesse, os tecidos das

plantas são transferidos para um meio específico contendo antibiótico ou herbicida,

dependendo do marcador utilizado. Apenas as plantas que expressarem o gene

marcador favorável ao meio irão sobreviver. Assume-se que as plantas que

sobreviverem neste meio irão expressar o transgene de interesse. Todos os passos

seguintes irão utilizar apenas as plantas sobreviventes.

Para a obtenção de plantas completas a partir dos tecidos transgênicos, estes

devem ser submetidos a condições ambientais favoráveis ao seu crescimento e

colocados em uma série de meios, contendo hormônios e nutrientes, em um

processo chamado de cultivo celular. Uma vez que as plantas são geradas e

estejam produzindo sementes, começa a avaliação da progênie.

Um processo de avaliação rigoroso deve estar aliado às técnicas de produção

de transgênicos para verificar se o gene inserido está incorporado com estabilidade

para não causar efeitos deletérios a outras funções da planta, à qualidade do

produto ou ao ecossistema agrícola.

A avaliação inicial do processo inclui: verificação da atividade do gene, da

estabilidade do gene nas gerações seguintes e não exercer efeitos no crescimento,

produção e qualidade da planta.

Se a planta passar por estes testes, ela não será usada diretamente na

produção, mas antes será cruzada com variedades melhoradas da cultura. O

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objetivo é incorporar a maior quantidade do genoma melhorado e adicionar o

transgene na variedade da cultura.

O próximo passo do processo é realizar avaliações experimentais a campo e

em estufa, em vários locais e durante vários anos, para analisar os efeitos do

transgene e o seu desempenho por completo. Esta fase inclui também avaliação dos

efeitos no ambiente e da segurança alimentar (TUTIDA; FOGAÇA, 2009).

Existem dois tipos de teste para a identificação da presença de OGMs. Um

deles, conhecido como teste da fita, é simples e rápido. Realizado em folhas, indica

se elas são transgênicas em poucos minutos, mas não especifica variedade e

quantidade dos organismos que contêm e, portanto, não satisfaz os requisitos

firmados no Protocolo. O segundo exige trabalho em laboratório, combina análise de

DNA com uma série de ensaios de reação que indicam a quantidade e os tipos de

OGM presentes numa amostra (de folhas, grãos ou produtos industrializados)

(VASCONCELOS, 2006).

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4. Aplicações da manipulação genética nos alimentos

Em um primeiro momento os OGMs foram desenvolvidos com o objetivo

principal de reduzir os custos de produção na agricultura e ampliar os ganhos na

agroindústria mediante o desenvolvimento de vegetais resistentes a pragas ou

tolerantes a agrotóxicos. Sua comercialização envolveu grandes polêmicas,

principalmente na Europa, por parte de ambientalistas (preocupados com o impacto

decorrente da introdução destes produtos no meio ambiente), agricultores e

esquerdistas, que viam os OGMs como a concretização de interesses estritamente

econômicos, pelo monopólio da produção de grãos.

Já em uma segunda fase, os laboratórios progrediram para genes que

aumentam o valor nutricional dos alimentos, programados para serem menos

nocivos à saúde humana. Simultaneamente, uma terceira geração surge a fim de

combater doenças infecciosas, com plantas que produzirão alimentos vacina,

munidos de antígenos capazes de combater várias doenças.

Em geral os alimentos trangênicos visam à produção de novos alimentos, que

sejam mais resistentes à variação de temperatura, a pragas e doenças, que tolerem

agrotóxicos, estejam isentos de certas toxinas ou alergênicos, incorporem valor

agregado (contendo modificação em proteínas, vitaminas, óleos, amido, entre

outras), aumentem o rendimento e tenham custos menores na armazenagem e

transporte. Os que vêm sendo mais produzidos e mais polêmicos são: soja, milho,

tomate, mamão, feijão, canola, batata entre outros (JORGE RIECHAMANN, 2002).

Abaixo alguns exemplos de alimentos geneticamente modificados comercializados:

4.1. Soja

A soja Roundup Ready é uma semente tolerante a herbicida, devido à

substância glifosato (usado para dessecação pré e pós-plantio), a tolerância ao

herbicida foi obtida pela inserção de um gene (AroA) oriundo do genoma

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da Agrobacterium sp., estirpe CP4, a qual codifica uma variante da EPSPs (CP4

EPSPS), especialmente tolerante à inibição pelo glifosato. Sob tratamento com esse

herbicida, as plantas de soja não são afetadas, em virtude da ação continuada e

sistemática dessa enzima alternativa, insensível ao produto (SANTOS, 2007).

Esta soja foi desenvolvida pela empresa norteamericana Monsanto nos

primórdios da década de 80, facilitou a vida dos agricultores, proporcionando

lucratividade com menores custos, pois reduz o número de aplicações do herbicida

sobre a soja (MORAIS, 2000). Porém há relatos sobre possíveis efeitos do glifosato

afetando negativamente o desenvolvimento inicial de plantas de soja, para a qual

esse produto é recomendado. Esse efeito pode estar relacionado ao aumento

demasiado da dose aplicada, à aplicação de outras formulações de glifosato não

recomendadas para a cultura, ou ao efeito de outras substâncias químicas naturais

ou sintéticas, como aleloquímicos ou surfactantes, respectivamente. Atualmente são

disponibilizadas no mercado diversas formulações de glifosato, que, apesar de

apresentarem o mesmo mecanismo de ação, possuem na sua composição

diferentes sais, sendo os principais: sal potássico, de isopropilamina e de amônio

(RODRIGUES; ALMEIDA, 2005). Os efeitos favoráveis ou desfavoráveis ainda não

foram cientificamente comprovados.

4.2. Tomate

4.2.1 Tomate FLAVR SAVR

O tomate FLAVR SAVR (fig. 6), produzido pela empresa Calgene, EUA, foi

modificado geneticamente para apresentar um processo de maturação mais lento

(fig. 4). Assim, em vez de colher os frutos verdes, esses poderiam permanecer na

planta para maturar até ficarem vermelhos. Isso melhoraria a qualidade dos frutos

sem implicarem perdas na colheita, no transporte e no armazenamento, uma vez

que os frutos vermelhos e firmes em sua consistência assemelham-se aos que são

colhidos verdes. Variedades de tomate que produzam frutos firmes podem ser

obtidas também pelos métodos tradicionais de melhoramento. Porém, até o

momento, não foi possível transferir o gene de plantas silvestres para a cultura sem

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que houvesse também a transferência de inúmeros caracteres indesejáveis

(BINSFELD; PEDRO, 2004).

Figura 6: Tomate geneticamente modificado denominado FLAVR SAVR.

Fonte: OPEN SALON, 2009.

A segurança do tomate transgênico, bem como sua equivalência com as

variedades produzidas por métodos de melhoramento convencional, tem sido

questionada. Na prática, no tomate transgênico tem-se somente o gene nptII e o seu

produto gênico, a enzima NPT II, como novo componente, pois o gene da enzima

poligalacturonase (PG) foi isolado do próprio tomate e depois inserido novamente

em sentido contrário. Mesmo assim, a transformação e a introdução de genes no

genoma receptor podem provocar alterações genotípicas e fenotípicas inesperadas,

pois podem ocorrer mutações pela integração de novos genes, já que a integração

de genes pode ocorrer em regiões codificadoras, podendo-se esperar que genes da

planta receptora sejam desativados (silenciados) ou outros ativados pela inativação

de genes supressores. Mutações e efeitos pleiotrópicos, causados pela integração

gênica, podem ser esperados quando se usa o vetor Agrobacterium. No entanto,

não são exclusivamente causados pelo evento da transformação, mas também são

verificados em plantas criadas pelos métodos convencionais de melhoramento

(KLEINMANN,1998).

4.2.2. Tomate cereja

O professor Schuyler Korban, da Universidade de Illinois (EUA), desenvolveu

o tomate cereja que tem a propriedade de produzir antígenos do vírus respiratório

sincicial, agente de uma infecção fatal em crianças e idosos. A doença é causa da

maioria das 2.000 mortes que ocorrem anualmente no Estado de São Paulo entre

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crianças com menos de 5 anos. Korban inseriu no genoma do tomate cereja uma

proteína encontrada na membrana do próprio vírus, obtendo a vacina para a

enfermidade. Porém as pesquisas continuam em andamento e ainda não existem

conclusões cientificas comprovadas sobre sua eficiência (MORAIS, 2000).

4.3. Milho

No milho Bt são introduzidos genes da bactéria Bacillus thuringiensis que já

haviam sido identificados como responsáveis pela capacidade dessa bactéria em

controlar insetos. Bacillus thuringiensis possui diversas “famílias” de genes que

produzem toxinas. Uma dessas famílias de genes é denominada de Cry, que está

presente em um grande número de variedades de milho transgênico cultivadas no

mundo. Esse gene codifica uma proteína na planta que mata os insetos que

consomem as folhas do milho. Existem variedades de milho Bt que produzem

diferentes proteínas tóxicas. Algumas possuem ação contra lagartas que consomem

as folhas da planta de milho. Outras são ativas contra larvas de besouros que

atacam o caule da planta de milho.  Essas pragas são responsáveis por perdas

enormes na produção do milho e praticamente obrigam os agricultores a usarem

inseticidas, caso contrário eles perderiam toda sua produção. O milho Bt diminui, ou

até elimina, a necessidade de uso de inseticidas. Isto significa menor gasto de

recursos para os produtores, alimento de melhor qualidade para o consumidor, e o

meio ambiente fica preservado da contaminação com inseticidas (SILVA, 2004).

As características nutricionais do milho convencional e do milho Bt são

equivalentes, pois a única alteração que ocorre é a introdução do gene Bt. As

variações nutricionais que ocorrem entre plantas de milho de uma mesma variedade

são muito mais frequentes em função da mudança de clima e do tipo de solo do que

pela presença ou não de um determinado gene, como o Bt.

Foram realizados vários estudos sobre a segurança alimentar em termos de

toxicidade e alergenicidade da proteína Bt. Os grãos do milho Bt também foram

submetidos a uma rigorosa avaliação de seu uso como alimento; além disso, esse

milho vem sendo consumido há 10 anos em diversos países sem registro de

problemas. Somente após estudos rigorosos uma variedade de milho Bt é liberada

para plantio e uso na alimentação (SILVA, 2004)

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4.4. Arroz

O arroz dourado, ou Golden rice, desenvolvido através de uma parceria entre

pesquisadores de instituições da Suíça e Alemanha, destaca-se entre os OGMs pelo

elevado teor de beta-caroteno, que é convertido no organismo em vitamina A. Foi

resultado da introdução de genes de uma planta ornamental (narciso), uma erva

nativa do mediterrâneo e da bactéria Erwinia sp, no genoma do arroz (Oryza sativa).

A vitamina A fortalece o organismo humano contra doenças infecciosas e

previne contra a cegueira noturna, mal que aflige atualmente mais de 350.000

crianças subnutridas do mundo. Prover vitamina A em abundância em um único

cereal poderia ser o caminho mais curto para minimizar esta deficiência em famílias

carentes da África, da Ásia e da América Latina a médio prazo. A importância deste

fato reside em que o arroz representa entre 50% e 80% da ingestão diária de

calorias no mundo e, entre todos os grãos comestíveis, é o que possui o código

genético mais curto. Seu genoma é 37 vezes menor que o do trigo e seis vezes

menor que o do milho – portanto, bem mais fácil de ser estudado, entendido e

modificado (MORAIS, 2000).

4.5. Leite

O leite geneticamente modificado é o leite dietético, que apresenta 30% a

menos de gordura e 10% a mais de proteína, qualidades proporcionadas pela

inclusão na ração das vacas de moléculas modificadas de ácido linoléico conjugado

(CLA), composto graxo que atua na formação de lipídios. A molécula transgênica

altera a síntese de gordura na glândula mamária dos animais (JOMAR MORAIS,

2000).

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5. Outros alimentos geneticamente modificados que vêm sendo pesquisados

Alface adicionada da proteína Lack 1, que dará à hortaliça a propriedade de

imunizar contra a leishmaniose, doença que acomete cerca de 200 milhões

de pessoas no mundo (Embrapa, 2000)

Soja com insulina e o hormônio do crescimento humano (MORAIS, 2000).

Tomate com mais licopeno, antioxidante que ajuda a prevenir o câncer de

doenças do coração (FABIANA BERTOTTI, 2008).

Grãos com mais vitamina E, antioxidante que fortalece o sistema imunológico.

Alface enriquecida com um composto que ajuda a diminuir o LDL-colesterol e

estimula o aumento do HDL-colesterol.

Arroz, trigo e feijão com mais ferro, importante no combate à anemia.

Frutas com maior teor de vitamina C.

Alimentos com menor nível de micotoxinas, substâncias tóxicas produzidas

por bolores que podem provocar doenças como câncer, diminuir a resistência

do corpo e dar origem a hemorragias (FABIANA BERTOTTI, 2008)

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6. Estudos favoráveis e desfavoráveis aos alimentos transgênicos

Ainda sem conclusões cientificas sobre os efeitos dos OGMs, há muita

polêmica em torno do assunto. Os contrários à agricultura transgênica afirmam que

os OGMs podem causar impactos no meio ambiente e na saúde de pessoas e

animais. Os favoráveis garantem a comprovação científica da segurança dos

transgênicos. As discussões têm dois enfoques, um basicamente econômico e o

outro ideológico que reflete diferentes visões de mundo e concepções acerca do

papel e do processo do desenvolvimento científico e tecnológico (OLIVEIRA, 2003).

6.1. Estudos favoráveis

O principal argumento para os técnicos favoráveis aos alimentos

geneticamente modificados, é que ainda não existem provas de que esse tipo de

alimento faça mal ao ser humano (BERTOTTI, 2008).

Os alimentos geneticamente modificado pode ter a função de prevenir, reduzir

ou evitar riscos de doenças, com sua capacidade de produzir nutrientes e

medicamentos através de bactérias ou plantas modificadas geneticamente, para

produzirem OGMs que estimulem o sistema imunológico. Um feijão com a inserção

de um gene da castanha do Pará, por exemplo, passa a produzir metionina, um

aminoácido essencial (TUTIDA; FOGAÇA, 2009).

Outros fatores favoráveis são a criação de plantas resistentes a pragas, que

necessitam de menos inseticidas, preservando o meio ambiente e a saúde humana;

ou de frutos com amadurecimento controlado e, portanto, de melhor conservação e

qualidade; ou ainda de sementes de plantas como soja, milho, canola e arroz, com

seu valor nutricional melhorado. Assim haveria aumento da produção de alimentos e

a consequente erradicação da fome no planeta. Nesse contexto, podemos observar

que a grande maioria das sementes transgênicas cultivadas atualmente, possuem a

característica de resistência aos herbicidas (venenos para plantas daninhas), é o

casa o soja Roundup Ready. Possibilitando ao produtor agrícola, que antes

pulverizava o herbicida com cautela, a fim de não provocar danos a sua plantação, a

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utilização indiscriminada desses produtos, posto que devido à resistência da lavoura

ao veneno, somente as plantas prejudiciais à lavoura morrerão.

Outro ponto é o aumento de produção de alimentos, que alguns especialistas

afirmam poder reduzir o problema da fome. Esse aumento ainda poderia reduzir os

custos de produção, facilitando assim a vida do agricultor (TUTIDA; FOGAÇA,

2009).

6.2. Estudos desfavoráveis

O principal argumento dos desfavoráveis aos OMGs é que sendo os produtos

transgênicos oriundos de investimentos e pesquisas de grandes indústrias

multinacionais, não possuem qualquer outro caráter (social, filantrópico, etc.) que

não seja o financeiro-econômico. Sendo assim, pelo menos por enquanto, não

possuem os atributos necessários para a erradicação da fome no planeta. Some-se

a isso o fato das sementes transgênicas serem patenteadas por essas empresas,

inserindo o agricultor num processo de dependência mais rígido do que o sistema

convencional. Portanto, é nítido o objetivo estritamente comercial das empresas

produtoras de produtos GMs, visando à difusão em âmbito mundial de sementes de

alto custo, patenteadas e dependentes de sistemas intensivos de produção

(OLIVEIRA, 2003).

Portanto, no aspecto socioeconômico à principal preocupação é de

enfraquecer o oligopólio criado pelas empresas produtoras de sementes

transgênicas, através de uma regulação eficaz para a questão da propriedade

intelectual, visando controlar a concentração do conhecimento sem desestimular os

investimentos em novas pesquisas (OLIVEIRA, 2003).

No meio ambiente à preocupação refere-se sobre os possíveis meios de

controle de concepções inesperadas de novas plantas e de plantas daninhas, pois

ao colocar genes resistentes aos agrotóxicos em certos produtos transgênicos, as

pragas e as ervas-daninhas tenderão a desenvolver a mesma resistência, tornando-

se superpragas.

As sementes chamadas cultivos Bt, que são produzidas a partir da inserção

dos genes da bactéria Bacillus thuringiensis (que produz toxinas inseticidas) no

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código genético da planta a qual adquire uma característica inseticida, matando os

insetos que venham a se alimentar de suas folhas.

Na segurança alimentar há uma preocupação sobre o comportamento das

toxinas ou das substâncias alérgicas nos produtos transgênicos, ao potencial efeito

destas substâncias em longo prazo e como podem vir a afetar a cadeia alimentar.

Em virtude de tal incerteza científica, não é descartado o risco de eventuais

processos alérgicos em massa, além do surgimento de bactérias resistentes aos

antibióticos, visto que algumas plantas GMs recebem um gene de resistência a

antibióticos que pode ser absorvido pelas bactérias do intestino humano, tornando-

as imunes aos antibióticos.

Com a inserção em alimentos do gene dessas plantas ou desses

microrganismos, é provável que essas toxinas alcancem níveis intoleráveis,

causando mal a pessoas, insetos benéficos e a outros animais.

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7. Legislação

7.1. Legislação nacional

A Lei da biossegurança nacional, lei nº 11.105/2005 estabelece normas de

segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos

geneticamente modificados (OGM) e seus derivados, criou o conselho nacional de

biossegurança (CNBS), reestruturou a comissão técnica nacional de biossegurança

(CTNBio), e dispõe sobre a política nacional de biossegurança (SILVA, 2004).

A liberação dos alimentos transgênicos vem sendo condicionada á

observância dessa lei, que exige além do conhecimento cientifico acerca das

características, riscos e propriedades de tais produtos, a observância de todo o

procedimento previsto e avaliação prévia da comissão técnica de biossegurança

nacional, isto é, a realização do estudo prévio do impacto ambiental (EPIA) e

apresentação de relatório do impacto no meio ambiente (Rima) visando desta

maneira regulamentar o disposto no artigo 225 § 1º da Constituição Federal. Com a

ratificação pelo Brasil da convenção da biodiversidade, a observância do princípio da

precaução deve ser plena, pois não haveria outro caminho na ausência de

segurança em relação ao meio ambiente senão ser cauteloso (ANES, 2005).

A resolução nº 17/2004 da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

no controle sanitário dos alimentos, visando proteger a saúde da população,

estabelece as diretrizes básicas para a avaliação do risco e segurança dos

alimentos. O risco é a probabilidade de um determinado evento indesejável ocorrer

(ANES, 2005).

A legislação brasileira de biossegurança estabelece que a análise de risco

seja feita caso a caso. A Anvisa deve atribuir-se da responsabilidade de levar em

conta as implicações do consumo dos alimentos transgênicos sobre a saúde

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humana, estabelecendo normas e regras sobre o consumo desses alimentos

(ANES, 2005).

7.2. Legislação internacional

A regulamentação dos transgênicos na União Européia foi feita de modo

comunitário no inicio de 1990, visando proteção à saúde de seus cidadãos e ao meio

ambiente perante o mercado da biotecnologia que começava a se desenvolver. A

normatização européia é composta por: Regulamento nº 1.829/2003; Regulamento

nº 1.830/2003; Regulamento nº 18/2001; Regulamento nº 178/2002; Diretiva nº

18/2001; e Regulamento nº 172/2002 (ANES, 2005).

Segundo esta regulamentação, antes da colocação no mercado os produtos

que contenham OGMs é necessária uma notificação à autoridade competente do

Estado-membro, onde o OGMs foi inserido pela primeira vez. É necessária também

a autorização da autoridade estatal. No seu artigo 21, afirma que os estados

membros devem tomar as devidas medidas para assegurar a rotulagem de OGMs e

de produtos que os contenham.

Objetivando elevar o nível de proteção da vida e da saúde dos seres

humanos e proteger os interesses dos consumidores, através da garantia de boas

práticas comerciais no setor de alimentos, criou a Autoridade Européia para a

segurança dos alimentos e estabeleceu as diretrizes gerais que regem a legislação

alimentar no âmbito europeu.

Para alcançar seus objetivos, a autoridade emitira pareceres científicos que

serão elaborados por seus painéis e comitês, dentre os quais encontra-se o painel

dos OGMs que tem competência para se manifestar sobre o assunto no âmbito da

União Européia. Portanto, encontra-se vinculada á aprovação e a liberação dos

OGMs (ANES, 2005).

Nos Estados Unidos da América, a legislação e regulamentação da utilização

de técnicas para a elaboração de OGMs e o consumo destes produtos é a mais

flexível que existe no mundo. Os componentes transgênicos em alimentos são

considerados neste país como aditivos, não precisando passar sequer pela

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aprovação do FDA (Food and Drug Administration), órgão responsável pela

realização de testes de segurança em produtos geneticamente modificados a serem

colocados no mercado de consumo (ANES, 2005).

As empresas norte americanas de biotecnologia persuadiram a FDA a

considerar que os alimentos transgênicos não passam de substâncias equivalentes

aos alimentos tradicionais, o que exime os produtores de alimentos de submeter

seus produtos aos testes normais da FDA e da Agencia de Proteção Ambiental

(EPA) e deixa a critério das empresas rotular ou não seus produtos como

transgênicos. Assim, a população não é informada sobre a rápida disseminação de

alimentos transgênicos e os cientistas têm muito mais dificuldade para identificar os

possíveis efeitos nocivos.

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8. Rótulos

Pela ótica de segurança alimentar os OGMs tem enfrentado fortes restrições

de consumidores à sua introdução. Se o posicionamento dos consumidores aponta

para uma maior resistência à adoção deste tipo de alimento, a necessidade de

instrumentos legais e mecanismos que garantam a autenticidade das informações

contidas nos rótulos adquirem maior importância (SANTOS, 2007).

Existem basicamente quatro posições em discussão no fórum internacional

organizado pelo Codex Alimentarium da FAO. A primeira posição é a dos que

defendem a ausência de qualquer tipo de rotulagem que distinga alimentos

transgênicos de não-trangênicos. A segunda, defendida pelos Estados Unidos e

Canadá, é de não obrigatoriedade de rotulagem de alimentos geneticamente

modificados que demonstrarem ser idênticos aos seus análogos convencionais no

que diz respeito à segurança e às características nutricionais. Entretanto,

características específicas que alterem o aspecto nutricional do alimento devem ser

mencionadas no rótulo. A terceira posição, defendida pelos países europeus,

advoga que qualquer produto produzido com OGM ou dele derivado, contendo

DNA/RNA ou proteína geneticamente modificada detectável, deverá ser rotulado de

maneira simplificada. Uma quarta posição propunha a rotulagem exaustiva,

contendo informações detalhadas sobre todos os componentes e características do

produto (PEREIRA, 1999).

No Brasil, desde 2003, vigora o Decreto-Lei nº 4.680 pelo órgão do Ministério

da Ciência e Tecnologia (CTNBio), que exige a informação no rótulo de alimentos e

ingredientes que contenham mais de 1% de componentes transgênicos. Por outro

lado, rótulos dos alimentos sem esses organismos poderão trazer a inscrição “livre

de transgênicos”, desde que existam similares transgênicos no mercado brasileiro

(VASCONCELOS, 2006).

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A regulamentação é uma revisão do Decreto-Lei nº 3871 da (CTNBio), para

reduzir o índice de incidência de organismos geneticamente modificados a serem

assinalados. Antes, a indicação no rótulo era exigida a partir de 4%. (LIA

VASCONCELOS, 2006). Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec),

entretanto, a alteração ainda não é satisfatória. Segundo o Idec "O direito à

informação e o direito de escolha, são direitos básicos e irrenunciáveis dos

consumidores" (Lei 8.078/90 artigos 6, II e III, 9o e 31).

O artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor estabelece que "as

informações devem ser corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua

portuguesa”. Devem conter as características, qualidades, quantidades, preço,

garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como riscos que

apresentam à saúde e à segurança do consumidor". Mas a rotulagem não é tão fácil

quanto parece e pode ser feita das mais diversas maneiras. Pode-se indicar no

rótulo se o produto tem origem transgênica, por exemplo ou pode-se decidir rotular

apenas os produtos que não sejam substancialmente equivalentes (no caso, o óleo

da soja Roundup Ready não seria rotulado, por motivos já mencionados

anteriormente). É possível ainda uma rotulagem negativa, indicando que o produto

não contém e não foi obtido através de organismos transgênicos (BRASIL, 2003).

O símbolo dos Alimentos transgênicos foi definido pela Portaria N° 2658, de

22 de dezembro de 2003, pelo Ministro do estado da justiça, onde foi definido que

este deverá constar no painel principal, em destaque e em contraste de cores que

assegure a correta visibilidade. O triângulo será equilátero. O padrão cromático do

símbolo transgênico, na impressão em policromia, conforme apresentado na figura

5, deve obedecer às seguintes proporções: bordas e letras 100% pretas, fundo

interno do triangulo 100% amarelo. A tipologia utilizada para grafia da letra T deverá

ser baseada na família de tipos "Frutiger", bold, em caixa alta, conforme apresentada

na Fig 7 (BRASIL, 2003).

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Figura 7: Símbolo escolhido para identificar Organismos Geneticamente Modificados

nos alimentos.

Fonte: BRASIL, 2003.

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9. Conclusão

Com os fatos mencionados, se observa que os alimentos transgênicos já são

realidade em todo o mundo. Esses alimentos, produzidos através de tecnologias de

modificação genética, tem o objetivo de promover saúde e trazer benefícios para

consumidores, tanto em países industrializadas quanto em desenvolvimento.

Porém, há hipóteses que eles possam trazer riscos para a saúde e para o

meio ambiente. Não há como calcular as eventuais perdas em termos de

biodiversidade, nem como controlar a degradação de recursos biológicos, muito

menos de prever os efeitos adversos aos vários ecossistemas. Os testes realizados

antes de sua liberação não são rigorosos o suficiente para garantir sua segurança.

Além disso, a utilização de OGMs na agricultura pode causar o aparecimento de

plantas daninhas e pragas resistentes, cuja consequência está no aumento do uso

de agrotóxicos, acarretando maior quantidade de resíduos que vão parar na

alimentação diária.

Os riscos acarretam uma compreensível insegurança e inúmeras discussões

econômicas, éticas e políticas. Por isso, é importante que os dados obtidos nos

testes a campo com plantas modificadas estejam ao alcance de todas as nações, a

fim de aumentar o conhecimento a respeito do comportamento das plantas em

condições naturais de cultivo e permitir à sociedade o acesso aos dados científicos

numa linguagem clara, didática e sem preconceitos acerca dos transgênicos, para

que se forme uma opinião e as pessoas decidam conscientemente sobre o consumo

ou não destes produtos.

Portanto, somente garantindo segurança dos materiais geneticamente

modificados a uma população bem informada sobre esse assunto essa técnica

poderá ter o sucesso que se espera, e auxiliar no aumento da produção mundial de

alimentos.

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10. Referências Bibliográficas

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