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A TESSITURA DE PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES NA PRAXIS DO
PROFESSOR
Ana Lúcia Gomes da Silva
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Claudia Maria Vasconselos Lopes
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
Franchys Marizethe Nascimento Santana
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Resumo
O painel proposto alarga o debate sobre as questões interdisciplinares no contexto
educacional brasileiro visando a possibilidade de promover a superação da dissociação das
experiências acadêmicas entre si, como também delas com o contexto social. Concisas
sobre tal concepção, selecionamos elementos no diálogo que contemplam as parcerias e
investigam a forma de transformar o olhar sobre um tripé interdisciplinar diante dos
desafios da práxis na formação de professores: articulação dos saberes de diferentes
disciplinas/áreas do conhecimento em favor de um ensino contextualizado e holístico e, se propõe
a olhar a formação continuada do docente como um estímulo a promover o profissional a
autônomo. Nesse contexto, propomos uma discussão que objetiva perpassar questões
interdisciplinares situadas em espaços específicos de aprendizagem, no sentido de formar
professores para a reflexão e a operacionalização de práticas que atendam às demandas
sociais. Para tanto, a literatura consultada foi: Barbosa (1984-2003); Bakhtin (1953-2011);
Fazenda (1994-2005-2007); Iavelberg; Pimenta (2004); Nóvoa (1995); Morin (2000); Silva
(2013); Oxford (2003). Perrenoud (2010), dentre outros. Os encaminhamentos nos
provocam a refletir sobre a ação docente na ousadia de apreender o sentido de uma nova
concepção de ensino e de currículo, baseada na interação e integração entre os diversos ramos do
conhecimento. Assim, é possível repensar não só nossa vida, como a prática profissional e as
relações entre idéias e realidade, entre professor e aluno, teoria e práxis. Pretendemos contribuir
com um debate, que tem como síntese as possibilidades formativas no viés da perspectiva
interdisciplinar.
Palavras–chave: Interdisciplinaridade, Formação de Professores, Práxis.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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CURSO DE PEDAGOGIA EM QUESTÃO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA
MULTIPLICIDADE DO MOVIMENTO INTERDISCIPLINAR
Ana Lúcia Gomes da Silva
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Resumo
O presente estudo é fruto do projeto de pesquisa: A Universidade na formação de
professores e pesquisadores Interdisciplinares: a arte como eixo articulador/CNPQ e tem
como objetivo dialogar sobre a Formação dos Professores no Curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS no Campus de Aquidauana-CPAQ na
perspectiva interdisciplinar. Tal proposta apresenta relevância, uma vez que colabora com a
documentação que baliza a organização dos Projetos Pedagógicos para os Cursos de
Pedagogia no Brasil e sinaliza desafios no ensino para construir uma educação inovadora
no curso de pedagogia em questão. Os encaminhamentos metodológicos compreendem a
multiplicidade do movimento interdisciplinar na construção do conhecimento mediante
observações, entrevistas, depoimentos e seminários. Uma nova ótica sob o aporte teórico de Barbosa (1984-2003); Camargo (1994); Fazenda (1994-2005-2007) Iavelberg (2003) Pimenta
(2004); Nóvoa (1995) Morin (2000) e Silva (2013). Além dos recursos documentais representa
a possibilidade de promover a superação da dissociação das experiências acadêmicas entre
si, como também delas com a realidade social. Ele emerge não só como forma de
compreender e melhorar o mundo, mas como uma exigência interna das ciências que busca
o restabelecimento da Universidade como um espaço privilegiado. Dessa forma, tornar o
pedagogo mais ousado no propósito de ensinar e aprender como cientista que descobre na
psicologia, na filosofia, na sociologia, na história, nas letras, nas artes e em tantas outras
veias a raiz interdisciplinar.
Palavras-Chave: Universidade, Formação de Professores, Interdisciplinaridade, Arte.
Introdução
Este artigo apresenta os principais aspectos observados nas pesquisas realizadas no projeto
intitulado: “A Universidade na Formação de Professores e Pesquisadores Interdisciplinares:
a arte como eixo articulador” em movimento desde 2014. Registrado no CNPQ e vinculado
à linha de pesquisa de Formação de Professores do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Formação Interdisciplinar de Professores-GEPFIP da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul-UFMS no Campus de Aquidauana-CPAQ e na Linha de Pesquisa da
Interdisciplinaridade da Pontifícia Universidade Católica de SP do Grupo de Estudos e
Pesquisas Interdisciplinares-GEPI, tem como objetivo dialogar sobre a Formação dos
Professores no Curso de Pedagogia/UFMS/CPAQ na perspectiva interdisciplinar.
Partindo do pressuposto que a palavra interdisciplinaridade tem permeado os debates nas
instituições de ensino superior das universidades brasileiras e externas ao nosso país,
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propomos refletir sobre as representações dos entrevistados, a respeito das percepções que
foram marcantes no processo de ensino e aprendizagem durante a sua formação.
Somos sabedores que no estágio atual da educação, o professor não é mais visto como
aquele que detém todas as possibilidades do conhecimento e do saber; o aluno é
considerado, também, como protagonista do processo de ensino e aprendizagem.
Desse modo, é preciso enxergar o ensino sob outro prisma, pois as aulas, antes estáticas,
agora acompanham as constantes transformações provocadas pelo avanço das pesquisas e
pelo fenômeno da globalização. Tudo isso obriga os pesquisadores, educadores e técnicos
ligados à educação a buscar caminhos que permitam a compreensão e o estabelecimento de
uma nova forma de olhar o conhecimento, o ensino e a aprendizagem, o que implica o
surgimento de várias ideias.
Dentre essas ideias, surge a interdisciplinaridade como uma forma de contribuir para superar a
fragmentação do conhecimento e suas implicações sobre os estudos acadêmicos. Para ancorar e
sustentar nossas reflexões pautamos em Fazenda (2005) quanto aponta que a
interdisciplinaridade é entendida como uma mudança de atitude na forma de conceber,
compreender e entender o conhecimento, numa troca em que todos saem ganhando, uma
vez que há uma mudança de atitude e, a Arte como polo dinamizador do currículo, teria
como mérito o fato de possibilitar uma relação de ensino e aprendizagem significativa.
Atitudes e posturas que envolvem os educadores, numa perspectiva de abertura epistemológica
para contribuir na formação das futuras gerações. Se as problemáticas atuais são tão complexas
e exigem uma visão mais ampla é importante que o educador perceba e trabalhe possíveis
conexões entre os conhecimentos, unidade na diversidade, contradições e contraposições pela
pesquisa.
Nessa compreensão, a arte interdisciplina consigo mesma, através de diferentes linguagens,
como, também, com outras áreas do conhecimento humano. Seria o que poderíamos
chamar de uma “educação sem territórios e fronteiras”.
O estudo da interdisciplinaridade como abordagem pedagógica é central
para o ensino de arte. A arte contemporânea é caracterizada pelo
rompimento de barreiras entre o visual, o gestual e o sonoro. O happening,
a performance, a bodyart, a arte sociológica e ambiental, o conceitualismo
e a própria vídeo art são algumas das manifestações artísticas que
comprovam uma tendência atual para o inter-relacionamento de diversas
linguagens representativas e expressivas. Portanto, pelo isomorfismo
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organizacional, a interdisciplinaridade dever ser o meio através do qual se
elaborem os currículos e a práxis pedagógica da arte (BARBOSA, 1984,
p. 68).
A interdisciplinaridade como princípio pedagógico, tem sido pronunciada como aquela
capaz de realizar uma nova forma de educar, a de educar para a dúvida. Entretanto, sua
prática é marcada por muitas contradições, principalmente na questão conceitual e
efetivação na universidade. Por um lado, não existe uma definição única que contemple
toda a grandiosidade deste fenômeno, mas em todas elas encontramos a idéia de uma nova
atitude frente ao conhecimento, que confrontada com os aspectos que envolvem a
formação de professores faz da interdisciplinaridade um caminho complexo de ser
trilhado, mas não impossível. Fazenda (1994) aponta a necessidade de desenvolver uma
atitude interdisciplinar, para que a prática educacional seja mais significativa e mais
produtiva no ensino superior: “É apoio à ciência e à pesquisa. Possibilita eliminar a
distância existente entre a formação escolar e atividade profissional” (Fazenda, 1994, p.
23).
A criação de novos olhares interdisciplinares potencializa as reivindicações geradoras da
afetividade, do acolhimento, do desapego e das parcerias em seus entremeios mais
significativos. Promover ações interdisciplinares no sentido de oportunizar tal processo,
implica entre outras questões, na tarefa de aglutinar esforços de pesquisadores para resgatar esse
espaço nas instituições educativas e também na sociedade. Fazenda (1994) fortalece essa ideia
quando fala das atitudes de um professor interdisciplinar:
Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas
para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados,
atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao
diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo –
atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de
perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de
desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho
– atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e
com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em
construir sempre da melhor forma possível, atitude de
responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro,
de vida (FAZENDA, 1994, p.82).
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E, nesse contexto a arte tem o papel articulador para que os professores do Curso de
Pedagogia da UFMS/Aquidauana concebam que qualquer área do conhecimento é responsável pela
educação ética e estética de nossos acadêmicos, tanto pelo que oferecemos ou pelo que omitimos
daquilo que deveríamos fazer e não fazemos. Conhecer a arte, tanto local, regional quanto universal
e expressar-se através dela como um direito de todo aluno. A Universidade precisa ser o espaço de
construção nas relações interdisciplinares para uma formação de professores que contextualiza o
conhecimento em seu tempo e espaço, ainda, que costura as ligações com as políticas públicas.
1 Abordagens que buscam alargar as discussões no Curso de Pedagogia/UFMS/CPAQ
Considerados esses aspectos procuramos alargar mais as discussões no campo da
Pedagogia sobre o objeto de investigação da pesquisa, buscando perceber e saber como
professores, acadêmicos em curso e egressos do curso constroem, vivenciam e
compreendem o processo de formação de professores sob uma ótica interdisciplinar. Pois,
ninguém tem a menor dúvida de que o homem necessita brincar, sonhar, cantar para ser
capaz de reinventar a vida. Se quisermos formar professores que educam crianças em sua
totalidade, não podemos desconsiderar as inter-relações com as linguagens da arte na
música, artes visuais, na dança e no teatro - como elementos artísticos que representam a
constituição do ser humano em seu aspecto emocional, intelectual e físico. Dessa forma,
tornar o pedagogo mais ousado no propósito de ensinar e aprender como cientista que
descobre na psicologia, na sociologia, na história, na filosofia, nas letras, nas artes e em
tantas outras veias a raiz da alegria de aprender.
A educação é inerente ao processo de humanização que ocorre na
sociedade em geral. Por isso, afirmamos que a educação é uma prática
social, histórica e situada em determinados contextos. Nesse sentido, é
que podemos afirmar que a educação é uma práxis social. Estudá-la,
analisá-la, compreendê-la, interpretá-la em sua complexidade, e propor
outros modos e processos de ser realizada com vistas à construção de
sociedade justa e igualitária, supõe a contribuição de vários campos
disciplinares, dentre os quais o da pedagogia.
A pedagogia é um campo de conhecimento específico da práxis educativa
que ocorre na sociedade. Diferente dos demais que não têm a educação
como objeto específico de análise, mas que a ela podem se voltar.
(PIMENTA, 2004, p. 39).
Entre autoras como Selma Garrido Pimenta, Ivani Fazenda e muitos que contribuíram e
alicerçaram nossos estudos sobre a educação está Ana Mae Barbosa da Escola de
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Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-USP. Ela declara, numa entrevista
concedida para a Agência USP de Notícias e publicada em 20 de novembro de 2007, que
"Não é possível conhecer um país sem conhecer e compreender sua arte” e, no mesmo
sentido complementa:
A Arte na Educação como expressão pessoal e como cultura é um
importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento
individual. Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção, a
imaginação, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e
desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi
analisada. (BARBOSA, 2003, p. 18).
Daí compreendermos que a arte é capaz de dinamizar relações onde o criador é sempre
capaz de unir e mudar as interações produzidas no mundo da imagem pré-concebida.
Percebe as transformações e se percebe transformador. Ele se faz um solucionador de
problemas e é essa capacidade que o torna apto a criar e a superar os seus próprios limites.
Camargo (1994, p. 11) afirma que a arte dá formas à multiplicidade de experiências e
valores humanos, enquanto para Iavelberg (2003) a arte tem seu valor intrínseco como
construção humana, como patrimônio comum a ser apropriado por todos. A autora Rosa
Iavelberg complementa que a participação na vida cultural depende da capacidade de
desfrutar das criações artísticas e estéticas, cabendo à educação da educação infantil a
universidade garantir a educação em arte para que seu estudo não fique reduzido apenas à
experiência cotidiana.
As práticas educativas surgem de mobilizações sociais, pedagógicas, históricas, filosóficas,
e, no caso de arte, também artística e estética. Quando caracterizadas em seus diferentes
aspectos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação
com a própria vida. Sabemos que “os professores não são apenas consumidores, mas
também produtores de saber; não são apenas executores, mas também criadores de
instrumentos pedagógicos; não são apenas técnicos, mas são também profissionais críticos
e reflexivos”. (NÓVOA, 1995, p.31).
Nesta trilha os estudos e pesquisas interdisciplinares do projeto nos convidam a repensar a
formação de professores, na perspectiva de uma educação abrangente, interativa quando se
trata das sensibilidades artísticas e das reconfigurações no envolvimento do professor e do
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acadêmico no Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia da UFMS/CPAQ voltado à
pesquisa e a práxis.
1.1Encaminhamentos metodológicos na pesquisa
A realização da pesquisa conta com a maioria dos professores, acadêmicos matriculados e
egressos do curso de Pedagogia/UFMS/CPAQ, em parceria com a Escola Municipal “Erso
Gomes”, Escola Estadual “Antônio Salústio Areias”, com o Laboratório Interdisciplinar de
Formação de Educadores/LIFE, o Laboratório de Arte e Ludicidade para a Diversidade
Cultural/UFMS/CPAQ e de forma especial com os Grupos de Estudos e Pesquisas:
GEPFIP/UFMS/CPAQ e GEPI/PUC/SP.
Sendo assim, o presente artigo apresenta como fundamentação teórica, o Projeto
Pedagógico do Curso em estudo, que passa por revisões e atualizações pelo Núcleo
Docente Estruturante-NDE referendado pelo Colegiado do Curso e pela Pró–Reitoria de
Ensino e Graduação-PREG/UFMS. A documentação em questão reafirma o compromisso
com a formação de professores com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Curso de Pedagogia (DCN-Pedagogia), por meio dos Pareceres do CNE/CP Nº 05/2005 e
06/2006 e da Resolução CNE/CP Nº 01/2006, que define o marco geral e baliza a
organização dos projetos pedagógicos para os cursos de Pedagogia no Brasil. E, em
consonância com tais diretrizes, este projeto reflete sobre a formação de professores para
exercer a docência na Educação Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na
Educação Especial e na Educação de Jovens e Adultos, tendo a arte como eixo articulador.
Para tal tarefa, buscarmos encaminhamentos, junto a pesquisadora Ivani Fazenda,
para os dilemas de ordem teórico/metodológico enfrentado quando a questão é formar
professores pesquisadores na perspectiva da Interdisciplinaridade. A trajetória do estudo
tem como ponto de partida o processo investigativo interventivo, a apropriação do
conhecimento produzido sobre interdisciplinaridade e posterior seleção/definição teórica,
para qual foram utilizadas fontes impressas e digitais. Entre os autores que contribuem com
o estudo citamos BARBOSA (1984 e 2003) a principal referência do ensino da arte no
Brasil; CAMARGO (1994) que discute a arte da pré-escola à universidade; FAZENDA
(1994, 2005 e 2007) com férteis idéias na interdisciplinaridade; IAVELBERG (2003) com
suas produtivas reflexões sobre as linguagens da arte, PIMENTA (2004) que inspira os
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programas de formação de professores, NÓVOA (1995) que acredita no investimento da
formação como um processo dinâmico onde o professor precisa adotar uma postura ativa;
MORIN (2000) que dialoga com diferentes tempos e espaços, ampliando a competência
para ver, analisar e compreender as estruturas sociais, culturais em que as pessoas estão
inseridas e SILVA (2013) com as contribuições sobre a arte na educação. “A arte de olhar a
vida com arte: é abrir espaço para um ensino mais humano, é encontrar novas formas de capturar as
imagens, é ousar dar novos sentidos à vida. SILVA( p. 57).
No que se refere à percepção sobre a arte no auxilio a interdisciplinaridade, estamos
convicta, no sentido de não só constatar, mas, sobretudo, de fazer essa diferença:
observando, ouvindo, documentando e intervindo numa prática direta com os professores e
alunos em busca de uma nova qualidade de ensino, de uma nova escola, de uma educação
superior de qualidade.
1.2 Manifestações por meio dos depoimentos
Dentre as várias manifestações dos entrevistados, as mais repetidas e enfatizadas categorias
para classificar um docente universitário de “bom professor formador” foi a primeira: saber
explicar bem os conteúdos, em seguida identificar-se com a profissão docente sendo a
segunda o maior ponto em comum percebido nas falas dos egressos e dos acadêmicos em
curso. Até o presente momento somaram no universo da pesquisa 12 acadêmicos, entre as
turmas formadas até os dias atuais, dos quais as formulações geram muitas considerações
significativas. Partimos das seguintes perguntas: Qual ou quais foram às contribuições do
curso de Pedagogia/UFMS/CPAQ para sua formação? Em seguida as percepções sobre as
lacunas nesta formação? O que fez para atingir um estágio de profissionalidade? Por último
quais as sugestões para reformulações do Projeto Político Pedagógico do Curso?
Os seguintes depoimentos bastante vinculados com o ensino são representativos neste
estudo e, por ora apresentamos seis destes depoimentos:
Algumas reflexões que surgiram no primeiro ano de curso, conduzem até
hoje a forma como preparo os meus 10 auxiliares. Partindo do
conhecimento tácito e unindo-o à prática frequente do estudo do material
didático, busco não perder qualquer oportunidade de desenvolver cada
aluno ao seu máximo limite. E, assim vou seguindo, nesta longa
caminhada em prol da valorização de cada ser humano como um ser
único, capaz de transformar-se. As disciplinas eram interessantes, tais
como, História da Educação, Psicologia, Didática, Filosofia, dentre
outros. Havia muita leitura e pesquisa. Depoente “A” é formada no curso
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de Bacharelado em Ciência da Computação e ingressou na Pedagogia,
mas por compromissos profissionais interrompeu o curso.
Pontos Negativos no Curso de Pedagogia/CPAQ:
Falta de professores, no início tínhamos apenas quatro. Depois teve uma
greve que atrapalhou o percurso das aulas. Na época tínhamos poucos
professores mestres e hoje vemos que a grande maioria é mestre e doutor.
Fragilidades na grade curricular. Não tínhamos Educação Especial que é
muito importante; nem matemática que senti muito a falta quando dei aula
no ensino fundamental; dentre outras áreas como geografia e ciências. O
estágio deveria ser bem maior, porque tínhamos a referência e nos faltou
mais a prática.
Pontos Positivos:
Professores comprometidos; sou uma professora que gosta o que faz e
comprometida porque tive um alicerce de bons professores.
Como vejo a educação hoje no Município
Como tem em todo lugar bons e maus profissionais, conhecendo a grande
e maioria. Já passaram pela minha sala vários estagiários da pedagogia. O
que posso notar é que estão teoricamente preparados. Por outro lado
trabalho com profissionais perto de se aposentar, muitos com problemas
emocionais, problemas de saúde alguns que deixam a desejar, mas existe
entre esses excelentes e compromissados. A prática me ajudou muito. E
cada ano o professor tem que sobressair com criatividade e bom
desempenho para que os alunos queiram assistir as aulas. Além da teoria
os novos professores deverão estar preparados emocionalmente, essa
clientela nova de alunos estão com algum tipo de deficiência e acima de
tudo com sérios problemas familiares que afetam seriamente o andamento
das aulas. Como professora me preocupo muito com o futuro desses
jovens alunos. Alguns professores adoecem porque não sabem lidar com
as “situações problemas”. Acredito que todos tem que se ajudar, a
Universidade Federal com mais projetos junto com esses alunos, projetos
com esportes, a saúde, ação social, conselho tutelar, psicóloga em cada
escola, enfim todos se unindo pra ajudar esse aluno “problema”.
Depoente “B”. Formada na primeira turma de Pedagogia da
UFMS/CPAQ, hoje Especialista em Educação Especial de 2000 a 2002
em São Carlos- SP
Minha formação está sendo marcada por alguns professores que fazem a
diferença no curso. São àqueles que gostam do que fazem, apesar dos
pesares. Que conseguem se organizar no gerenciamento das múltiplas
atividades acadêmicas de uma forma, minimamente equilibrada e que
confere à sua atuação em sala de aula, preparação de aula, atendimento ao
acadêmico com respeito e cuidado. Ainda, que se envolve com colegiado
do curso ou de outras instancias que tem a ver com o ensino de graduação,
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este é um professo mais comprometido. As lacunas ficam infelizmente
pela falta de comprometimento daqueles que cumprem tabela ao nos
formar. Deixo a sugestão para que todos se dediquem Depoente “C” em
curso.
No mês de abril do ano de 1997 ingressamos na primeira turma de
acadêmicos do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da
UFMS/CPAQ. Pioneiros, tanto acadêmicos quanto docentes, tínhamos a
árdua missão de cumprir com as determinações da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, também como conhecida como “Lei Darcy Ribeiro”
ou LDB 9394/1996, promulgada em 20 de dezembro de 1996. Dessa
forma, o Professor Licenciado em Pedagogia, passou a ter a
responsabilidade de alfabetizar as crianças brasileiras, sempre inspirado
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, como
prega o art. 3º e os incisos da LDB. Naquela época o corpo docente do
curso era composto pela professora Elenir Machado de Melo, Ruben
Ayang de Oliveira, Francisco Romualdo de Paula, Marly Teixeira
Moretinni, Rosalina Brites de Assunção e Ana Lúcia Gomes da Silva. Não
era difícil perceber que tanto docentes quanto discentes estavam
extremamente alinhados estrategicamente, e com o objetivo de fazer
daquela Lei um dos norteadores para a carreira de novos alfabetizadores.
Após concluir o Curso de Pedagogia em 2000, tornei-me micro-
empresário. E em 2003, comecei o curso de Licenciatura Plena em
Matemática, concluindo o mesmo em 2006. Desde então, tenho duas
paixões: ensinar e empreender. Ainda não descobri qual das duas me
alegra mais. Sinto prazer em ambas. Depoente “D” da primeira turma do
curso. O curso de Pedagogia da primeira turma do CEUA agora CPAQ/MS
apresentava um cenário de aprendizado de novidade, tanto para os
acadêmicos também para os professores das áreas, tempo em que o curso
passava de reconhecimentos legais. Neste cenário do curso de Pedagogia
de Aquidauana o número de professores são limitados com 5 no quadro
com 2 mestres e nem um com título de doutorado. Analisando o hoje do
ontem, a grade curricular da primeira turma de Pedagogia foi carente das
disciplinas de Matemática, História, Geografia e Educação Especial. Não
tínhamos laboratórios que hoje possuem, falta de livros específicos para o
curso e o que tinha às vezes era apenas um exemplar e era preciso esperar
o outro terminar para emprestar ou senão, emprestar da biblioteca da
UFMS de Campo grande. Porém, com todas as dificuldades superadas na
medida do possível, como por exemplo, o mesmo professor ministrando
varias disciplinas, uma greve, algumas desistências de acadêmicos
conseguimos vencer e chegarmos sim, preparados para o mercado de
trabalho ou como eu e algumas colegas que atuavam como professoras
refletirmos sobre a nossa prática pedagógica. Desde que conclui o curso
de Pedagogia em 2.000, o meu objetivo como professora é sempre em dar
o meu melhor para os meus alunos, por isso procuro fazer cursos. Como
estava com a Educação Infantil fiz uma Especialização em Educação
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Básica – área de concentração na Educação Infantil em 2.004 / UEMS
com o trabalho de Tcc “Pequeno Olhar, grandes revelações: Arte na
Educação Infantil”. E ai, brota uma nova paixão a Arte e lá foi eu fazer
mais uma graduação, agora nas Artes Visuais ano 2013. E, mais uma Pós
em Especialização Cultura e História dos Povos Indígenas/ UFMS 2.015
com o Tcc “Aldeia Aldeinha – uma aldeia urbana”. E não quero parar por
aqui, tenho o objetivo de mestrado e doutorado. Depoente “E”.
Como acadêmica do Curso de Pedagogia tive inúmeras experiências
significativas, como por exemplo a inserção no Projeto de Iniciação a
Docência/ PIBID. Esta foi, sem dúvida, a que mais me deu condições
para a docência e a outra foi em 2013 quando integrei o Grupo de
Estudos e Pesquisas em Formação Interdisciplinar de Professores da
UFMS/ CPAQ. Envolvida com os estudos, tive a oportunidade de
conhecer mais sobre o conceito da Interdisciplinaridade, visto que, já
havia tido um conhecimento prévio, mas por meio do grupo, foi
instigante estudar e refletir sobre este conceito. O estudo em grupo fez
com que eu compreendesse inúmeros conceitos, nas linhas de pesquisas,
assim levantar questionamentos e refletir com outros professores. O
GEPFIP já possui mais de ano de existência e sua contribuição seja para a
academia ou comunidade externa é de extrema importância. Hoje
iniciando minha carreira docente e ainda integrante do
GEPPIF/UFMS/CPAQ, constato a necessidade de estudar e participar da
formação continuada de professores, nesse sentido ampliar e rever nossas
práticas nos diferentes níveis de ensino. Depoente “F”, formada em
2015.
Procuramos, então, descrever sinteticamente as formulações que tiveram relação direta com o
tema sugerido, independentemente da forma e do estilo que cada entrevistado escolhera
para expressar.
O pensamento complexo é, pois, essencialmente o pensamento que trata
com a incerteza e que é capaz de conceber a organização. É o pensamento
capaz de reunir (complexus: aquilo que é tecido conjuntamente), de
contextualizar, de globalizar, mas, ao mesmo tempo, capaz de reconhecer
o singular, o individual, o concreto. (MORIN, 2000a, p.207).
A partir desta trajetória pode-se afirmar que o pensamento complexo como possibilidade de
reformar o pensamento, ou seja, como forma de perceber, compreender as múltiplas relações
existentes entre os diferentes elementos que constituem um sistema, torna o percurso instigante.
Através dos dados coletados, por meio de depoimentos, observações e registros de mídia
pretendemos provocar discussões no Grupo de Estudos e Pesquisa em Formação Interdisciplinar de
Professores da UFMS/Campus de Aquidauana, em torno de propostas que encontre coerência na
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construção de uma perspectiva interacional, construída nas/pelas categorias do encontro, do
acolhimento, da afetividade, do diálogo, da parceria, do reconhecimento e da totalidade. O processo
investigativo toma como foco principal a pessoa do professor formador e do acadêmico do Curso de
Pedagogia da UFMS/Aquidauana e alguns professores egressos do curso que hoje atuam nas
Escolas Municipais e Estaduais, buscando apreender o mundo subjetivo de suas representações e
expectativas, em que se inscreve o desejo imanente de mudanças em suas atividades educativas,
científicas e culturais.
Foram incluídos também, como material de pesquisa, os seminários. Alguns já ocorreram e
outros previstos para o decorrer de 2016 com a importante participação dos professores do curso.
Estão assim formulados: Infância: (des) construção em processo; Criança e Infância na
Contemporaneidade; Formação do pedagogo: aspectos legais e fundamentais; Reflexões
contemporâneas acerca da aquisição da leitura e da escrita na alfabetização; Alfabetização
científica e a valorização da curiosidade da criança; A Educação Ambiental no mundo
globalizado e capitalista; Classe hospitalar: roda de leitura com livros de pano para crianças
hospitalizadas, entre outros que estão sendo construídos.
Julgamos possível apontar que os seminários permitem a reflexão sobre a força das práticas
interdisciplinares e a abertura que elas proporcionam como possibilidades de aprendizagens
significativas, tanto no que se refere aos aspectos de vivência prática, ou seja, da docência
interdisciplinar, quanto na formação do pensamento complexo dos acadêmicos e sua
importância para a atuação dos mesmos nos diferentes campos já acima indicados.
Seguimos os passos no exercício de uma prática interdisciplinar que nos auxiliou a
identificar a pesquisa intervenção como balizadora no caminho percorrido. Procuramos
então, a partir dos princípios da metodologia interventiva, reconhecer o universo teórico
que respalda a prática pedagógica no curso de pedagogia e em cada uma das escolas
pesquisadas, destacando a preocupação com o trabalho interdisciplinar e as vozes dos
professores e acadêmicos no que se referem ao currículo do curso em termos de suas percepções,
demandas e expectativas.
As intervenções em educação, em especial as relacionadas ao processo ensino
aprendizagem, apresentam potencial para simultaneamente, propor novas práticas
pedagógicas (ou aprimorar as já existentes), produzindo conhecimento teórico nelas
baseado. (DAMIANI, 2012).
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Nos desdobramentos teóricos sobre intervenção, a interdisciplinaridade privilegia e emana
a força da ousadia na busca pela transformação da educação. Em Fazenda (2007)
encontramos tais referências quando realizamos intervenções procurando entender o
significado das palavras na maneira como os educadores e alunos pesquisados falam do seu
universo, das situações presentes e passadas.
Considerações Finais
Estas reflexões sinalizam desafios no ensino para construir uma educação inovadora no curso de
pedagogia em questão, onde os olhares e os diálogos sejam elementos de base no processo de
mudanças, uma vez que a cultura é o bem mais precioso de um povo e através da arte e de tantas
outras manifestações culturais, expressamos pensamentos e construímos diversas formas de
conhecimento. É dentro dessa perspectiva que o conhecimento tem a sua função estética,
transformadora, política e social na educação e na cultura. Uma pesquisa enquanto atividade
artística que expressa o homem e os seus sentimentos, como também compreende a expressão dos
sentidos mais urgentes para a reformulação da práxis em sala de aula.
Assim, esse projeto compreende a multiplicidade do movimento interdisciplinar na construção do
conhecimento mediante uma nova ótica e representa a possibilidade de promover a superação da
dissociação das experiências acadêmicas entre si, como também delas com a realidade social. Ele
emerge não só como forma de compreender e melhorar o mundo, mas como uma exigência interna
das ciências que busca o restabelecimento da Universidade como um espaço privilegiado. Um lugar
onde passamos grande parte de nossas vidas e por este motivo torna-se significativo a partir da
atuação do professor.
Isto nos faz ver que as correlações dos movimentos culturais com a arte e com a educação
em arte não acontecem no vazio, nem desenraizadas das práticas sociais vividas pela
sociedade como um todo. As mudanças que ocorrem são caracterizadas pelo mecanismo
social que interfere, modificando ou conservando as práticas vigentes.
Daí a necessidade de abordarmos sobre este universo, a partir daqui somando as experiências de
cada uma com percepções sobre o que nos parece mais significativo. Momento em que nos
retiramos e ao mesmo tempo nos fazemos presentes na forma de olhar a nossa trajetória.
Referências
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A FORMAÇÃO CONTINUADA COMO ESTÍMULO À AUTONOMIA DO
PROFESSOR NA CRIAÇÃO DE PROJETOS INTERDISCIPLINARES
Claudia Maria Vasconcelos Lopes
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
Resumo
Este artigo se propõe a olhar a formação continuada do docente como um estímulo a
promover o profissional a autônomo para que possa, mesmo de maneira embrionária, dar
conta da demanda de trabalhar interdisciplinarmente, demonstrando mais segurança ao criar
projetos que elejam as diferentes linguagens, dentro da lógica dialógica proposta por
Bakhtin, ([1953] 2011).Serão também discutidas questões teóricas no escopo da autonomia
sociocultural (OXFORD, 2003) na arena da formação docente com o intuito de dialogar
com o objetivo citado anteriormente. Para tanto, convoco as noções de autonomia
sociocultural e letramento social, presentes em Lemke (1998) e Street (1984), e
Multiletramentos (ROJO, 2010), que almejam capacitar os docentes a navegar por práticas
de letramento cada vez mais inter e indisciplinares e a ótica de educação como ato
responsável preconizado por Bakhtin. O intuito é problematizar se o estímulo à autonomia
docente, no âmbito aqui exposto, pode vir a desencadear a criação de práticas pedagógicas
mais dialógicas e profícuas. Para ilustrar tal proposta, analiso a narrativa de uma aluna do
curso de Pós-Graduação de uma instituição pública de Ensino Superior localizada no Rio
de Janeiro, além de excertos do diário de pesquisa mantido ao longo do curso
Interdisciplinaridade e Educação, ministrado por mim. Tal opção metodológica localiza-se
no escopo da pesquisa qualitativa de base etnográfica e que vai buscar verificar se os
saberes coconstruídos ao longo do curso a estimulam a ser mais autônoma nas suas práticas
dialógicas, mesmo tendo recebido uma formação pré-serviço disciplinar, como parece
acontece nas universidades brasileiras.
Palavras–chave: Autonomia Sociocultural, Interdisciplinaridade, Formação Continuada.
Introdução
A formação continuada tem sido amplamente abordada, porém, não é objetivo deste artigo
apresentar essa temática, por si só, ela exigiria outro fórum. Servirá como pano de fundo,
uma vez que o estudo realizado tem como cenário uma matéria intitulada,
Interdisciplinaridade e Educação, que é um módulo, parte do currículo de uma formação
continuada fomentada pela pós- graduação de uma instituição pública federal de ensino
tecnológico superior localizada no Rio de Janeiro. O foco de interesse deste artigo seria um
recorte para desencadear as seguintes discussões: o existir-evento citado pode-se constituir
em um profícuo espaço de coconstrução de saber docente mais em sintonia com as
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demandas contemporâneas? Este pode ser capaz de estimular o docente a tornar-se
autônomo no viés da autonomia sociocultural (OXFORD, 2003) para criar práticas
pedagógicas mais dialógicas? Por este estudo dedicar-se apenas a fomentar a reflexão
acerca do diálogo entre os saberes coconstruídos ao longo do módulo e os possíveis
impactos que estes podem promover nas práticas pedagógicas dos docentes envolvidos, é
importante citar que a formação do professor é uma relação de nunca acabar, uma relação
que reflete e refrata o incluso, o interminável, o inacabado (GUILHERME, 2013 p. 39).
Não é objetivo mensurar até que ponto o docente torna-se autônomo ou não depois do
curso, até porque este estudo está inserido na pesquisa qualitativa de cunho etnográfico.
Procura-se provocar inquietações que possam preencher a brecha entre o discurso da
universidade e o cotidiano, principalmente o professor recém-formado vai encontrar na
escola. (CELANI 2001, p.36).
Acredito na relevância social do módulo citado por três razões: a literatura contemplada
durante o mesmo que pôde contar com textos fundantes no escopo da interdisciplinaridade,
letramento crítico, o par mais competente de Vygotsky (1998) e a filosofia da linguagem do
círculo de Bakhtin ( [1953] 2011). Em segundo lugar, as discussões que mantive, com os
docentes-participantes do programa. Em terceiro, talvez a principal razão, as sessões
reflexiva, para analisar os projetos por eles elaborados. Esta última razão parece estimular
a possibilidade de criar espaços de produção colaborativa e crítica para compreender e
transformar valores, conceitos de ensino-aprendizagem e desenvolvimento, bem como
regras e divisão de trabalho, que organizam as condições sociais, culturais, éticas e
políticas quanto ao pensar e à ação-discurso específicos de cada comunidade escolar
(MAGALHÃES, 2011, p. 13). Neste âmbito é importante salientar que as três razões
citadas são fatores preponderantes não só na formação continuada como no estímulo à
autonomia docente, mas é preciso que haja a habilidade e a vontade para que essa
autonomia ocorra, como propõe Littlewood (1996, p.428). Segundo Nicolaides (2011, p.
176)„habilidade‟ e „vontade‟ podem tanto já vir”prontos”, ou ser influenciados pelo
ambiente de aprendizagem.
A discussão nesta pesquisa afilia-se ao caráter transdisciplinar da Linguística Aplicada, que
possibilita buscar em diversas áreas do conhecimento fundamentos que o ajudem a refletir
sobre e compreender a natureza do objeto pesquisado (SZUNDY 2005 p. 12 ); para tanto,
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colhi de teorias da educação (FAZENDA, 2006; JAPIASSÚ, 1976) que serão fortemente
sustentadas pelas concepções de letramento social ( LEMKE, 1998 ; STREET, 1984 ).
Pretendo focar os pressupostos vygotskianos e bakhtinianos que fundamentam este artigo,
buscando sempre sublinhar o diálogo entre as duas teorias no que tange ao meu objeto de
investigação: refletir sobre o estímulo à autonomia sociocultural docente na produção de
projetos interdisciplinares que um curso de formação continuada pode promover. Buscando
contemplar esse objetivo, pretendo responder às seguintes perguntas: Até que ponto a
literatura utilizada durante o curso orienta o docente-participante do módulo no processo
de reflexão em relação à própria prática? Como o diálogo que tiveram comigo levou os
professores-participantes a refletir sobre a própria prática no que se refere à produção de
projetos que envolvam diferentes linguagens? Em que medida os docentes-participantes se
sentem mais autônomos para elaborar os seus projetos dialógicos com mais agência?
Em consonância com a perspectiva metodológica, triangulo os dados provenientes de dados
registrados no meu diário de pesquisa mantido ao longo do módulo e algumas citações dos
professores-alunos da turma.
Delineados os principais pressupostos, passo à breve especificação das quatro seções,
entrelaçadas e intimamente costuradas com as perguntas de pesquisa. Na primeira seção,
apresento o planejamento do módulo fundamentando o porquê das minhas escolhas. Vou
subdividir esta seção em três, onde delineio brevemente, na primeira subseção, as
exigências deste momento contemporâneo tão fluido (cf BAUMAN, 2000), que parece
eleger práticas mais inter/indisciplinares como um possível caminho para uma educação
que emancipe e promova a problematização de temas tão caros ao desenvolvimento
discente. Na segunda subseção, coloco em pauta que práticas de letramentos. Finalizo com
a subseção que coaduna com a segunda pergunta deste estudo. O interesse seria abordar o
estímulo e a importância da criação de arenas de contestação e conflitos dentro da formação
continuada. A segunda seção, tenta elucidar e trazer o conceito de autonomia para este
fórum. É uma tentativa de estabelecer um diálogo com a formação continuada e verificar
uma possível relação. A terceira seção, Caminhos metodológicos, ilustra a perspectiva de
pesquisa contemplada e contém uma subseção. Ambas vão dar conta de materializar os
dados da pesquisa com a narrativa da aluna. Na quarta seção trago as considerações finais.
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1 Interdisciplinaridade e Educação em sete atos: como os saberes foram entrelaçados?
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos: De
um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe
o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para
que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.(João Cabral de Melo Neto)
Abro essa seção com versos do poeta que nasceu em 1920 que destaca com propriedade, a
tessitura de uma manhã como sendo algo possível apenas diante da colaboração de vários
galos, que aos poucos vão, no jogo de gritos, costurando a manhã. Os galos são dialógicos,
como apontam os versos metaforicamente, e essa função social da troca, essa interação
entre os indivíduos me inspiraram a elaborar e idealizar o módulo, que contava com sete
encontros iniciado em outubro de 2013 na pós-graduação citada.
Podemos dizer que os gritos dos galos representam o entrelaçar das diferentes vozes
necessárias ao objetivo da disciplina. Vozes que na programação se materializaram em
forma de textos, problematizações, sessões reflexivas com discussões sobre o projeto
interdisciplinar elaborado em grupos de quatro, apresentação de projetos dialógicos bem
sucedidos ministrados por docentes oriundos de outros contextos, e uma palestrante sobre
um programa de formação continuada chamado PLIEP. As opções das práticas tem o
seguinte objetivo: convidar o docente-participante a mergulhar neste cenário que preconiza
a troca de saberes e estimula a criação de projetos interdisciplinares. A ideia foi entrelaçar,
nestes sete encontros de quatro horas, as diversas vozes e saberes.
1.1 O momento contemporâneo: como entrar em sintonia?
Há pouco mais de um ano, foi anunciada, uma proposta do Ministério da Educação que
almeja reorganizar o currículo do Ensino Médio. Observe a figura abaixo.
Figura 1 – Proposta do Ministério da Educação de mudança do Ensino Médio
http://www1.folha.uol.com.br/educacao/1138074-mec-vai-propor-a-fusao-de-disciplinas-do-ensino-medio.shtml
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A figura parece gerar um certo desconforto em pessoas que tenham tido uma educação
disciplinar. Como acompanhar o mundo contemporâneo que passa por essas mudanças
aceleradas, plurais, densamente transformadoras, que desestabilizam os humanos e mais
especialmente o educador? ( LOPES LOURO,2003, p. 41).
Bauman (2000) propõe a fluidez e liquidez como as principais metáforas para o momento
em que vivemos. Conforme esse autor, os fluidos se movem facilmente. Eles fluem, esvaem-
se,vazam. Diferentes dos sólidos, não são facilmente contidos ( BAUMAN, 2000, p.8 ).
Essa metáfora acena para a ideia de mobilidade que dificilmente pode ser contemplada nas
organizações curriculares do ensino tradicional, que mantêm as disciplinas justapostas,
isoladas. Esta perspectiva fragmentada evidencia a excessiva especialização e incita o
olhar do aluno numa única, restrita e limitada direção (FAZENDA, 2006, p.19). Não seria
a interdisciplinaridade uma forma de tratar dos problemas com que se defrontam os
indivíduos e as sociedades, provendo mesmo que de forma relativa, a fluidez proposta pela
nova ordem mundial? Porém, os docentes parecem não estar preparados para mudanças
similares às que inauguram esta subseção.
1.2 Que práticas de letramentos almejamos?
Práticas de letramentos devem procurar desestabilizar maneiras cristalizadas de ver o
mundo social, além de buscar a lógica da hibridade. O módulo idealizado, a partir do
proposto durante os encontros, procurou motivar esta perspectiva e a premissa de se alinhar
à Teoria Sociocultural de Vygotsky ([1930], que preconiza a necessidade do outro
discutida por Bakhtin, que pode auxiliar a vencer as barreiras disciplinares.
Ao discutir os projetos interdisciplinares durante as sessões reflexivas, procurei, ainda
reafirmar que letramentos são práticas sociais (LEMKE,1998) e as intervenções cabíveis
dentro do que preconizamos no viés dialógico.
1.3 Reflexão crítica como (trans)formação da prática
Aprofundar a intricada questão da reflexão crítica extrapola o escopo deste estudo.
Contudo, considero pertinente fazer algumas ponderações sobre a questão neste ponto para,
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pelo menos, situar o leitor numa temática ainda recorrente nos estudos da (trans)formação
da prática docente no viés da reflexão crítica, que tanto se almeja na formação continuada.
É necessário explicitar e deixar claro que reflexão não é, por definição, crítica, como
preconiza Brookfield (1995), para quem a reflexão se torna crítica quando tem dois
propósitos distintos. O primeiro envolve entender como considerações de poder
perpassam, moldam e distorcem os processos e as interações educacionais. O segundo é
questionar certezas (BROOKFIELD, 1995, P. 8). Szundy (2013, p. 61) explicita:
Para que esses dois propósitos venham a ser alcançados no diálogo entre
professores e pesquisador, tornando-o de fato um espaço para a reflexão
crítica em relação à prática dos participantes, é fundamental que as
ideologias retratadas e refratadas nos enunciados do professor e do
pesquisador sejam identificadas e que as suas relações com o contexto
social, histórico e cultural mais amplo sejam analisadas e discutidas
(SZUNDY, 2013,p. 61).
Desta forma, foi sob essa perspectiva que entendi o conceito de reflexão crítica do
professor em serviço. Procurei criar arenas de contestação, e propiciar um clima de
ressignificação, sem eliminar o que o grupo de professores havia idealizado. Pautada nesta
premissa, creio que consegui costurar o que havia sido discutido durante o módulo.
Procurei ofertar a base para a autonomia que desejamos moldadas com práticas mais
conscientes e dialógicas.
2 Autonomia sociocultural: afinal o que preconizamos?
Na área de autonomia,muitos estudos têm abordado a importância da busca pela
autonomia na aprendizagem de línguas. Nesta pesquisa abre-se uma nova possibilidade,
que seria considerar a proposta que a formação continuada possa se constituir como um
espaço que possivelmente estimula o docente em serviço a se tornar autônomo. Refiro-me,
portanto, à proposta de autonomia sociocultural. Com o objetivo de justificar tal opção e
tentar elucidar a pergunta que inaugura esta seção, é necessário, pensar e problematizar o
conceito. O dicionário de português Aurélio define autonomia da seguinte forma com grifos
meus.
Aptidão ou competência para gerir sua própria vida, valendo-se de seus
próprios meios, vontades e/ou princípios..Direito ao livre arbítrio que faz
com que qualquer indivíduo esteja apto para tomar suas próprias
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decisões. Faculdade do ser humano de se autogovernar de acordo com
seus padrões de conduta moral sem que haja influência de outros
aspectos exteriores. (NICOLAIDES, 2011, p.175).
Tal definição parece defender uma proposta em que o indivíduo toma suas próprias
decisões, de maneira unitária e sem nenhum comprometimento e/ou interação com as
diversas esferas sociais de ação humana. Tal afirmação se evidencia pelo uso das palavras
grifadas e pela última sentença, demonstrando mais profundamente que esta visão de
autonomia coloca o sujeito em uma posição isolada, em que ele vivencia tomada de
decisões de acordo com seus próprios meios. Já segundo Bakhtin ([1920-24]2010), viver é
um evento singular e não apenas executar ações mecânicas: gerir sua própria vida, estar
apto, autogovernar. Para o autor, viver significa ter um posicionamento crítico perante as
construções sociais e interagir com o mundo social. Relaciono, neste âmbito, a concepção
do ato responsável (BAKHTIN[1920-24]2010). Porém, ser responsável para esse filósofo,
significa mais do que ser dedicado ou executar suas tarefas com zelo. Acredito que na
verdade inclui interagir, enxergar-se como um ser inacabado e admitir que em vários
momentos precisamos do outro para manter-nos engajados no diálogo.
Esta definição problematizada parece se afastar do conceito de autonomia a que este estudo
se afilia. Parece não levar em consideração que o ser autônomo está inserido em um
contexto, e que é possível que sofra a influência de aspectos exteriores, o que se distancia
do final da definição preconizada pelo dicionário.
O que estimulei durante o módulo, além da autonomia: agir no mundo com assistência de
um par mais competente e agir no mundo autonomamente, consciente de suas ações
(AARÃO, 2003, p 36). Essa premissa remete à Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP),
preconizada por Vygotsky. Neste âmbito o fator sociocultural se manifesta demonstrando
que o ser autônomo, privilegia o trabalho dialógico como um possível estímulo à criação de
projetos mais autônomos. Quero dizer que, ao elaborar um projeto interdisciplinar, o
docente pode inicialmente ter-se valido de recursos próprios, de forma autônoma, mas,
motivado, vai além.
3 Caminhos metodológicos
Ao circular por vários discursos relacionados a interdisciplinaridade e autonomia
sociocultural deparei-me com a associação das disciplinas às ondas do mar. Por entender
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que a mistura das ondas possa representar metaforicamente a autonomia sociocultural que
preconiza a interação, que só é viável mediante o encontro, que no caso são as ondas
quando chegam à praia. Com base na metáfora das ondas, construo esta seção com a figura
do pescador que observa o mar e que se prepara, logo após, tem o resultado de seu
empenho: o pescado. Enfoco isso, a organização, o caminho metodológico que trilhei e
buscar possíveis respostas. Logo estabeleço um paralelo entre o preparo para um dia de
trabalho do pescador com as minhas opções metodológicas, que incluem os instrumentos
que utilizei e a materialidade dos dados gerados. O pescador separa o que é produtivo para
a venda e eu, olho para os dados e vejo o que pode dialogar com as minha fundamentação.
Desta forma, sistematizei meu estudo, gerei meus dados e procurei olhar para o meu
contexto para tornar meus registros mais relevantes e triangulá-los para a análise
(SPRADLEY, 1980). É uma perspectiva interpretativista de base etnográfica. Porém, tenho
em mente que tempestades são possíveis, e que para elas preciso estar preparada até porque,
segundo Sommerville (1993), como acontece com o mar, pode haver tempestades, e
também calmarias, é possível que os dados não respondam às inquietações.
Os dados são de uma narrativa postada em um grupo fechado criado em uma rede social, a
qual os alunos deveriam postar discursos que almejassem responder as seguintes questões:
Depois de sua graduação, você já havia feito algum curso de formação continuada? O que a
fez começar a pós-graduação que você frequenta hoje? Até que ponto os pontos abordados
no módulo foram novos para você? De que forma o módulo auxiliou no seu processo de
reflexão como docente? Como foi o processo de elaboração do projeto interdisciplinar? Até
que ponto você se sente preparado para criar projetos interdisciplinares depois do módulo?
3.1 Diálogos em pauta: a narrativa da aluna e as reflexões da professora-
pesquisadora
Chega o momento de discutir a análise. Todos os nomes utilizados são fictícios, para que a
privacidade seja preservada.
O primeiro ensinamento me vem quando identifico o contraste existente entre as diferentes
perspectivas do conceito de interdisciplinaridade. No primeiro encontro questionei: O que é
a interdisciplinaridade? Tenho anotadas em meu diário de pesquisa as seguintes definições:
É cada um na sua sala tentando usar conhecimentos de outras matérias. É algo
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relacionado às matérias alheias. Um tema é escolhido e cada professor trabalha nele como
quiser. Confundo tudo: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade.
Não sei nem ensinar a minha matéria. Estou perdida!
Muitos responderam de maneira incompleta, outros demonstram dúvida e são vagos na
definição. Não pude localizar respostas que contemplassem a perspectiva Vygotskiana de
construção do conhecimento, muito menos a questão do diálogo no viés do par mais
competente. Creio que estes docente iriam sentir-se inseguros caso o governo decidisse
implementar, a proposta anunciada no início da subseção 1.1.
Optei por iniciar questionando os docentes em relação ao conceito de interdisciplinaridade,
pois acredito que os pressupostos precisam estar claros para que o docente pense e
considere a possibilidade de ressignificar a prática na perspectiva dialógica. Relaciono estes
dados do meu diário, com a narrativa da aluna postada na plataforma, na tentativa de
promover um contraste entre o início e o final do módulo.
10/12/2013(última aula) Narrativa de Kate (grifos meus)
Pelo fato de trabalhar textos de diversas áreas do conhecimento em sala
de aula, a disciplina me fez perceber que é possível trabalhar em
conjunto com outras disciplinas, em uma escola, através de projetos
desenvolvidos em conjunto com outros docentes de outras áreas do
conhecimento. Como docente, o enriquecimento pessoal em descobrir
mais sobre as outras disciplinas (por meio do diálogo entre professores
de outras disciplinas) é notório, pois acrescenta uma bagagem melhor
para transmissão de conhecimento aos discentes. E os discentes ganham
mais com essa troca de conhecimento dentro das disciplinas, uma vez
que não vêem a disciplina de maneira singular.
Eu tenho o olhar interdisciplinar que não tinha antes, diante da tarefa
de um futuro projeto interdisciplinar. Sem a colaboração do corpo
docente acho impossível a criação de um projeto interdisciplinar.
O fragmento parece apontar para uma visão otimista em relação à literatura utilizada. As
três primeiras expressões em negrito evidenciam claramente o valor teórico que os textos
problematizados agregaram. As últimas falas grifadas parecem dar suporte à premissa que a
literatura que circulou pôde desestabilizar crenças cristalizadas. Porém, há indícios, no
excerto do meu diário, de que sete encontros não são suficientes para aprofundar o tema em
questão.
10/12/2013 - Neste dia perguntei aos alunos: A literatura utilizada
contribuiu para a compreensão do assunto? Marina disse que sim, mas
que foi tudo muito corrido, que sete encontros não são suficientes.
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Este dado ilustra claramente um ponto nevrálgico do módulo, e compartilho da mesma
ótica. Creio que este poderia amalgamar-se a um outro módulo do curso: Práticas de
letramento em educação e desta forma a turma teria quatorze encontros. Acredito que os
dois módulos ocupam-se do mesmo campo de saber, que são letramentos. A sutil diferença
é que o módulo problematizado nesta pesquisa aprofunda a interdisciplinaridade. Fica a
sugestão de se unir os módulos, que não cabe aqui discutir.
Mapeando mais a narrativa, tentarei responder a segunda pergunta: Como o diálogo que
tiveram comigo levou os professores-participantes a refletir sobre a própria prática no que
se refere à produção de projetos que envolvam diferentes linguagens?
O primeiro passo para a aquisição conceitual interdisciplinar seria o
abandono das posições acadêmicas prepotentes, unidirecionais e não
rigorosas que fatalmente são restritivas, primitivas e „tacanhas‟,
impeditivas de aberturas novas, camisa-de-força que acabam por restringir
alguns olhares, tachando-os de menores. Necessitamos, para isso,
exercitar nossa vontade para um olhar mais comprometido e atento às
práticas pedagógicas rotineiras menos pretensiosas e arrogantes em que
a educação se exercer com competência.(grifos meus). (FAZENDA, 2006,
p.13).
Fica claro que dei suporte suficiente, orientei, promovi um clima de interação, entendi as
limitações de quem nunca elaborou algo parecido, mas infelizmente não é possível localizar
nos dados se eu os fiz refletir sobre a própria prática. Ao citar muitas vezes ficamos muito
no nosso mundo, Kate não cita o conceito de par mais competente trabalhado e nem
consigo mapear algo que dê suporte nas minhas anotações no diário. É possível que um
roteiro pudesse ter me ajudado e orientado o grupo. Além disso, se os módulos se
amalgamassem, teríamos dois professores com mais experiência para fazer as intervenções
colaborativas. Sigo para a terceira e última pergunta: Até que ponto os docentes-
participantes sentem-se mais autônomos para elaborar os seus projetos dialógicos com
mais agência?
Não é objetivo mensurar se os docentes-participantes sentem-se mais autônomos. A questão
é olhar e localizar indícios que sirvam para reflexão de quem se ocupa da formação
continuada e elegem a perspectiva sociocultural. Procuro localizar se o módulo de alguma
forma estimulou a criação de projetos interdisciplinares de forma mais consciente e mais
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autônoma na vida deste profissional. Transcrevo a seguir a narrativa da aluna na tentativa
de elucidar esta questão.
Para elucidar a terceira pergunta, trago para este fórum excertos do meu diário. No último
dia indaguei se eles percebiam alguma mudança em suas crenças em relação ao nosso
objeto de estudo obtive este dado:
10/12/2013Ao iniciar as aulas entendia interdisciplinaridade como algo
só feito na escola, algo complicado demais. Contudo, percebi que
podemos encontrar interdisciplinaridade fora dos portões da escola... eu
posso levar isso para o meu cotidiano e quem sabe me ajudar na minha
formação continuada.. Pretendo fazer mestrado... acho que isto vai me
ajudar e por consequência melhorar a minha sala de aula.
As sentenças em negrito evidenciam o estímulo à autonomia. Neste sentido, seria
compreender autonomia como um fenômeno sociocultural, que tem como uma das
características o agir com responsabilidade. Este fato é destacado pela sentença que
expressa o desejo da docente em dar continuidade aos seus estudos acadêmicos.
4 Considerações finais
A pesquisa e as reflexões apresentadas neste artigo examinaram alguns aspectos que julgo
crucial para se compreender melhor o momento que estamos vivendo enquanto formadores
neste contexto contemporâneo. Assumo que nós, devemos ser mais ousados, e buscar
soluções mais complexas, criativas e anunciar o desenho de um novo futuro.
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INDERDISCIPLINARIDADE: DESAFIOS NA SUPERAÇÃO DO
CONHECIMENTO FRAGMENTADO
Franchys Marizethe Nascimento Santana Ferreira
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Resumo
Este estudo tem como meta apresentar um quadro de discussões e reflexões acerca da
prática interdisciplinar na área educacional. Para tanto, referendamos nossos estudos sobre
o respectivo tema em autores renomados como Fazenda (1999; 1997; 1996;); Japiassú
(1976); Perrenoud (2010); Magalhães (2009); dentre outros. Entende-se que o aspecto
interdisciplinar constatada nas leituras realizadas é de articulação dos saberes de diferentes
disciplinas/áreas do conhecimento em favor de um ensino contextualizado e holístico. A
interdisciplinaridade vem sendo marcada historicamente por um movimento de mudanças
instituído em vários setores da sociedade, não somente na educação, mas também de
natureza econômica, ambiental, política, social ou tecnológica. Embora seu enfoque ocorra
com ênfase na área educacional outros setores da ciência também vislumbram a
necessidade de sua prática por acreditarem na necessidade de pensamentos e atitudes
abrangentes, capaz de compreender a complexidade da realidade e construir um
conhecimento que considere essa amplitude. Tal aspecto refere-se a uma nova concepção
de ensino e de currículo, baseada na interação e integração entre os diversos ramos dos
conhecimentos que consequentemente oportunizará novas atitudes. Ressalta-se que a
interdisciplinaridade necessita estar voltada também a um diálogo com as diversas ciências,
tornando o saber sobre um clivo universal. Assim, é possível repensar nossa vida, nossa
prática profissional, nossas relações entre idéias e realidade, entre professor e aluno e teoria
e práxis. Neste sentido é relevante considerar o professor o sujeito que precisa romper e
assumir novos paradigmas educacionais no processo de transformação, tornando necessário
que sua formação contemple abordagens críticas e reflexivas para traçar novas ações que
estejam imbuídas de atitudes interdisciplinares que possam dialogar com outras formas de
conhecimento e ao mesmo tempo promover um diálogo entre as diversas áreas do
conhecimento.
Palavras-Chave: Prática Pedagógica Interdisciplinaridade, Prática Pedagógica,
Conhecimento.
Introdução
Considerando que o professor é o sujeito que precisa romper e assumir novos paradigmas
educacionais no processo de transformação é necessário que sua formação contemple
abordagens críticas e reflexivas para traçar novas ações que estejam imbuídas de atitudes
interdisciplinares que possam dialogar com outras formas de conhecimento e ao mesmo
tempo promover um diálogo entre as diversas áreas do conhecimento.
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A interdisciplinaridade vem sendo marcada historicamente por um movimento de
mudanças instituído em vários setores da sociedade, não somente na educação, mas
também de natureza econômica, ambiental, política, social ou tecnológica. Embora seu
enfoque ocorra com ênfase na área educacional outros setores da ciência também
vislumbram a necessidade de sua prática por acreditarem na necessidade de pensamentos e
atitudes abrangentes, capaz de compreender a complexidade da realidade e construir um
conhecimento que considere essa amplitude. Tal aspecto refere-se a uma nova concepção
de ensino e de currículo, baseada na interação e integração entre os diversos ramos do
conhecimentos que consequentemente oportunizará novas atitudes.
A rapidez das mudanças em todos os setores da sociedade atual (científico, cultural,
tecnológico ou político-econômico), o acúmulo de conhecimentos, as novas exigências do
mercado de trabalho, sobretudo no campo da pesquisa, da gerência e da produção, têm
provocado uma revisão didático-pedagógica do processo de educação escolar.
Consequentemente uma nova concepção de currículo e posturas frente ao processo de
ensino- parendizagem tem sido necessária no romper de paradigmas, o que implica em uma
série de competências e habilidades a serem desenvolvidas pela escola: competência
linguística, lógico-matemática, espacial, cinestésica, musical, pictórica, intrapessoal e
interpessoal, dentre outras. (GARDENER, 1995).
Constata-se urgência da interdisciplinaridade na produção e socialização do conhecimento
proposta por inúmeros autores, que tem um ponto em comum em relação ao seu sentido e
finalidade no campo educativo com características de abordagens que contemplam um
movimento que caminha para novas formas de organização e produção do conhecimento.
Na abordagem de Fazenda (1996) a interdisciplinaridade no campo pedagógico será
articuladora do processo de ensino-aprendizagem na medida em que se produzir como uma
mudança de atitude perante o conhecimento, numa relação de reciprocidade e mutalidade
que produz o diálogo entre os agentes envolvidos no processo, substituindo uma concepção
cartesiana pela unitária do ser humano.
Assumir uma atitude interdisciplinar não significa abandonar ou menosprezar as
especificidades de cada disciplina, mas perceber o que as une ou as diferenciam, para
encontrar os elos, ou seja, as disciplinas podem e devem contribuir para a construção e
reconstrução do mesmo conhecimento. Para isso são necessárias novas atitudes frente ao
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saber, pois o professor será desafiado a criar e inovar, e tal ação exige romper com os
paradigmas que há séculos dominam os sistemas de ensino, e consequentemente a prática
de inúmeros professores. Para efetivar a mudança é necessário buscar alternativas,
pesquisar e investir na formação continuada que propicie e contribua com este processo de
transformação.
Morin (2000) faz uma crítica em relação a educação no sentido de formar inteligências
parceladas, compartimentada e mecanicista. Ressalta que os sistemas de ensino precisam
romper com as fragmentações para mostrar as correlações e contextualizações entre os
saberes, tendo como meta uma formação que valorize o conhecimento contextual e
promova o saber globalizado. Assim, a interdisciplinaridade deve ser trabalhada de forma
contextualizada e partir do conhecimento inicial do aluno a fim de desenvolver
competências que ampliem seu conhecimento inicial sobre o tema proposto.
1 A formação dos futuros docentes: perspectivas da interdisciplinaridade
Abarcar a questão da formação neste contexto, requer atitudes que desmistifiquem o
processo ensino-aprendizagem e que promova um educador que esteja motivado a interagir
com os aspectos sociais, históricos e culturais, para assim promover uma nova forma de
trabalho, onde os agentes possam interagir nas construções dos elementos destacados.
Atualmente, nas instituições de ensino as disciplinas vêm sendo tratadas como áreas
específicas. O professor não pode e/ou não quer se comprometer com a disciplina do outro,
esquecendo-se, inclusive que algumas, por natureza são áreas afins. Tal fato instiga ao
questionamento sobre até onde as informações levadas aos alunos, dessa forma, seriam
realmente fontes de conhecimento. É para transpor esses conceitos que se destaca a
interdisciplinaridade. As atitudes interdisciplinares precisam vencer inúmeros obstáculos
epistemológicos como a resistência dos educadores, inércia dos sistemas de ensino, a
valorização cada vez mais acentuada das especializações, a pedagogia que só leva em
consideração a descrição e análises objetivas dos fatos, o não questionamento das relações
entre as ciências humanas e as ciências naturais.
Outro aspecto relevante é o fato de estabelecerem alguns consensos possíveis no meio das
diversificadas reflexões que se afloram sobre o tema, considerando a concepção de que o
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movimento pela interdisciplinaridade, apesar de algumas falhas conceituais, traz uma nova
proposta curricular com características inovadoras e necessárias quando se propõe a inter-
relação das diversas áreas do conhecimento e promove um processo do ensinar/aprender
mais significativo. Porém, Japisssu (1976) apresenta em suas reflexões as dificuldades de
concretizar uma metodologia interdisciplinar devido ao fato de ser um projeto difícil de ser
estabelecido com rigor, pois é vasto e complexo, e precisa que os professores dispostos a
assumi-la estejam impregnados de um “espírito epistemológico”.
Segundo Fazenda (1979, p. 8) a “interdisciplinaridade não se ensina, nem se aprende,
apenas vive-se, exerce-se e, por isso, exige uma nova pedagogia: a da comunicação”. Uma
de suas preocupações está relacionada à marca terminológica considerando que a
interdisciplinaridade recebe diferentes conceitos de interpretações.
Todos os benefícios dessa prática estão relacionados a dois termos em que se baseiam seus
argumentos: a integração e interação entre as disciplinas Entretanto se preocupa em
determinar os principais obstáculos, sendo o primeiro o desafio da organização hierárquica
das disciplinas, onde algumas são consideradas de excelência. O segundo aspecto é o
comodismo das escolas ao preservar a ideia de supremacia das ciências o que gera
comodismo dos professores. O terceiro ponto é a dificuldade em definir e seguir as etapas
de um método interdisciplinar, bem como trabalhar com a formação fragmentada dos
professores. Por isso, é necessário promover a construção de novos espaços e tempos
favoráveis ao trabalho em equipe.
Destaca-se porém, também é necessário assumir uma “atitude interdisciplinar”, que rompa
com os limites das disciplinas na construção de um conhecimento globalizante. Tal ação
está intrinsecamente ligada ao compromisso do professor, no envolvimento e
comprometimento com as ações práticas, na integração e estudo de aprofundamento teórico
e na postura ética que envolve o conhecimento. (FAZENDA, 1996).
Dessa maneira, o educador elimina a visão fragmentada para assumir uma postura integrada
com a realidade, compreendendo que sua área de formação não é suficiente para
compreender todo o processo ensinar/aprender. É necessário que aproprie das múltiplas
relações conceituais que sua área possa estabelecer com outras ciências, tornando o
conhecimento reconstrutível na medida em que alia sua especificidade dialeticamente por
meio de metodologias produtivas.
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1.1 Os desafios e perspectivas de uma atitude interdisciplinar
O enfrentamento das dificuldades apontadas pode sugerir modificações no sistema
educacional, pois a incapacidade de pensar uma complexidade é resultado do sistema
educativo que vivemos. A didática atual não possibilita a formação de um pensamento não
fragmentado, uma vez que essa forma de pensamento é fruto de uma didática tradicional.
Assim, os professores acabam reproduzindo exatamente o processo em que foram formados
em sua vida acadêmica ao considerar o saber (conteúdo) já produzido mais relevante que as
experiências que o aluno possa vir a adquirir.
Parte-se da premissa de que o diálogo, suposto pela autora, é na verdade o grande propósito
dessa atitude interdisciplinar que significa desenvolver uma relação com o outro e com o
próprio mundo, pois é necessário antes de tudo conhecer a realidade e fazer a conotação
com o conhecimento científico, isto é, a produção científica que tem por objetivo difundir
novas idéias. Esta relação baseia-se na relação com nossos pares que estão em sala de aula
e também aqueles que estão conosco no campo da pesquisa.
Neste contexto, a interdisciplinaridade torna-se um dos principais complementos no
conhecimento formal transmitido como uma nova dinâmica na metodologia aplicada. Essa
definição fica mais específica quando consideramos que todo conhecimento mantêm um
diálogo permanente com outros questionamentos de confirmação e de aplicação.
Atualmente surgem projetos que reivindicam uma visão interdisciplinar, sobretudo no
campo do ensino e do currículo. A discussão sobre interdisciplinaridade tem tido um espaço
importantíssimo na sociedade contemporânea, principalmente nas instituições educacionais,
embora para muitos professores pareça algo novo. Isto porque com a fragmentação do
conhecimento e a verificação da importância do diálogo entre as diferentes disciplinas para
compreender o mundo e o ser humano da atualidade, está sendo efetivado um grande
movimento de promoção da interdisciplinaridade. (GADOTTI, 1993).
A interdisciplinaridade pauta-se numa proposta de romper com as barreiras entre as
disciplinas, superando a compartimentalização do pensar transpondo para um trabalho
integrado do saber nos diversos campos do conhecimento. Propõe uma nova postura, uma
mudança de atitude frente ao contexto, “uma postura interdisciplinar”, que proporcionará
uma visão global e inclusiva. (FAZENDA, 1997).
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Nas instituições de ensino constata-se que as disciplinas escolares são ensinadas, em geral,
de forma independente, o que conhecemos como disciplinaridade. Nesta dinâmica os
educandos não são instigados a perceberem os elos existentes entre os conteúdos ou entre
as questões do cotidiano. Um exemplo constatado por nós, enquanto professora de estágio,
foi observar que a matemática ensinada na escola não tem conotação com a matemática do
dia a dia do educando. Encontramos em sala de aula um menino, que mora próximo da
minha residência e nos finais de semana vende picolé e consegue ter uma relação
consciente com o sistema monetário, dando troco corretamente, mas não consegue resolver
as contas de “arme e efetue” que a professora passou na lousa. Isto porque a forma
metodológica como o conteúdo é mediado, é mais uma transmissão, não tem significado
para ele. Indagando a respectiva professora sobre o fato de ser mais adequado ela elaborar
um problema que envolvesse a realidade dos alunos para ser mais significativo ela
respondeu que era aula de matemática e precisava trabalhar com números.
Japiassu (1976) define como ciência a disciplina, daí a precisão terminológica para
disciplinaridade, que seria a exploração do universo desta ciência. Portanto, a
interdisciplinaridade se distingue por não se limitar às metodologias de apenas uma ciência,
tendo por objetivo o conhecimento unitário e não fragmentado, como encontramos nas
instituições de ensino. Neste caso, podemos afirmar que a disciplinaridade, característica
dos currículos escolares, prejudica a formação integral e o conhecimento científico dos
sujeitos ao não possibilitar conhecimentos úteis e a capacidade de pensar globalmente os
problemas que lhe são impostos. Neste sentido a interdisciplinaridade torna-se relevante ao
considerarmos que o conhecimento especializado precisa ser submetido a análises críticas.
A multidisciplinaridade e a pluridisciplinaridade são confundidas algumas vezes com a
interdisciplinaridade por trabalharem constituídas por duas ou mais disciplinas, se tiver a
escolha de um tema em comum ou cada professor contribui com o conhecimento específico
de sua área. A integração de disciplinas pode até ter sucesso na sala de aula, pois os alunos
começam a se deparar com uma nova metodologia e conseguem entender o conteúdo de
uma forma mais ampla, mas não pode ser confundida, portanto existe uma diferenciação
entre os dois temas abordados.
O último grau de interação apresentado, a transdiciplinaridade, também é citado por
Japiassú (1976) para definir uma etapa superior à interdisciplinaridade, onde haveria um
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sistema total, sem limites nas fronteiras disciplinares, onde as disciplinas dialogam não
somente entre elas, trocando suas informações de caráter científico, mas também com o
conhecimento socialmente produzido pelos alunos e professores, quase uma utopia,
principalmente pela falta de determinação de um conceito em comum para a
interdisciplinaridade. “Não podemos alimentar ilusões: ainda está por ser construída uma
teoria interdisciplinar”. (p.81).
Destaca-se que a fragmentação do conhecimento, conhecida nas escolas por “disciplinas”
tem prejudicado o processo educacional, pois se constata que o conhecimento é separado
por inúmeros conteúdos relativamente estanques, apresentados de forma desvinculada e
desconexa. O que ocasiona perda de sentido para os educandos que não conseguem
discernir as semelhanças e relações entre as diferentes áreas do conhecimento.
Por mais que exista a vontade de mudança nas práxis do professor ainda prevalecem
posturas tradicionais em que é simplesmente o transmissor de informação para seu aluno. O
processo de ensino-aprendizagem necessita de um mecanismo mais dinâmico e integrador
que favoreça as relações pedagógicas entre professores e alunos. Atualmente a função do
professor não é mais unicamente ser o provedor do conhecimento. É necessário que assuma
uma postura de mediador da aprendizagem, provocando e questionando o aluno, instigando
ao sucesso de suas buscas e consequentemente suas respostas desejadas. As escolas
precisam ser ambientes adequados para o processo ensinar/aprender por meio de uma
conduta social que tenha qualidade e um campo fértil para aprendizagens não somente de
ensino, mas também de habilidades e respeito mútuo entre seus sujeitos.
O início da atitude interdisciplinar está basicamente na ação, de acordo com a interação e
integração das disciplinas e também entre os sujeitos das ações educativas. Isso não
significa o fim das disciplinas, mas uma relação harmônica entre as mesmas. Tendo como
objetivo desenvolver ações cooperativas e reflexivas. Consequentemente alunos e
professores tornam-se sujeitos de suas ações e, comprometem-se num processo de
investigação, redescoberta e construção coletiva de conhecimentos. Pois ao dividir ideias,
ação e reflexões cada integrante do grupo tornam-se ativo no processo.
A partir dessas colocações é essencial que os conteúdos ministrados em cada disciplina
sejam considerados como instrumentos culturais, necessários para a formação global.
Fazenda (1997) afirma que é necessário conhecermos como os conteúdos nasceram, se
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desenvolveram e são estudados. A interdisciplinaridade beneficiará as ações pedagógicas
que ampliam as capacidades dos educandos em expressar-se por meio das múltiplas
linguagens, posicionar-se diante das informações e interagir ativamente com o meio físico e
social.
Dessa maneira, torna-se essencial a elaboração de meios que atue contra o saber
fragmentado. Tendo por objetivo à recuperação da unidade humana pela passagem de uma
subjetividade para uma intersubjetividade e, assim sendo, recupera a ideia primeira de
cultura (formação do homem total), o papel da escola (formação do homem inserido em sua
realidade) e o papel do homem (agente das mudanças do mundo). (FAZENDA, 1996).
A discussão sobre interdisciplinaridade mostra a educação numa nova maneira de resgatar o
sentido e o fazer ensinar na prática pedagógica. Durante décadas o conhecimento foi
construído e difundido sem ter sido revisado ou contestado. Para o professor era imbuída a
tarefa de memorizar o conteúdo transmitido de forma fragmentada, em sua disciplina.
Consequentemente tínhamos um conhecimento limitado e desassociado da realidade,
compondo um panorama de informações desarticuladas e até mesmo antagônicas. (LUCK,
2007).
2 Caminhos Metodológicos
Constatamos por meio de levantamentos bibliográficos, análises e atividades desenvolvidas
nas instituições de ensino, ao longo de nossa pesquisa no Curso de Doutorado que a
abordagem interdisciplinar está sendo pensada e existem alguns encaminhamentos
inseridos nos planejamentos. Os professores estão buscando caminhos para sua aplicação
na organização do trabalho pedagógico, pois acreditam que ela torna-se fundamental na
medida em que busca a interação de conceitos e métodos, o que conduz o educando a uma
visão mais próxima do movimento, da totalidade e das contribuições da realidade, ou seja, é
uma ação pedagógica interativa e integrativa entre professor, aluno e os conhecimentos,
dentre eles os do senso comum e os científicos.
Podemos afirmar que se a compartimentalização dos conhecimentos, que impera
atualmente em nosso sistema de ensino, for substituída pela interdisciplinaridade será uma
nova forma mais criativa de institucionalizar e elaboração de novos conhecimentos nas
escolas, nos currículos e campos de pesquisas. O trabalho interdisciplinar permite um olhar
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universal sobre o conhecimento, o que permite possuir habilidades para construir as
respostas possíveis ou necessárias a cada contexto. Sendo assim, é possível repensar nossa
vida, nossa prática profissional, nossas relações, nossas circunstâncias, lidar com as
questões cotidianas de outras maneiras, criar outro cotidiano, e principalmente, construir
não apenas uma nova prática profissional, mas uma nova realidade, para todos os agentes
do processo educacional.
3 Superação na fragmentação do conhecimento
Atualmente, a educação básica está organizada na separação de anos e níveis de ensino.
Cada ano, por sua vez, está dividido em disciplinas, que por sua vez possuem divisões de
conteúdos. O currículo escolar organiza essa separação e determina quais disciplinas serão
lecionadas em cada ano e cabe ao professor cumprir o que está determinado. A organização
curricular fragmenta o conhecimento por meio das disciplinas e não possibilita um melhor
entendimento pelos alunos.
A instituição de ensino precisa ser considerada ao mesmo tempo um instrumento de acesso
do sujeito à cidadania como também a um ambiente de vivências para a vida. Sendo assim,
sua organização curricular, pedagógica e didática precisa contemplar as diversas formas de
ritmos, culturas, interesses, concepções, dentre outros aspectos que diferem o Ser. Esta
instituição social, onde inúmeras vozes são ouvidas não pode ignorar a amplitude do
conceito de ciência, que por sua vez não delimita sua relação entre política, economia,
cotidiano, artes, entre outras. Consequentemente tal envolvimento influencia o processo de
ensino-aprendizagem, sendo necessário que o educador assuma uma atitude interdisciplinar
frente ao conhecimento para ser possível uma melhor compreensão de mundo pelos seus
educandos. (POMBO, 2003).
Assumir tal atitude significa romper com os paradigmas da própria formação, pois a
interdisciplinaridade somente é possível a partir do momento em que o educador for capaz
de partilhar o domínio, que considera, do “seu” saber e tiver a ousadia de aprender numa
relação de troca e aprendizagem com seus pares. Esta concepção interdisciplinar já vem
sendo apresentada como uma proposta emergente na quebra de paradigmas na teoria das
múltiplas inteligências de Gardner, no construtivismo piagetiano, na pedagogia libertadora
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de Paulo Freire e inúmeros outros estudiosos que demonstram a necessidade de uma visão
holística na educação.
Evidencia-se a desconexão na relação entre educador e educando, teoria e ação, ideia e
realidade, favorecendo a despersonalização do processo pedagógico. Contrapondo a estes
aspectos, a interdisciplinaridade está em busca do conhecimento holístico. Significa que
tenha origem em várias áreas, ou seja, vai em sentido contrário do que atualmente está
exposto nas escolas: um conhecimento centrado somente em uma área. Tem por objetivo
garantir um novo posicionamento diante do conhecimento, em busca do ser como pessoa
integral, garantindo a elaboração do conhecimento global rompendo com os limites das
disciplinas. Mas para isso segundo Fazenda (1997) será necessário que o educador assuma
uma postura interdisciplinar com atitudes de inclusão.
Existem grandes avanços também para a escola que possui a interdisciplinaridade como
eixo de trabalho, ela torna sua proposta pedagógica mais ágil e eficiente, seus alunos
assumem uma postura com mais responsabilidade, o que diminui a indisciplina e toda a
comunidade escolar trabalha em colaboração. Outro desafio é a metodologia de trabalho,
mas para isso é necessário atitude e método envolvendo integração de conteúdos, deixando
de ser ministrado de forma fragmentada para uma concepção unitária do conhecimento,
principalmente porque o processo ensino-aprendizagem é centrado na concepção de que
aprendemos durante toda nossa vida, logo significa articularmos o saber, a informação, a
experiência, meio ambiente, escola, comunidade, dentre outros aspectos que envolvem o
processo educacional. (FAZENDA, 1999).
Significa que o professor tem papel relevante porque precisa ser o alicerce do aluno,
ajudando-o a descobrir, a reconstruir e atuar frente ao conhecimento adquirido. O fazer
pedagógico deve ir além de uma visão fragmentada e descontextualizada do ensino,
tornando a aprendizagem mais atrativa por meio da interação professor/aluno,
aluno/professor.
A prática pedagógica por meio da interdisciplinaridade vislumbra a construção de uma
escola mais participativa e decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo atual é
favorecer a vivência de uma realidade global que interage com as experiências do cotidiano
do educando, favorecendo sua autonomia intelectual e moral. Mais do que interagir,
interdisciplinaridade é a ação de partilhar as experiências e conhecimentos entre os seres
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humanos, se houver troca de vivências e conhecimentos das diferentes áreas do saber, o que
possibilita a mudança tanto do indivíduo como da coletividade. Esta relação entre a
autonomia intelectual e interdisciplinaridade é imediata. Segundo Piaget (1996) o sujeito
não espera que o conhecimento seja transmitido a si por um ato de caridade, mas sim
aprende por meio de suas próprias experiências sobre os objetos do mundo, organizando
seu pensamento e construindo suas categorias.
Quando refletimos sobre a formação e prática interdisciplinar o termo mais utilizado é
“desafio”, por ter em sua proposta a realização do encontro das interfaces dos diferentes
saberes. Também porque traduz o exercício permanente de interação entre seres – saberes –
fazeres, com as devidas subjetividades inerentes a cada uma.
A educação precisa abarcar a coletividade do contexto onde atua. Discorrer sobre cultura
significa destacar suas semelhanças e diferenças, pois cada grupo é determinado por ela, e
cabe ao professor a valorização e destaque à diversidade cultural encontrada em seu âmbito
de trabalho, significa ter olhares diferenciados sobre seus educandos.
Fazenda (1993) aponta que outro desafio é a formação de professores, não se pode definir
interdisciplinaridade como simples junção de disciplinas, mas sim considerá-la como
atitude ousada em busca do conhecimento, considerando os aspectos que envolvem a
cultura do contexto onde se formam e também em que atuarão. Destaca que os cursos de
formação, geralmente, são ministrados de maneira errônea porque simplesmente trabalham
perguntas “intelectuais” que já sabem como serão respondidas. Sugere que o professor faça
perguntas “existenciais” a seus alunos para despertar respostas inesperadas e aflorar seus
talentos. Significa explanar questões importantes de forma simples e significativa para que
o educando tenha a oportunidade de construir sua argumentação. Ressalta que os currículos
organizados por disciplinas proporcionam aos alunos adquirirem acúmulo de informações e
não o pensar interdisciplinar que aborda uma dimensão libertadora possibilitando o
enriquecimento da nossa relação com o outro e também com o mundo.
Augusto (2004) desafia os professores a serem os protagonistas na implantação e
implementação de práticas interdisciplinares nas instituições de ensino, ao afirmar que
somente por meio dessa atitude será possível ao aluno perceber as relações entre as
disciplinas escolares, possibilitando um conhecimento mais abrangente, exigidos na
contemporaneidade.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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Considerações Finais
Atualmente a própria sociedade contemporânea tem exigido mais investimento na
educação, isso significa refletir sobre a necessidade de reformas educativas e propostas de
mudanças na formação do professor, enriquecida com debates sobre a ética profissional no
exercício da docência. Tal fato consequentemente trará evolução e transformações na
estrutura organizacional e funcionamento das instituições de ensino, interferindo
diretamente nas suas propostas curriculares, domínio teórico e atitudes metodológicas.
Não queremos aqui reduzir as reformas educacionais e a profissionalização da carreira
docente como o único caminho para a solução dos problemas socioeconômicos,
institucionais e culturais que condicionam atuação docente, mas é necessário que tenhamos
a autonomia e o poder de decisão no coletivo das instituições de ensino.
Acreditamos que quando se assume uma atitude interdisciplinar consequentemente ocorre
um movimento em benefício do processo ensinar-aprender ressignifcando a prática
pedagógica. Considerando que temos grandes problemas sociais, econômicos e ambientais
é essencial almejarmos um ensino, mais humano, que parta da integração e oriente melhor
os educandos a usufruírem com competência os conhecimentos intermediados pela escola,
tornando-se um profissional e, principalmente, cidadão.
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